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O terceiro impasse: a fragmentação da legislação ambiental brasileira

2 RISCO AMBIENTAL E DIREITO AMBIENTAL: A PERSPECTIVA BRASILEIRA

2.1 O Direito Ambiental: um pacta sunt servanda pós-moderno?

2.1.3 O terceiro impasse: a fragmentação da legislação ambiental brasileira

O marco inicial do ordenamento ambiental brasileiro foi a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema), no ano de 1973, pelo Decreto 73.070, apesar de existir dispositivos legais mais antigos, tais como o Código Florestal, criado pela Lei 4.771, de 15/09/1965.

Em 31/08/1981 foi editada a Lei 6.938, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins, mecanismos de formulação e aplicação, e institui o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA)16 e o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). 17 Nesse mesmo ano, foi editada a Lei 6.902, que dispõe sobre a criação de estações ecológicas e áreas de proteção ambiental (IBAMA, 2004).

A Constituição Federal de 1988 figura entre as mais avançadas em matéria ambiental, adequada à construção normativa e a prática ambiental. No título destinado à “ordem social”, reserva o Capítulo VI – art. 225, com seis parágrafos – ao meio ambiente. Além deste, a nova Carta se refere a questões ambientais em vários outros artigos: 23,24,30,170,215 e 216.

Em 22/02/1989, por meio da Lei nº 7.735, é criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), entidade que reuniu vários órgãos federais que respondiam por assuntos ambientais. (CONTEXTO, 2000).

Em 1992, ano da realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento é criado o Ministério do Meio Ambiente, que tem o Ibama, órgão a ele vinculado, como principal agente executor (IBAMA, 2004).

Além dos dispositivos legais acima mencionados, relacionamos os seguintes normativos considerados leis troncos, por serem textos de amplos alcance nas questões _________

16 É constituído por todos os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,

bem como as fundações instituídas pelo Poder Públicos , responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental.

ambientais: A Lei 9.433/1997 que institui a Política Nacional dos Recursos Hídricos; A Lei 9.605/98 que trata das sanções administrativas e penais derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente; Lei 9.985/2000 que institui o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação.Dispositivos de cunho mais específico também compõem o normativo-ambiental. Podem ser apontadas, dentre outras:

• Lei 5.197/67 – Proteção da fauna

• Lei 6.433/77 – Responsabilidade civil e criminal por danos e atividades nucleares • Lei 6.902/81 – Criação de estações ecológicas e área de proteção ambiental • Lei 7.661/88 – Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro

• Lei 7.802/89 – Pesquisa, experimentação, produção e embalagem, transporte, armazenamento de agrotóxicos;

• Lei 8.723/93 – Redução de Poluentes por veículos automotores • Lei 9.975/99 – Política Nacional de Educação Ambiental

• Lei 9.966/2000 – Prevenção,controle e fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas em águas sob jurisdição Nacional • Lei 10.308/2001 – Seleção de locais, construção, licença, operação, fiscalização,

responsabilidade civil, referentes aos depósitos de rejeitos radioativos. • Lei 11.105/2005 – Biossegurança.

Os mais significativos decreto-leis para o Direito Ambiental são os seguintes: a) proteção e estímulos à pesca – Decreto –lei 221/1967; b) Código de Minas – Decreto-lei 227 1967; c) controle da poluição do meio ambiente por atividades industriais – Decreto-lei 1.13 de 1975.

Destacamos ainda os seguintes Decretos: a) Decreto nº 99.274/1990 que regulamenta as leis sobre criação de estações ecológicas e área de proteção ambiental e a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente; b) Decreto nº 4.297/2002 que regulamenta o art. 9º, II da Lei

6.938/81, estabelecendo critérios para o Zoneamento Ecológico-Econômico do Brasil (ZEE); c) Decreto 4.339/2002 que estabelece os princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional da Biodiversidade; d) Decreto 4.680/2003 que define o direito à informação quanto aos alimentos destinados ao consumo humano ou animal que contenham organismos geneticamente modificados; e e) Decreto 4.703/2003 referente ao Programa Nacional da Diversidade Biológica (PRONABIO) e Comissão Nacional da Biodiversidade.

As resoluções do CONAMA são de grande importância no Direito Ambiental brasileiro. Dotadas de caráter normativo, dentre as inúmeras resoluções, arrolamos aquelas de maior ressonância: a) Estudo e Relatório de Impacto Ambiental – Resolução 1, de 23/01/1986; b) audiências públicas – Resolução 9, de 3/12/1987; c) Licenciamento Ambiental – Resolução 237, de 30/06/1999; d) pilhas e baterias – Resolução 257, de 30/06/1999; e) pneumáticos – Resolução 258, de 26/08/1999; f) proibição de substâncias que destroem a camada de ozônio – Resolução 267, de 14/9/2000; g) auditorias ambientais – Resolução 306, de 05/07/2002.

Notamos que o Direito Ambiental em nosso país é formado por normas de idades diversas. Grande parte dos textos normativos é anterior à constituição Federal de 1988. Não se trata de uma questão de idade ecológica, como destaca Milaré (2006): as idéias mudam, assim como suas preocupações. Veja-se que, até bem recentemente, a hoje denominada “Lei de Proteção à Fauna” chamava-se “Código de Caça”.

Para o jurista a legislação ambiental está estruturada em retalhos, os normativos têm vastíssimas clareiras normativas, verdadeiros “buracos negros regulatórios”, onde inexistem normas de regramento das condutas dos envolvidos. “O traço mais marcante da nossa legislação é seu perfil assistemático, gravíssimo pecado para um regime normativo que, pela sua abrangência e caráter transdiciplinar, não se mantém de pé sem um mínimo de organicidade e sistematicidade”.

A falta de sistematização de suas normas dificulta a aplicação do Direito Ambiental, já que tais normas são profusas, e, por vezes, difusas. Esse cenário jurídico também dificulta a análise de crédito de projetos financiados pelos bancos, favorecendo como disse o jurista as atividades lesivas ao meio ambiente.

Carece o Direito Ambiental brasileiro de uma codificação capaz de conferir-lhe organicidade, eliminando antinomias e harmonizando-o com o ordenamento jurídico global, notadamente com os princípios constitucionais.

Resulta daí que os princípios do Direito Ambiental se tornam mais relevantes e importantes, pois é a partir deles que as matérias que ainda não foram objeto de legislação específica podem ser tratadas pelo poder judiciário e pelos diferentes operadores do direito.