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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA INVESTIGAÇÃO

4.1 Tipo de pesquisa

Esta investigação é de cunho qualitativo e leva em consideração as cinco características básicas apontadas por Lüdke e André (1986) que configuram esse tipo de busca científica.

1 A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte de dados. Os problemas de pesquisa foram estudados no ambiente natural onde eles ocorrem, ou seja, dentro do espaço de atuação dos agentes escolares − nas salas de aulas, na sala dos professores, na biblioteca, na sala de vídeo, no pátio.

2 Os dados coletados são predominantemente descritivos. O material colhido é rico em descrições de situações e pessoas, inclui transcrição de depoimentos de professores e alunos, na tentativa de se fazer uma leitura do ambiente em que estão inseridos os atores da escola.

3 A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto. O interesse desta investigação é estudar como o professor se apropria dos conhecimentos metacognitivos e redimensiona sua prática educativa nas diversas atividades e interações em sala de aula. O foco é compreender como se deu esse processo, quais foram as facilidades e entraves, e não somente os resultados ou as transformações obtidas.

4 O significado que as pessoas atribuem às coisas é essencial para o pesquisador. Procuramos capturar a perspectiva dos participantes, considerando seus diferentes pontos de vistas. Se quisermos saber como o professor incorpora seus conhecimentos e os transpõe para a sua prática, é essencial saber o que pensa, como vivencia suas experiências e que significado

atribui a elas. Assim, torna-se relevante compreender não só o seu discurso, mas também apreender os gestos e atitudes a estes atrelados.

5 A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. As abstrações e teorizações foram feitas com suporte na análise dos dados e não a priori, antes do início dos estudos.

A opção por uma pesquisa-ação como fundamento teórico-metodológico está intimamente relacionada com os objetivos dessa investigação. Para analisar como o professor se apropria dos conhecimentos metacognitivos e transforma sua prática para favorecer o desenvolvimento metacognitivo do aluno no seu processo inicial de aprendizagem da leitura e escrita, foi desenvolvida uma intervenção ao longo do ano letivo, com vistas à reflexão e formulação coletiva de novas práticas docentes, as quais tanto pesquisador quanto docentes tiveram papel decisivos nas escolhas a serem realizadas.

Essa intervenção, como veremos mais adiante, constou de uma formação em serviço com as professoras pesquisadas, do acompanhamento das práticas pedagógicas e da avaliação das ações da pesquisa. O acompanhamento envolveu observação e reflexão sobre as práticas e foi, ao longo da pesquisa, se ajustando às necessidades das professoras. As reflexões durante essa etapa tiveram como objeto não só as práticas educativas das professoras, mas também as próprias ações da pesquisa, à medida que as professoras iam sugerindo novas estratégias para que a pesquisa alcançasse as necessidades delas. A intervenção mais direta do pesquisador em sala de aula, por exemplo, não havia sido planejada pela pesquisa, mas foi uma solicitação das professoras, exigindo-se um redimensionamento de estratégias e ações. O acompanhamento foi, portanto uma elaboração conjunta nossa e dos sujeitos da pesquisa, caracterizando-se essa etapa como colaborativa.

O que se objetiva, com a pesquisa colaborativa, é buscar soluções para problemas da prática. Esse tipo de pesquisa pode ser definido como

[...] centrada em problemas da prática com o objetivo de buscar soluções, provocar mudanças e avaliar resultados [...]. O potencial desse tipo de pesquisa situa-se na faculdade de influenciar a prática, recolhendo, ao mesmo tempo, sistematicamente, dados numa retroação constante que permite avaliar os resultados e alterar, se necessário, o percurso da investigação. O caráter científico desse tipo de pesquisa tem mais a ver com uma maneira de trabalhar com critérios de ordem relacional e ética do que com critérios tradicionais de cientificidade. Assim, os resultados serão válidos se utilizáveis na ação e na prática. (ANADÓN, 2005, p. 21).

Segundo essa autora, a pesquisa colaborativa constitui alternativa aos modelos tradicionais, estabelecendo uma relação ativa e co-elaborada com os conhecimentos e com a realidade.

Esse tipo de pesquisa, segundo Poulin (2005), implica um processo que desde o início resulta em mais de uma visão a respeito da realidade profissional do professor. Essa multiplicidade de perspectivas representa a dimensão multirreferencial da pesquisa-ação. Cada sujeito tem seu ponto de vista e sua ação tem repercussões nas ações dos demais. Nessa teia de relações, constituem-se significados, produzem-se conhecimentos, sendo inquestionável a riqueza de experiências para todos os participantes. É assim que o pesquisador deve assumir o compromisso de não propor soluções teóricas prontas, mas de envolver o sujeito em soluções conjuntas para os problemas reais vivenciados por eles.

A pesquisa-ação pressupõe um envolvimento do pesquisador com as pessoas pesquisadas e consiste em uma ação/intervenção planejada no decorrer da sua realização.

Esse tipo de pesquisa é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 1992, p. 14).

A pesquisa-ação inicia-se com a fase exploratória (diagnóstico da situação), cujo objetivo é identificar as expectativas, os problemas da situação na óptica do grupo e as características da população. Após a designação do problema de ordem prática, avalia-se a possibilidade de intervenção (planejamento, execução e avaliação das ações), que pressupõe um compromisso entre os participantes (MATOS; VIEIRA, 2001).

A pesquisa-ação é pertinente à nossa investigação porque, assim como esta, pretende alcançar transformações efetivas no âmbito da sala de aula e fora dela (campo social), possui caráter coletivo e dialógico no processo de investigação, a amostra é intencional (conjunto da população de professores implicados no processo), há o reconhecimento do papel ativo dos participantes e busca transformação não apenas ao nível das consciências individual e coletiva, mas também aprendizagem de novas habilidades - saber fazer, atuar (THIOLLENT, 1992).

Pretendíamos realizar uma intervenção que desenvolvesse no professor habilidades pedagógicas que permitam um ensino metacognitivo da leitura e escrita. O significado de intervenção aqui proposto não é no sentido jurídico de imposição, de autoridade, mas no senso de intercessão e mediação, pois não se trata de impor regras ou ações, mas de estabelecer relações de co-construção entre os sujeitos envolvidos, no caso desta pesquisa, pesquisador, professores e alunos. Desse modo, a primeira condição para o desenvolvimento de uma pesquisa-ação é a existência de interesses comuns entre os sujeitos que participarão de sua realização (SALUSTIANO, 2006).

Assim, é importante que o pesquisador deixe claro o que a pesquisa pretende desenvolver, facilitando um engajamento voluntário dos sujeitos que farão parte do estudo. Do contrário, a pesquisa não comporia um trabalho coletivo, que é nosso objetivo. Isso não significa ausência de diferentes pontos de vista ou conflitos. Tendo a pesquisa-ação a intenção de propor mudanças, essas divergências e conflitos, comuns em qualquer relação humana, são passíveis de interpretação e têm um papel explicativo importante nas relações de poder de um determinado grupo.

Outra condição de feitura de uma pesquisa-ação é a não separação radical entre teoria e prática, uma vez que há produção de conhecimentos com origem na intervenção no contexto de atuação de pesquisa e da análise dos dados, além de que as questões de pesquisa só podem ser respondidas com a intervenção. Não apenas o pesquisador, mas também os sujeitos atuam na produção de dados, análise, interpretação e avaliação do trabalho desenvolvido, apropriando-se do conhecimento produzido. Além de produzir mudanças no âmbito da prática educativa, a pesquisa-ação do tipo colaborativa possibilita, portanto, o desenvolvimento profissional dos agentes envolvidos e a produção de saberes elaborados em colaboração com pesquisadores.

Assumir a sala de aula como corpus de pesquisa e desenvolver uma metodologia de trabalho requer o compromisso ético de não se colocar no lugar de detentor do saber, mas de colaborar na formulação de novos saberes.

A investigação-ação é, pois, uma metodologia em que o professor, estabelecendo uma relação dinâmica entre teoria e prática, analisará as consequências da sua ação, revendo-a e reestruturando-a. Com o auxílio das perguntas formuladas, o professor poderá planejar sua ação para melhorar uma dada situação, agir por meio da implementação do plano, observar os efeitos da ação no contexto em que ela ocorre e refletir sobre os efeitos observados.

Não sendo a prática educativa uma ação mecânica, será compreendida numa perspectiva histórica e estudada com suporte em um continuum voltado para as questões do cotidiano, refletindo não só a ação, mas também a estrutura organizacional, valores e as condições de trabalho docente.

Pensar a prática dos professores requer conhecer quem são os professores (idade, tempo de serviço, formação inicial, formação continuada), o que significa para eles a aprendizagem, qual sua identificação com o trabalho junto às crianças, qual a sua identidade profissional, quais suas maiores dificuldades, angústias e realizações pessoais e profissionais.