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5 SEGUINDO OS CIENTISTAS DA INFORMAÇÃO

5.2 ADENTRANDO A CAIXA-PRETA, PASSO A PASSO

5.2.1 A revista Ciência da Informação: o universo bibliográfico da pesquisa

O periódico Ciência da Informação é editado pelo Departamento de Ciência da Informação do IBICT, sendo que o primeiro fascículo foi publicado em 1972, pelo ainda IBBD. Até o ano de 1994, a revista era publicada semestralmente em suporte impresso, tornando-se quadrimestral a partir de 1995, ano em que passou a ser publicada em formato eletrônico. Chama à atenção a regularidade da publicação que ao longo de 36 anos de trajetória não sofreu qualquer interrupção, nem mesmo no ano de 1976, quando o IBBD foi extinto e criado o IBICT. Neste ano, no qual ocorreu também a mudança de sede do Rio de Janeiro para Brasília, os números 1 e 2 da revista foram reunidos em um único volume, cumprindo assim a periodicidade definida.

A revista foi criada inicialmente com o objetivo de divulgar “os resultados dos projetos então implantados pelo IBBD, quase todos na área de automação, além dos trabalhos de interesse do curso de Mestrado, pois, até então, os anais dos congressos eram os únicos veículos disponíveis” (GOMES, apud FORESTI, 1986, p.145). Só a iniciativa da criação da revista já possuía um caráter inovador, estando relacionada às questões tecnológicas que envolviam o contexto da época, o que reforça ainda mais a escolha deste periódico como objeto de pesquisa.

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Podem ser mencionadas aqui a revista Perspectivas em Ciência da Informação, da escola de Biblioteconomia da UFMG e DataGramaZero, sob a responsabilidade do Instituto de Adaptação e Inserção na Sociedade da Informação (IASI).

No entanto, com o passar dos anos e as transformações que ocorreram não apenas no IBICT, mas no país como um todo, a revista também passou por alterações sem deixar contudo de lado o viés tecnológico que permeava sua existência:

Com a finalidade de tornar mais abrangente o conteúdo da revista e possibilitar o atendimento a um público maior, atuante na área da informação, mudanças estruturais foram efetuadas na revista em 1981, conforme explicitado em suas normas editoriais, como sendo um ‘veículo de disseminação e desenvolvimento da Ciência da Informação no Brasil, bem como de divulgação das principais atividades do setor de informação científica e tecnológica” (FORESTI, 1986, p.145).

Em relação ao público-alvo da revista, Foresti (op. cit.) explica que o mesmo é constituído principalmente de graduandos e pós-graduandos de Biblioteconomia/Documentação/Ciência da Informação, além de pesquisadores e de profissionais atuantes na área de informação. Porém, este público se expande por toda a comunidade de pesquisadores no Brasil, segundo afirmam Pinheiro, Brashner e Burnier (2005). Sua repercussão atinge a comunidade científica brasileira de ciência da informação e a de C&T em geral, com experiência e tecnologias repassadas a periódicos científicos nacionais em todos os campos do conhecimento.

Silva (1996) relata no editorial do volume 25, número 2, que a abrangência dos artigos publicados pela revista, apesar de dedicados à área da CI, reflete a própria característica da área no que tange à interdisciplinaridade dos assuntos abordados:

Publicaram-se trabalhos originais relacionados à ciência da informação e resultados de estudos e pesquisas sobre essas atividades, num contexto interdisciplinar, relacionando-se o processo de geração, análise e processamento, disseminação e utilização do conhecimento da ciência e da tecnologia. Foram englobados outros setores como a educação, cultura e pesquisa, indústria editorial e da comunicação, informática, indústria reprográfica, telecomunicação, marketing, terminologia, entre outros.

Em seu artigo, Foresti também faz um levantamento dos assuntos mais freqüentes que foram publicados e comenta: “observa-se a grande incidência de artigos sobre sistemas e serviços de informação em ciência e tecnologia [...]. Isso reflete a preocupação com atividades práticas da aplicação da informação.” (op.cit., p. 148) A ênfase ainda permanece, de acordo com as leituras feitas para a presente tese, estando presentes na grande maioria dos artigos aspectos técnicos em relação à organização e ao funcionamento de sistemas de informação, em sua maioria com base tecnológica.

Foresti destaca ainda a importância de sua contribuição teórica através da publicação de artigos que trabalham conceitos relativos à Ciência da Informação, mas lembra que são identificados também artigos cuja teoria remete à Biblioteconomia, estando estatisticamente ambos os enfoques muito próximos em quantidade de artigos: “A Ciência

da Informação, seus conceitos e ensino foram tema em boa quantidade de artigos, como também a Biblioteconomia (6 e 5 artigos respectivamente)” (FORESTI, op. ci., p. 148).

Este fato revela um importante ponto a ser considerado: se a indefinição de limites e atribuições foi algo possível de ser identificado como característica da área na publicação de artigos em 1986, é possível adiantar que a leitura dos artigos mais atuais também não trouxe diferenças significativas nesse aspecto em particular. Mesmo sendo uma revista direcionada à Ciência da Informação, os assuntos abordados em seus artigos circulam entre a CI, a Biblioteconomia e a Documentação. Este vínculo é tão poderoso que, tanto em 1986 quanto hoje, o desafio de tentar delimitar uma diante da outra de forma clara permanece em aberto aos estudiosos da área.

Outro artigo, esse publicado em 2005, também faz uma análise da revista, então com 32 anos de existência, e aponta para uma coincidência na predominância da publicação de artigos com o tema “sistemas de informação”, confirmando a mesma tendência, apesar do passar dos anos (PINHEIRO; BRASHER; BURNIER, 2005, p. 20). As autoras fazem uma análise de temas por décadas:

Década de 1970: predomínio de temas voltados à bibliometria e destaque para assuntos voltados às questões tecnológicas como processamento automático de linguagem;

Década de 1980: permanecem artigos sobre bibliometria e comunicação científica;

Década de 1990: sobem ao topo artigos sobre gestão da informação e teoria da Ciência da Informação, recebendo espaço maior as tecnologias, redes e sistemas de informação.

Período entre 1998 e 2000: inteligência competitiva e gestão do conhecimento foram os temas predominantes, juntamente com sistemas e serviços de informação e bases de dados, seguidos de bibliotecas virtuais/digitais e bibliometria/cientometria e indicadores.

Essas análises precederam a pesquisa aqui realizada e ajudaram a visualizar o caminho traçado pela revista e sua contribuição para o estabelecimento da CI brasileira. Nesta tese, no entanto, as atenções estiveram voltadas diretamente ao foco já anunciado. Uma nova releitura dos 35 anos da revista foi realizada, mas com um novo olhar sobre a CI. As páginas a seguir revelarão como estes passos foram dados e aonde foi possível chegar com os dados que foram obtidos.