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1. A Lexicologia

1.2 Teoria Semântica: breve histórico

1.2.1 Semântica Lexical

A Semântica é de especial interesse nos estudos lexicológicos, uma vez que a Lexicologia se baseia em informações derivadas da Morfologia (estudo das formas das palavras e de seus componentes) e da Semântica (estudo do significado).

A Semântica é geralmente abordada numa de duas perspectivas: filosófica ou linguística.

A Semântica Filosófica diz respeito às propriedades lógicas da língua, à natureza das teorias formais e à língua da lógica.

A Semântica Linguística envolve todos os aspectos do significado nas línguas naturais, desde o significado de enunciados complexos em contextos específicos aos dos sons individuais nas sílabas.

Consequentemente, sendo que a Semântica recobre todos os aspectos da linguagem humana, deve ser considerada não apenas como uma divisão da Lexicologia, mas também como parte da Fonologia, da Sintaxe, da análise do discurso, da Linguística Textual e da Pragmática. Mas, para os nossos propósitos neste trabalho, é importante assumir que a Semântica Lexical é relevante para a Lexicologia.

Para tal, adoptaremos as distinções teóricas sobre Semântica Linguística feitas por Lyons (1979), Câmara Jr. (1971), Vilela (1994) e Jackson e Amvela (2004) com o objectivo de montar um quadro que, servindo-se do que há de mais homogéneo neste vasto campo de informações, possibilite uma compreensão da Semântica Lexical em padrões razoavelmente aceites pela maioria dos estudiosos no assunto.

Vilela (Vilela (1994): 9) afirma que a definição tradicional de Semântica como “ciência ou estudo do significado”, no plano puramente linguístico, tem sido reinterpretada, ou como o estudo da mudança do significado, ou como o estudo da significação (englobando o processo e o modo de significar), ou como o estudo do “conteúdo” dos signos linguísticos. Por um lado, é neste último sentido que entendemos aqui Semântica (ou Semântica Linguística). Por outro lado, se a Semântica é o estudo dos signos linguísticos de qualquer nível (morfemas, lexemas, lexias, sintagmas, frases, texto), fixar-nos-emos apenas no nível dos lexemas. Para Vilela (Ibidem: 10) os lexemas “são unidades léxicas portadoras de significado

O lexema, que teve sua origem na escola linguística norte-americana, designa um segmento de enunciação que é forma livre e se opõe a outros para constituir a frase.

De acordo com Câmara Jr. (Câmara Jr. (1971): 34), lexema apresenta mais precisão e rigor tecnológico que palavra e indica, para os adeptos da escola americana, uma realidade linguística acima da realidade puramente física.

A importância assumida pelo desempenho da palavra na estrutura da língua justificou a criação de um ramo da Linguística para se dedicar ao seu estudo. Referimo-nos à Lexicologia que tem por objectivo tratar das unidades significativas da língua ou do léxico.

A propósito, antes de prosseguimos, é necessário reiterarmos que entendemos por léxico todo o conjunto das unidades lexicais ou dos itens lexicais, aqui incluídas as formas efectivas e virtuais.

Importa restringirmo-nos ao princípio de que as palavras são unidades mínimas significativas da língua, ou seja, a palavra aqui passa a ser vista no sentido de lexema. Isso leva-nos a detectar, por uma questão de conveniência, dois sentidos para o termo significativo. Diremos, então, que uma palavra tem significado, enquanto que as frases ou sintagmas têm ou não significação, devendo ficar clara a conexão entre “ter significado” e “ter significação”, visto não podermos deixar de nos lembrar que a significação de um sintagma ou frase é produto do significado das palavras de que é composto.

Diferente de algumas teorias que falam de significação em ambos os casos, diremos, como Lyons (Lyons (1979): 437), que “ter significado antecede ter significação: o que devemos decidir primeiro é se determinado elemento tem significado, antes de perguntar qual é o significado que ele tem.”

Pelo facto de entendermos o sentido de uma palavra como sendo o lugar que ocupa num sistema de relações que ele contrai com outras palavras do vocabulário ou o correspondente à significação que ela adquire no contexto e levando em conta a intenção dos participantes do discurso no acto da interlocução, torna-se mais clara a ideia do que seja significação.

É a soma dos vários sentidos de uma palavra, evidenciando compatibilidade dentro das convenções linguísticas estabelecidas por uma determinada comunidade.

Ainda relativamente ao facto de que o sentido é dependente das relações da palavra com outras palavras, sendo tais relações determinadas pela estrutura do sistema linguístico, Lyons (Ibidem: 471-496) sugere que a teoria do significado contará com uma base mais sólida, se passarmos a definir o significado de uma unidade lexical como sendo não apenas dependente do conjunto de relações sintagmáticas ou paradigmáticas que essa unidade estabelece com outras unidades da língua, mas também o próprio conjunto dessas relações. Dentro, então, desse princípio, o linguista identifica como várias essas relações, citando a incompatibilidade, a antonímia, a hiponímia e a sinonímia. Para Lyons (Ibidem: 486- 488), a incompatibilidade está situada a um nível completamente diverso do nível da diferença de significado, ou seja, duas unidades lexicais que são incompatíveis, como “molhado” e “seco”, são consideradas como mais próximas no que tange ao significado das unidades “molhado’ e “frio” que são simplesmente diferentes no significado. Essa incompatibilidade não decorre do sentido que cada um dos termos possui independentemente dos outros, mas está implícita na aprendizagem e no conhecimento do sentido de cada um dos termos pertencentes ao conjunto, isto é, a incompatibilidade entre “vermelho” e “verde” deve ser considerada como parte de seu significado.

Durante os últimos anos, chamaram mais à atenção os trabalhos linguísticos que consideram o envolvimento das capacidades linguísticas no sistema cognitivo humano. Trata-se de uma abordagem científica na Linguística que representa um novo rumo na pesquisa sobre a língua.

Tendo em conta essa conjuntura, importa definirmos os conceitos de Linguística Cognitiva, em geral, e mais particularmente, de Semântica Cognitiva.