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A Teoria do Processamento da Informação

3 AS CATEGOTIAS CONCEITUAIS DE REFERÊNCIA PARA

3.2 Conceito de metacognição

3.2.3 A Teoria do Processamento da Informação

Um dos grandes expoentes da Teoria do Processamento da Informação que estudou os processos metacognitivos foi Sternberg. Segundo ele, “as teorias de processamento da informação ou teorias cognitivas da inteligência tentam compreender a inteligência humana em termos de processos mentais que contribuem para o desempenho em tarefas cognitivas”. (STERNBERG, 1992, P. 26). Os psicólogos do processamento da informação estudam as capacidades humanas analisando a maneira como as pessoas solucionam difíceis tarefas mentais.

Como ensina esse autor, a abordagem do processamento da informação surgiu em resposta à abordagem psicométrica. Enquanto na abordagem psicométrica os psicólogos tentavam compreender as capacidades cognitivas humanas, em termos de fatores ou estruturas mentais que supunham serem responsáveis pelas diferenças individuais no desempenho observado nos testes de inteligência, na abordagem do processamento da informação, os psicólogos, insatisfeitos com a ênfase na estrutura, buscaram descobrir mais sobre os processos subjacentes ao comportamento inteligente. Em vez de enfatizar as estruturas

estáticas (fatores), centraram-se nos processos dinâmicos (componentes). Para isso, começaram investigando a maneira como as pessoas realizam tarefas e só depois observaram as diferenças individuais, ao contrário dos psicometristas, que iniciaram suas investigações com o estudo das diferenças individuais entre as pessoas (STERNBERG, 1992).

Ambas as teorias tentaram elaborar conhecimento sobre quais as capacidades humanas e como estas se manifestam no desempenho das diferentes tarefas, e investigaram o que dá origem às diferenças individuais observáveis no desempenho das tarefas. Elas diferiam não no tipo de tarefas examinadas, que muitas vezes eram idênticas, mas, essencialmente, na ênfase em diferentes aspectos do desempenho nessas tarefas.

Finalmente, esse estudioso concluiu que essas teorias não são mutualmente excludentes, mas podem ser sobrepostas:

As teorias psicométricas enfocam, principalmente, a questão relativa de que constelações estruturais de processos, conteúdos, representações e similares dão surgimento a padrões estáveis de diferenças individuais. As teorias de processamento da informação tentam identificar os processos, conteúdos e representações individuais. Portanto, esta última abordagem é útil para a análise molecular de como as tarefas são solucionadas. A primeira abordagem, por sua vez, é útil para descobrir-se como esses processos, conteúdos e representações agrupam- se para formar fontes relativamente estáveis de diferenças individuais. (STERNBERG,1992, p. 33).

A Teoria do Processamento da Informação procura esclarecer como os seres humanos adquirem, armazenam e aplicam as informações para explicar o papel das estratégias de aprendizagem na aquisição, retenção e utilização do conhecimento. Para os psicólogos cognitivos adeptos dessa teoria, a aquisição do conhecimento implica em que as pessoas sejam capazes de ir além do conhecimento dos fatos em direção ao desenvolvimento de uma capacidade de pensar sobre os próprios pensamentos, ou seja, ao desenvolvimento das capacidades metacognitivas (BORUCHOVITCH, 1999).

A maioria dos modelos que abordam o conhecimento humano como um sistema de processamento de informação inclui um processador central capaz de planejar o desenvolvimento da atividade intelectual e controlar sua execução. Os progressos na aprendizagem seriam obtidos com a utilização de regras e estratégias em contextos específicos, ampliando-as para regras mais gerais, que possam ser aplicadas a diversas situações. Regras isoladas vão se interligando e sendo incorporadas e utilizadas de modo mais automático e flexível (MARTÍN; MARCHESI, 1995, p. 28).

Entre as principais contribuições da Psicologia Cognitiva baseada na Teoria do Processamento da Informação para a educação, podemos destacar a visão de que todo aluno

pode ser autorregulado, daì ser possìvel o “ensinar a aprender” e “aprender a aprender”, e a credibilidade nas estratégias de aprendizagem como variável-chave para o fortalecimento da capacidade de aprender e de elevar a qualidade do desempenho escolar de alunos.

Enquanto Gardner enfatizou a separação dos vários aspectos da inteligência, Sternberg (2009) estudou a forma como esses aspectos trabalham juntos, e elaborou a Teoria Triarchic da Inteligência humana. De acordo com tal sistema, a inteligência compreende três aspectos: (1) o mundo interno da pessoa; (2) a experiência e (3) o mundo externo.

No que se refere ao mundo interno, a teoria enfatiza o processamento da informação, o qual pode ser visto em termos de três diferentes tipos de componentes: (a) metacomponentes, (b) componentes de desempenho, (c) componentes de aquisição de conhecimentos.

Os metacomponentes, ou processos executivos de ordem elevada (isto é, metacognição), usados para planejar, têm a função de decidir sobre a natureza de um problema e selecionar uma estratégia para a solução. Os componentes de desempenho, ou processos não executivos, são empregados na execução real de uma estratégia de solução de problemas. Os componentes de aquisição de conhecimentos são os processos aplicados para adquirir novas informações (STERNBERG, 1992).

Sobre o segundo aspecto, a experiência, Sternberg (1992, p. 31), suspeita que os componentes sejam mais bem medidos no início de uma experiência de uma pessoa ou quando o processamento já está se tornando automatizado:

[...] as tarefas e as situações medem mais adequadamente o desempenho inteligente quando são inéditas na experiência de uma pessoa ou, pelo contrário, quando são tão habituais que seu desempenho está se tornando automático e, portanto, essencialmente inconsciente.

Sobre o terceiro aspecto, que diz respeito à relação entre a inteligência e o mundo externo, o comportamento inteligente é aquele que envolve a adaptação da pessoa aos ambientes do mundo real (quando ela tenta atingir um “bom ajuste” com o ambiente), a seleção de um novo ambiente (em vez de adaptar-se ao ambiente em que se encontra) ou a modelagem do ambiente (quando ela não consegue selecionar um ambiente que lhe pareça apropriado e faz alterações neste com o objetivo de se adaptar).

Para se ter uma real medida da inteligência, é necessário, segundo Sternberg (1992) levar em consideração os três aspectos da tríade proposta. Os testes de inteligência tratam apenas do primeiro aspecto da tríade, havendo necessidade de suplementação.

Para esse estudioso, a inteligência compreende habilidades analítica, criativa e prática

familiares utilizando estratégias que manipulem os elementos de um problema (comparando, analisando). No pensamento criativo, tentam resolver novos tipos de problemas (que requerem um pensamento mais profundo de seus elementos) de uma nova forma (inventando, projetando). No prático, buscam resolver problemas que apliquem o que já conhece no contexto cotidiano (aplicando, usando).

De acordo com a Teoria Triarchic, as pessoas podem aplicar sua inteligência em diferentes tipos de problemas. Algumas pessoas podem, por exemplo, ser mais inteligentes em face de problemas que envolvam raciocínio abstrato, outras em face de situações concretas e problemas práticos.

Esse autor realizou um estudo para testar a validade da Teoria Triarchic. Estudantes foram selecionados por uma das cinco habilidades padrão: somente analítica, apenas criativa, só prática, em todas as três e em nenhuma das três, e designados ao acaso para um dos quatro grupos instrucionais. As memórias de base, analítica, criativa e prática, de todos os estudantes foram avaliadas. Um estudante com alta habilidade de análise posto numa situação instrucional que enfatiza pensamento analítico ultrapassou o desempenho do estudante com alta habilidade em análise colocado em uma condição instrucional que enfatiza pensamento prático, confirmando sua hipótese de que os estudantes em condição instrucional semelhante aos seus padrões de habilidades ultrapassam o desempenho daqueles que são situados em posição instrucional diferente de seus padrões de habilidades. Sternberg concluiu ainda que ensinar estudantes a usar todas as suas habilidades analítica, criativa e prática traz como resultado a melhora do desempenho escolar de todos eles, quaisquer que sejam suas habilidades.

Esse resultado aponta para a necessidade de mudar a avaliação da inteligência humana, avaliando-se não somente as habilidades analíticas, mas também os aspectos da inteligência criativa e prática. Uma avaliação completa e um sistema de ensino pode, segundo esse autor, trazer grandes benefícios para a educação de grande variedade de estudantes.

Pessoas inteligentes conhecem não só sua fortaleza e seus fracassos, mas também encontram caminhos, formas de potencializar seus pontos fortes e compensar e corrigir suas fraquezas. O ponto, segundo Sternberg, é fazer o melhor da sua fortaleza e encontrar formas de viver confortavelmente com suas fraquezas. Essas habilidades são da ordem dos metaconhecimentos e influem diretamente no processo de aprendizagem.

Assim, ao trabalhar, no aluno, esses três componentes, o professor o ajuda a aperfeiçoar suas habilidades e superar fragilidades, utilizando-se da metacognição como ferramenta de aprendizagem.