• Nenhum resultado encontrado

A S ÍNTESE F INAL a

No documento SANDRO HENRIQUE VIEIRA DE ALMEIDA (páginas 197-200)

6.3.2.1 A P RIMEIRA S ÍNTESE

6.3.2.3. A S ÍNTESE F INAL a

A síntese final da compreensão de Luria foi publicada em seu último livro sobre o tema, chamado “Neuropsicologia da memória” e segundo o autor estes eram os seguintes temas a serem discutidos no livrob:

- mecanismos fisiológicos gerais do esquecimento e quais são os fatores que estão em sua base, possibilitando assim distinguir os fatores que estão na base do esquecimento; - papel que tem na memória os distintos níveis de organização do material a recordar, por uma parte, e por outra, as distintas esferas e modalidades deste material;

- descrição das diferentes formas de alteração da memória por afecções em partes distintas do cérebro e os problemas da organização cerebral da atividade mnésica.

Para discutir essas questões, Luria inicia seu texto deixando claro seu entendimento de psiquismo, mostrando que para estudar o cérebro não era preciso ter uma visão reducionista de homem, psiquismo ou mesmo de cérebro. Escreve:

(...) todos os processos psíquicos estão baseados em formas complexas de

atividade; foram obtidos importantes dados sobre seu desenvolvimento na

ontogênese, foi descrita a estrutura dos processos cognoscitivos como formas ativas e seletivas de reflexo da realidade, orientados pelos correspondentes motivos, que empregam determinados mecanismos auxiliares e que se apóiam em um sistema hierárquico de atos autoregulados, formados no transcurso da vida. (Luria, 1976/1980, p. 03) 100 c

Declarado de que ponto partir, o autor continua a discutir como a memória estava sendo estudada, as novas descobertas e novas formas de compreendê-la.

Luria escreve que a memória não devia mais ser entendida como antes, como simples impressão, conservação e reprodução de vestígios e sim “(...) como um a O final aqui se refere estritamente ao fato de ser a última grande obra do autor sobre o tempo, e não que

tenha sido o último entendimento dele sobre o tema. Não é demais recordar que ao falecer deixou um artigo pela metade com o título “Paradoxos da memória”.

b Problemáticas estas muito semelhantes com as propostas pelo autor no “Curso de Psicologia Geral”. A

diferença está na resposta para cada um desses itens.

c Todas as citações que aparecerem durante este item foram retiradas do livro “Neuropsicologia da

processo complexo de elaboração da informação, dividido em uma série de etapas consecutivas e que, por seu caráter, se aproxima à atividade cognoscitiva.” (p.01) 101

Nesse novo conceito, ele não só complexifica a compreensão do que é memorizado, passando de vestígios para informação (apesar de usar às vezes a palavra vestígios), como deixa claro que a memória é um processo com várias etapas e organizado em um sistema psicológico, que se aproxima da atividade cognoscitiva.

Com uma forma diferenciada de escrita, se comparado com os demais livros, Luria vai aos poucos trazendo novos elementos para a formação do conceito de memória. Um pouco mais adiante soma a essa definição o caráter ativo da memória e a participação dos sistemas funcionais:

(...) memória é um complexo sistema funcional, ativo por seu caráter, que se desdobra no tempo em uma série de elos sucessivos e que está organizado em vários níveis.

Este caráter complexo e sistêmico está presente nos processos fundamentais da memória e se refere por igual ao processo de registro (ou recordação) como ao de reprodução (ou evocação) de vestígios impressos. (p. 06)102

A estrutura da memória também é modificada em relação aos seus demais livros. A memória passa a ter três estágios em sua formação:

- memória ultracurta: bastante ligada à percepção, nesse estágio há um pequenino volume de informação e (muito) breve tempo de permanência;

- memória curta ou operativa: conserva pequenas quantidades de material que são selecionadas pela atenção, com curto tempo de permanência e constante inclusão em uma operação determinada;

x Observa-se que pela codificação do material registrado e consecutiva inclusão das informações em um determinado sistema de conexões conceituais, é formado a memória de longo prazo.

- memória longa: tem ampla capacidade de armazenamento e permanência de informações, que estão vinculadas a um complexo processo cognitivo e incluem em seu processamento uma série de operações lógicas.

Com essa nova divisão, segundo Luria, é preciso considerar a recordação/evocação como processos que se apóiam em um sistema multidimensional de conexões, que incluem componentes elementares (sensoriais), complexos (perceptivos) e muito complexos (conceituais), sendo que esses processos também dependem do material a ser recordado, o tempo que se tem para registro e do lugar que a memorização ocupa na estrutura da atividade.

Assim, novos elementos devem ser adicionados ao conceito de memória. Além das características já mencionadas – perpassar por vários estágios, estar organizados em um sistema psicológico e um sistema funcional –, a memória consiste em progressiva inclusão de informações. “[É preciso] (...) considerar a memória como uma complexa

atividade cognoscitiva, que transcorre em uma série de etapas sucessivas e que consiste na inclusão progressiva de material em um complexo sistema de relações.” (p. 07) 103

Discutindo um pouco mais especificamente a evocação, Luria revela que esse processo ativo depende da eleição de algumas conexões a serem ativadas em detrimentos de outras, conexões estas que vão decodificar uma informação que houvera sido codificada no processo de memorização. O processo de evocação inclui a comparação dos resultados da busca com o material original, e é justamente nessa comparação que se obtém a confirmação da veracidade da recordação, e é com essa operação (que implica tomada de decisão) que a memória se submete às mesmas leis de qualquer processo intelectual.

a. Luria, ao trabalhar com os conceitos de codificação/decodificação,e dá um claro salto

qualitativo na compreensão do funcionamento do cérebro, em clara consonância com os principais estudos da época sobre o funcionamento da física e bioquímica dos neurônios;

b. parte significativa da formação do reflexo psíquico da realidade está envolvida no

processo aqui discutido por Luria. A primeira parte está envolvida na formação da imagem subjetiva pela apropriação da realidade (no processo de memorização); consecutivamente, está o processo de evocação envolvido, ao ser nesse momento, dentre outros, em que há a confirmação da veracidade do conteúdo memorizado.

Têm-se aqui dois locais em que podem ocorrer problemas para a correta formação do conteúdo do reflexo psíquico e conseqüentemente da personalidade. Suponhamos que a pessoa memorize um conteúdo com duvidosa veracidade, como por exemplo, que ela é a única e exclusiva responsável por tudo o que lhe ocorre na vida. Essa informação pode ou não ser confirmada no processo de evocação. O que ocorre se ela erra no processo de avaliação dessa informação e forma uma falsa memória? Quais as conseqüências para a vida desse indivíduo?

Com esse simples questionamento sobre a formação de falsas memórias pode-se ter clara noção de como os processos psicológicos superiores são inter-relacionados e interdependentes, sendo a formação do reflexo psíquico consciente da realidade produto do funcionamento integrado desses diversos processos.

É preciso integrar, no processo acima descrito, e que não é possível fazer agora, as emoções, sentimentos, motivos e necessidades do indivíduo, assim como as distintas modalidades de memorização (visual, auditiva, olfativa, gustativa e cinestésica). Mas ainda falta um elemento para análise.

No documento SANDRO HENRIQUE VIEIRA DE ALMEIDA (páginas 197-200)