• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 – ACTUAÇÃO POLICIAL

3.3. Medidas Cautelares e de Polícia no âmbito do Código Processo Penal

3.3.3. A Prova Testemunhal versus a Prova Pericial

As Forças de Segurança, face às inúmeras contingências e condicionantes impostas na sua actuação, mesmo que não consigam assegurar a manutenção dos vestígios da prática de um crime ou verificar o ilícito em flagrante delito, devem identificar e determinar a permanência de pessoas no local do crime que possam desempenhar o papel de testemunhas oculares do ilícito criminal. Este procedimento revela-se crucial, visto que ao contrário do que se possa pensar, o papel da testemunha, face às contingências da intervenção policial, ainda hoje desempenha uma função primordial na Justiça, já que muito embora a dinâmica judiciária e as recentes e inovadoras técnicas de investigação tendam a diminuir a relevância da testemunha como meio de prova, suscitada pelo surgimento de meios de prova com carácter científico, a prova testemunhal continua a assumir-se como um meio de prova privilegiado e significativo em sede de investigação e de julgamento145 (TAVARES, 2004).

No entanto, é comummente aceite que a prova testemunhal146não proporciona total segurança

probatória devido às inúmeras contingências, dentro das quais se destacam as deficiências de percepção147, interpretação148, de memória, estereótipos sociais, entre outras. No entanto há que igualmente questionar as verdadeiras motivações daqueles que depõem ou prestam declarações, especialmente aqueles que se voluntariam, pois tanto podem estar a ser motivados pela convicção de exercer um dever cívico perante a sociedade, tal como sejam motivados pela necessidade de proteger interesses contrários à lei, colocando-se numa situação de confronto entre a obrigação de falar com verdade (Art.º 132.º n.º 1 do CPP), e as ligações emocionais e afectivas com o arguido ou ofendido149 (OLIVEIRA, 2004; TAVARES, 2004). Neste sentido, em concreto a mulher “é instintiva por temperamento (...) é mais propensa à mentira.” Especialmente quando o

145 Segundo A. Yarmey “O depoimento de uma testemunha ocular é, a seguir à confissão, a prova mais incriminatória que pode levar à condenação de um arguido” (FONSECA; SIMÕES; PINHO, 2006:227).

146“A prova testemunhal seria a mais simples e a mais perfeita de todas as provas se pudesse supor que os homens são incapazes de se enganar e de afastar-se da verdade e da Justiça”, cit in Acordão STJ de 16 Abril de 1998 (BMJ 476). 147 Battisleli alerta que não existe “maior erro que considerar a testemunha como chapa fotográfica” (TAVARES, 2004:317).

148 A forma como um indivíduo interpreta determinado acontecimento poderá ser afectada pela existência de factores externos, como exemplo: distância da testemunha do evento, sensações cromáticas, ruído, a duração e velocidade do acontecimento, a causalidade emocional que poderá levar a que filtre o factos ocorridos, o grau de familiarização com o acontecimentos, entre outros (TAVARES, 2004).

149 A testemunha poderá prestar declarações que não correspondem à veracidade dos factos, seja por receio de perseguição penal, receio do arguido, relações de conhecimento e de amizade com os acusados, por vingança ou por retaliação contra o arguido ou sistema judicial, ou mesmo por inconsciência (OLIVEIRA, 2004).

acontecimento é do interesse desta, sendo “mais emotiva, mais sensitiva, percepciona-o como desejaria que ele fosse e não efectivamente como ele é...”(ALTAVILLA, 2003:93).

Estes factos, afiguram-se de enorme relevância para o presente trabalho, pois em processo penal urge conhecer a credibilidade de uma testemunha ou mesmo do queixoso/denunciante, pois em última análise ter-se-á de conhecer as verdadeiras motivações do testemunho ou da denúncia, se existe algum interesse pessoal contrário ao correspectivo dever da verdade, ou mesmo se existem factores como o facto de estar a ser corrompida ou intimidade/ameaçada para o fazer150. O art.º 133 n.º 1 alínea d) do CPP, específica que incumbe às testemunhas “responder com verdade às perguntas que lhe são dirigidas...”, no entanto, o Código Processual Penal Português no seu art.º 134.º, ressalva a possibilidade de poder existir uma recusa de testemunho, por mais fundamental que este seja para a descoberta da verdade. O testemunho encontra-se assim condicionado pela vontade dos descendentes, ascendentes, irmãos, afins até 2.º grau, adoptantes, adoptados, cônjuge do arguido, quem tiver sido cônjuge do arguido, ou quem com ele conviver ou tiver convivido em condições análogas às dos cônjuges, relativamente a factos ocorridos durante o casamento ou a coabitação151, desejarem ser testemunhas relativamente a factos imputados a pessoas nas condições anteriormente mencionadas (OLIVEIRA, 2004). Nesta medida, a ocorrência de ilícitos criminais no interior do domicílio/equiparados, além de condicionar a investigação e a prevenção criminal, o facto de ocorrerem factos ilícitos entre indivíduos com algum grau de parentesco, têm como consequência que a relevância da prova testemunhal se perde no momento em que possibilita a recusa de testemunho, por parte dos descendentes, ascendentes, irmãos, afins até 2.º grau, adoptantes, adoptados, mesmo em crimes gravosos e em que os únicos meios de prova recolhidos sejam a prova testemunhal.

Com o enorme desenvolvimento da área científica nas últimas décadas, muitas das técnicas inovadoras foram aplicadas na área da investigação criminal, sendo a Criminalística a ciência que se ocupa e estudas os indícios deixados no local da ocorrência do ilícito criminal, especialmente das amostras biológicas152, permitindo reunir elementos de prova relativamente às circunstâncias do

150 Segundo Oliveira (2004:103) “algumas das testemunhas que sejam úteis para a confirmação dos resultados das investigações poderão ter, elas próprias, interesses difusos no objecto do processo (...) O que pretendemos afirmar, é que o depoimento da testemunha deverá também ser avaliado em função da posição individual desta face às suas eventuais ligações, conotações ou relacionamentos com os sujeitos processuais e com a autoridade judiciária e seus respectivos interesses processuais, por mais insondáveis que possam ser a um olhar desatento”.

151 De acordo com nova redacção da Lei n.º 48/2007 de 29 de Agosto, com as novas alterações ao Código Processo Penal a alínea b) do art.º 134.º CPP, “Quem tiver sido cônjuge do arguido ou quem, sendo de outro ou do mesmo sexo, com ele conviver ou tiver convivido em condições análogas às dos cônjuges, relativamente a factos ocorridos durante o casamento ou a coabitação...”

cometimento do ilícito, e dos seus participantes, dentro dos quais se destacam a análise de ADN. O surgimento de técnicas mais avançadas e fiáveis, originou uma crescente vontade por parte das polícias de investigação, a aplicação dessas novas técnicas na investigação de forma reunir mais números de meios de prova, e de forma a atribuir uma maior valoração e idoneidade as provas apresentadas, tendo em perspectiva colmatar as lacunas da prova testemunhal (TAVARES, 2004). Desta forma apresenta-se-nos a prova pericial, que para muitos é considerada como um meio de prova, mas considerando igualmente alguns autores que se trata antes de um meio de obtenção de prova ou ainda um meio de apreciação da prova. A perícia considera-se assim “uma actividade de percepção ou apreciação dos factos probandos efectuados por pessoas dotadas de especiais conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos” (SILVA, 1996: 178).

A grande relevância da prova pericial em relação da prova testemunhal reside no facto de nos termos do art. 163.º, n.º 1 CPP, “o juízo técnico, científico ou artístico inerente à prova pericial presume-se subtraída à livre apreciação do julgador”. Isto porque se presume que a prova pericial não está sujeita as contingências da prova testemunhal, prevendo que o perito seja qualificado para a apreciação da matéria e que tenha realizado a perícia de acordo com princípios científicos, sem qualquer subjectividade, pautando o seu comportamento pela imparcialidade na descoberta da verdade dos factos (TAVARES, 2004).

Não obstante a todos estes argumentos, a prova pericial ou técnica é utilizada em ilícitos criminais mais gravosos, que afectam bens jurídicos essenciais, isto é, em fenómenos de criminais não tão gravosos, torna-se inviável o recurso a técnicas periciais, visto que o custo de utilização de algumas dessas técnicas podem não se justificar para determinado tipo de criminalidade ou de ocorrência. Logo nos fenómenos criminais mais comuns, quando ocorrem em domicílios/equiparados ou em locais de acesso condicionado, os órgãos de polícia criminal face ao difícil acesso a esses locais, ficam limitados à recolha de prova testemunhal, como meio de prova. No entanto a relevância da prova testemunhal perde-se no momento em que possibilita a recusa de testemunho, por parte dos descendentes, ascendentes, irmãos, afins até 2.º grau, adoptantes, adoptados, mesmo em crimes gravosos.

humano (excepto gémeos homozigóticos), permitindo estabelecer nexos de causalidade com relevância processual (PINHEIRO, 2004).