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A Imagem Transmitida pelos seus Centros de Informação Turística: Alemanha,

1.2. O Turismo e o Nacionalismo num Contexto Internacional

1.2.5. A Imagem Transmitida pelos seus Centros de Informação Turística: Alemanha,

Este capítulo teve como objetivo analisar as políticas de desenvolvimento turístico implementados na Itália, Alemanha, Espanha e Roménia. Identificaram-se as similaridades e diferenças entre estes países e o caso português. Podemos afirmar que o planeamento e desenvolvimento turístico verifica-se em todos os casos aqui analisados, nem que seja de forma indireta, materializada na construção de autoestradas e melhoria de acessos e estruturas que possibilitaram uma maior mobilidade das pessoas. O turismo é visto como um motor para o desenvolvimento nacional.

No entanto, esta dissertação analisa o papel das estruturas oficiais de informação turística no estrangeiro, seus objetivos, metodologia e ações desenvolvidas. Pretende-se aqui avaliar a forma como estes países estiveram presentes no exterior e procurámos entender se estes levavam a cabo políticas de promoção semelhantes. Para o efeito, iremos avaliar a sua presença institucional nos Estados Unidos da América, nomeadamente a cidade de Nova Iorque. Optámos por esta cidade, visto ser a mesma analisada no caso de estudo da presente dissertação. Podemos concluir que estes países tinham como objetivo promover a sua imagem, a sua história e sua identidade junto da comunidade estrangeira, utilizando estratégias de comunicação e metodologias similares à portuguesa. Os países analisados neste capítulo tinham, nesta cidade, centros de promoção turística, todos localizados na Quinta Avenida, uma das ruas mais movimentadas dos Estados Unidos, onde a Casa de Portugal estaria igualmente localizada.

No caso da Itália, a Italian National Tourist Office, implementada no ano de 1950, localizada em 626, Fifth Avenue, tinha como missão, para além da promoção turística, a incumbência de organizar eventos relacionados com a promoção do país, bem como pequenos workshops, e algumas demonstrações por parte de operadores turísticos ou de administrações de turismo regionais ou locais. A ENIT - o Conselho Nacional Italiano de Turismo foi fundado em 1919 com o objetivo de promover a Itália e as suas variadas ofertas de viagens em todo o mundo. Para cumprir esta missão, esta entidade produzirá centenas de milhares de folhetos, cartões postais e cartazes. Estes últimos, muitas vezes, eram produzidos em colaboração com a

Ferrovie dello Stato (os Sistemas Ferroviários Italianos) e concebidos para ser facilmente

personalizados em diferentes línguas para mercados estrangeiros. Efetivamente, tornaram-se a primeira campanha publicitária de grande escala e de longo prazo implementada pelo Italian

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diferentes décadas, períodos históricos e cenários políticos e representam a memória coletiva da Itália. O que, aqui, permanece constante é o impacto emocional que esses cartazes icónicos tiveram sobre os espectadores do tempo e, de facto, continuam a ter no presente.

No caso alemão, a German National Tourist Office, também abriu um escritório em 500 Fifth Avenue, em 1950. Tal como a Casa de Portugal, estes Centros de Informação foram canalizados para promover mensagens dos próprios países referentes a vários assuntos ligados à política nacional. Como caso exemplificativo, o Gabinete de Imprensa e Informação da Embaixada da Alemanha emitiu, em 1959, um kit de informações, com objetivo de ajudar a preencher a necessidade contínua de factos sobre Berlim, na véspera da Grande Conferência dos Ministros dos Negócios Estrangeiros, em Genebra. Neste contexto, foi distribuída uma revista pictórica destinada a familiarizar o leitor com as pessoas, instituições e atividades que desempenharam um papel na recuperação alemã durante os anos 1949-1959. Foi ainda publicado um boletim intitulado "Notícias da Alemanha", que foi divulgado nos Estados Unidos e continha os pontos de vista do estado sobre a questão de Berlim e a reunificação da Alemanha. Estas informações foram distribuídas pelo Gabinete de Informação Turística alemão.136

No que diz respeito à Roménia, existia em Nova Iorque, também na Quinta Avenida, um centro de informações – the Romanian National Tourist Office. De modo a promover o seu país no estrangeiro, a Roménia aproveita um personagem fictício da literatura: o Drácula. Após o sucesso do livro, In Search of Dracula, uma empresa turística, localizada em Nova Iorque, organizou uma viagem temática e convidou o responsável pelo Romanian National Tourist Office para participar.137 Este admitira saber pouco sobre o Drácula, tal como a maior parte das pessoas daquele país. No entanto, na altura, a Roménia procurava uma maior relação de proximidade com os Estados Unidos, e o responsável desta oficina de turismo acabou por aceder ao pedido. Porém, fê-lo sem obter permissão antecipada para este tipo de visita temática, gerando sérios problemas com as entidades nacionais romenas, que acreditavam que esta vertente de propaganda entrava em conflito com a identidade do país como Estado socialista. O Estado romeno tentava desenvolver um turismo internacional, de modo a celebrar as conquistas do regime. O Dracula Tourism pouco contribuía para esse esforço e chamava a atenção para a antítese que eram os objetivos socialistas. O Estado acabaria por tolerar esta

136Reports of the Attorney General to the Congress of the United States on the Administration of the

Foreign Agents Registration Act 1938, as amended for the years of 1950-1954, p. 14.

137Light, Duncan (2007), “Dracula Tourism in Romania, Cultural Identity and the State”, Annals of

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situação e, mais tarde, organizar os seus próprios pacotes, mas insistia em promover a suas belezas naturais, cultura e história.

No caso espanhol, também na Quinta Avenida138, encontrávamos o Spanish National Tourist Office, implementado em 1949. De acordo com um artigo no jornal, Edicion de la

Mañana, este refere-se à abertura desta Oficina de Turismo:

Os serviços de turismo dos países europeus e americanos têm estabelecidos, em Nova Iorque, oficinas similares e para os nova iorquinos tem sido uma novidade a abertura de uma oficina espanhola, não só pelo feito em si mesmo, mas também porque desde 1936, não haviam funcionado aqui outros serviços turísticos de nosso país. Desde aquelas datas – quase 14 anos - o que se conhecia de Espanha era através de propaganda política tendenciosa e sem nenhuma relação com a realidade da vida espanhola e do desenvolvimento normal do país dentro das suas fronteiras. Dava ao norte-americano uma remota ideia de Espanha e o resultado imediato da oficina de turismo será dar-lhe um ponto de referência concreto, devolvendo-a à realidade, interessar-se de novo naquilo que sempre tem sido uma viva aspiração do turismo americano: viajar por Espanha e conhecer o país139.

Os objetivos deste centro de informação turística eram muito similares àqueles da Casa de Portugal. Esta estrutura de promoção espanhola tinha como objetivo o planeamento, o desenvolvimento e a execução de atividades destinadas a promover a Espanha como destino turístico nos mercados internacionais. Tinha como missão apoiar a comercialização de produtos turísticos espanhóis no exterior,140 em cooperação com as autoridades regionais e locais, bem como estabelecer ligações com o setor privado. Apoiava ainda na delineação da estratégia e plano de ações e investimentos para novos estabelecimentos de Paradores de Turismo de

España. Estava divido em três áreas: providenciava informação de interesse ao público em

geral; um segundo setor dedicava-se a ações de relações públicas, que atendia ao marketing e aos meios de comunicação (imprensa, televisão); e, por fim, um departamento de relações comerciais, que atendia aos profissionais da viagem, como, por exemplo, operadores turísticos, e agentes de viagens.

Podemos, assim, estabelecer algumas ligações e similaridades referente às formas de funcionamento dos países acima mencionados com o caso português. Em primeiro lugar, e após

138 589 Fifth Avenue New York, New York, 10017.

139 Jornal, Edicion de la Mañana, “Gran afluencia de público en nuestra Oficina de Turismo, recién

inaugurada”, 13 de dezembro de 1949, p. 21.

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análise de vários países, podemos concluir que os planos de atividades e estratégias para este tipo de serviço de informação turística no estrangeiro eram muito idênticos. Para além de providenciar informação geral do país, estes serviços também eram utilizados para fins políticos (Alemanha) e para fins comerciais (Espanha). A promoção de uma identidade do país, ou seja, a promoção de uma memória coletiva, era materializada através de imagens gráficas aplicadas nos vários cartazes de promoção turística (Itália). Todos estes países reconheceram a importância de estruturas de promoção no estrangeiro e a sua forma de trabalhar é manifestamente similar à forma portuguesa. Podemos, deste modo, defender um carácter transnacional e de influência entre países no que dizia respeito à promoção turística, expresso numa espécie de efeito de arrastamento na Quinta Avenida de Nova Iorque.

Por outro lado, é importante referir os programas desenhados para o mercado interno que foram implementados e que influenciaram os países em análise. O programa Dopolavoro, italiano, foi a base para um conjunto de programas e estratégias de âmbito nacional de lazer que seria, posteriormente, aplicado noutros países: a Alemanha contou com o KdF e Portugal com a FNAT, que tinham como missão ocupar os tempos livres das populações e se tornariam num importante instrumento para a promoção do turismo interno e, em alguns casos, até do turismo internacional. Estes programas também ajudariam a incutir na população nacional a imagem, a narrativa que se pretendia para a nação, para que estes a pudessem assimilar como fazendo parte da sua história.

Embora, no período em análise, possamos admitir que as movimentações turísticas ainda eram singelas, especialmente na primeira fase cronológica deste estudo, há efetivamente um grande enfoque destes países em usar o turismo para abrir as portas do país ao exterior. O turismo era transformado numa arma de diplomacia externa que pretendia chamar a atenção às realidades nacionais, tendo em conta a narrativa que cada governo queria imprimir na mensagem a transmitir e assim criar uma imagem que fosse ao encontro da política de propaganda delineada para cada regime. Haveria, através da utilização da imagem turística, a possibilidade de transmitir quase de forma subliminar e indireta uma mensagem direcionada, pensada, recorrendo a sistemas de comunicação simples e eficazes. A principal diferença em relação a Portugal prende-se com o facto de não existir, até hoje, referências ao uso do turismo para consolidar uma imagem interna de modernização. Como veremos, ao contrário da Alemanha e de Itália, não se descortina na simbologia do turismo português nenhum vetor de apelo à modernização. Terá isto acontecido devido à natureza não mobilizadora do regime do Estado Novo, ao seu carácter de propaganda passiva e tradicionalista-rural ou devido ao facto

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de a propaganda externa do turismo ter em Portugal primazia sobre as iniciativas de promoção interna do turismo?

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