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A Teoria dos Modelos Cognitivos: a contribuição de Lakoff

1. A Lexicologia

1.2 Teoria Semântica: breve histórico

1.2.2 Semântica Cognitiva e Linguística Cognitiva

1.2.2.1 A Teoria dos Modelos Cognitivos: a contribuição de Lakoff

A Teoria dos Modelos Cognitivos de George Lakoff está situada no seu projecto experiencialista para a Semântica do conceito desenvolvida em Women, Fire, and Dangerous Things – What Categories Reveal About the Mind de 1987. Lakoff

Na sua Semântica, o teórico pretende explicar o modo como a razão actua sobre a realidade para dela extrair significado. Para a análise do quadro teórico defendido por Lakoff, parte-se da apresentação da teoria dos Modelos Cognitivos Idealizados (doravante MCIs) e, para explicar como a razão actua sobre a realidade extraindo dela significados, o autor baseia-se numa teoria da categorização humana que, empiricamente, mostra que as categorias são do tipo que se estruturam em torno de um membro prototípico ou representativo da categoria. Os MCIs dão forma e conteúdo à realidade a partir de formas de estruturas: as directamente significativas e as indirectamente significativas. As primeiras, compreendidas como os conceitos básicos e esquemas de imagens cinestésicas originadas na experiência física e social das pessoas numa dada cultura; as segundas são as estruturas directamente significativas mais projecções metafóricas e metonímicas e permitem a conceitualização de domínios abstractos da realidade. A teoria dos MCIs constitui o núcleo da Semântica Cognitiva de George Lakoff e está epistemologicamente sustentada no experiencialismo que explica as estruturas directamente significativas. Essa abordagem cognitiva da significação pretende mostrar que os significados nas diferentes línguas não são nem arbitrários nem previsíveis, mas sim motivados pela própria natureza da cognição humana.

Com base em Schwarz (2006), apresenta-se os quatros tipos de modelos cognitivos destacados por Lakoff na sua teoria, a saber: os modelos cognitivos de imagem, os modelos cognitivos proposicionais, os modelos cognitivos metafóricos e os modelos cognitivos simbólicos.

Quanto ao primeiro destacam-se as características: (i) natureza corporal-cinestésica;

(ii) imposição de uma estrutura à experiência de espaço;

(iii) projectados para domínios conceituais abstractos através de metáfora e metonímia;

(iv) estruturação de modelos cognitivos complexos.

Conceitos de imagens estão a ser estudados com maior atenção pelos teóricos, tais como: Container - parte-todo, ligação, centro-periferia, origem – percurso - meta, para cima – para baixo. Estas estruturas são consideradas modelos cognitivos porque organizam e estruturam a experiência humana.

Observe-se: (a) Container Conceito: Família

Exemplos: “Estou satisfeito por entrares na nossa família”. “É uma família fechada – não são sociáveis”. “Era uma boa nora. Pena ter saído da família”.

Entende-se que as expressões “entrares”, “fechada” e “saído” são estruturadas pelo esquema Container. Os verbos e adjectivos utilizados remetem para a ideia de “recipiente”, com um Interior e um Exterior.

Os Modelos Cognitivos proposicionais são caracterizados por conterem entidades com propriedades e relações que se estabelecem entre eles e por não usarem mecanismos imaginativos tais como metáfora, metonímias e imagens mentais.

Saliente-se, ainda, que esses modelos têm uma ontologia que é o conjunto de elementos usados no MCI, os quais podem ser ou conceitos de nível básico (entidades, acções, estados, propriedades) ou conceitos caracterizados por modelos cognitivos de outros tipos. Há, ainda, nesses modelos uma estrutura que consiste das propriedades dos elementos e das relações obtidas entre eles, definidas em termos de esquema de imagens.

São cinco os tipos de MCIs proposicionais: (a) a proposição simples;

(b) o cenário ou script; (c ) o feixe de traços; (d) a taxionomia; (e) a categorial radial.

Exemplifica-se o primeiro tipo: (a ) proposições simples

Caracterizam-se por

(a 1) é do tipo argumento – predicado;

(a 2) o esquema de imagens utilizado é basicamente Parte-Todo - argumentos e predicado são as Partes; a proposição é o Todo;

(a 3) esquema da ligação semântica entre os argumentos, que actua sobre categorias de relações: Agente, Paciente, Instrumento, Local;

(a 4) a formação de proposições complexas dá-se pela adição de mecanismos de modificação, quantificação, complementação, conjunção, negação. Exemplo: “As laranjas são frutas”.

Temos as expressões de base da frase “laranja” e “frutas”; são duas entidades estruturadas por modelos cognitivos. Há o predicado fruta e o argumento laranja, porque essa estrutura proposicional não refere directamente um estado de coisas no mundo.

A sustentação filosófica da Semântica de George Lakoff assenta no experimentalismo e procura respostas a questões de extrema importância teórica, tais como: (i) o que é a razão humana? (ii) como fazemos sentido de nossa experiência? (iii) o que é um sistema conceitual e como está organizado?

Na obra Metáforas da vida cotidiana (2002), Lakoff e Johnson fazem uma reformulação profunda na maneira de conceber a objectividade, a compreensão, a verdade, o sentido e a metáfora. Na tradição retórica, a metáfora era (e é ainda) considerada um fenómeno de linguagem apenas, ou seja, um ornamento linguístico, sem nenhum valor cognitivo. Era considerada um desvio da linguagem usual e própria de linguagens especiais, como a poética e a persuasiva. A mudança paradigmática rejeita esse pressuposto objectivista e as suas implicações, recusando a possibilidade de qualquer acesso verdadeiro à realidade do ponto de vista epistemológico.

A ideia central do novo paradigma é de que a cognição é o resultado de uma construção mental. Lakoff e Johnson (2002) partiram da análise de expressões linguísticas e inferiram um sistema conceptual metafórico, subjacente à linguagem, que influencia o nosso pensamento e a nossa acção. Demonstraram que grande parte dos enunciados da linguagem quotidiana é metafórica; o literal ficou limitado àqueles conceitos que não são compreendidos por meio da metáfora conceptual.

Exemplificando: uma frase como “o balão subiu” não é metafórica e tão- pouco “o gato está sobre o tapete”, a velha e favorita frase dos filósofos, é metafórica. Mas logo que nos distanciemos da experiência concreta e comecemos a falar de abstrações e emoções, a compreensão metafórica é a norma (Lakoff e Johnson (2002): 21).

Lakoff (Ibidem: 34) afirma que as metáforas conceptuais têm uma forma proposicional e, de um modo geral, elas estão na nossa mente e normalmente não a enunciamos, com raras excepções; adoptamos como norma, na maioria das vezes, traduzir os conceitos metafóricos sem usar os artigos, ou seja, ao invés de traduzir a discussão é uma guerra, optamos por discussão é guerra.

Nesse sentido, Metaphors we live by (1980) de Lakoff e Johnson provocou uma revolução nas pesquisas sobre a metáfora. Representa uma consolidação da ruptura paradigmática que vinha a ocorrer desde a década de 1970, pondo em crise o enfoque objectivista da metáfora e atribuindo-lhe um status epistemológico.

1.2.2.2 A Contribuição de Ray Jackendoff

A obra de Ray Jackendoff (1975; 1985), citado por Schwarz (2006) consiste na tentativa de caracterizar o significado linguístico em relação à cognição humana. Preocupa-se em mostrar como a mente humana organiza as coisas do mundo em conceitos. Para ele, estudar a linguagem é estudar a estrutura do pensamento. Adopta a hipótese inatista de Noam Chomsky (1965) e procura demonstrar de que forma a estrutura conceptual, o significado da linguagem, é expressa dentro das estruturas sintáticas. A sua teoria do significado na linguagem está, portanto, centrada nas estruturas dos conceitos – estruturas inatas. Com isso, elimina a necessidade de demonstrar como os conceitos são aprendidos. Eles preenchem uma estrutura inata na mente/cérebro.

No entanto, preocupa-se em mostrar como se dá o processo natural de adquiri- los ao longo da vida. Apresenta a noção de mundo projectado para explicar de onde vem a informação que constitui os conceitos e que preenche as estruturas conceptuais. Assim, apesar de teórica, a visão proposta por Jackendoff sobre conceitos fornece uma base consistente para se explicar o significado das expressões das línguas humanas.

Para Jackendoff (1985), não é possível explicar o conhecimento do ser humano que lhe permite codificar conceitos em estruturas linguísticas e produzir tais estruturas somente utilizando o nosso aparelho motor, isto é, sem recorrer ao funcionamento da nossa cognição. Para ele, é necessário que se compreenda todo esse