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Caput XXX: De ratione disserend

CAPÍTULO 30: A teoria da argumentação

A teoria da argumentação possui como partes integrais a in­ venção e 0 juízo, e como partes divisíveis, a demonstração, o ra­ ciocínio provável, a sofistica”.

A demonstração se dá nos argumentos probantes e perten­ ce ao filósofo. A argumentação provável pertence aos dialéticos e aos retóricos. A sofistica é coisa de sofistas e zombadores.

A argumentação provável se divide em dialética e retórica, e as duas possuem como partes integrais a invenção e o juízo. Sen­ do que a invenção e o juízo são partes integrais do próprio gêne­ ro, que é a argumentação, é necessário que se encontrem juntas na composição de todas as subdivisões. A invenção é aquela que ensina a encontrar os argumentos e a compor as argumen­ tações. A ciência do juízo ensina a julgar sobre argumentos e argumentações.

Podemos perguntar-nos se a invenção e o juízo estão conti­ dos sob a filosofia. Pareceria que não são contidos nem sob a 33. As "partes integrais" não são separáveis do todo, cm oposição às "partes divisíveis" nas

quais um gênero se subdivide, como, por exemplo, o gênero "animal" se divide nas es­ pécies “raciona!" e "irracional”. A invenção é a procura de argumentos para uma argu­ mentação e 0 juízo é 0 julgamento da verdade ou falsidade da argumentação. Invenção e juízo estão presetites em todas as subdivisões da teoria da argumentação.

theorica, neque sub practica, neque sub mechanica, neque sub logica, de qua magis videretur contineri. Sub logica non conti­ nentur, quia neque per grammaticam neque per dissertivam. Per dissertivam non continentur, cum integraliter eam constituant Nulla autem res esse possit simul integralis et divisiva pars eius­ dem generis. Sicque philosophia non omnem scientiam contine­ re videtur.

Sed sciendum quod scientia duobus modis accipi solet, id est, pro aliqua disciplinarum, sicut cum dico dialecticam esse scientiam, id est, artem vel disciplinam, et pro qualibet cognitio­ ne, sicut cum dico scientiam habere eum qui scit aliquid. Verbi gratia, si scio dialecticam, scientiam habeo, et si scio natare, sci­ entiam habeo, et si scio Socratem esse Sophronisci filium, scien­ tiam habeo. Et universaliter omnis qui aliquid scit, potest dici scientiam habere. Sed tamen aliud est, cum dico, ''dialectica est scientia, id est, ars vel disciplina”, atque aliud cum dico, “scire quod Socrates est Sophronisci filius est scientia, id est, cogni­ tio”. De omni scientia quae est ars vel disciplina, verum est dice­ re quod sit pars philosophiae divisiva, non autem universaliter dici potest, quod omnis scientia quae est cognitio, pars sit philo­ sophiae divisiva. Est tamen prorsus omnis scientia sive discipli­ na sive quaelibet cognitio pars philosophiae, vel divisiva vel inte­ gralis.

Disciplina autem est scientia quae absolutum finem habet, in quo propositum artis perfecte explicatur, quod scientiae inve­ niendi vel iudicandi non convenit, quia neutra per se absoluta est, et ideo disciplina dici non possunt, sed partes disciplinae, id est dissertivae.

Rursum quaeritur si inventio et indicium eaedem sint par­ tes dialecticae et rhetoricae, quod inconveniens videtur, ut duo opposita genera eisdem prorsus constituantur partibus. Dici ergo potest has duas voces aequivocas esse ad partes dialecticae et rhetoricae, vel, quod fortassis melius est, dicamus inventio­ nem et iudicium proprie partes esse

teórica, nem sob a prática, nem sob a mecánica, nem sob a lógi­ ca, que nos parecería a mais apta a incluí-los. Não estariam incluí­ dos sob a lógica, nem pela gramática nem pela teoria da argumen­ tação. Não estariam incluídas pela teoria da argumentação por­ que a constituem integralmente. Pois nenhuma coisa poderia ser simultaneamente parte integral e subdivisão de mesmo gênero. Assim sendo, parece que a filosofia não contém todo o saber.

Mas se deve saber que a ciência pode ser interpretada de duas maneiras: ou como uma das disciplinas, quando digo, por exemplo, que a dialética é uma ciência, isto é, uma arte ou disci­ plina, ou como qualquer conhecimento, quando, por exemplo, digo que alguém que conhece alguma coisa, tem ciência daquilo. Por exemplo, se conheço a dialética, tenho ciência, e se sei nadar tenho ciência, e se sei que Sócrates é filho de Sofronisco tenho ciência. E em geral, de toda pessoa que sabe de alguma coisa pode ser dito que ela tem ciência daquela coisa. Todavia, uma coisa é se digo: “a dialética é uma ciência, isto é, uma arte ou disciplina”, e outra coisa é se digo: "saber que Sócrates é filho de Sofronisco é uma ciência, isto é, um conhecimento”. De qualquer ciência que é arte ou disciplina se pode dizer que perfaz uma parte da filosofia, mas em geral não se pode dizer que todo saber que é um conheci­ mento perfaz uma parte da filosofia. Todavia, toda ciência, seja ela disciplina seja um conhecimento qualquer, faz parte da filoso­ fia, ou como parte divisível ou como parte integral.

A disciplina é uma ciência que possui uma meta final inde­ pendente, na qual ela realiza perfeitamente o propósito da arte. Isto não é próprio da ciência da invenção e do juízo, porque ne­ nhuma das duas é independente; por isso, não podem ser ditas disciplinas, mas antes partes de uma disciplina, isto é, da teoria da argumentação.

Alguém se pergunta, ainda, se a invenção e o juízo são tam­ bém subdivisões da dialética e da retórica. Mas não parece possí­ vel que dois gêneros opostos sejam constituídos de idênticas subdivisões. Pode-se dizer, portanto, que estas duas palavras, in­ venção e juízo, teriam um significado diverso e equívoco entre sí como subdivisões da dialética e da retórica. Ou, o que talvez é me­ lhor, digamos que a invenção e o juízo são propriamente partes

dissertivae et sub his vocibus univocari, in inferioribus tamen huius generis quibusdam proprietatibus, a se invicem differre. Quae tamen differentiae per has voces non discernuntur, quia per eas non secundum hoc quod species componunt, sed secun­ dum hoc quod partes sunt generis significantur.

Grammatica est scientia loquendi sine vitio; dialectica, dis­ putatio acuta verum a falso distinguens. Rhetorica est disciplina ad persuadendum quaeque idonea.

da teoria da argumentação, e nesta tem um significado preciso e unívoco, mas, se colocados também nas subdivisões inferiores deste gênero, ou seja, na dialética e retórica, teriam dois signifi­ cados, equívocos entre si. Não dá para imaginar estas diferenças nos dois termos, invenção e juízo, exatamente porque seu signi­ ficado advém do fato de serem partes integrais de um gênero, não do fato de constituírem espécies.

A gramática é a ciência de falar sem erro. A dialética é a dis­ puta aguda que distingue o verdadeiro do falso. A retórica é a disciplina para persuadir sobre tudo o que for conveniente.