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3 EMERGÊNCIA DO RISCO AMBIENTAL NO CONTEXTO DOS BANCOS

3.3 Risco Ambiental

3.3.2 Performance Ambiental e Imagem

3.3.2.2 A Responsabilidade ambiental dos Bancos como proprietários de

A instituição financeira ao adquirir um imóvel com um passivo ambiental, seja ele recebido como garantia de um financiamento ou simplesmente como uma nova aquisição, é considerado responsável pelo dano ambiental?

Existem no Brasil duas posições: i) uma entende que as obrigações legais para com o meio ambiente são propter rem38. Segundo Salles (2003), nestas o devedor é determinado

pela sua condição de titular da propriedade, ou seja, mudando a coisa de dono, muda a obrigação de devedor; ii) a outra vertente, segundo Steigleder (2004), seria a posição do _________

37 TRF – 1ª Região. Ag/01000363291/mg. Quinta Turma. Dj: 19/12/2003 p. 185

38 “É uma relação jurídica transitória de cunho pecuniário, unindo duas (ou mais) pessoas, devendo uma (o

ministro Garcia Vieira, do Superior Tribunal de Justiça, que sustenta a impossibilidade de impor ao adquirente de uma área, degradada, desprovida de reserva legal ou de área de preservação permanente, a obrigação de recuperá-la, por entender que, mesmo sendo objetiva a responsabilidade civil pelo dano ambiental, não se pode prescindir da prova do nexo causal.39

Com relação à obrigação de recompor áreas de preservação permanente e reservas legais, contrapondo-se ao posicionamento do ministro Garcia Vieira, há a doutrina do ministro José Delgado (2000)40, do STJ, explicitada nos Recursos Especiais 26.4173-PR e 22.349-PR: o novo adquirente do imóvel é parte legítima passiva para responder por ação de dano ambiental, pois assume a propriedade do bem rural com a imposição das limitações ditadas pela lei federal.

Nesse mesmo entendimento, o desembargador, Antônio Prado Filho (2002)41, do

Tribunal de Justiça do Paraná, ao reconhecer que a obrigação de preservar a mata e repará-la acompanha a propriedade, independentemente de quem seja o seu titular, por tratar-se de obrigação propter rem, ou seja, de obrigação que recai sobre uma pessoa por força de um determinado direito real.

Estabelece ainda precedente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região:

Processo Civil. Agravo de Instrumento. Ação Civil Pública. Dano Ambiental. Art. 225 da CF-88. Lei 7.347/85, Art. 11.

Verificada a ocorrência da agressão ambiental, não está afastada a responsabilidade civil do terceiro adquirente da área alterada. Impõe-se a manifestação do poder judiciário para evitar maior dano ambiental, determinando-se que os agravados se abstenham de realizar qualquer atividade tendente à degradação do meio ambiente.

_________

39 STJ, 1ª T., REsp229302, relator, ministro Garcia Vieira, j. 18/11/1999, e também: Resp 214714-PR (STJ-lex,

127/219) e Resp 156899-PR (RSTJ 113/78). In Steigleder (2004, p. 229)

40 STJ, 1º Turma, Resp 222.349-PR, relator, ministro José Delgado, j.23/03/2000.

41 Apcivil 112.153-9, da 2ª Vara Cível da Comarca de Paranavaí, relator, desembargador. Antônio Prado Filho, j.

Em caso de descumprimento da presente decisão é fixada multa diária de R$ 1.000,00, de acordo com art. 11, da Lei 7347/85, e art. 632. Agravo provido.42

Para Steigleder a responsabilidade pela área degradada está baseada no art. 225, caput, da CF-88, que impõe ao Poder Público e a coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações; e o art. 186, inc. II, da CF, refere que a função social é cumprida quando a propriedade atende, dentre outros, ao requisito da utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente.

Para a autora a combinação desses dispositivo cria um dever de preservação, uma obrigação de fazer ao titular do direito real de propriedade, que não somente fica impedido de destruir os recursos naturais, mas tem o dever de conservação sobre tal patrimônio, reputado bem de uso comum do povo. Este dever de preservação vincula-se ao exercício da função social da propriedade, que integra, ao lado do direito subjetivo, o conteúdo do direito de propriedade, e, por este motivo, é transmitido ao novo adquirente do bem. Lembrando também a figura do poluidor indireto descrito na Lei 6.938/81, em seu art. 3º, IV.

Vejamos um exemplo: um banco ao adquirir uma área contaminada por resíduos industriais e não toma medidas de descontaminação. Esse resíduo passa a contaminar o lençol freático, podendo contaminar as águas subterrâneas situadas a quilômetros de distância do foco original ou seja, o dano sempre se agravando. Ao adquir um passivo ambiental, o novo proprietário assume a obrigação de evitar o agravamento deste dano, o que é possível somente com a recuperação da área.

Não há dúvida, portanto, de que a responsabilidade pelo dano ambiental é transferida ao novo proprietário, o Banco estará sujeito à reparação do dano ambiental a partir do momento em que o bem passa a pertencer ao seu patrimônio.

Antunes (2004) alerta ainda sobre outra forma de responsabilização das instituições financeiras: trata-se de financiamento imobiliário em áreas contaminadas. Para este autor a _________

fundamentação está no Código de Defesa do Consumidor (artigos 6º, 8º e 18º) e no Código Civil (artigos 1.101 e seguintes), além da legislação ambiental. Segundo o jurista, o reconhecimento judicial da responsabilidade do agente financiador pelos defeitos ocultos de unidades habitacionais é certo, não causa a menor dúvida entre os tribunais. Assim, o Superior Tribunal de Justiça, ao decidir o Recurso Especial nº 51169/RS, relator, ministro Ari Pargendler, entendeu: “A obra iniciada mediante financiamento do Sistema Financeiro da

Habitação acarreta a solidariedade do agente financeiro pela respectiva solidez e segurança”.

Um outro caso recente do conjunto Residencial Barão de Mauá, no Parque São Vicente, município de Mauá, em que a CEF está respondendo processo por financiar um conjunto habitacional em um terreno contaminado com chumbo. No fim do ano de 2001, a Secretaria de Meio Ambiente de SP verificou grave contaminação do solo na área citada, em tal localidade existem 50 edifícios de apartamentos residenciais para cerca de 5 mil pessoas, hoje todos abandonados.