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3. POLÍTICA EXTERNA MEXICANA

3.2. Anticomunismo

3.2.1. O MURO e o Yunque

O Movimiento Universitario de Renovadora Orientación, o MURO, é uma violenta organização de jovens católicos que aterroriza as universidades públicas. A partir do estudo de sua estrutura e modus operandi, pode-se acessar as formas de expressão do anticomunismo mexicano na sua complexidade. Esta análise, também, enriquece o panorama da disputa pela hegemonia no México, diversificando os atores em voga.

agitação promovida pelo MURO”, o agente se aproxima da organização de ultradireita e lança algumas hipóteses sobre seus métodos, detendo-se, principalmente, no bosquejo de sua estrutura. Primeiramente, o agente reconhece o MURO como uma “organização secreta” de inspiração católica. Cabe mencionar que não se lhe caracteriza como “organização clandestina” ou “terrorista”, tal como comumente se descreviam as organizações de esquerda. Isto pode se entender no contexto da tradição maçônica do século XIX.

O campo de ação do MURO, onde recrutavam, esta focalizado nos centros universitários da região central e ocidental do país. Dada a amplitude geográfica, o agente aponta que são vários os nomes que utilizavam: um deles era MURO, outro Liga

Universitaria Nacionalista (LUN), Frente Universitario Anticomunista (FUA), entre outros

que não menciona. Com pouca clareza sobre o assunto, o autor do informe não reconhece, de fato, as diferenças entre estas facções anticomunistas, nem o sentido cronológico das mesmas128. Sobre isso, advertimos que um antecedente importante do MURO é o FUA, fundado em 1965 na cidade de Puebla. Dois anos depois, o MURO começa a aparecer nas universidades da Cidade do México. Já na década de setenta, abrangendo Puebla, Guadalajara, Michoacán e a Cidade do México, apareceram vários grupos, como o

Movimiento Cristianismo Sí, a Guardia Unificadora Iberoamericana (GUIA), a Nueva Guardia, a Juventud Inconforme Positiva, entre outros de menor importância.

Apesar de ser uma organização na qual seus militantes eram majoritariamente jovens estudantes universitários, o agente chama a atenção para o fato de que a “chefia suprema” pertence ao engenheiro Ramón Plata Moreno, formado na Universidad Autónoma de

Puebla129. Aliás, Puebla se converteu durante a década de sessenta num verdadeiro campo de batalha entre o comunismo e o anticomunismo. Um ilustrativo panfleto, assinado pelo Gran

Núcleo Cristiano de Puebla, demonstra isso. Descreve uma performance realizada por jovens

universitários da UAP que parodiavam uma missa. Diante disso, o suposto Gran Núcleo respondeu acusando o ato de satanismo, expressando a sua indignação por estes fatos que “nos devem fazer compreender que o grupo Comunista que por nossa negligência apoderou- se da Universidade está passando já à tentativa de destruição de nossa Religião, seguindo a

128 “Memorándum: La UNAM víctima de la agitación promovida por MURO”, Distrito Federal, 04-04-68, AGN, IPS, Caix 1448 B, Exp. 42, folhas 1-4.

129 Plata Moreno nasceu na Cidade do México, em 1935. Estudou em colégios lasallistas na cidade de Puebla,depois ingressa no curso de engenharia na universidade pública, porém, manteve contato com os professores jesuítas e com a hierarquia católica da cidade. Na faculdade, eleintensifica a militância direitista, o que culminaria na fundação do Yunque. Foi assassinado a tiros na porta da casa de sua sogra, na Cidade do México em 1979.

máxima de Lenin „A Religião é o ópio do Povo‟” [fig. 14]130.

Segundo a bibliografia quase hagiográfica elaborada por Klaus Feldmann Petersen (um velho militante do FUA e do MURO)131, Plata Moreno, aconselhado pelos sacerdotes da cidade de Puebla, funda a organização de alcance nacional denominada Yunque132. A organização concebida como “um corpo de combate contra o comunismo, a maçonaria e todos os demais inimigos de Deus e de sua Igreja, centrando-se na instauração do Reino de Deus em nossos corações e no México” (GONZÁLEZ RUIZ, 2013). Para cumprir o ambicioso plano, Plata Moreno elaborou uma estrutura clandestina em forma de pirâmide invertida onde a liderança nacional se encontrava na ponta inferior.

O Yunque se distinguia por ser uma organização:

“primordial”: nada é mais importante, nem a família, que a Organização; “hierárquico-consultiva”: nenhuma decisão se pode tomar sem o consentimento do chefe superior; “reservada”: totalmente secreta; e “combativa formadora de quadros políticos”: por isso o recrutamento de adolescentes depois de um rigoroso processo de observação e análise, para logo serem adscritos para a luta política (DELGADO, 2003).

Sob essas condições, Plata Moreno concebeu a criação de células de cooptação de jovens católicos, anticomunistas, ou passíveis ao doutrinamento que conformariam, por sua conta, as “pré-organizações”. Situadas na parte superior dessa pirâmide invertida, as organizações como o MURO e o FUA tinham a função de combater corpo a corpo os elementos anticristãos, assim como impedir a detecção e possível desarticulação da organização maior, despistando e confundindo os serviços de inteligência.

Na investigação apresentada pelo agente da DFS, o MURO estava fundamentalmente integrado por estudantes dos Colégios Lassallistas pertencentes à congregação dos Irmãos das Escolas Cristãs133, sob direção do religioso Rafael Martínez Escobar, quem oferece “apoio

130 “Satanismo Antirreligioso”, Puebla, 04-06-64, AGN, IPS, Caixa 1573 A, Exp. 1, folha 1.

131 O livro intitulado Ramón Plata Moreno: Un cruzado da hispanidad y mártir de Cristo Rey. Breves y auténticas notas a 25 años de su muerte era visto unicamente entre os círculos de ultradireita. As notícias que

temos sobre ele correspondem às notas dos jornalistas Álvaro Delgado (2009), publicadas na revista Proceso, e de Edgar González Ruiz (2013), na Revista Contralínea.

132 Em português, é a ferramenta “bigorna”. O nome faz referência à solidez e firmeza que têm as bigornas nos constantes golpes para forjar o aço.

133 O ensino básico era obrigatoriamente laico. O Artigo 3 Constitucional suprimia a educação religiosa em escolas públicas e privadas, reservando o monopólio do ensino fundamental para o Estado. Herança das disputas entre a Igreja e o Estado no século XIX, a educação pública era constitucionalmente antirreligiosa. Isto é, a educação religiosa estava banida por ser considerada nociva para a construção da Revolução, da Nação. Contudo, desde 1940, permitiu-se que os colégios privados ministrassem aulas de religião. Paulatinamente, prestigiosos colégios e universidades religiosas se implantaram no país. Em termos do general Ávila Camacho, a educação continuou nas mãos do Estado, mas, “sua orientação é agora democrática em vez

pessoal e ilimitado” às organizações estudantis.

Rafael Martínez é lembrado como diretor do Colegio Benavente, na capital do estado

poblano. A transcendência do personagem reside, segundo o agente da DFS, em que

desde este colégio se prepararam agitações que tiveram repercussão nacional, como a concentração de católicos na catedral poblana, a que contou com o respaldo do arcebispo Octaviano Márquez y Tóriz134, ano de 1961; y os distúrbios promovidos pelo Frente Universitario Anticomunista [...] que chegaram ao extremo de obrigar o exército a patrulhar as ruas de Puebla135.

Como mencionamos anteriormente, os espaços de recrutamento são localizados dentro dos colégios e universidades privadas. Referindo-se novamente ao caso do MURO, o agente explica que no processo de seleção dos militantes se explorava “a mentalidade religiosa dos estudantes, a quem tratam de convencer da necessidade de depor as autoridades da UNAM, às que acusam de comunistas para suplantá-las por profissionais fanáticos pelo MURO”. Podemos dizer, então, que se recrutam jovens de escolas religiosas para atacar nas universidades públicas.

Até aqui, o agente encontra na existência do MURO um fator ideológico, pois, como foi previsto por Plata Moreno, ao ser organizações estudantis desviava-se a atenção dos objetivos maiores. Contudo, a DFS adverte sobre os alcances do doutrinamento, que também iam no encontro do “assalto do poder público”. Sem apresentar argumentos fundamentados, o informe aponta que a organização considerava os governantes mexicanos como “não católicos”, para o qual sustentavam “princípios revolucionários contrários à religião”.

No fundo, a análise das fontes financeiras das organizações universitárias teria contribuído para sustentar a ideia do assalto ao poder. O agente apresenta uma lista de indivíduos que vão além do clamor ideológico anticomunista, nacionalista ou religioso, para

de socialista” (ADAME GODDARD, 2003, p. 27). Por outro lado, os Irmãos das Escolas Cristãs chegaram no México a partir de 1905. Até 1914,haviam estabelecido colégios em Puebla, Saltillo, Monterrey, Morelia, Querétaro, Zacatecas, Cidade do México, Toluca e Torreón. Porém, os 196 franceses que integravam a congregação foram obrigados a fugir do país devido ao caráter jacobino da Revolução mexicana. Entre 1920 e 1938, retornam sigilosamente (COORDINACIÓN CENTRAL DE LA SALLE, 2014). Finalmente, no contexto da apressurada industrialização da economia mexicana, a Universidad La Salle inicia suas atividades em 1962, tornando-se, assim, a primeira universidade lasallista da América Latina. Atualmente, conta com 15 campi ao longo do território mexicano (UNIVERSIDAD LA SALLE, 2016).

134 Octaviano Márquez y Toriz foi arcebispo da arquidiocese de Puebla desde 1950 até 1975, ano da sua morte. Encabeçou as manifestações contra a autonomia e o crescimento dos setores de esquerda dentro da planta docente e discente da universidade de Puebla. Tornou-se o porta-voz da oligarquia do estado contra o comunismo. Particularmente ligado ao FUA, é considerado, além de ideólogo, um dos financiadores desse grupo (DELGADO, 2003).

135 “MEMORANDUM: La UNAM víctima de la agitación promovida por MURO”, Distrito Federal, 04-04-68, AGN, IPS, Caix 1448 B, Exp. 42, folhas 1-4.

tomar forma de grupo com interesse político. Grupos que, no contexto da solidez da instituição presidencial do sistema político mexicano, empreenderam uma “cruzada” pela hegemonia: a ordem lasallista anteriormente referida; “O grupo financeiro de Monterrey, através do engenheiro Javier Cobarrubias e do intermediário oculto do MURO, Bernardo Ardavín”136.

Não localizamos informações sobre o citado Cobarruvias. Porém, sobre Ardavín Migoni, a informação é muito mais ampla. Considerado como um dos hierarcas do Yunque, Ardavín foi vice-reitor da Universidad La Salle entre 1970 e 1974, cargo que lhe serviu para fomentar o trabalho de recrutamento para o Yunque nas diversas instalações. Chegou a ser um dos chefes nacionais da organização clandestina (DELGADO, 2003)137.

Finalmente, como outra das fontes de ingressos econômicos do MURO, menciona-se o grupo de Guillermo Guajardo Davis, “por meio de seu secretário, o refugiado cubano Carlos Lamar”138. Sobre o primeiro nome, encontramos que em 1961 Guajardo Davis foi diretor

fundador do Consejo Nacional de Publicidad (CNP)139. É uma organização considerada peculiar dentro da constelação de organizações empresariais, pois seu objetivo não é defender os interesses econômicos de um grupo, mas de “influenciar nos valores que, de acordo com seus dirigentes, devem prevalecer na sociedade mexicana” (RUÍZ OCAMPO, 1999, p. 12). Guajardo Davis contava com a simpatia do empresariado. Entre 1948 e 1950 foi presidente da

Confederación de Cámaras Industriales de los Estados Unidos Mexicanos (CONCAMIN).

Num outro informe encontramos o nome de Luis Felipe Coello: um dos fundadores do

Yunque, considerado um dos “doze iluminados” que ajudaram a Plata Moreno na estruturação

da organização clandestina dentro da mitologia criada por eles mesmos (DELGADO, 2003). Personagem importante para entender a irrupção pública do Yunque na UNAM, em 1961. Ele foi quem concebeu a importância de deslocar um grupo de Puebla para a Cidade do México, sob a lógica de que a UNAM era o grande celeiro do comunismo. Presidente do MURO desde

136 “Memorándum: La UNAM víctima de la agitación promovida por MURO”, Distrito Federal, 04-04-68, AGN, IPS, Caix 1448 B, Exp. 42, folhas 1-4.

137 Além desse trabalho secreto na década de setenta, Ardavín foi presidente da Confederación Patronal de la República (COPARMEX). A COPARMEX é um sindicato de empresários fundado em 1929 pelo industrial

Luis G. Sada com a finalidade de se constituir num instrumento de pressão política que protegesse os patrões dos artigos constitucionais que beneficiavam os trabalhadores. Também se contrapôs às grandes centrais sindicais de operários e camponeses que funcionavam como base governista. Recentemente, Ardavín Migoni prestou seus serviços como assessor da SEGOB (2004-2005), da Secretaria del Trabajo (2003-2006), e fez parte da Comissão de Vigilância do Instituto del Fondo Nacional de Vivienda para los Trabajadores. Tudo isso durante o governo panista de Vicente Fox. No âmbito privado, é sócio e gerente de várias empresas de construção e dono da consultoria Estrategia Empresarial, que trabalha diretamente com o PAN (GONZÁLEZ RUIZ, 2012).

138 “MEMORANDUM: La UNAM víctima de la agitación promovida por MURO”, Distrito Federal, 04-04-68, AGN, IPS, Caix 1448 B, Exp. 42, folhas 1-4.

sua fundação, a DFS o coloca como o enlace entre o MURO e o engenheiro Alfredo Medina Vidiella140, membro distinguido do Frente Cívico Mexicano de Afirmación Revolucionaria (FCMAR).

O FCMAR surgiu como uma reação ao Movimiento de Liberación Nacional (MLN) que, encabeçado pelo general Lázaro Cárdenas, reunia um amplo espectro político que ia do centro à esquerda. Sua bandeira de luta era a defesa da Revolução Cubana141. O FCMAR, então, no seu manifesto publicado em 1961, fazia um chamado à sociedade civil para se organizar na margem de qualquer partido político para impedir a infiltração de doutrinas alheias:

que disfarçadas de um falso radicalismo pretendem precisamente suprimir as instituições democráticas, para substitui-las por um regime totalitário que acabaria com nossas liberdades e que, ao destruir a pátria, lar e família, terminaria para sempre com as formas tradicionais da vida mexicana (BRIZ, 2002, p. 105).

A Frente reunia empresários de Monterrey, Puebla e da Cidade do México. Entre os militantes de maior renome podemos citar os ex-presidentes Abelardo Rodríguez (1932-1934) e Miguel Alemán Valdés (1946-1952), ambos representantes da facção direitista do PRI, e paralelamente, empresários de sucesso após suas respectivas presidências.

Nas reuniões entre o MURO e o FCMAR descritas pela DFS se destacam duas questões. Por um lado, o FCMAR financiava a organização do MURO, por intermédio do

140 Pioneiro da exploração madeireira na região da península de Yucatán. Fundador e diretor da Colonia Yucatán y De la Sierra, espaço onde se estabeleceram as empresas Maderas de Yucatán, Maderera del Trópico, Caobas Mexicanas e Lignum, todas sob a direção de Medina Vidiella.

141 Depois de gestão como secretário da Defesa Nacional, entre 1940 e 1946, o general Lázaro Cárdenas volta à vida pública para a organização da Conferência pela Soberania Nacional, a Emancipação e a Paz, com o objetivo de criar uma frente anti-imperialista latino-americana. Realizada entre o dia 5 e 8 de março de 1961, a Conferência teve representantes de todos os continentes. Os eixos discutidos foram, entre outros, a premissa de que sem emancipação econômica não haveria independência política, que a luta contra o imperialismo era condição fundamental para qualquer plano de desenvolvimento dos países latino-americanos, e que a Revolução cubana mostrava o caminho para acabar com a dominação estrangeira. Nesse encontro foi decidido criar o MLN. O novo organismo representou a primeira frente ampla de caráter autônomo capaz de juntar todas as forças anti-imperialistas e partidárias, independentemente de filiação ideológica e classe social. Não era um partido, nem se propunha à luta eleitoral. O objetivo principal era defender um projeto de nação inspirado no nacionalismo da época cardenista. Sem ideologia específica, seu programa estava concentrado em quatro pontos: 1) a luta contra o imperialismo e suas guerras, 2) a defesa da soberania nacional, 3) a busca da democratização do país, e 4) a prática de uma série de reformas econômico-sociais que elevassem as condições de vida da população. O programa está baseado nos princípios constitucionais, ponderando métodos legais e pacíficos para a reforma do Estado. É uma experiência interessante, porque muitas das futuras lideranças guerrilheiras passaram pelas fileiras do MLN. O movimento, finalmente, não sobreviveu. Vários fatores determinaram a ruptura das organizações que o conformavam: não existia uma estratégia e tática definida; no interior se vivenciou uma luta pelo controle do movimento (muitos dos quadros eram lideranças do PRI, uma das questões que incomodavam a “esquerda doutrinária”); existia um desacordo sobre a questão eleitoral.

jornalista Fernando Alcalá142, quem, por sua vez, recebia informação “acerca dos movimentos políticos de direita e de esquerda dentro da UNAM, [assim como sobre] os trabalhos que [o MURO] realizou para conseguir a unificação da direita”. Isto, pelo menos, desde 1962. O outro assunto em que Luis Felipe Coello e o engenheiro Medina Vidiella participavam ativamente, consistia em reuniões de caráter organizativo para a “construção de comités em Campeche e em Mérida, Yuc. [Yucatán]”143.

Agora, a relação entre o setor empresarial com o exílio cubano é uma questão pouco estudada e com poucas referências na historiografia. Nos documentos da DFS encontramos o nome de Henri Agüero Garcés, que participou de um atentado à dinamite contra as instalações do jornal, considerado de esquerda (El Día), em 1965. O MURO reclamou a autoria do atentado. Agüero Garcés ainda é apontado pelo jornalista Álvaro Delgado como integrante do

Movimiento Nacionalista Cristiano, organização anticastrista com sede em Miami, Florida

(DELGADO, 2003). O agente da DFS se refere à confabulação dirigida pelo MURO e à utilização da experiência contrarrevolucionária dos grupos cubanos.

O objetivo da aliança foi “planejar atentados terroristas no México com o propósito de obrigar nosso governo a mudar sua política com Castro Ruz”144. A esse respeito, no informe

de 1968, o presidente Díaz Ordaz aponta, sem chegar a ser explícito, que “o tempo fará compreender a razão de quem, equivocadamente, tentam lastimar o México, porque persiste em se manter generosamente aberto para o povo cubano, sem distinção de divergências ideológicas ou políticas” (GDO, 1968, p. 248). Supomos que o receptor dessa mensagem seja diretamente o Yunque.

A DFS registra duas viagens com destino a Miami realizados por Plata Moreno e seu “segundo” no comando, Luis Felipe Coello. A finalidade das viagens era se reunir com “o agente anticastrista Aldo Rosado e com um senhor de sobrenome Dorticós, sobrinho do Presidente de Cuba (1959-1976), quem, ao que parece, se diz inimigo político de seu consanguíneo”. O anticastrista Aldo Rosado Tuero fundou na década dos sessenta o jornalAcción, órgão de difusão do Movimiento Nacionalista Cristiano, anteriormente referido.

142 Fernando Alcalá era originário da península de Yucatán. Trabalhou em grande parte dos jornais de circulação nacional. Era chefe de redação do Excélsior na data do informe citado (1964). Posteriormente, funda o jornal

Avance, em Yucatán. Membro de uma família vinculada ao jornalismo, cujo membro mais destacado foi seu

homônimo, Fernando Alcalá Pérez, um dos fundadores do sistema de notícias ECO, pertencente ao monopólio da comunicação, Televisa (PAXMAN; FERNÁNDEZ, 2013).

143“Movimiento Universitario de Renovadora Orientación (MURO)”, Distrito Federal, 12-03-64, AGN, IPS, Caixa 2851 A, Exp. 14, folhas 1-5.

144“Movimiento Universitario de Renovadora Orientación (MURO)”, Distrito Federal, 12-03-64, AGN, IPS, Caixa 2851 A, Exp. 14, folhas 1-5.

Rosado Tuero era o Chefe Nacional dessa organização145.

O agente da DFS adverte como os indivíduos Plata Moreno e Coello, “que inicialmente atuaram como católicos e anticomunistas sinceros”, passam por um processo de radicalização: “se fanatizaram e agora se manifestam com verdadeira fobia contra o atual regime do Senhor Presidente Díaz Ordaz”146. Isto é, sem aprofundar na estrutura clandestina

do Yunque, mas com os indícios da rede de relações e financiamentos que providenciou MURO, aponta para a transcendência da simples organização das juventudes católicas universitárias. Numa avaliação final, o agente comenta que o MURO:

dá-se à tarefa de organizar homens de negócios, industriais, comerciantes, profissionais e padres de família que lhes servem para se apoderar de associações cívicas, partidos políticos de oposição, câmaras de comércio, centros patronais, como meios para alcançar o poder147.

Os agentes que deram continuidade às atividades do MURO não chegam a elucidar a estrutura e objetivos do Yunque. No transcorrer dos relatórios encontramos um indício sobre a existência de vínculos entre Luis Felipe Coello e algum membro da hierarquia da Igreja católica ou do setor empresarial. Porém, a descrição das atividades dos jovens militantes da universidade estão apenas nos informes que adquirem um destaque especial. Uma possível explicação pode ser o fato de que o próprio Estado instrumentalizou essas organizações estudantis para não ter que intervir diretamente na confrontação com a esquerda nos espaços universitários.

As atividades do MURO resultaram benéficas para o apontamento e localização das principais lideranças de esquerda. Uma das principais atividades do MURO centrava-se na organização de protestos contra intelectuais universitários vinculados a ideias de esquerda, ou simplesmente com posturas críticas. Os métodos de protesto do MURO variam radicalmente em termos da aplicação da violência. Um primeiro nível – menos violento – pode se perceber na descrição dos protestos encabeçados por Luis Felipe Coello contra o intelectual Rubén Bonifaz Nuño148, que em 1964 foi nomeado diretor da Revista Universidad Nacional e da

Gaceta Unviersitaria, “por se caracterizar com ideologia de esquerda”. No ato da toma de