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a terminologia usada por Vigotski Segundo os autores, ele elaborou mal

No documento SANDRO HENRIQUE VIEIRA DE ALMEIDA (páginas 148-153)

5.1 (D ES )R ETRATO DE UMA P ERSONALIDADE

3. a terminologia usada por Vigotski Segundo os autores, ele elaborou mal

alguns conceitos (como sincrético, complexo e espontâneo/cotidiano) ou utilizou os mesmos que outras psicologias, de forma que eram necessárias explicações complementares para entendê-las, assim como foi mais fácil a teoria por ele elaborada sofrer críticas devido às imprecisões.

As críticas estabelecidas pelos autores têm pontos positivos e negativos a serem considerados. Concorda-se com a primeira crítica (a), pois é de amplo conhecimento que Vigotski escreveu parte significativa de sua obra lutando, literalmente, contra a morte. Desta forma, muitos pontos ficaram em aberto ou escrito de forma imprecisa, o que no todo da obra não é significativo, mas efetivamente carece de mais precisão, o que deve ser feito pelos autores que continuaram a teoria, o que em parte também explica a crítica sobre a imprecisão terminológica.

A terceira posição é mais delicada (c3), mas mais sutilmente apresentada pelos autores que a forma desenvolvida por Zinchenko, em 1939. Conforme o que já foi escrito, concorda-se com a crítica a esse ponto específico da produção vigotskiana, a correlação estabelecida entre involuntário, natural e elementar, pois tal separação impossibilita a percepção de sutilezas do comportamento e do desenvolvimento do psiquismo, como os comportamentos involuntários mediatos. Esse ponto ainda será discutido neste capítulo.

O outro ponto importante a ser discutido é a crítica a um possível intelectualismo na obra de Vigotski (c1). Concorda-se com a predominância de discussões sobre as questões cognitivas e escolares na obra do autor, mas entende-se que isto é decorrente

da urgência de entender esses processos como resposta às necessidades escolares da URSS, assim como se constituem em um ponto chave na crítica às demais escolas psicológicas existentes. Entende-se também que o autor estava, a partir de 1932, paulatinamente mais preocupado com a questão das emoções e sentimentos, mas como já explicitado, não houve tempo hábil para desenvolver seus projetos.

Assim, defende-se que, apesar de haver predominância de discussões cognitivas, tal deve ser compreendida historicamente, sob o risco de perder o real movimento da obra vigotskiana ou mesmo do projeto de psicologia histórico-cultural, que devido a outros problemas, historicamente dados, somente voltou-se às emoções a partir de 1970.

Desta forma, as posições adotadas por Luria e Leontiev indicam que os autores, durante esses anos, estudaram e continuaram efetivamente a obra de Vigotski, mantendo o essencial de suas propostas, sem dogmatizar ou canonizar sua obra, avançando na construção da psicologia

Além dessa primeira coletânea de obras de Vigotski, outros textos do autor foram publicados em 1960 em outro conjunto de textos, sendo eles, o “História do desenvolvimento das funções psíquicas superiores” (equivalente aos cinco primeiros capítulos do tomo 3 das Obras Escolhidas, publicados em 1982), das Conferências (presentes no tomo 2) e Pedologia do adolescente (tomo 4). Além destes, no ano de 1965 foi publicado o ainda inédito Psicologia da arte.

Nesse período Sergei Rubinstein também publicou, após algum tempo de ostracismo por uma aposentadoria forçada, seu livro mais seminal, chamado “O ser e a consciência” (1957), além dos ricos “O pensamento e suas vias de investigação” (1958) e “O desenvolvimento da psicologia: princípios e métodos” (1959).

Outra relevante publicação desse período é a coletânea “O desenvolvimento do psiquismo”, de Leontiev, em 1959, com textos produzidos em meados da década de

1940 e alguns elaborados em 1959. Em outras edições (de 1964, 1972 e 1981), houve pequenas diferenças nos textos que integram a obra.

Outra rica fonte de textos soviéticos desse período são as coletâneas de traduções em inglês e espanhol (Cuba), publicadas em diferentes edições representando distintos momentos e trajetos da psicologia soviética, desde seus momentos mais atrelados à produção de Pavlov até os momentos mais claramente originais no início da década de 1960. Publicaram-se também diversos livros autorais, como os elaborados por Luria, Alexander Sokolov, Zeigarnik, Uznadze e Smirnov. Estes diversos livros foram editados como resultado das tentativas estabelecidas entre as comunidades científicas dos Estados Unidos e da URSS para minimizar ou dar outros parâmetros às relações estabelecidas entre os países durante a Guerra Fria.

Com isso, a psicologia na URSS não só ganhou status internacional como ficou fortalecida internamente, pois se livrou (pelo menos oficialmente) das amarras do pavlovismo reacionário e fortaleceu suas produções e contribuições para o desenvolvimento de diversos campos da sociedade soviética.

5.3. ESTUDOS SOBRE A MEMÓRIA

Nessa década, as pesquisas sobre memória tiveram grande impulso com a publicação de dois textos extensos sobre o tema, sendo um escrito por Peter Zinchenko, em 1961, e outro por Anatoli Smirnov, em 1966, dois dos principais estudiosos do assunto. Esses livros são resultados de décadas de trabalho, sendo praticamente sínteses das investigações desenvolvidas pelos autores desde a década de 1940; no caso especifico de Smirnov, o texto é uma re-edição atualizada de seu texto de 1948, com mudanças significativas na forma como os processos estudados são explicados, pois além de se apropriar de suas pesquisas posteriores, apoiou-se na produção de Zinchenko

e na nova ordem cientifica da psicologia, podendo usar as produções da Escola de Vigotski livremente.

Ambos os autores elaboraram sua teoria nos marcos da psicologia soviética: (1) princípio da unidade psicofísica; (2) princípio do desenvolvimento psíquico; (3) princípio da historicidade; e (4) princípio da unidade da teoria e prática, assim como na estrutura da atividade elaborada por Leontiev a partir da proposição vigotskiana de análise dos processos psicológicos por níveis.

Oleg Tikhomirov (1987) sintetiza a estrutura da atividade:

O conceito de “atividade objetiva” pertence às categorias centrais dentro do sistema da psicologia marxista. O chamado “enfoque orientado pela atividade” na psicologia, pode-se ver hoje como a variante mais elaborada da análise psicológica sistêmica (à diferença da análise sistêmica fisiológica e o sistema cibernético) (...)

Na teoria psicológica da atividade, as atividades se delimitam umas de outras tomando como critério os motivos desencadeantes. São partes integrantes fundamentais de cada uma das atividades humanas, as ações à seu serviço. Denomina-se ação ao processo dirigido por uma idéia do resultado que é necessário alcançar, isto é, a meta. [objetivo – SA] Os procedimentos para a realização das ações denominam-se operações. Segundo Leontiev, as mencionadas “unidades” da atividade humana constituem sua macroestrutura.

Na teoria da atividade, o termo “meta” está associado ao reflexo, ocorrido consciente, do resultado futuro da ação.90

Discutir-se-ão a seguir esse texto seminal de Smirnov e mais um publicado pela editora Progresso em uma coletânea de divulgação da ciência psicológica soviética. Discutir-se-á também um dos capítulos do texto de Zinchenko (o único publicado no Ocidente) e outro presente na coletânea supracitada.a b

a Esta coletânea é a tradução de dois volumes publicados na URSS, chamado “Pesquisas Psicológicas na

URSS”, em 1959 (traduções de textos revisados de 1966). O primeiro volume, cuja tradução somente há em inglês, traz textos sobre problemas gerais de psicologia (incluindo textos de Vigotski inéditos no Ocidente, hoje publicados no tomo 3 das OE) e sobre sensação e percepção. Já o segundo volume (publicado somente em francês) traz textos sobre memória, pensamento e linguagem, completando assim parte significativa dos principais campos de estudo em psicologia.

b Apesar da primeira edição de “Funções corticais superiores do homem”, escrito por Luria, seja 1963, a

5.3.1. ASINVESTIGAÇÕES DE ANATOLISMIRNOV

Anatoli Smirnov não se associou explicitamente a nenhuma das quatro escolas psicológicas existentes na URSS. Durante muitos anos ele foi o Diretor do Instituto de Psicologia de Moscou, o que em parte pode justificar sua “neutralidade”. Parte significativa de suas publicações no Ocidente referem-se à sua atividade como diretor nos relatos de como a pesquisa em psicologia estava nos diversos momentos da história.

Analisando a produção do autor sobre memória, no entanto, pode-se inferir que sua produção está fortemente calcada nas proposições da Escola de Vigotski e mais especificamente na estrutura da atividade elaborada e mais bem desenvolvida por Leontiev, justificando assim sua inserção junto aos autores aqui analisados.

5.3.1.1. A MEMÓRIA E A ATIVIDADE

O artigo de Smirnov, presente na coletânea sobre as pesquisas psicológicas na URSS (Smirnov, 1966), tem como eixo e temática central a relação entre a atividade do indivíduo e os processos de memorização, buscando discuti-la por meio das investigações desenvolvidas tanto pelo autor quanto pelos demais pesquisados de seu país.

É uma explanação bastante panorâmica, identificando os principais núcleos de pesquisa e suas principais conclusões, com o autor pouco se expondo nas conclusões ou até mesmo nas apresentações sobre a memória. Três são os eixos de pesquisas discutidos neste artigo:

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