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AS GUERRAS NAPOLEÔNICAS E

A RETIRADA DE MOSCOU

A retirada do Exército francês de Moscou começou em 19 de outubro de 1812. Tem sido geralmente esquecido que a total falta de disciplina no exército francês, e não apenas as condições climáticas, foram as principais responsáveis pelas catástrofes terríveis que se seguiram. Napoleão tinha a intenção de mover-se para o sul através da região fértil em torno de Kaluga e colher os recursos daquele território ainda intocado. No entanto, em 24 de outubro, Kutusov atacou o Exército francês em Malojaroslavets. A luta foi acirrada e Napoleão decidiu voltar pela mesma rota usada na invasão.

Kutusov não conseguiu explorar seu sucesso e permitiu que Napoleão voltasse à rota do norte através de Borodino para Smolensk, mas ele percebeu que isso seria melhor para poder perseguir o Exército francês, que já se desintegrava pela exaustão e pela falta de suprimentos, mesmo sem sofrer as baixas de um grande batalha. Kutusov já tinha ultrapassado os franceses, mas ele não fez nenhum esforço para fechar sobre eles.

Ao contrário, ele se manteve no seu flanco, fustigando-o com os cossacos e caçando os retardatários. O Exército francês chegou a Smolensk em 13 de novembro, com apenas 41 mil homens, onde permeava um colapso total de qualquer disciplina restante. A retirada ordenada de Moscou tinha se tornado uma desordem, onde o assassinato, o saque, a embriaguez, e o suicídio tornaram-se comuns.

Napoleão despachou ordens para os marechais Claude Perrin Victor e Nicolas- -Charles Oudinot para se juntarem a ele em Borisov no rio Beresina. Napoleão, então, recebeu informações de que o almirante Paval Tschitshagov estava se aproximanado de Borisov pelo sul. Ele, então, selecionou Studienka como ponto de passagem e às 01:00 hs de 13 de novembro enviou ordens para Oudinot avançar a fim de construir pontes. Du- rante a execução dessas ordens, Oudinot encontrou a guarda avançada dos russos perto de Borisov e levou-os ao caos, mas não antes de os russos destruírem a ponte existente.

A retomada repentina das operações ofensivas deu tempo para que Victor se des- locasse e para que Oudinot construísse as pontes em Studienka. Napoleão enviou seus pontoneiros sob o comando do general Jean-Baptiste Eblé, mas em sua chegada, eles descobriram que nenhuma preparação tinha sido feita e que mais tempo havia sido perdi- do. Às 04:00 hs de 13 de novembro, as pontes foram finalmente concluídas e a travessia começou, mas não sem a resistência oferecida pelos russos, que foram progressivamente se aproximando. A travessia continuou durante toda a noite, embora interrompida de tem- po em tempo por falhas nas pontes. Durante todo o dia 27 os retardatários continuaram a atravessar a ponte cobertos por aqueles combatentes que permaneceram sob uma dis- ciplina suficiente para serem empregados. Às 08:00 hs de 28 de novembro, no entanto, Tschitschagov e o marechal-de-campo Ludwig Wittgenstein avançaram em ambas as mar- gens do rio para realizar um ataque, mas foram detidos pelo esplêndido auto-sacrifício das poucas tropas restantes sob o comando dos marechais Ney, Oudinot, e Victor. Por volta da 01:00 hs, o último corpo de tropas regulares passou por cima das pontes, permanecendo além do rio alguns milhares de retardatários.

Em 5 de dezembro, tendo atingido Smorgoni, e vendo que nada mais poderia ser feito contra ele na frente, Napoleão entregou o comando do que restava para Murat e par- tiu para Paris para organizar um novo exército para o ano seguinte e cuidar de assuntos políticos na capital. Viajando a grande velocidade, ele alcançou as Tuileries no dia 18, de- pois de uma viagem de 312 horas. Após a partida do Imperador, o frio chegou com maior intensidade, com a temperatura caindo para 20 grau negativos. Em 8 de dezembro, Murat alcançou Vilna com a intenção de levar a cabo as instruções de Napoleão de dar à tropas pelo menos oito dias de descanso. Mas muitos soldados morreram esmagados durante a corrida tumultuada para reunir os suprimentos abundantes, enquanto outros morreram bêbados nas ruas expostos ao frio.

O contingente da Prússia, sob o comando do marechal-de-campo John David Yor- ck, que fazia parte do comando de Macdonald, perto de Riga, em seguida, mudou para lado dos russos através de uma convenção negociada em Tauroggen (30 de dezembro). Isso privou os franceses do seu último apoio no seu flanco esquerdo. Konigsberg, assim, tornou-se insustentável, e Murat deslocou-se para Posen onde, no 10 de janeiro de 1813, ele entregou o comando a Eugene Beauharnais e retornou a Paris.

ANÁLISE DA CAMPANHA

ram sob o peso de suas próprias necessidades logísticas. Esse colapso foi exacerbado pela excelência da manobra operacional retrógrada dos russos. Napoleão calculara lutar uma batalha decisiva dentro de um mês após cruzar o rio Niemen. No entanto, os rus- sos geralmente se recusaram a oferecer combate, retraíram e, finalmente, abandonaram Moscou. A chave para o sucesso russo estava em suas ações de “terra arrasada”. Eles destruíram todas as fontes de alimentos disponíveis e contaminaram os poços de água durante a sua retirada, enquanto atraíam Napoleão para mais fundo no território russo, e sem os suprimentos adequados.

Com grandes necessidades logísticas, Napoleão foi forçado a abrandar o seu ritmo de marcha e atrasar qualquer avanço para permitir que seus meios logísticos recupe- rassem o atraso. As más condições das estradas e outras infra-estruturas de transporte enfraquecidas durante as fortes chuvas prejudicaram a circulação dos suprimentos fran- ceses, enquanto a destruição dos recursos do território russo por seu exército impediu que o Exército francês vivesse “fora da terra”. A recusa do Csar em negociar a paz também agravou a situação logística francesa, mantendo os franceses na Rússia sem roupas de inverno.

Além disso, as habilidades de comando e controle de Napoleão foram incapazes de deslocar o seu exército rápido o suficiente para cercar os russos. Estes conseguiram sempre iludir o Exército francês, por causa da capacidade de resposta relativamente mais lenta por parte dos marechais de Napoleão. Por outro lado, a capacidade francesa para entregar ordens de execução centralizadas não conseguiu se adequar às dimensões do espaço de batalha russo.

Durante a retirada de Moscou, uma falta geral de disciplina fez com que o Exército francês negociasse suprimentos vitais, servindo-se do saque capturado durante a cam- panha russa. Isso aumentou o volume logístico, colocou uma pressão adicional sobre os cavalos, já sobrecarregados, e retardou o progresso do exército em retirada. Quando a primeira neve caiu em 4 de novembro de 1812, o pânico generalizado tomou conta das tropas e os soldados, famintos, abandonaram armas e vagões em busca de alimento e, consequentemente, foram mortos pelos cossacos. Napoleão tinha perdido o controle de seu exército e já não podia proporcionar-lhe proteção contra as forças russas. Em certo sentido, a Grande Armee desintegrou por uma combinação da indisciplina interna com o clima, a falta de suprimentos e as ações do Exército russo, cossacos e guerrilheiros.