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2.   Inovação: Um conceito multidisciplinar 17

2.2.   Perspectivas e fontes de Inovação 22

2.2.1. A tecnologia como factor de inovação 23

A tecnologia é um conceito multifacetado que engloba um conhecimento teórico-prático e um conjunto de capacidades e artefactos que podem ser usados no desenvolvimento de produtos e serviços, bem como no desenvolvimento de processos de produção e distribuição (Burgelman et al. 2004). O conceito de tecnologia também pode ser descrito através de uma série de dimensões e de características pelas quais se tem desenvolvido. Alguns exemplos destas dimensões são: a) o nível de generalização de uma tecnologia, que determina a sua capacidade de abrangência em termos de áreas de aplicação (Stankiewicz 1990), b) o grau de explicitação e de articulação associado à tecnologia, e c) o seu grau de modularidade e a forma como se apresenta no mercado, se constituída apenas por uma tecnologia base ou por um conjunto de elementos tecnológicos formando uma tecnologia híbrida. (Osterloff 2003).

Tem-se verificado também que a tecnologia para ser introduzida no mercado necessita de uma adaptação à realidade e necessidade específica de cada contexto de negócio. Como vamos verificar nos próximos capítulos deste trabalho a capacidade de adaptar e de transformar o conhecimento tecnológico face às diversas áreas de negócio onde se integra, torna-se um factor importante para o desenvolvimento da tecnologia em si e uma forma de replicar soluções ao longo de várias indústrias, retirando daqui um conjunto de sinergias inerentes a este processo.

A utilização de tecnologia foi dos factores que mais impacto teve no desenvolvimento da inovação nas empresas. Desde Schumpeter (1934), passando pelo modelo linear cujo desenvolvimento é caracterizado por uma dinâmica technology push (condicionada pelas necessidades de mercado), a tecnologia sempre foi e ainda é considerada um factor determinante nos processos de inovação (Tidd et al. 2001; Hertog 1999) nas empresas, constituindo um factor decisivo nas decisões estratégicas tomadas.

O quadro seguinte apresenta um resumo dos vários enquadramentos referentes à exploração das oportunidades tecnológicas que se têm desenvolvido ao longo do tempo (Osterloff 2003).

Quadro 2.1: Oportunidades tecnológicas

Autor Contribuição

Schumpeter (1943) A noção da perda de um conjunto de oportunidades de investimento ao longo de tempo pode ser rejeitada, devido à constante mudança verificada no consumo tecnológico.

Penrose (1972) A investigação e o desenvolvimento industrial e tecnológico são uma de várias importantes fontes de novas oportunidades para a diversificação de produtos.

Scherer (1980) As oportunidades tecnológicas são o factor mais importante, para além das diferenças encontradas no grau de inovação entre diferentes industrias.

Jaffe (1989) Na tentativa de quantificar as oportunidades tecnológicas, a investigação e desenvolvimento tecnológico deve ser olhada como o resultado de um número de áreas tecnológicas distintas.

Granstrand e Sjolander (1990)

Empresas multi-tecnológicas adquirem e exploram uma variedade de

tecnologias, e através da combinação das mesmas criam novas oportunidades.

(Fonte: retirado de Osterloff 2003, pp. 16)

Quando se fala em termos do grau de intensidade da inovação, muitas das vezes a inovação radical está associada a movimentos de ruptura tecnológica, nomeadamente aqueles que derivam de alterações tecnológicas profundas, que implicam não só alterações relacionadas com equipamentos tecnológicos mas também alterações noutras áreas da organização (Rycroft e Kash 1999). O acesso a tecnologia foi sempre um motivo forte para a realização de acordos de parceria entre empresas e é cada vez mais, dado o grau de especialização crescente nos sectores, um factor determinante no fornecimento de bens e serviços inovadores.

Mas a tecnologia é muito mais do que informação codificada. As actividades tecnológicas segundo Pavitt (1984), podem ser analisadas sob uma perspectiva cognitiva, organizacional ou de forma combinada, ou seja, têm uma vertente de inovação mais focada na constante melhoria e descoberta de novos processos e uma vertente mais relacionada com o impacto que esta vai ter na organização, na forma como se transmite e como se integra no seio da empresa.

Ford (1993) neste sentido concebe a aplicação de tecnologia numa empresa não de uma forma isolada, mas acima de tudo tendo em conta o contexto e o impacto que esta vai ter tanto nas relações internas da empresa, como nas relações estabelecidas com as outras empresas. Consideramos que para além do investimento tecnológico, deve existir igualmente um investimento

nas áreas onde se vai aplicar a tecnologia, com o objectivo de se analisar o impacto que estas mudanças têm nos processos já existentes.

Se tomarmos por exemplo, a prestação de um serviço com vista à redução de churn3 numa empresa de telecomunicações, tal decisão embora revestida de uma importante componente tecnológica (necessária para o processo de análise massiva do comportamento dos clientes), pode ter um impacto significativo nos processos internos da empresa, como por exemplo no seu centro interno de atendimento ao cliente (call center), onde eventualmente até será necessário recorrer à subcontratação de uma empresa especializada em marketing directo.

Actualmente a tecnologia é um factor estratégico na gestão de bens e serviços fornecidos por qualquer empresa. O elevado nível de dependência tecnológica a que a gestão de muitos negócios se encontra sujeita, leva a que cada vez mais tenha um presença relevante nos estudos de impacto das organizações. Torna-se assim muito importante compreender o impacto que os novos sistemas e tecnologias têm nos processos de negócio de uma empresa, que muitas vezes colocam em causa o seu desenvolvimento e sustentabilidade. Nesse sentido, Ford (1993) identificou um conjunto de pontos de semelhança e de diferença das tecnologias face às aplicações de negócio, criando uma matriz de posicionamento tecnológico segundo duas dimensões: a dimensão ‘Conteúdo tecnológico’ e a dimensão ‘Aplicação de negócio’. A primeira está relacionada com o grau de conhecimento sobre o que está envolvido no processo e a segunda está relacionada com os objectivos e as formas como vai ser utilizada a tecnologia.

Quadro 2.2: Posicionamento da Tecnologia face às aplicações de negócio

Aplicação de Negócio

duvidosa clara

conhecido

Desenvolvimento aleatório – actores singulares

Procura de novas soluções tecnológicas para aplicações conhecidas – relações são

importantes C o n te ú d o T e c n o gi c o desconhecido

Procura de novas aplicações para as tecnologias actuais – relações são

importantes

Desenvolvimento organizado onde tudo é muito previsível – actores singulares

(Fonte: retirado de Ford 1993)

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Como já referimos a tecnologia tem cada vez mais um papel central na relação que as empresas estabelecem entre si, pois é um factor facilitador no desenvolvimento de novos processos e ao mesmo tempo condicionante no tipo de actuação que cada uma delas tem no seio tanto da rede que integram, como do mercado em que se inserem. Dado o grau de especialização que se observa nos dias de hoje, torna-se imprescindível o estabelecimento de parceiros tecnológicos com o objectivo de se conseguir por um lado um acesso a conhecimento muito especializado, e por outro um acesso rápido e em tempo útil para fazer face às necessidades de negócio.