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3 A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO NO BRASIL

3.2 A DÉCADA DE 1970: CENÁRIO DE GRANDES ACONTECIMENTOS COMO O CURSO

3.1.2 De IBBD para IBICT: os reflexos das mudanças paradigmáticas e estruturais na nova

Em 1976, ocorre uma mudança da nomenclatura do IBBD – Instituto Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação – que passa a se chamar IBICT – Instituto Brasileiro de Informação Científica e Tecnológica, refletindo as transformações ocorridas na área e reafirmando a relevância do papel das tecnologias em seu desenvolvimento. O nome representado pela sigla IBBD, que na década de 1950 representara os avanços das propostas advindas da área da Documentação, vinte anos mais tarde já não traduzia as propostas do órgão, que havia caminhado a passos largos nas iniciativas modernas de tratamento da informação científica e tecnológica.

Com efeito, durante a agitada década de 1970, o órgão passou por uma grande recontextualização. Após a formação do primeiro grupo de mestres em CI, o corpo técnico do IBBD passa a ser composto de pesquisadores docentes, atuantes em áreas relevantes no cenário informacional tanto no Brasil como no exterior, abrindo o espectro de possibilidades de atuação profissional na área da ciência e tecnologia.

Assim, esse pessoal qualificado passa a formatar um novo órgão, criando estruturas internas dedicadas a áreas especializadas de estudos e pesquisa que conformaram o IBICT em suas modernas propostas de trabalho informacional.

Christóvão (1995) analisa o desenvolvimento do IBICT, destacando três fases dessa recontextualização, conforme relatado a seguir:

• Recontextualização nº 1: “Desde então até agora” – onde relata a história de sua criação e do desenvolvimento do CDC;

• Recontextualização nº 2: “E desde agora até então” – onde destaca a criação do Mestrado em CI, a mudança de nomenclatura e a criação da Divisão de Ensino e Pesquisa (DEN) e da Divisão de Estudos e Projetos (DEP), fortalecendo o papel da educação e formação profissional na emergente área da CI no Brasil. A autora ressalta que a coordenação dos cursos e atividades de pesquisa do IBICT ficou sob a responsabilidade da DEN até 1983, época em que foi desativada devido à transferência da sede do IBICT para Brasília, passando o Mestrado a ser desenvolvido pela UFRJ, como já mencionado anteriormente neste capítulo.

• Recontextualização nº 3: “Desde então até agora/E desde agora até então” – onde avalia mais especificamente a situação do Programa de Pós-Graduação em CI (PPGCI), suas mudanças curriculares, as transferências institucionais pelas quais passou, analisando ainda (embora brevemente) as “crises existenciais” do paradigma da CI refletido nos cursos de pós-graduação do IBICT.50

Fatores externos do cenário da política nacional da época também foram responsáveis pela mudança estrutural vivenciada pelo IBICT a partir de 1976. Conforme relata Kuramoto (2005):

A criação do Ibict, em meados de 1976, a partir do antigo IBBD, subordinado ao Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), teve como objetivo apoiar o Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, por meio do fornecimento de acesso às informações em ciência e tecnologia. O enfoque principal era desenvolver e implantar uma rede de informação no país, envolvendo entidades atuantes em C&T, adotando-se para tanto, um modelo de sistema de informação descentralizado para o país.

Foi assim que começaram a ser desenvolvidos produtos e serviços importantes na área de C&T que acompanharam o desenvolvimento tecnológico sendo, inclusive, possíveis de existir somente a partir das tecnologias de comunicação e informação.

Kuramoto descreve em seu artigo as “iniciativas” ou “opções” tecnológicas feitas pelo IBICT com a finalidade de desenvolver suas atividades e executar sua missão de “Promover a competência e o desenvolvimento de recursos e infra-estrutura de ICT para a produção, a socialização e a integração do conhecimento científico-tecnológico”51.

No entanto, apesar de os recursos tecnológicos disponíveis nas décadas de 1970 e 1980 ainda serem bastante limitados e, por isso, a geração de produtos e serviços

50 Estas “crises” paradigmáticas são relevantes e serão melhor analisadas logo mais adiante.

51 http://www.ibict.br/secao.php?cat=Missão. O relato do autor remete a uma época mais recente da história do IBICT e as opções tecnológicas feitas pelo órgão a partir da década de 1990 serão relatadas ainda neste capítulo.

de informação científica e tecnológica (ICT) seguirem esse mesmo ritmo, o IBICT assumiu papel extremamente importante no desenvolvimento da área no país. Dentre as iniciativas mais importantes, destacam-se:

• Início do acesso a bases de dados estrangeiras (Orbit, Dialog e Questel), em 1977; • Acesso online às bases de dados NTIS (fitas magnéticas) e Library and Information

Sciences Abstracts (LISA), em 1978;

• Realização da 2ª Reunião Brasileira em Ciência da Informação, em 1979.

Outras atividades significativas do IBICT, já na década de 1980 são o início da operação do Programa de Comutação Bibliográfica (COMUT) serviço que permite a obtenção de obras bibliográficas por usuários espalhados em todo país – e a implantação do Programa de ICT e de Núcleos de Informação Tecnológica.

Com o passar dos anos, com sua experiência e as possibilidades de uma tecnologia mais avançada e mais acessível, o IBICT procurou aperfeiçoar seus produtos e serviços, acompanhando as novas tendências em Ciência e Tecnologia (C&T) até chegar à configuração atual.

No entanto, um dos produtos mais significativos do IBICT, criado ainda em 1972 e em plena atividade ininterrupta até os dias de hoje, foi a revista Ciência da Informação. Ela recebe destaque especial neste estudo e será analisada a seguir, mas é importante adiantar que a revista Ciência da Informação se trata de um dos periódicos mais importantes da área no Brasil, possuindo grande prestígio entre seus profissionais. Lançada em 1972, o periódico tem como objetivo principal publicar trabalhos relacionados com a CI ou “que apresentem resultados de estudos e pesquisas sobre as atividades do setor de informação em ciência e tecnologia” (IBICT, 2006).

Os artigos publicados revelam muito da história da CI no Brasil, expressando o desenvolvimento dos estudos e pesquisas realizados no país e divulgando suas atividades, conceitos e teorias. Possui status privilegiado dentre os pesquisadores brasileiros, pois se trata de veículo de grande credibilidade na comunidade científica, sendo mencionado em diversas pesquisas como o periódico mais importante da área52.

A despeito de todas as dificuldades que enfrentam as instituições que se propõem a criar e manter periódicos científicos no Brasil, a revista Ciência da Informação

52

Ver Pinto, Barquin e Gonzáles, para quem a revista Ciência da Informação é “referencia nacional en Ciencia y Tecnología, siendo también considerada por muchos investigadores de América Latina como la más importante del área en Brasil.” (2006)

tem um histórico de continuidade impecável, sendo considerado “um dos produtos do Ibict consolidados, tendo superado as diferentes crises político-institucionais do instituto, que ocasionaram descontinuidade e desativação de atividades.” (PINHEIRO; BRASHER; BURNIER, 2005, p.30).

A importância deste periódico revela-se também no fato de que se constituiu em uma das principais fontes de informação para a presente pesquisa, bem como tornou-se objeto específico de análise. Assim é que os Capítulos 5 e 6 desta tese são totalmente dedicados ao estudo dos usos do computador revelados em seus artigos.