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CAPÍTULO 3 – ACTUAÇÃO POLICIAL

3.3. Medidas Cautelares e de Polícia no âmbito do Código Processo Penal

3.3.1. Identificação e Revista Policial

De acordo com o art.º 250 do CPP, os órgãos de Polícia criminal podem proceder à identificação de indivíduos que se encontrem em “lugar público, aberto ao público ou sujeito a vigilância policial”. No entanto, essa identificação só poderá ser exigida se sobre esse indivíduo existirem “fundadas suspeitas da prática de crimes, da pendência de processo de extradição ou de expulsão, de que tenha penetrado ou permaneça irregularmente no território nacional ou de haver

contra si mandado de detenção”. Desta forma se compreende que por força da letra da lei, o procedimento de identificação, não pode ser arbitrário, nem ser utilizado como prática generalizada. Um qualquer suspeito que preencha os requisitos anteriormente mencionados poderá ser identificado por qualquer órgão de Polícia criminal, podendo o visado identificar-se com a qualquer documento previsto no n.º3, 4º, 5º do art.º 250 CPP ou em último caso ser transportado às instalações policiais para identificação, período de tempo que nunca poderá exceder as seis horas. Caso a exigência de identificação realizada por órgão de polícia criminal seja realizada não cumprindo as condições anteriormente mencionadas, essa ordem será considerada ilegal e violará os direitos fundamentais da reserva da intimidade da vida privada e o da deslocação, de acordo com o disposto nos arts. 26.º n.º 1, 27.º n.º1 e 44.º n.º 1 do CRP (GONÇALVES & ALVES, 2002).

Já a revista enquanto meio de obtenção de prova, consiste em examinar ou inspeccionar minuciosamente uma pessoa, a qualquer hora do dia ou da noite, a fim de se certificar se nela se oculta ou não quaisquer objectos relacionados com o crime ou que possam servir de prova daquele, tendo que ser autorizadas ou ordenadas por autoridade judiciária, de acordo com o art.º 174.º do CPP. Há ainda uma outra ressalva a este regime, que se consubstancia em dois tipos de revista: revistas como meio de obtenção de prova, como medida cautelar e de polícia e as revistas preventivas ou de segurança. O nosso legislador consagrou um regime especial de revistas, dispensando-as de autorização judicial nos casos de terrorismo, criminalidade altamente organizada e violenta ou quando haja indícios de prática iminente de crime que ponha em grave risco a vida ou integridade de qualquer pessoa, conforme alínea a) do n.º 4 do art.º 174.º do CPP (VALENTE, 2003). O art.º 174 n.º 4 do CPP prevê, além das revistas nos casos de terrorismo, criminalidade altamente organizada e violenta, quando haja indícios de prática iminente de crime que ponha em grave risco a vida ou integridade de qualquer pessoa, ou ainda nas situações: em que os visados consintam; aquando da detenção em flagrante delito por crime a que corresponde pena de prisão; à revista de suspeitos em caso de fuga iminente ou de detenção e a buscas no lugar onde se encontrem, sempre que tiverem fundada razão para crer que neles se ocultam objectos relacionados com o crime, susceptíveis de servirem de prova e que, de outra forma, poderiam perder-se; à revista de pessoas que tenham de participar ou pretendem assistir a qualquer acto processual ou evento desportivo; sempre que haja fundadas suspeitas, as forças de segurança podem realizar revistas tendentes a detectar a introdução ou presença de armas e substâncias ou engenhos explosivos ou pirotécnicos de determinados locais. Em todos os casos mencionados, a realização de revista é, sob pena de nulidade, imediatamente comunicada ao juiz de instrução para este a apreciar em ordem à sua validação, nos termos dos arts. 174.º, n.º5 e 251.º, n.º2 CPP. (GONÇALVES & ALVES, 2002; VALENTE, 2005).

A competência para autorizar ou ordenar revista é da autoridade judicial. No entanto tendo em vista a salvaguarda do êxito da diligência nos casos em que esta não se compadece com qualquer demora, a revista é quase sempre realizada e determinada pelas forças de segurança, sem prévia autorização das autoridades judiciais. As revistas policiais, necessariamente têm que ser realizadas de modo a não ofender o pudor dos indivíduos revistados, isto é, deve respeitar a dignidade da pessoa e, na medida do possível, o pudor do visado. Considera-se que a violação da dignidade humana na revista gera a sua nulidade, quando a mesma seja realizada sob tortura, coacção, ofensa à integridade física ou moral da pessoa. (SOUSA, 2001). Isto é, o art.º 126.º do CPP consagra que “provas obtidas mediante tortura, coacção ou, em geral, ofensas da integridade física ou moral das pessoas” nunca podem ser utilizadas contra o arguido, mesmo tendo ele consentido pois estas se inserem no grupo da proibição absoluta e inadmissível. Quer a doutrina e a jurisprudência são unânimes em considerar que os meios de prova obtidos de acordo com o art.º 126.º CPP n.º 1 e 2, padecem de nulidade absoluta e insanável, só podendo ser utilizadas contra quem as obteve (VALENTE, 2003).

Como regra geral e sempre que tal seja possível, a revista deverá ser efectuada por agentes do mesmo sexo das pessoas revistadas, embora haja uma tendência para se considerar que a doutrina legal se destina principalmente à protecção da mulher sujeita a essa formalidade processual136 (SOUSA, 2001). Outros autores também partilham da opinião, afirmando que “na medida do possível, por exemplo numa revista a uma mulher, em que esta se tenha que despir, talvez ofenda menos o pudor da visada se a revista for levada a cabo por uma polícia do sexo feminino” (CARVALHO, 2001:40). Este último facto, que à primeira vista não terá grande relevância a nível procedimental, poderá condicionar de uma forma decisiva a revista realizada a indivíduos do sexo feminino e colocar em causa a eficácia da intervenção policial. Isto porque, as forças de segurança genericamente são constituídas por elementos do sexo masculino, desta forma com a excepção de intervenções previamente planeadas, habitualmente as forças de segurança terão sérias dificuldades para num turno serviço viabilizar um elemento policial feminino, elemento este que possa proceder em tempo útil, à realização de uma revista num suspeito de sexo feminino, nas condições anteriormente mencionadas. Esta simples condicionante poderá acarretar que a revista simplesmente não seja realizada, ou quando realizada, o seja de forma muito superficial, pois a revista fora das condições apresentadas será considera nula e tal como todos os meios de prova que daí possam advir, podendo sim acarretar consequências criminais e disciplinares para o agente que as realize.