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O ESTADO-MAIOR DE NAPOLEÃO

“O profissionalismo do pessoal de Napoleão, pouco antes de Austerlitz, contrastava, fortemente, com a confusão que prevalecia entre os “staf- fs” russo e austríaco.”

Robert Goetz

Em 1780, Berthier foi para a América, e em seu retorno, tendo alcançado o posto de Coronel, ocupou várias funções de Estado-Maior. Berthier era dotado de uma apreensão incrível e uma rápida compreensão, que combinadas com seu completo domínio do de- talhamento das coisas, o transformaram em um Chefe-de Estado-Maior perfeito para um comandante como Napoleão. Berthier participou em várias campanhas. A maneira de sua morte é incerta; segundo alguns relatos, ele foi assassinado, outros dizem que, enlouque- cido pela visão das tropas russas marchando para invadir a França, ele atirou-se da sua janela e morreu. Berthier é um dos mais conhecidos oficiais de “staff” da história miitar.

Napoleão introduziu signficativas mudanças no antigo sistema de Carnot, parcialmente porque aquele dava preferência a dedicar-se mais às ati- vidades administrativas em Paris. A nova máquina implantada por Napoleão tendia a ser maior e mais desajeitada que a de Carnot. Napoleão entendia que um Ministro da Guerra deveria ater-se, ape- nas, às funções “civis” da guerra, tais como consci- ção, pagamento e relatórios e, por isso, ele próprio liderava seu “Grand-Quartier-General” que super- visionava, diretamente, o seu Exército.

Abaixo dele estava seu Estado-Maior pes- soal, ou “La Maison”, que incluía um QG opera- cional, um gabinete de viagens e um gabinete de topografia, além de seu “staff” de Inteligência e de planejamento. As duas principais agências subor- dinadas do Grand-Quartier-General eram o “Ge- neral Commissariat” de compras do Exército, que supervisionava todos os tipos de suprimentos, e o “Quartier-General Geral” sob a chefia do Marechal Berthier;

Berthier dirigia o “QG Geral”, que tinha vários departamentos e seções, cada uma dedicada a lidar com uma área bem definida de responsabilidade, tal como os movimentos de tropas, Inteligência, pessoal, registros e assuntos jurídicos, além de equipes especiais para cada arma ou serviço.

Os oficiais subordinados a Bertheir, tinham que saber quais eram suas tarefas e deviam realizá-las bem. O Estado-Maior do Exército de Napoleão deveria prover todo o apoio administrativo, logístico e de comunicações que Napoleão achasse necessário para que seu Exército pudesse operar em longas distâncias e em territórios pouco conhecidos. O Exército de Napoleão foi capaz de operar em toda a Europa com grande facilidade e velocidade. Por exemplo, em 1796, o Exército de Napoleão passou por entre as “nuvens” da Suíça, através de um terreno julgado intransponível para um Exército, para atacar e destruir o inimigo na Itália. Em 1805, o Exército de Napoleão atravessou o norte da França em velocidades inimagináveis para o resto dos comandantes dos exércitos da Europa. Em 1814, Napoleão encontrou os exércitos inimigo ao longo da estrada para Paris, com nenhum deles estando dentro da distância de qualquer outro de apoio. Isto levou Napo- leão às quatro vitórias impressionantes em Champaubert, Montmirail, Chatteu Thierry e Vauchamps.

Porém, o Estado-Maior de um exército já existia antes das guerras napoleônicas. Oliver Cromwell, Rei Jan Sobieski, marechais do rei Louis XIV e alguns outros comandan- tes tinham seus próprios “staffs”que tinham sido bastante eficientes em suas épocas, mas eram organizações temporárias. Pierre-Joseph Bourcet queria, especificamente, oficiais treinados e um corpo de oficiais permanentes. Os oficiais deveriam ser treinados em topo- grafia, geografia, ciência da arte da guerra, história, etc. Em suma, deveriam ser capazes de lidar com os registros e relatórios. Em 1783, o Exército francês foi o primeiro a formar um corpo de Estado Maior, embora ele logo tivesse sido abolido pela revolução.

Em 1805, Mathieu Dumas propôs restabelecer um corpo de “staff” permanente. Na- poleão rapidamente aceitou essa idéia. De acordo com o escritor George Nafziger (EUA),

foi o Exército francês, e mais provavelmente o próprio Napoleão, quem trouxe à tona o primeiro Estado-Maior verdadeiramente moderno.

O Estado-Maior compreendia cinco “divisões”:

=> 1ª – Controlava os deslocamentos de tropas, as ordens do dia, a designação de oficiais e a correspondência em geral;

=> 2ª – Tratava do abastecimento, do policiamento, e da administração do QG; => 3ª – Cuidava do recrutamento, dos prisioneiros de guerra, desertores e da justiça militar;

=> 4ª – Supervisionava a extensão da linha de comunicações; e

=> 5ª – Tomava conta dos reconhecimentos, correspondência entre comandnates, etc..

Napoleão e seu Estado-Maior em Borodino

Em 1812, o Chefe-de-Estado-Maior tinha 9 assessores, uma equipe de oficiais com- posta por 5 generais, 11 assistentes e 50 oficiais de apoio. Havia também geógrafos, engenheiros e cartógrafos, 19 oficiais da administração militar, comissários de guerra, inspetores e oficiais de artilharia.

O profissionalismo do “staff” de Napoleão, pouco antes da batalha de Austerlitz con- trastou agudamente com a confusão que prevalecia entre as equipes russas e austríacas. Napoleão tinha produzido um plano de batalha com antecedência, e sua equipe tinha emi- tido as ordens escritas uma noite antes; nos QGs russo e austríaco, o planejamento não tinha sido concluído até a noite do dia 1º de dezembro, e “os comandantes das colunas apenas tomaram conhecimento dos detalhes depois da meia-noite.”Sob tais circunstân- cias, a confusão era inevitável.” (Goetz - “1805: Austerlitz”)

tinha certas limitações. O Estado-Maior tinha Napoleão e Berthier como as principais ca- beças. Estes, tendo trabalhado muito tempo juntos, tornaram-se incapazes de trabalhar eficientemente com mais ninguém. Bastava Napoleão proferir algumas poucas palavras para Berthier, que este compreendia os seus significados e os transformava em ordens claras e precisas. Ninguém mais conseguia fazer isso.

Com efeito, a organização do Estado-Maior de Napoleão foi um genuíno Estado- -Maior.

Um outro problema foi que aquele “staff” tendeu a crescer, pois ele não atendia exclusivamente o seu exército, mas todos os outros exércitos da França, e o governo também. No entanto, o exemplo francês era muito superior a qualquer outro na Europa e começou a ser adotado, muito extensamente, por muitos outros países. Na Prússia de- terminados refinamentos foram introduzidos, no tocante às especializações, o que veio a gerar a evolução do moderno “staff” militar.

CAPÍTULO 6