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Studium quaerendi ad exercitium pertinet, in quo exhortati­ one magis quam doctrina lector indiget. Qui enim diligenter ins­ picere voluerit quid antiqui propter amorem sapientiae pertule­ rint, quam memoranda posteris virtutis suae monimenta reli­ querint, quamlibet suam diligentiam inferiorem esse videbit. Alii calcabant honores, alii proiecerunt divitias, alii acceptis iniuriis gaudebant, alii poenas spreverunt, alii contubernia hominum deserentes, ultimos recessus et secreta eremi penetrantes, soli se philosophiae dedicabant, ut eo contemplationi vacarent libe­ rius, quo nullis quae virtutis iter impedire solent cupiditatibus animum subiecissent. Parmenides philosophus quindecim annis in rupe Aegyptia consedisse legitur. Et Prometheus ob immodi­ cam meditandi curam in monte Caucaso vulturi expositus me­ moratur. Quia enim sciebant verum bonum non in aestimatione hominum sed in pura conscientia esse absconditum, et eos iam non homines esse, qui rebus perituris inhaerentes bonum suum non agnoscerent, ideo, quantum mente et intelligentia a ceteris differrent, ipsa locorum distantia demonstrabant, ne una tene­ ret habitatio quos non eadem sociabat intentio. Quidam philo­ sopho referebat dicens: "Numquid non vides quia te derident ho­ mines?" Et ille: "Ipsi me, inquit, derident, et eos asini." Cogita si potes, quanti aestimaverit laudari ab his, a quibus nec vituperari timuit De alio rursum legitur, quod post omnia disciplinarum studia et artium acumina ad opus figuli descenderit Et alterius cuiusdam discipuli cum laudibus magistrum suum efferrent, in­ ter cetera nec sutoriae peritia eum carere gloriati sunt.

Hanc igitur diligentiam in nostris lectoribus esse vellem, ut numquam in eis senesceret sapientia. Sola Abisag Sunamitis se­ nem David calefecit quia amor sapientiae etiam marcescente corpore dilectorem suum non deserit

A dedicação à pesquisa pertence ao campo do exercício, e nisto 0 estudante precisa mais de exortação que de ensinamen­ to. Aquele que quisesse olhar diligentemente o que os antigos suportaram pelo amor da Sabedoria e quantas memórias memo­ ráveis de sua virtude deixaram aos pósteros, verá quanto a sua diligência é inferior à deles. Uns calcavam as honras, outros jo­ garam no ar as riquezas, uns se alegravam das injúrias recebi­ das, outros desprezaram os sofrimentos, outros, deixando o con­ vívio dos homens e adentrando-se nos últimos recantos nas soli- dões do ermo, se dedicavam somente à filosofia, para entre­ gar-se à meditação tanto mais livremente quanto menos subme­ tessem 0 espírito às volúpias que costumam impedir o caminho da virtude. Conta-se que o filósofo Parmênides passou quinze anos num rochedo do Egito. E Prometeu é recordado exposto ao abutre no monte Cáucaso por causa da sua vontade desmedi­ da de meditar. Estes eremitas, sabendo que o verdadeiro bem não reside na estima dos homens, mas está escondido na consciência pura e que não são homens quantos, aderindo às coisas que pere­ cem, desconhecem o seu próprio bem, demonstravam com a dis­ tância geográfica quanto diferiam dos outros na mente e na inteli­ gência, não querendo que uma mesm^habitação albergasse aque­ les que não eram associados na mesma intenção. Alguém se volta­ va para um filósofo dizendo: “Não vê como os homens zombam de você?” E ele: "Eles zombam de mim, e deles zombam os as­ nos”. Pensa, se você consegue, quanto valia para ele ser louvado por aqueles, dos quais nem de ser insultado teve medo. De um ou­ tro se diz que, depois de todos os estudos das disciplinas e depois de ter alcançado as sumidades das artes, desceu para o trabalho de oleiro. E os discípulos de um certo estudioso, querendo promo­ ver com louvores o seu mestre, gloriavam-se de que a ele não fal­ tava, entre outras coisas, nem a perícia de sapateiro.

Gostaria que os nossos estudantes tivessem uma tal diligên­ cia que neles a Sabedoria nunca envelhecesse. Somente Abisag, a sunamita, esquentou o velho Davi, porque o amor da Sabedoria, mes­ mo num corpo em definhamento, não abandonou o seu amante.

"Omnes paene virtutes corporis mutantur in senibus, et crescen­ te sola sapientia, decrescunt cetera"®l "Senectus enim illorum qui adoiescentiam suam honestis actibus instruxerunt, aetate fit doctior, usu tritior, processu temporis sapientior, et veterum studiorum dulcissimos fructus metit. Unde et sapiens ille vir Graeciae, Themistocles, cum expletis centum septem annis se mori cerneret, dixisse fertur se dolere quod egrederetur de vita quando sapere coepisset Plato LXXXI anno scribens mortuus est. Socrates XCIX annos in docendi scribendique dolore labore­ que complevit Taceo ceteros philosophos, Pythagoram, Demo­ critum, Xenocratem, Zenonem et Eleantem qui iam aetate longa­ eva in sapientiae studiis floruerunt

Ad poetas venio, Homerum, Hesiodum, Simonidem, Tersico- rum, qui grandes natu cycneum nescio quid et solito dulcius vi­ cina morte cecinerunt Sophocles cum post nimiam senectutem et rei familiaris neglegentiam, a filiis accusaretur amentiae, Oe- dippi fabulam, quam nuper scripserat, recitavit iudici, et tantum sapientiae in aetate iam fracta specimen dedit, ut severitatem tribunalium in favorem theatri converteret Nec mirum cum eti­ am Cato censorius et Romani generis disertissimus, iam .senex graecas litteras discere nec erubuerit nec desperaverit. Certe Homerus refert quod de lingua Nestoris, iam vetuli et paene de­ crepiti dulcior meile oratio fluxerit”^^

Animadverte igitur quantum amaverint sapientiam quos nec decrepita aetas ab eius inquisitione potuit revocare. Iste igi­ tur tantus amor sapientiae, tanta in senibus prudentiae abun­ dantia, congrue etiam ex ipsius supradicti nominis interpretati­ one colligitur. "Interpretatur enim Abisag, pater meus superflu­ us”, vel, “patris mei rugitus, ex quo ostenditur abundantissi^ mum, et ultra humanam vocem in senibus divini sermonis toni­ truum commorari- Verbum namque superfluum in hoc loco ple­ nitudinem, non redundantiam, significat. Porro Sunamitis in lin­ gua nostra coccinea dicitur”^'*, quod satis convenienter fervorem sapientiae significare potest.

56. Hieronymus, Episi. 52,3,2, 57. Hieronymus, Episi. 52,3,3-6, 58. Hieronymus, Epist. 52,3,7.

“Quase todas as forças do corpo mudam nos velhos, e, enquanto cresce apenas a Sabedoria, todas as outras decrescem”. “A velhi­ ce daqueles que construíram a sua adolescência em atos hones­ tos com a idade se torna mais douta, com a prática mais caleja- da, com o andar do tempo mais sábia, e recolhe os frutos dulcis­ simos dos estudos anteriores. Por isso, se conta que aquele ho­ mem sábio da Grécia, Temístocles, percebendo que estava mor­ rendo após ter terminado cento e sete anos, ficava triste em ter que sair da vida quando começava a conhecer as coisas. Platão morreu aos oitenta e um anos, escrevendo. Sócrates completou noventa e nove anos na dor e no trabalho do ensino e da escrita. Não falo de outros filósofos, Pitágoras, Democrito, Xenocrates. Zenão e Eleante, os quais se destacaram nos estudos da Sabedo­ ria quando estavam em idade avançada.

E agora venho aos poetas, Homero, Hesiodo, Simonides, Tersícoro, os quais, já velhos, perto da morte cantaram não sei qual canto de cisne mais doce que de costume, Sófocles, sendo acusado de demência pelos filhos em razão da velhice avançada e da negligência nos negócios de família, recitou ao juiz a tragé­ dia de Édipo, que acabara de escrever, c deu um tal exemplo de Sabedoria em idade já avançada, que transformou a severidade do tribunal em entusiasmo pelo teatro. E não é estranho, pois também Catão o Censor e o wais eloquente dos romanos, ja ve­ lho, não teve vergonha nem desesperou de aprender o grego. Apropriadamente Homero conta que da língua de Nestor, já ve­ lho e quase decrépito, fluía um dí.scurso mais suave que o raeí".

Pense, portanto, quanto devem ter amado a Sabedoria aqueles que nem a idade decrépita conseguiu afastar da procura dela, Este tanto amor da Sabedoria e tanta abundância de pru­ dência nos velhos, se deduz também da interpretação de um nome acima reportado. “Abisag, de fato, significa o meu pai su­

pérfluo'' ou “o rugido do meu pai, de onde fica manifesto que

nos velhos reside um potentíssimo trovão da voz divina, acima de qualquer voz humana. A palavra supérfluo, aqui, significa plenitude, não redundância. Enfim, Sunamita em nossa língua significa “vermelho, escarlate”, que pode significar muito apro­ priadamente o fervor da Sabedoria.