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4 A GESTÃO AMBIENTAL NOS BANCOS PÚBLICOS BRASILEIROS

4.6 Apresentação e análise dos resultados

4.6.3 Análises de riscos

4.6.3.1 Gerenciamento do risco ambiental

O risco ambiental é, de uma maneira geral, ignorado nos sistemas de gerenciamento de crédito corporativo bem como no gerenciamento estratégico de suas carteiras. Em contrapartida as variáveis definidoras do risco ambiental são descritas como integradas, tanto aos subsistemas operacionais, quanto ao sistema estratégico, de um modo geral, quando se

trata de financiamentos de projetos. Cabe aqui resgatar as considerações feitas no item anterior, quando tratávamos dos fatores ambientais.

b) Considerações específicas:

Analisado sob a perspectiva metodológica de seus processos decisórios, a variável risco ambiental não recebe tratamento estruturado, nos sistemas formais, no financiamento de projetos. Por outro lado, as instituições entrevistadas entendem que o risco ambiental está inserido no contexto da análise formal e estratégica dos sistemas de gestão do financiamento de projetos por meio da observação da legislação ambiental no que se refere à concessão das licenças.

Tal modelo de inserção da variável risco ambiental sugere que o risco ambiental propriamente dito ainda não recebe um tratamento taxonômico específico que permitiria sua vinculação estruturada à análise jurídica correspondente.

Juridicamente a observação do risco socioambiental está fundamentada no princípio do Poluidor Pagador47. Conforme Antunes (2006) é o princípio da responsabilidade pela qual o poluidor deve responder por suas ações ou omissões, em prejuízo do meio ambiente, de maneira a mais ampla possível, de forma que se possa repristinar a situação ambiental degradada e que a penalização aplicada tenha efeitos pedagógicos, e impedindo-se que os custos recaiam sobre a sociedade. O risco ambiental adquire forma jurídica em vários trechos da CF, entre outros cabendo inicialmente destacar, a Ação Popular para assegurar e responsabilizar por eventuais danos.48

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47 Maiores esclarecimentos sobre o princípio do Poluidor-pagador no capítulo 2 p 61.

48 Título III (bens e competências em matéria ambiental), pelo Título IV (funções do Ministério público e de

outros órgãos na proteção ambiental, pelo título VII (Ordem Econômica – princípios gerais da atividade econômica) e chegando ao Título VIII (ordem Social) no qual está inserido o Capítulo VI que trata especificamente do meio ambiente e de forma bastante direta na obrigação de reparar os danos, independente da responsabilidade penal e administrativa, que passa a ser uma obrigação constitucional, prevista no § 3º, do art. 225 da CF.

O gerenciamento do risco ambiental parte da necessidade, primeiramente, de se evitar danos ambientais futuros, e conseqüentemente, riscos financeiros. É bom lembrar que a responsabilidade civil ambiental é fundada na teoria do risco integral, partindo do seguinte pressuposto: aquele que, em decorrência de sua atividade, cria um risco de dano para terceiros, mesmo que sem culpa, deve ser obrigado a repará-lo.

A doutrina do risco integral pode ser assim resumida: todo prejuízo deve ser atribuído ao seu autor e por ele reparado, independentemente de ter ou não agido com culpa. Resolve-se o problema na relação de causalidade, sendo dispensável qualquer juízo de valor sobre o culpado responsável, que é aquele que materialmente causou o dano.

Por seu turno, a teoria do risco integral ampliou o horizonte de incidência da responsabilização afastando, desse modo, as críticas ao modelo, aparentemente, restritivo da pioneira teoria do risco proveito49. A idéia central da teoria do risco integral é sintetizada por Pereira (2002, p. 270) da seguinte forma: “Se alguém põe em funcionamento qualquer atividade, responde pelos eventos danosos que esta atividade gera para os indivíduos, independentemente de determinar se em cada caso, isoladamente, o dano é devido à imprudência, à negligência, a um erro de conduta.”

Esse conceito, além de deixar expresso o rompimento com o dogma da culpa, que obrigava uma investigação do comportamento motivacional do agente, mostra que, nesse caso, a obrigação de reparar o dano advém, exclusivamente, da situação de perigo trazido pela atividade, sem cogitar-se no eventual proveito tirado pelo responsável.

Consagrada assim, através da legislação, a responsabilidade objetiva, abriu-se a via necessária para o reconhecimento da responsabilidade por dano ambiental. Como ensina Machado (2004, p. 327) não se aprecia subjetivamente a conduta do poluidor, mas a _________

49 Segundo a teoria do risco-proveito, todo aquele que tira proveito ou vantagem da atividade geradora do dano,

é obrigado a repará-lo, com base no princípio de que, onde está o ganho, está também o encargo – ubi

ocorrência do resultado prejudicial ao homem e seu ambiente. A atividade poluente acaba sendo uma apropriação pelo poluidor dos direitos de outrem, pois na realidade a emissão poluente representa um confisco do direito de alguém em respirar ar puro, beber água saudável e viver com tranqüilidade.

Verifica-se nos bancos estudados que o gerenciamento do risco socioambiental se baseia na verificação da documentação exigida pela legislação. Como vimos no capítulo 3 os bancos brasileiros ainda não integralizaram o risco socioambiental na avaliação de riscos: os bancos ignoram essa modalidade de risco e alguns o consideram como risco de conjuntura decorrentes de catástrofes e acidentes. Os quatro maiores bancos privados do país, em termos de ativos e o Banco do Brasil já deram sinais de preocupação com o risco socioambiental ao aderirem aos Princípios do Equador, focando principalmente o segmento corporate. Observe- se que pequenas e médias empresas que atuam em atividades de grande impacto ambiental, aumentam a exposição dos bancos ao risco de crédito decorrente de problemas ambientais.

Dos bancos pesquisados somente o BNDES utiliza da variável ambiental na avaliação do risco de crédito já com vistas a atender o protocolo verde e o acordo de Basiléia II.

4.6.3.2 Ferramentas para análise do risco ambiental