• Nenhum resultado encontrado

4 A GESTÃO AMBIENTAL NOS BANCOS PÚBLICOS BRASILEIROS

4.6 Apresentação e análise dos resultados

4.6.2 Produtos e serviços financeiros

4.6.2.2 Fatores ambientais considerados nas operações financeiras

Somente os bancos cujas atividades de varejo tem alcance nacional incluem o cumprimento da legislação ambiental em suas operações financeiras de crédito corporativo. Observe-se que, nestes bancos, o crédito corporativo acompanha a geografia do crédito varejista já que somente contas com faturamento, usualmente inacessíveis para pequenas e médias empresas (normalmente acima de 20 milhões de faturamento,) são direcionadas para agências especialistas em crédito corporativo, onde se concentram as carteiras de financiamentos de projetos.

As agências de varejo oferecem economias de escala tanto logísticas (sobretudo tecnologia) quanto de recursos humanos, que viabilizam o crédito corporativo para pequenas e médias empresas. Desta forma o desenho do crédito corporativo de pequenas e médias empresas (incluindo aí as agro-industriais e do setor imobiliário) insere variáveis legais em

sua padronização normativa, permitindo assim o tratamento uniforme e massificado destas operações em todo o Brasil.

Entretanto, no financiamento de projetos, a inserção de variáveis afeitas ao cumprimento da legislação ambiental, gerenciamento ambiental e, a aplicação das pautas ambientais estabelecidas por bancos multilaterais (que em última análise definem os limites de financiamento em projetos multi ou bilaterais), é adotada por todos os bancos, de acordo com o resultado da pesquisa.

Um dado extremamente significativo é a indiferença unânime dos bancos públicos relação ao eventual grau de oposição pública a projetos que envolvam variáveis ambientais. É forçoso constatar que os dispositivos de pressão e influência das estruturas de representação das comunidades locais ou nacionais associada aos interesses ambientalistas exercem pouca ou nenhuma influência sobre as instâncias decisórias nos bancos públicos federais.

b) Considerações específicas:

O BNB e o BASA não incorporam o cumprimento da legislação ambiental em suas linhas de crédito corporativo. Um aspecto importante a ser considerado é que, dentro da cultura de crédito brasileira, o volume de crédito corporativo de curto prazo tomado pelas grandes empresas é extremamente significativo. Tais financiamentos se agregam aos fluxos de caixa dos projetos financeiros, sem entretanto exigirem o mesmo crivo crítico e transparência informacional usualmente associáveis aos financiamentos de longo prazo que caracterizam tais projetos.

Como se observa, os principais fatores que são considerados nas operações financeiras restringem-se ao aspecto legal, tanto no cumprimento das leis nacionais e como nos acordos internacionais e se restringem a exigência de licenças ambientais, lembrando que, devido às diferenças nas legislações estaduais, alguns estados liberam certas atividades, algumas

consideradas danosas ao meio ambiente, da exigência do licenciamento ambiental. Como por exemplo nos estados de MT, GO e MS.

Em virtude do disposto no artigo 12 da Lei 6.938/81, as instituições financeiras têm a obrigação de exigir o licenciamento ambiental dos projetos financiados, na forma dessa lei, observando, inclusive, a regra contida em seu artigo 10, que se refere especialmente aos estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como as capazes, de qualquer forma, de causar degradação ambiental.46

Além das licenças, a resolução 237/97 prevê ainda, no seu art. 3º, a exigência do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), para aqueles empreendimentos ou atividades que possam causar significativo impacto ambiental.

Embora os Bancos exijam o chamado EIA/RIMA e as devidas licenças, os mesmos consideram esse procedimento um entrave para os negócios, devido à burocracia para a tramitação de cada projeto, a morosidade na análise e concessão de licenças e ao alto custo dos investimentos necessários para atender as exigências do licenciamento, ao custo de preparação de estudos e projetos exigidos (o BNDES oferece financiamento para a elaboração dos estudos), as dificuldades de identificar e atender aos critérios técnicos exigidos e à dificuldade em identificar especialistas no assunto.

Um dos maiores problemas com relação ao licenciamento é que a realização do EIA ocorre durante ou no fim do projeto, quando deveriam ser realizados no momento de se planejar o empreendimento. Em decorrência disso, muitos problemas são relevados somente após o início das obras, quando se torna mais difícil a negativa de concessão de licença.

_________

46 O elenco exemplificativo desses empreendimentos ou atividades sujeitos ao licenciamento ambiental consta no

Outra questão problemática refere-se à falta de uniformidade de procedimentos normativos entre os órgãos licenciadores, tanto na esfera estadual e municipal, gerando os conflitos de competência relacionados à dispensa administrativa do licenciamento ambiental.

Deve-se salientar, entretanto, que a obrigação legal imposta às instituições financeiras em relação ao cumprimento da legislação ambiental não se restringe à exigência da licença ambiental. A Lei 6.938/81 é clara ao estabelecer que tais instituições devem verificar o cumprimento das normas, padrões e critérios ambientais estabelecidos pelo CONAMA.

Para alguns doutrinadores, as instituições financeiras devem atuar além do estabelecido na Lei 6.938/81, exigindo o cumprimento da legislação ambiental por parte dos financiados. O que acontece na prática é que as licenças são exigidas mas não se fiscaliza se as medidas solicitadas pelo EIA/RIMA se foram cumpridas. Lembrando que os bancos analisados fazem parte do Protocolo Verde, que exige a implementação das variáveis ambientais na análise do crédito.

Entretanto o único Banco Público brasileiro que aderiu aos Princípios do Equador realiza uma análise detalhada dos EIA/RIMA, verificando as medidas mitigadoras e exigindo do financiado um relatório descritivo das exigências solicitadas pelo estudo. Entretanto essa análise fica restrita a financiamentos acima de U$ 10 milhões, no caso específico do Banco do Brasil foram realizadas em 2005 e 2006 um total de 8 projetos.

Analisando as exigências do IFC e da legislação ambiental brasileira verifica-se que o nosso ordenamento jurídico apresenta teses mais abrangentes do que aquelas definidas pelo do Princípio do Equador, o que convida o exame das razões que levam tal ordenamento a subordinar-se a padrões internacionais. Entre outras possibilidades para uma pesquisa futura, sugerimos análise do grau de aderência da legislação ambiental brasileira e do Protocolo Verde à realidade econômica brasileira, o porquê das restrições das operações limitadas a

valores tão altos, na hipótese de que tais definições estratégicas tenham sido derivadas de imperativos de mercado.