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1. A Lexicologia

1.4 Objecto de estudo: o léxico

1.4.1 Conceito de palavra

Segundo Niklas-Salminem, o léxico designa convencionalmente o conjunto de palavras a partir das quais os membros de uma comunidade linguística comunicam entre eles:

«[l]e lexique désigne conventionnellement l’ensemble des mots au moyen desquels les membres d’une communauté linguistique communiquent entre eux. Cette définition du lexique oblige à donner une définition précise de l’unité

lexicale, du mot en tant qu’élément de base de l’ensemble.» (Niklas-Salminem (1997): 13)

O autor concebe que a experiência que os homens possuem acerca do universo é infinita e que existe uma grande variedade de linguistas que procuram saber como é esse infinito através do finito, expondo que

«[l]’expérience que les hommes ont de leur univers est infinie. Un grand nombre de linguistes cherchent à savoir comment cet infini est décrit à l’aide du fini. Les mots, signes linguistiques, formés d’un signifiant et d’un signifié, sont là pour fournir à la fois des catégories de pensée intermédiaires entre l’unité globale et l’infinie diversité et le moyen phonique de les identifier.» (Ibidem: 39)

Assim, as palavras, os signos linguísticos, formados de um significante e um significado, permitem fornecer concomitantemente categorias de pensamento intermédias entre a unidade global/infinita diversidade e o meio fónico de identificá- las.

Para a linguista Maria Teresa Cabré, é «[u]ne unité décrite par un ensemble de caractéristiques linguistiques systématiques ayant la propriété de se référer à un élément de la réalité.» (Cabré (1998): 75)

Em termos linguísticos, e associando os diversos campos ao do léxico, define a palavra como «[u]ne unité caractérisée par une forme phonétique et graphique, une structure morphologique simple ou complexe, une catégorisation grammaticale, et un signifié qui décrit la classe à laquelle appartient un objet particulier.» (Ibidem: 74-75) Portanto, a autora denota que a palavra, enquanto unidade composta por um conjunto de características linguísticas sistemáticas tendo como propriedade remeter para um elemento do real, não é uma unidade individual e independente, mas sim uma unidade que faz parte, se inclui e se relaciona com outras unidades no seio de um sistema, sistema esse que classifica de sistema lexical.

Refere que

«[i]l convient de souligner enfin qu’un mot n’est pas une unité isolée dans l’ensemble des unités lexicales d’un système, mais au contraire qu’il est extrêmement imbriqué avec le reste des unités du même niveau qui constituent le système lexical d’une langue. Chaque mot devient ainsi le centre d’un réseau de relation avec d’autres mots et l’ensemble du système lexical, un réseau encore plus complexe, constitué de groupes de mots interconnectés et polyvalents.» (Ibidem: 68)

Alise Lehman e Françoise Martin-Berthet também definem a palavra como «[…] l’unité lexicale. L’identité d’un mot est constitué de trois éléments : une forme, un sens et une catégorie grammaticale. […] À ces trois aspects correspondent trois types de difficultés pour établir la liste des unités lexicales de la langue.» (Lehman e Martin-Berthet (1998): 01)

Trata-se de uma unidade que «[…] se définit par sa relation d’intégration à l’unité de rang supérieur: le mot est l’intégrant de phrase. L’intégration du mot à la phrase passe par sa classification grammaticale.» (Ibidem : 02) De ressalvar ainda que «[à] certaines formes correspondent plusieurs sens.» (Ibidem)

As lexicólogas descrevem, assim, a palavra como unidade lexical composta por três elementos (uma forma, um sentido e uma categoria gramatical) que se define pela sua integração e classificação gramatical, sendo a palavra um integrante da frase. A significação lexical e gramatical da palavra também é exposta pela linguista portuguesa Graça Rio-Torto que considera que as unidades lexicais

«[...], no seu todo, e em cada um dos seus termos constituintes, são portadoras de significação lexical e/ou de significação gramatical. A gramática de uma unidade lexical não é dissociada da sua significação léxico-gramatical, da estrutura conceptual que a suporta, e do universo referencial para que remete.» (Rio- Torto (2006): 13)

No que respeita à composição da palavra,

«[u]n mot est formé apparemment d’un seul morphème […] ou de plusieurs […]. On le définit comme une forme libre signifiante qui ne peut être décomposée en d’autres formes libres signifiantes plus petites et dont l’unité se manifeste par une cohésion interne (aussi par l’accent de mot dans de nombreuses langues.» (Arrivé et alii (1975) :179)

Um termo pode, então, ser formado por um ou vários morfemas. Define-se como forma livre significante que não poderá ser decomposta em outras formas livres significantes menores e cuja unidade se manifesta pela coesão interna, podendo ser pela acentuação de palavras em numerosas línguas.

Os termos variáveis têm diversas flexões tendo, por conseguinte, várias formas. Esses termos são também palavras. Uma das formas desses termos é convencionalmente usada enquanto unidade lexical, como por exemplo o singular masculino dos substantivos, o infinito dos verbos e o caso sujeito das palavras que declinam, conforme explicam Alise Lehman e Françoise Martin-Berthet,

«[l]es mots variables, qui ont une flexion (conjugaison, déclinaison, variation en genre et en nombre), ont plusieurs formes. […] Ces termes sont aussi des mots: […]. (On utilise conventionnellement l’une des formes du mot pour le nommer en tant qu’unité lexicale. Le masculin singulier des noms, l’infinitif des verbes, le cas

sujet des mots à déclinaison).» (Lehman e Martin-Berthet (1998): 01-02)

Para além do seu carácter individual e de integração na frase conforme classificação gramatical, os signos linguísticos possibilitam ao locutor a faculdade de falar da realidade circundante:

«[i]ls ont, en effet, la propriété de pouvoir renvoyer aux objets du monde, extérieurs à la langue; ces objets sont les référents […] / Les référents sont des entités matérielles ou conceptuelles (êtres, objets, lieux, processus, propriétés, évènements, etc.). Ils relèvent de l’univers extralinguistique réel ou fictif […].» (Ibidem: 10)

As mesmas autoras acrescentam ainda que «[l]’ensemble des mots d’une langue constitue son lexique. Cet ensemble se sépare en sous-ensembles, selon un certain nombre de variables; il n’est pas clos, et ses contours ne sont pas fixés de manière absolue.» (Ibidem : 03)

Importa destacar, neste ponto, que, no que concerne ao estudo das palavras e seus significados ou sentidos em geral,

«[…] bem como no estudo da variação lexical, em particular, podemos partir, ora da palavra para os seus sentidos e referentes (ou campo de aplicação semântica e referencial dessa palavra ou item lexical), ora de um significado ou conceito (ou ainda uma entidade referencial) para as diferentes palavras ou itens lexicais que o

designam.» (Silva (2005): 122)

Verificámos também que o léxico tem um carácter aberto e com limites pouco definidos, ao constatar que ele «[…] comporte à ses frontières une zone floue, constituée de mots candidats à l’intégration dont le statut est problématique.

On peut citer les noms propres, les mots «virtuels» et les mots étrangers.» (Lehman e Martin-Berthet (1998): 04)

No que diz respeito aos nomes denominados “comuns”

«[…], hors discours, renvoie[nt] à une classe de référents et non à un objet singulier (en cela il se distingue du nom propre). Ce n’est que par le passage de la langue au discours, par le biais d’un acte d’énonciation, que le signe, nom ou

expression nominale, permet au locuteur de désigner un objet unique.» (Ibidem :

11)

No caso dos nomes “próprios”, os mesmos não podem ser encarados como palavras da língua, na medida em que não têm sentido. Têm um referente único.

«Les noms de personne entrent dans le lexique dans les cas suivants: des noms de personnages emblématiques peuvent devenir un nom commun et désigner une classe d’individus: […]. […] / Des produits fabriqués sont nommés par le nom de

leur inventeur […], ou par le nom de marque: […].» (Ibidem : 05)

Quanto às palavras “estrangeiras”, qualquer língua tem empréstimos advindos de outras no seu léxico. «Les mots étrangers sont «hors système» : ils ont leurs particularités phonétiques et morphologiques.» (Ibidem : 06)

De ressalvar ainda que todo e qualquer indivíduo, independentemente do sexo, da idade, da naturalidade, da profissão e do nível socioeconómico, tem uma experiência prática da palavra. Essa prática interliga-se ainda com o grau de cultura do locutor na medida em que

« [l]es lexiques représentent en somme l’univers tel que peuvent le connaître, de la planète Terre, des êtres humains intégrés dans des groupes culturels

comparables sur certains points fondamentaux, non incapables

d’intercompréhension et pourtant extrêmement divers à bien des égards. C’est pourquoi il faut, pour comprendre pleinement un mot, bien connaître la culture dans laquelle s’insère le concept auquel il sert de support.» (Picoche (1977): 41)

Sobre este assunto, Roland Eluerd expõe que todo o locutor tem uma experiência da língua através do seu conhecimento e uso. A Lexicologia interliga-se com os conceitos de vocabulário e de palavra em uso, na medida em que trabalha essas palavras, esse vocabulário em contexto. O autor distingue, portanto, o lexema da ocorrência, isto é o léxico em contexto que se torna vocabulário, revelando que

«[i]l y a donc un statut lexicologique du mot. Il ne peut être saisi ni du seul côté d’une unité postulée du lexique (le mot-lexème) puisque la lexicologie travaille «en situation» sur des vocabulaires, ni du seul côté d’une unité identifiée dans le discours (le mot-occurrence) puisque la lexicologie traite d’une pratique partagée par les locuteurs. Autrement dit, le statut lexicologique du mot ne peut être saisi à l’intérieur du dilemme stabilité (des lexèmes) / variété (des occurrences). La lexicologie doit adopter un point de vue extérieur à ce dilemme, celui de l’usage et de la validité de nos échanges langagiers. Tout locuteur a une expérience pratique du mot : le connaître ou non, l’avoir «sur le bout de la langue», le chercher dans le dictionnaire ; avoir appris ses emplois, avoir appris à l’assembler avec d’autres mots pour dire quelque chose et savoir reconnaître et juger les assemblages produits par d’autres locuteurs ; savoir, d’expérience, que ces assemblages sont plus ou moins réussis, c’est-à-dire efficaces pour les résultats recherchés ; les accompagner de commentaires comme je voulais dire que, si

j’ose dire, ou d’une mimique, ou de guillemets… ; avoir conscience que le mot

est un niveau intermédiaire entre des unités plus petites (sons, lettres, fragments de mots plus ou moins facilement identifiables : re-, -isme, hypo-), et des unités plus grandes (syntagmes, phrases) ; savoir plus ou moins jouer avec les mots, les croiser, les décomposer, les recomposer, les associer de manière surprenante ; comprendre qu’il puisse y avoir incertitude quant au nombre de mots de pomme

A linguista Marie-Françoise Mortureux define a palavra como um signo,

«[...]; c’est le signe lexical. Comme signe, il a un signifiant (sa prononciation à l’oral et son orthographe à l’écrit) et un signifié (sa signification). Comme signe lexical, il a la capacité de référer à des éléments distincts, des “segments” [...] de la réalité. Cette référence reste virtuelle tant qu’elle ne se trouve pas actualisée

par l’emploi du mot en discours.» (Mortureux (2004): 21)

Por conseguinte, o signo linguístico, enquanto sinal próprio da linguagem, não une uma coisa a um nome, mas sim um conceito e uma imagem acústica. Destaca-se o carácter psíquico das imagens acústicas, das palavras que são signos linguísticos de duas faces: o significado e o significante. Sem mover os lábios nem a língua, podemos falar connosco ou recitar mentalmente um poema.

Como já referimos, o lexema, enquanto signo com valor denominativo, tem duas faces: o significante e o significado que são inseparáveis.

Segundo a análise praticada a um ou a outro, abordamos áreas linguísticas distintas, designadamente a Morfologia lexical no primeiro caso e a Semântica lexical no segundo, como esclarece a professora Marie-Françoise Mortureux, «[l]a description du signifiant lexical est prise en charge par la morphologie lexicale, celle du signifié par la sémantique lexicale [...].» (Ibidem: 17)

O significante, isto é, a forma de determinada palavra, pode ser examinado sob dois pontos de vista,

«[...] un point de vue morphophonologique: en partant de la matière, sonore ou écrite, qui constitue le mot; on observe sa structure en termes de suites de phonèmes, ou de graphèmes, organisées en syllabes; l’unité du mot perçue par les locuteurs est liée à l’accentuation à l’oral, aux règles de l’orthographe à l’écrit. On s’aperçoit alors que certaines formes statistiquement dominantes dans chaque langue et l’on peut, à partir des traits qui caractérisent ces formes dominantes, dessiner une esquisse du mot, en termes de nombre de syllabes et de structure de la syllabe. Cette approche, en principe indifférente au sens des mots, relève de la phonologie, [...]; / [...] un point de vue morphosémantique: le signifiant des mots (des signes lexicaux) est appréhendé dans sa relation au signifié (au sens), le principe de découpage des unités lexicales reposant sur la liaison entre les deux

faces du signe lexical.» (Ibidem: 20)

Podemos, pois, analisar o significante fonologicamente a partir da sua matéria, sonora ou escrita, e a sua composição silábica ou de um ponto de vista morfo- semântico relacionando o significante das palavras com o seu significado.