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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA INVESTIGAÇÃO

4.2 O locus e os sujeitos da pesquisa

Sendo a escola o locus onde o exercício da reflexão pedagógica pode acontecer de maneira mais efetiva e contextualizada, realizamos uma pesquisa-ação em uma escola pública do Sistema Municipal de Fortaleza, com o objetivo de desenvolver um trabalho de intervenção, em colaboração com o professor, que incluísse, na sua prática pedagógica, um ensino metacognitivo da leitura e escrita. A pesquisa não teve a intenção de transformar todas as práticas pedagógicas das professoras para um ensino metacognitivo na disciplina de Linguagens, mas buscar, em parceria, uma reflexão dessas práticas à luz de referenciais teóricos que possibilitassem outra perspectiva e uma ressignificação de suas ações.

A escolha de uma escola pertencente à Secretaria Executiva da Regional VI (SER VI) do Sistema Municipal de Ensino de Fortaleza foi feita pelo nosso envolvimento e compromisso profissional com essa instituição − uma vez que fazemos parte do corpo técnico dessa Secretaria − e a intenção de contribuir para algumas reflexões e transformações no âmbito da prática pedagógica do professor. Descreveremos a seguir o processo de escolha da escola onde foi realizada a pesquisa.

Foi realizado o primeiro contato com a direção de três escolas para a exposição dos objetivos da pesquisa e sondagem de interesses de adesão a ela, a escola A, a escola B e escola C. A direção da escola A, em visita à instituição dia 25/02/10, mostrou-se interessada em contribuir para o desenvolvimento da pesquisa. No contato por telefone com a escola B, a diretora também demonstrou interesse e marcou um momento com as professoras para a apresentação do projeto de pesquisa. Já a direção da escola C, mesmo após vários contatos por telefone, não se esforçou para que a pesquisa fosse mostrada para o corpo docente. Dessa forma, optamos por visitar as duas primeiras escolas.

Em 04/03/10 foi feita uma reunião na escola A com as professoras no período da manhã, na qual foram expostos os objetivos, a metodologia da pesquisa e a importância dos professores se engajarem, já que se caracterizava como uma pesquisa-ação, na qual construiríamos juntos as estratégias de ensino metacognitivo. Estiveram presentes oito professoras do 1°, 2° e 3° ano e a diretora da escola. Elas acharam interessante a proposta da pesquisa e falaram um pouco da necessidade de os professores estarem constantemente estudando e revendo suas práticas. Todas as professoras demonstraram interesse pela pesquisa e se disponibilizaram a colaborar.

Ao explicar que no primeiro momento iríamos apenas observar a prática das professoras em duas escolas para posteriormente escolher a escola e duas professoras, elas

lamentaram o fato de não podermos estar em todas as turmas. Algumas (Débora e Lia10, do 3° ano) insistiram para investigar na sala delas. Interessante é observar que essas duas professoras, mesmo antes do momento com todo o grupo, para expor os objetivos da pesquisa, nos procuraram fazendo perguntas sobre a pesquisa. Débora falou um pouco do seu interesse pela área de leitura e escrita e o quanto queria aprender mais sobre isso, e que, inclusive, estava fazendo especialização e desenvolvendo monografia sobre a importância do letramento na aquisição da leitura e escrita, havendo expressado grande expectativa na participação da pesquisa: “Eu vejo nessa pesquisa uma luz”.

Na visita à escola B, em 05/03/2010, estavam presentes sete professoras efetivas do 1º ao 5º ano, duas substitutas, além da coordenadora pedagógica, secretária e professora do Atendimento Educacional Especializado. Das sete professoras efetivas, duas iriam entrar de licença-prêmio no decorrer do período letivo de 2010, uma estava responsável pelo projeto Mais Educação, e portanto, fora da sala de aula; duas optaram por não participar da pesquisa.

Como apenas duas professoras da escola B aceitaram participar da pesquisa, e pretendíamos observar pelo menos cinco professoras, optamos pela realização da pesquisa na escola A, cujas professoras se mostraram interessadas e disponíveis a colaborar com a pesquisa e, ao mesmo tempo decididas a aceitar possíveis contribuições.

Trata-se de uma escola de Ensino Fundamental, de 1º ao 9º ano e de Educação de Jovens e Adultos (EJA), funcionando os três turnos − manhã, tarde e noite. Pela manhã, funciona o Ensino Fundamental 1 (do 1º ao 5º ano), à tarde o Ensino Fundamental 2 (da 6º ao 9º ano), e à noite, Ensino Fundamental 2 e EJA 1, 2 e 3. É administrada por uma diretora, que está na gestão da escola desde 1997, e um vice-diretor. Possui três coordenadoras pedagógicas, cobrindo os três turnos, e uma orientadora educacional à noite.

Na sua estrutura física, possui dois pavimentos, com 15 salas de aulas, sala dos professores, sala de Direção, secretaria, biblioteca, sala de leitura, sala de vídeo, sala de informática, sala de jogos, sala de mecanografia (com duas máquinas de Xerox), que também é usada para guardar instrumentos musicais da banda da escola, quadra esportiva coberta, cozinha, pátio interno, pátio externo e estacionamento.

Mencionada escola, situada no bairro Jardim das Oliveiras, em Fortaleza, sob a responsabilidade administrativa da Secretaria Executiva Regional VI, foi fundada em 31 de março de 1973. Seu processo de fundação ocorreu pela necessidade de se ter uma escola pública no bairro, em decorrência da grande demanda de alunos, atendendo as comunidades

do conjunto Tancredo Neves, Edson Queiroz, Parque Manibura, Jardim das Oliveiras, Luciano Cavalcante e Cidade dos Funcionários. Os alunos são oriundos de famílias de baixa renda, com pais semianalfabetos, trabalhadores diaristas e muitos desempregados.

No ano letivo de 2010, a escola funcionou com 32 turmas, totalizando 917 alunos, sendo dez turmas no turno da manhã, com 293 alunos, 15 turmas no turno da tarde, com 430 alunos e sete turmas no turno da noite, com 194 alunos.

No período de realização da pesquisa, a escola tinha no seu quadro docente 47 professores, 43 efetivos e quatro substitutos, todos com nível superior, a maioria com especialização concluída ou cursando e dois com mestrado. Das três coordenadoras, duas possuem especialização e uma tem diploma de mestrado.

Dos 22 funcionários pertencentes à escola, sete são da secretaria (uma secretária e seis agentes administrativos), distribuídos nos três turnos, seis da merenda, cinco dos serviços gerais e quatro da segurança (dois porteiros e dois vigias).

A Proposta Pedagógica da escola foi elaborada em 2004 e reformulada até o ano de 2009, de acordo com as necessidades da escola. Segundo esse documento, a escola pretende formar cidadãos críticos, transformadores, reflexivos e participativos, para que possam exercer sua cidadania, devendo participar das decisões, do trabalho e contribuir para o mundo que se faz à medida da formação dos homens. No ideal de escola para seus alunos, destacamos, dentre outros aspectos, um que consideramos relevante para o nosso estudo: uma escola “onde os alunos sejam agentes construtores permanentes do processo educativo, que sejam capazes de decidir o que fazer, para que fazer, como fazer suas atividades dentro e fora da escola”. (EMEIF I. F., 2004, p. 19).

Para atingir a meta educativa, a escola vê como necessário o fato de que o professor “planeje e coordene suas ações pedagógicas, adaptando-as às características individuais dos alunos, de modo que possam desenvolver suas potencialidades e habilidades pertinentes à construção da cidadania, significando liberdade do direito de pensar, sentir e agir, sendo também sujeito ativo no processo de construção do conhecimento, compreendendo que o aluno e o professor são corresponsáveis pelo êxito do processo educativo”. (EMEIF I. F., 2004, p. 20).

Esse ideal de escola e de professor vai ao encontro da proposta de um trabalho metacognitivo, que desenvolva no aluno a consciência e controle de sua aprendizagem, atuando de forma autônoma não somente no que é pertinente às questões cognitivas, mas também ante a resolução dos problemas cotidianos.

Os sujeitos da pesquisa só foram escolhidos após a inserção da pesquisa na escola, durante a primeira etapa, o estudo exploratório. Assim, detalharemos os critérios de escolha no momento em que estivermos explicitando a primeira etapa.

Foram escolhidas três professoras dos anos iniciais do Ensino Fundamental, do 2º e 3ª anos, já que pretendíamos estudar o processo inicial de ensino-aprendizagem da leitura e escrita. Para efeito da caracterização dos sujeitos e também da análise dos dados da pesquisa consideraremos as três professoras selecionadas para participarem da pesquisa. Embora tenhamos iniciado a pesquisa com três sujeitos, um deles precisou se desligar, no início da etapa de acompanhamento, porque assumiu a coordenação pedagógica de outra escola da Prefeitura, tornando inviável a sua participação. Demos continuidade à pesquisa com as duas professoras no decorrer do ano letivo de 2010.

As três professoras, às quais atribuiremos nomes fictícios de Elisabete (2º ano A) Lia (3º C) e Débora (3º A), possuem nível superior. Elisabete e Lia cursaram até o 4º pedagógico no Instituto de Educação e ingressaram no curso superior quando já ensinavam na Prefeitura de Fortaleza. Débora já possuía o curso superior quando assumiu a sala de aula. As três professoras realizaram cursos de formação continuada durante o tempo em que estão na Prefeitura, os quais citaremos mais adiante.

Elisabete, 51 anos, concluiu o 4º pedagógico (Matemática e Ciências) em 1986 e Pedagogia em 2001 pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Concluiu especialização em Arte-Educação pela faculdade Darcy Ribeiro, em fevereiro de 2012.

Elisabete ingressou na Prefeitura Municipal de Fortaleza em 06.03.1995 por concurso público, completando, em 2012, 17 anos de serviço. Em 1995 ensinou no 1º ano, de 1995 a 1997 na sala de aceleração, de 1998 a 2001 na turma de alfabetização (hoje 1º ano do Ensino Fundamental), em 2002 numa turma de Jardim II (hoje Infantil 5), e desde 2003 ensina nos 1º e 2º anos e EJA (Educação de Jovens e Adultos), nesta mesma escola.

Essa professora realizou cursos direcionados à sua área de atuação, já que sempre trabalhou com alfabetização: PROFA, cursos da EJA, Letramento (Português e Matemática) e PAIC (Programa de Alfabetização na Idade Certa) – 1º ano.

Lia, 45 anos, concluiu o 4º pedagógico no Instituto de Educação e Licenciatura em Português em 2007, pela UVA. Ingressou na PMF em 01.07.2004, também por concurso público. Tem, portanto, sete anos de serviço. Está na escola há três anos, mas ensina em outra escola no turno da tarde. Já ensinou dois anos no 1º ano do Ensino Fundamental e dois no 4º ano (em outra escola). Há três anos está ensinando o 3º. Os cursos realizados por Lia foram o Pro-letramento (Matemática) e o curso de Libras.

Débora, 44 anos, ingressou na Prefeitura em 02.02.2002 (dez anos de serviço). Ainda na adolescência, fez o 2º grau técnico em Enfermagem, instrumentador cirúrgico, mas não gostou da experiência de estágio. Concluiu o técnico, mas resolveu fazer o 4º pedagógico especial no Colégio João Pontes. Ao terminar o pedagógico, ingressou no curso de Pedagogia na Universidade de Fortaleza (UNIFOR), em Supervisão Escolar, o qual concluiu em 1991. Ingressou em uma especialização em Psicopedagogia, mas não concluiu porque não fez a monografia. Em julho de 2010 concluiu a especialização em Docência nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Os cursos realizados pela Prefeitura foram Gestar e Paz nas Escolas. Débora ensinou quatro anos no 3º ano do Ensino Fundamental. Atualmente essa professora assumiu a coordenação pedagógica de outra escola.

Além dos sujeitos, tivemos alguns informantes: a diretora, a coordenadora pedagógica e as próprias crianças das duas turmas pesquisadas, que nos informaram sobre seus níveis de aprendizagem, constituindo-se suas evoluções parâmetros importantes na condução e avaliação da pesquisa.

A turma do 2º ano A (Elisabete) continha 30 alunos com idades de sete a onze anos, dentre os quais 14 não sabiam ler. A turma da 3º ano C (Lia) contava com a presença de 29 alunos, com as idades entre oito e treze anos. Desse total de alunos sete não eram leitores. A turma do 3º ano A (Débora) tinha 30 alunos, dos quais aproximadamente a metade não sabia ler. O nível socioeconômico dos alunos é de classes menos favorecidas, a maioria mora próximo à escola ou em bairros circunvizinhos.

Os termos de consentimento e livre esclarecido para a participação dos sujeitos da pesquisa se encontram no apêndice Q.