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A especificidade de cada arte

Caput XVII: Quid sit proprium uniuscuiusque artis Cum vero omnes artes ad unum philosophiae tendant termi­

CAPÍTULO 17: A especificidade de cada arte

É verdade que todas as artes tendem para o único objetivo da filosofia, mas nem todas percorrem o mesmo caminho; aliás, cada uma possui determinadas ponderações próprias, pelas quais se diferencia das outras.

O objeto da lógica são as coisas, cuidando dos conceitos das coisas, ou pela inteligência, quando não estão presentes nem as coisas nem as imagens delas, ou pela razão, quando não estão presentes as coisas mas o estão as imagens delas, A lógica se in­ teressa, assim, pelas espécies e pelos gêneros das coisas.

Próprio da matemática é tornar distintos pela razão os da­ dos confusos. Por exemplo, na coisa real não se encontra a linha sem a superfície e a solidez. Nenhum corpo é, assim, somente longo, como se não tivesse largura e alteza, pois em cada corpo estas três qualidades são simultâneas, A razão analisa a linha de maneira pura, em si, sem a superfície e o peso. E isto é algo ma­ temático, não porque na coisa é assim ou pode ser assim, mas

quia ratio saepe actus rerum considerat, non ut sunt, sed sicut esse possunt, non in se, sed quantum ad ipsam rationem, id est, ut ratio pateretur esse. Secundum quam considerationem dic­ tum est continuam quantitatem in infinita decrescere, et discre­ tam crescere in infinitum. Talis est enim vivacitas rationis, ut omne longum in longa dividat, latum in lata, et cetera, utque ipsi rationi nihil carens intervallo intervallum generet

Physicae autem est proprium actus rerum permixtos imper­ mixte attendere. Actus enim corporum mundi non sunt puri, sed compositi ab actibus purorum, quos physica, cum per se non in­ veniantur, pure tamen et per se considerat Purum scilicet ac­ tum ignis, sive terrae, sive aeris, sive aquae, et ex natura unius­ cuiusque per se considerata, de concretione et efficientia totius iudicat

Hoc etiam praetereundum non est, quod sola physica pro­ prie de rebus agit, ceterae omnes de intellectibus rerum. Logica tractat de ipsis intellectibus secundum praedicamentalem cons­ titutionem; mathematica vero, secundum integralem compositi­ onem, et ideo logica quandoque utitur pura intelligentia, mathe­ matica autem nunquam sine imaginatione est, ideoque nihil vere simplex habet Quia enim logica et mathematica priores sunt ordine discendi quam physica, et ad ea quodammodo ins­ trumenti vice funguntur, quibus unumquemque primum infor­ mari oportet antequam physicae speculationi operam det, ne- cesse fuit ut non in actibus rerum, ubi fallax experimentum est, sed in sola ratione, ubi inconcussa veritas manet, suam conside­ rationem ponerent, deinde ipsa ratione praevia ad experientiam rerum descenderent

Postquam igitur demonstravimus quomodo divisio theori- cae, quam ponit Boethius, superiori conveniat, breviter nunc utrasque repetimus, ut singula utriusque verba divisionis invi­ cem conferamus.

porque é próprio da razão considerar freqüentemente o ser das coisas não como estas são, mas como podem ser, não em si, mas de acordo com a razão, isto é, como a razão consente que sejam. Neste sentido foi dito que a quantidade contínua é dividida em infinitas partes e que uma quantidade divisa cresce ao infinito. E tal a vitalidade da razão, que ela divide qualquer coisa longa em outras coisas longas, algo largo em coisas largas, e assim em diante, e que nenhum objeto, indiviso, deixe de engendrar uma divisão para a própria razão.

É próprio da física tratar singularmente os movimentos mis­ tos. De fato, os movimentos dos corpos do mundo não são pu­ ros, mas compostos de atos puros que a física, mesmo que em si não existam, considera puros e em si. A física, tendo observado o movimento puro do fogo, ou da terra, ou do ar ou do céu, con­ clui, a partir da natureza de cada um observada separadamente, sobre a agregação e a eficiência do todo.

E também não deve ser esquecido que unicamente a física trada das coisas, enquanto todas as outras ciências se ocupam dos conceitos das coisas. A lógica trata destes conceitos, mas em termos de organização catégorial, enquanto a matemática em termos de constituição integral; por esta razão, a lógica às vezes se utiliza da inteligência pura, enquanto a matemática nunca age sem imaginação, e, por isso, não tem nenhum objeto verdadeiramente simples. Sendo que a lógica e a matemática são anteriores à física na ordem da aprendizagem e funcionam para ela num certo qual modo como instrumentos, sobre os quais qualquer pessoa deve ser informada antes de aceder à pesquisa física, foi necessário que a lógica e a matemática se dedicassem não à dinâmica das coisas, onde a experiência é en­ ganadora, mas unicamente sobre a razão, onde fica a verdade indiscussa, para depois, sob a condução da razão, descerem para a experimentação das coisas.

Depois de ter demonstrado por que a divisão da teórica, pro­ posta por Boécio, concorda com a anterior, agora repropomos brevemente as duas, para que possamos comparar cada palavra de uma e outra divisão.

Caput XVIII: Collatio sup radi cto rum

Theorica dividitur in theologiam, mathematicam, et physi­ cam. Vel aliter, theorica dividitur in intellectibilem, intelligibi- lem, et naturalem. Vel aliter, theorica dividitur in divinalem, in doctrinale et philologiam. Eadem est igitur theologia, intellecti­ bilis et divinalis, eadem est mathematica, intelligibilis et doctri­ nalis, eademque physica, philologia, et naturalis.

Sunt qui has tres theoricae partes mystice quodam Palladis nomine, quae dea sapientiae fingitur esse, significari putant. Di­ citur enim Tritona, quasi tritoona, id est, tertia cognitio, videli­ cet Dei, quam intellectibilem nominavimus, et animarum, quam intelligibilem diximus, et corporum, quam naturalem appellavi­ mus. Et merito ab his tribus tantum sapientia vocabulum sumit, quia, licet tres reliquas, id est, ethicam, mechanicam, logicam, congrue ad sapientiam referre possimus, expressius tamen logi­ cam, propter vocis eloquentiam, mechanicam et ethicam, prop­ ter circumspectionem morum et operum, prudentiam sive scien­ tiam appellamus. Solam autem theoricam, propter speculatio­ nem veritatis rerum, sapientiam nominamus.

Caput XIX: Item

Practica dividitur in solitariam, privatam et publicam; vel aliter, in ethicam, oeconomicam et politicam; vel aliter, in mora­ lem et dispensativam et civilem. Una est solitaria, ethica et mora­ lis; una rursum, privata, oeconomica et dispensativa. Eademque publica, politica atque civilis. Oeconomus interpretatur dispensa­ tor. Inde oeconomica dicta est dispensativa. Polis Graece, Latine civitas dicitur; inde politica dicta est, id est, civilis. Quando ethi­ cam partem constituimus practicae, stricte accipienda est ethica in moribus uniuscuiusque personae, et est eadem quae solitaria.

Solitaria igitur ''est quae sui curam gerens cunctis sese eri­ git, exornat augetque virtutibus.

CAPÍTULO 18: Comparação das coisas ditas acima