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A Revolução Cubana e a “orfandade” da guerrilha mexicana

4. INSTITUCIONALIDADE E ORDEM INTERNA

4.2. A conspiração comunista internacional

4.2.2. A Revolução Cubana e a “orfandade” da guerrilha mexicana

O grande impacto simbólico da Revolução Cubana na região latino-americana não está em questão. No caso mexicano, a defesa do governo revolucionário da ilha é uma reivindicação abraçada por grande parte da esquerda mexicana. Assim, por exemplo, desde 1960 se realizam passeatas na Cidade do México todo o 26 de julho em comemoração ao assalto ao quartel Moncada, manifestações nutridas majoritariamente por organizações universitárias. Dentro da esquerda armada, como apreciamos anteriormente, o GPG de Chihuahua assumiu como linha tática o foquismo, ou castro-guevarismo, como também é chamado. O ex- presidente Lázaro Cárdenas, desde o MLN, defendia intransigentemente o processo caribenho, inclusive, teve que ser pressionado pela SEDENA, em 1961, a ficar no México, pois se dispunha a viajar à ilha para se unir às milícias cubanas contra as tropas anticastristas que atacaram Playa Girón (REYNAGA MEJÍA, 2007). Essas manifestações de solidariedade e de vontade de imitação ecoaram pelo mundo inteiro.

Os revolucionários cubanos, de seu lado, sob a premissa de que “a solidariedade é a ternura dos povos”, expressaram a vocação internacionalista na sua política externa. A postura cubana pode ser diferenciada cronologicamente: entre 1959 e 1961, abraça-se a solidariedade e as relações amistosas entre Estados, ou seja, apegados ao direito; entre 1962 e 1967, uma vez isolados após sua expulsão da OEA e das restrições impostas aos Estados para manter relações políticas e econômicas com a ilha, os cubanos começam um processo de composição de uma “diplomacia alternativa”, direcionada, fundamentalmente, aos movimentos armados da região. Finalmente, a partir de 1967, após o golpe que significou o assassinato de Che Guevara na Bolívia, a solidariedade não se restringe aos grupos armados, se diversifica, alcançando, também, os movimentos nacionalistas de tipo reformista, como poderia se

caracterizar o governo de Allende no Chile (DOMÍNGUEZ GUADARRAMA, 2014, p. 43- 44).

Mas lembremos que a tese do general Acosta Chaparro se apoia na perspectiva de que os grupos armados mexicanos eram diretamente promovidos e auxiliados pelo governo cubano. Porém, observando com maior detalhamento as características da diplomacia alternativa cubana, não encontramos nenhum tipo de reflexo no processo armado mexicano.

Desde 1959 Cuba cria um organismo chamado “Departamento M”, dirigido por Manuel Piñeiro Losada, paralelamente diretor da Dirección General de Inteligencia. O Departamento M se encarregava especificamente do “apoio às guerrilhas revolucionárias da América Latina e o Caribe”. Em 1961, o Departamento é absorvido pelo Ministerio del

Interior, adquirindo o nome de Dirección para las Relaciones com los Movimientos Revolucionarios de América Latina y África. Ainda sob o comando de Piñeiro, iniciam-se

uma série de campanhas cubanas no exterior. O primeiro caso confirmado de intervenção cubana se registra em 1962, na construção do “foco de Salta” organizado por Ricardo Masetti (ex-diretor geral da Prensa Latina) no norte argentino. Contudo, como aponta o ex-chanceler mexicano Jorge G. Castañeda, não existe um registro confirmado sobre a participação cubana em todos os casos de focos guerrilheiros, nem se tem certeza de que a organização do apoio para o estrangeiro dependesse unicamente de Piñeiro.

Em resumo, desde 1959, a política cubana apoiou um número grande de grupos armados de diversas formas:

brindou treinamento a jovens de distintos países em instalações militares cubanas, os capacitou em técnicas de inteligência e em foças especiais, também formou combatentes e oficiais. Apoiou com armamento, dinheiro e oficiais cubanos, diversas tentativas de luta armada no continente. Brindou seu território como retaguarda, onde dirigentes podiam encontrar refúgio e apoio para desenvolver seus projetos revolucionários e, inclusive, reformulá- los. Seu território foi local de encontro entre os distintos movimentos revolucionários no mundo (CASTAÑEDA, 1995, p. 68).

Nesse contexto, o caso mexicano é particular, pois a relação estabelecida entre o Estado cubano e o mexicano selou um pacto, mesmo sem ser de forma escrita, de não- agressão. É conhecida a amizade estabelecida entre o chefe da DFS, Fernando Gutiérrez Barrios, com o próprio Fidel Castro, que remonta a 1956, quando o primeiro, então chefe de controle da DFS, possibilitou a saída dos cubanos no Granma para iniciar a insurreição armada. A amizade se reflete num relatório, não assinado, escrito em primeira pessoa, em que

se descreve uma conversa com Gustavo Alatriste, diretor da revista de esquerda Sucesos. Segundo o escrito, Alastriste recentemente tinha voltado da ilha onde manteve um encontro com Fidel Casto, “o qual havia conversado sobre minha pessoa em forma elogiosa e pediu [a Alatriste] que, enquanto chegasse ao México me trouxesse uma saudação, e insistiu em que eu visitasse esse país”. O relatório enfatiza a admiração que Castro expressa pelo México

e a seus Presidentes, já que considera que os políticos mexicanos sempre se caracterizaram por seu patriotismo e habilidade, ainda quando constantemente recebem fortes pressões do Imperialismo, como no caso do Presidente Díaz Ordaz, o que, apesar dessas pressões, continuou com a linha digna do México e seus princípios de Não Intervenção e Livre Autodeterminação dos Povos, o que tem sido um obstáculo para os Estados Unidos na sua política agressiva principalmente contra a República de Cuba; que sua negativa para a integração de uma força interamericana de defesa, é muito elogiada pelo povo e governo cubanos e que há de ser uma constante preocupação dos Estados Unidos a postura do México na próxima reunião que tratam de realizar, de Presidentes de Latino-América, já que nosso Governo não estará de acordo com muitas situações que tratarão os Estados Unidos de impor, o que quiçá se traduza para o México em situações difíceis [fig. 19]208.

Por esse tom amistoso, supomos que quem escreve o relatório é o próprio Gutiérrez Barrios. A morte do “capitão cavaleiro”, como foi apelidado pelos cubanos do Granma, foi sentida pelo comandante Castro. No ano 2001, desde Havana, Castro se pronunciou a respeito: “Dom Fernando foi um grande homem. A intervenção deste mexicano exemplar foi chave. Sem Dom Fernando não haveria tido revolução nem existiria uma Cuba livre, certamente, não haveria Fidel” (IBARRA, 2001).

No território mexicano existia uma “base de segurança” integrada, provavelmente, por dez ou vinte agentes da DFS que mantinham contato direto com o agente da CIA para o qual entregavam informes sobre as atividades dos centros diplomáticos dos países socialistas (AGUAYO, 2014a). Descrevemos, anteriormente, a espionagem mexicana sobre a embaixada soviética, agora, no caso cubano, a partir da documentação que foi consultada, poderíamos estipular que o esquema de espionagem mexicano girava em torno ao registro de indivíduos que viajavam entre México e Havana. Em ambos os casos, o consentimento dessa grave violação à imunidade diplomática foi silenciosamente aceito por ambos os países socialistas, pois, por um lado, “Cuba garantia um canal de comunicação com a América Latina num período em que tinha sido excluída da comunidade hemisférica”. Por outro lado, “a URSS desfrutava de um lugar privilegiado para realizar atividades de espionagem” (AGUAYO,

2014a).

Apesar da amizade entre o líder revolucionário cubano e o dirigente da repressão no México, vemos como um dos pontos que se destacam na elaboração de antecedentes de ativistas, estudantes e militantes de organizações políticas é a relação que estes mantinham com a Revolução Cubana.

Num documento de dezesseis laudas, relatam-se os “antecedentes e atividades de elementos agitadores comunistas”. São oitenta e dois nomes de militantes majoritariamente adscritos à CCI, o MLN e o PCM, mas também de indivíduos dos quais se diz que “não é comunista, mas ataca o governo”, até pessoas que em eventos políticos “incitam à revolução armada”. Entre eles, destacamos a Gilberto Rincón Gallardo, que formou parte do Comité

Mexicano de Solidaridad con Cuba, espaço político de onde, supostamente, incitava à

subversão através de discursos “em forma similar a como o fazia Fidel Castro Ruz”. Outro estudante, Vicente Villamar Calderón, é indicado como agitador do setor universitário desde 1958. Há registro de duas viagens realizadas para Cuba em 1962 e 1964, suspeitando-se que “fez um curso sobre „Guerra de Guerrilhas‟”.

Outros dez nomes são apontados pelas viagens feitas para Cuba e, em menor medida, para Moscou. Destacamos, também, os antecedentes de Marciano Sarabia Fernández, que, supostamente, além de viajar para Cuba, dedica-se a redigir a propaganda onde “difunde as táticas e princípios da Revolução Cubana”. Por sua vez, a ativista da Unión Democrática de

Mujeres Mexicanas dedica-se especificamente à organização de grupos de brigadistas

mexicanos para visitar a ilha por meio do Comité Pro Defensa de Cuba. Finalmente, mencionemos o médico Juan Álvarez Márquez, que supostamente se declara “amigo de Fidel Castro Ruz, quem o convidou várias vezes a visitar Cuba”209.

Outro relatório contém duas listas em que aparecem dezoito nomes e números de passaportes dos mexicanos que viajavam com destino à Havana no voo 465 da companhia

Cubana de Aviación, em 1966. Segundo a DFS, estas pessoas participariam num “Curso intensivo de Guerra de Guerrilhas em Havana, que terá uma duração de 30 dias a partir do dia 18 do pressente mês”. Todos os passaportes, supostamente, foram expedidos na cidade de Puebla, “por cortesia da Embaixada de Cuba em nosso país” [fig. 20]210. Dentre as pessoas

citadas, localizamos vários nomes do que seria, posteriormente, o núcleo fundador das

209 “Antecedentes y atividades de elementos agitadores comunistas”, AGN, IPS, Caixa1573 A, Exp. 1, folhas 1- 16.

210 “Personas que salieron con destino a Cuba a estudiar el curso de guerra de guerrillas”, Distrito Federal, 23-07- 66, AGN, IPS, Caixa 826, Exp. 8, folha 1.

Fuerzas de Liberación Nacional211.

Outra lista, desta vez correspondente a 1969, assinala o retorno de mexicanos desde Cuba, onde se encontravam desde 27 de dezembro. Sem o agravante dos supostos cursos de guerra de guerrilhas, alerta-se, porém, que “o conhecido agitador” Ramón Danzós Palomino permanece na ilha212.

O espectro da guerrilha cubana e de sua diplomacia alternativa teve repercussão dentro do território mexicano. Os agentes da DFS localizados no estado de Nuevo León, por exemplo, escreviam sobre a entrada de um suposto cubano com a missão de “dirigir os movimentos de agitação dentro das diversas agrupações [do norte do país] e para cujo fim tinha lançado um boletim”. A pesquisa sobre o “cubano” foi promovida pela manifesta preocupação da Cámara de la Industria de la Construcción, sediada na cidade de Monterrey. O agente, então, considerando a presença cubana, sem aprofundar nos dados ou apresentar mais indícios, informa que “o Governo do estado considera que a atuação destes grupos está tomando um caráter de verdadeira gravidade”213.

No sul do país, numa carta arquivada pela DFS, dirigida diretamente ao presidente da República, Echeverría, com cópia ao secretário da SEGOB, López Portillo (entre outros funcionários), é assinada pelo presidente do Consejo de Administración del Hotel Paso de

Montejo, Manuel Cáceres Baqueiro. A carta informa sobre a chegada de um bilhete para o

Hotel Mayab, que indica a ameaça de um suposto grupo de filiação guerrilheira, o “Grupo

Queretano”, de causar perdas e danos nas instalações da propriedade de Cáceres. Mas

também contra sua família no caso de não entregar 500 mil pesos. O empresário enfatiza o medo de que as ações guerrilheiras atropelem a construção de uma cidade industrial que foi projetada pelo presidente Echeverría para a região, situada, além do mais, numa das regiões de maior fluxo turístico do país. Cáceres relata que “dada a gravidade que se poderia suscitar ao surgir em Yucatán um grupo guerrilheiro e a proximidade geográfica com a República de Cuba, considero necessária a imediata e enérgica intervenção das mais altas autoridades da Nação”214.

211Os nomes são Alfredo Zárate Mota e Napoleón Glockner. Segundo a historiadora Adela Cedillo (2008), a viagem foi no contexto das comemorações pelo aniversário do assalto ao quartel Moncada.

212 “Mexicanos que regresaron hoy de Cuba”, Distrito Federal, 10-01-69, AGN, IPS, Caixa 3033 B, Exp. 7, folha 1. Ramón Danzós Palomino (1918-2002), militante fundador do PCM, foi um líder camponês dirigente da CCI e fundador da Frente Electoral del Pueblo (FEP), organização que o apoia como candidato independente nas eleições presidenciais de 1964. Expulso da CCI por suas posições radicais, cria a Central Independiente de

Obreros Agrícolas y Campesinos (CIOAC) (FLORES LÚA; PARÉ; SARMIENTO SILVA, 1988)

213 “Estado de Nuevo León. Grupo de Agitación”, Monterrey, 11-12-64, AGN, IPS, Caixa 1573 A, Exp. 1, folha 1.

Apesar da angústia demonstrada pelo empresariado mexicano e da teoria da conspiração estrangeira, não existem indícios materiais do apoio do governo cubano aos grupos armados mexicanos. Pelo contrário, a amizade entre ambos Estados selou um pacto em que um cuidava do outro. O responsável pelo Ejército Guerrillero de los Pobres (EPG- Guatemala) no México, “Sebastián”, narra que numa entrevista realizada diretamente com o Comandante Manuel Piñeiro, em 1975, ele advertiu “que se eu estava me relacionando com os residentes, acabariam partindo-me a bunda” (“Carta de Sebastián a Casimiro y Compañeros de la Comisión Ejecutiva”, 1975 apud CAMPOS, 2014, p. 93). Ou seja, além de não receber apoio direto do Estado cubano, os guerrilheiros mexicanos se encontraram com a impossibilidade de tecer laços organizativos com grupos armados de outros países.

Os guerrilheiros mexicanos, através de dois sequestros, o primeiro em 1971, o outro em 1973, conseguiram que vários guerrilheiros que se encontravam aprisionados fossem recebidos em território cubano e que, de fato, se lhes outorgasse o status de exilado político. No primeiro caso, a Asociación Cívica Nacional Revolucionária (ACNR) de Genaro Vázquez sequestrou o concessionário da Coca-Cola e reitor da Universidad Autónoma de Guerrero, Jaime Díez Castrejón. Uma das condições para a libertação do reitor foi o pagamento de dois milhões de pesos para repartir entre as famílias das vítimas dos abusos policiais e militares no estado de Guerrero. A segunda condição consistia na libertação de militantes armados prisioneiros em vários cárceres do país. A Secretaria de Relaciones Exteriores, em contato com o governo cubano, dispôs um avião da Fuerza Aérea Mexicana para trasladar o grupo de presos (CASTELLANOS, 2008, p. 132-134).

Nesse grupo se encontrava Ismael Bracho, que garante que não existiu nenhum tipo de aproximação com as Fuerzas Armadas cubanas, nem de parte da ACNR, grupo ao que pertencia, “e nunca soube que outros grupos mexicanos os tivessem”. Porém, os mexicanos tiveram a possibilidade de estudar e, de fato, integrar-se à dinâmica da Revolução: “Quando eu cheguei me incorporei aos companheiros que estavam lá. A maioria nos dedicamos a estudar. Alguns estivemos antes em hospitais, curando-nos das sequelas da luta, e depois começamos a trabalhar” (DÍAZ, 1996). No caso de Bracho, através do Instituto Cubano de

Amistad con los Pueblos (ICAP), participou na construção de prédios e nas safras, continuou

seus estudos, e posteriormente se dedicou à docência.

Por oturo lado, as Fuerzas Revolucionarias Armadas del Pueblo (FRAP), grupo armado da cidade de Guadalajara, como primeira ação pública planejaram o sequestro do cônsul dos EUA, Terrance Georges Leonhardy. Exigiam, em troca, a libertação e traslado para Cuba de trinta presos pertencentes a diversos grupos armados, avaliados como os

melhores elementos de seus respetivos grupos. Segundo as FRAP, uma vez reunidos na ilha poderiam se reorganizar para retornar para o México e retomar a luta revolucionária. Na versão de um dos liberados, Alfredo Campaña (atualmente professor da UAG), narra-se uma experiência oposta à descrita anteriormente:

Morava num hotel na Havana Velha, o Regis. Ali moramos dez anos. O governo cubano nos deu asilo político, com um tratamento semelhante ao empregado dentro das formalidades diplomáticas: hotel, refeições e uma ajuda econômica que, todo mês, nos permitia comprar um livro. Era pouquinho. Nos davam café da manhã, comida e janta no hotel, onde não nos cobravam e nos tinham reservado um quarto para duas pessoas. Essa era nossa casa.

Campaña acrescenta que não se integrou à vida econômica e social da ilha, pois na sua qualidade de estrangeiro “não era sujeito de toda a confiança”. Em relação à suposta possibilidade de reorganização guerrilheira a partir de Cuba, Campaña diz que “todo mundo vive sob a regulamentação internacional; não há margem para que cada um faça o que quiser”. Afirma que o governo cubano advertia “que aqui são bem-vindos os que venham, mas nós priorizamos a relação que temos com o governo mexicano e não nos identificamos com outro tipo de movimentos” (DÍAZ, 1996).

Finalmente, num testemunho colhido por Carlos Montemayor, José Luis Alonso Vargas, outro dos presos soltos em troca do cônsul norte-americano, narra-se um encontro entre os guerrilheiros mexicanos com o comandante Manuel Piñeiro:

Em primeiro lugar, nos esclareceu que por ter uma boa e necessária relação diplomática com o México, Cuba não nos iria dar treinamento militar, como para o resto dos guerrilheiros da América Latina; que os governos do continente, da Guatemala para baixo, tinham rompido relações com eles e os tinham expulso da OEA por ordens dos Estados Unidos.

E que o México era a exceção. Por isso não iam pôr em risco essas excepcionais relações diplomáticas ajudando-nos com os treinamentos. Que podíamos solicitar tudo o que quiséssemos, menos isso; o que queiram estudar, nos disse, diga-nos, o que querem estudar? E em que nível estão? Entregue-nos seu currículo, e também por escrito expliquem-nos tudo o que queiram que saibamos de vocês. Porque se entendia que alguns de nós chegávamos com nossas lendas, usadas nas vidas clandestinas, e outros com as identidades verdadeiras [...].

Nessa ocasião, o comandante Piñeiro nos falou do tipo de vida que íamos levar [...]. Nossa sede era Havana, mas se saíssemos de Havana, deveríamos avisar os motivos – para onde íamos? por quanto tempo? – e todo o necessário para que eles cuidassem de nossa segurança. Alguns de nós não gostaram da negativa deles de treinar-nos. Não gostamos disso, porque para todos, ou quase todos, o objetivo principal era o treinamento militar e voltar

o mais rápido possível para o México (MONTEMAYOR, 2010, p. 7).

A historiografia sobre a guerrilha somente considera a existência de um grupo guerrilheiro treinado militar e ideologicamente no estrangeiro, o Movimiento de Acción

Revolucionaria (MAR) organizado por estudantes mexicanos da Universidade da Amizade

entre os Povos “Patrice Lumumba” de Moscou. Eles conseguiram ser treinados na Coréia do Norte por recomendação do embaixador cubano em Moscou. Foram cinquenta e três os mexicanos treinados no país asiático, entre janeiro de 1969 e outubro de 1970 (CASTELLANOS, 2008, P. 173-178; CONDÉS, 2009b, p. 35-71).