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7.   Metodologia de Análise 85

7.2.   Metodologia de análise seguida 86

A metodologia de análise que se decidiu aplicar no trabalho empírico foi a realização de estudo de casos.

O estudo de relações entre empresas coloca normalmente fortes restrições ao uso de metodologias que assentam exclusivamente em inferências estatísticas derivadas de um processo de amostragem

muito complexo (Mota 2000) e ao facto da recolha de dados não se poder limitar a um determinado momento no tempo. É necessário efectuar um levantamento longitudinal, recorrendo tanto a dados quantitativos como qualitativos que permitam analisar propriedades das relações, que só se manifestam ao longo do tempo.

Dada a natureza exploratória das questões de investigação, o estudo de casos ao contrário dos estudos em ambiente experimental ou quasi-experimental, proporcionam um conjunto de análises multi-perspectiva (Yin 1994), as quais se revelam ideais quando estamos perante uma investigação de fenómenos com relações causais e que já ocorreram (Feagin et al. 1991).

Yin (1994) sugere pelos menos quatro aplicações para a adopção de modelos de estudo de casos: 1. Para explicar ligações causais complexas em contextos reais;

2. Para descrever contextos reais nos quais determinado evento ocorreu; 3. Para efectuar uma descrição de uma determinada situação;

4. Para explorar situações nas quais não se tem um conhecimento exacto dos resultados finais. Durante o estudo de casos o investigador considera não só a voz e a perspectiva dos actores, mas também os processos de interacção entre eles, o que vai de encontro aos objectivos das questões de investigação enunciadas. Embora com o estudo de casos não se consiga um nível de generalização suficiente – no qual uma análise em contextos diferenciados permite inferir conclusões mais generalizadas sobre este tema -, permitem por seu lado gerar informação a um nível micro rica em conteúdos qualitativos sobre as relações, percepções e retroacções contidas nos casos, muito importante para explicar relações causais.

Esta reduzida capacidade de generalização tem sido apontada na literatura como um dos principais pontos fracos associado à investigação com base em estudos de caso (Fowler 1988). Yin (1994) argumenta que é frequente encontrar a crítica de que os resultados dos estudos de caso não têm validade quando aplicados aos contextos reais. Em particular refuta esta crítica, apresentando um argumento sobre a diferença entre generalização analítica e generalização estatística. “Na generalização analítica, uma teoria desenvolvida previamente é usada como um template sobre o qual vão ser comparados os resultados empíricos dos estudos de caso” (Yin 1994, pp. 31). O erro está em assumir os estudos de caso como uma amostra de um universo de casos, considerando assim um caso como sendo uma única resposta a um questionário, quando este não representa uma amostragem. Os estudos de caso, da mesma forma que uma experiência, são generalizáveis a proposições teóricas e não a populações ou universos (Eisenhardt 1989). Nesse sentido, o objectivo do estudo de casos é expandir e generalizar teorias, não avaliar frequências de acontecimentos. Contudo, se dois ou mais casos demonstrarem que suportam a mesma teoria, podemos estar perante um processo de replicação.

Existem tipos específicos de estudos de caso que devem ser adoptados em função dos objectivos do trabalho e do próprio investigador (Yin 1994, Stake 1995). Os estudos de caso, tal como em outras estratégias de investigação, não são apenas exploratórios (Yin 1994). Existem também outras estratégias, tais como as explanatórias e descritivas, embora por vezes não seja clara a separação entre cada uma delas. Nos casos exploratórios o trabalho de campo e a recolha de dados podem ser realizados antes da definição das questões de investigação, enquanto que nos casos explanatórios, mais adequados para os estudos causais e nos casos descritivos, o investigador parte normalmente de uma teoria descritiva antes de iniciar o estudo.

Stake (1995) por seu lado distingue os estudos de caso entre: a) intrínsecos – onde o investigador tem um especial interesse em compreender melhor as particularidades de um determinado processo; b)

instrumentais – onde o objectivo do caso é compreender mais do que aquilo que é obvio para o

observador, tendo normalmente como objectivo desenvolver ou aperfeiçoar uma determinada teoria; e c) colectivos – onde é estudado um grupo de casos com o objectivo de tentar encontrar linhas para o desenvolvimento de conclusões comuns.

Neste trabalho julgamos que as estratégias explanatória e descritiva são as mais adequadas aos objectivos propostos, tendo em consideração que estes casos poderão ser considerados intrínsecos e instrumentais. Foram colocadas algumas questões de investigação que serviram de ponto de partida para as observações, interpretações e procura de elementos em cada um dos casos.

Embora não se possa considerar propriamente que vai ser um estudo colectivo, dado que serão considerados apenas dois estudos de caso, pretende-se explorar em maior profundidade cada um deles observando se existe ou não replicação entre eles.

A definição da unidade de análise é um factor crítico no desenho do estudo de casos, pois define o objecto de estudo. Este por sua vez representa um sistema de acções que pode ser constituído por um indivíduo, um grupo de indivíduos, um processo ou mesmo um sistema mais complexo como seja um empresa (Yin 1994). Neste trabalho a unidade de análise considerada foi o projecto de execução de sistemas de informação em BI. Com os casos baseados nesta àrea de negócio pretende-se analisar as dinâmicas de inovação resultantes de processos de relacionamento entre os vários actores ao longo dos projectos.

No que respeita ao processo de recolha de informação, a metodologia de estudo de casos requer uma estratégia de triangulação. Esta estratégia pode ocorrer tanto sobre os dados como sobre os actores, e advém da necessidade de assegurar fiabilidade, validade e explanação da informação recolhida, durante o processo de análise.

Baseado nas recomendações de Yin (1994) os estudos de caso foram desenvolvidos em alinhamento com as seguintes fases:

1. Desenho do estudo de caso 2. Condução do estudo de caso

3. Análise das evidências do estudo de caso

4. Desenvolvimento de conclusões, recomendações e implicações.

No desenho do estudo de caso o objectivo consiste em compreender quais os conhecimentos necessários ao desenvolvimento dos mesmos, de forma a obter como resultado o protocolo do caso (ver anexo II).

Neste trabalho os dois estudos de caso foram seleccionados tendo em consideração os objectivos enunciados nas questões de investigação, e por esse motivo têm o enfoque na visão das relações estabelecidas pela empresa com os clientes e com os parceiros, como factores de inovação nos serviços.

Pretende-se com esta metodologia, obter resultados essencialmente qualitativos que permitam descrever processos de inovação nos projectos de consultoria em sistemas de informação, inseridos no contexto real onde ocorrem, desde a fase inicial de concepção, passando pela fase de implementação, até à fase final de colocação do sistema no ambiente real da empresa. O contexto, nestas questões de investigação toma particular importância, dado ser um factor condicionante mas também muito rico em termos de recolha de informação e com uma clara influência em todo o processo de inovação, concretamente quando se trata de relações entre empresas (Rycroft e Kash 1999).