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1. A Lexicologia

1.6 O léxico do português

1.6.1 Origem e história do português

O estudo do passado é importante porque faz com que se conheça a nossa origem, revelando-se uma parte considerável da nossa existência no tempo, uma vez que o homem quer sempre saber quem é, quem foi, de onde vem e para onde vai.

Nesse sentido, sabendo que o homem não pode ser a-histórico, tencionamos, no presente trabalho, entender a sócio-história de formação do léxico português.

Parte-se aqui do pressuposto de que é communis opinio entre os estudiosos que a língua portuguesa é o resultado de uma longa história e o léxico é o subsistema da língua mais dinâmico porque é o elemento mais directamente chamado a configurar linguisticamente o que há de novo e, por isso, é nele que se refletem mais clara e imediatamente todas as mudanças ou inovações políticas, económicas, sociais, culturais ou científicas.

Para Vilela (Vilela (1994): 14-15), o léxico tem três possibilidades para se adaptar a situações novas: câmbios semânticos, empréstimos e formação de palavras (a partir de palavras ou elementos existentes na língua).

A urgência em serem satisfeitas as necessidades de comunicação e expressão dos falantes, a exigência em configurar o que de novo surge na comunidade e a necessidade em manter a sistematicidade da língua são as maiores forças que se manifestam no léxico.

Para uma compreensão efectiva e globalizante da constituição do léxico português, utilizaremos como escopo teórico os trabalhos de Vilela (1994/1995), Carvalho (1983), Silva Neto (1977), Coutinho (1976) e Nascentes (1964).

Segundo Vilela (1994), o léxico do português actual é constituído por elementos de origem latina e de vários elementos onde há empréstimos múltiplos e variados condicionamentos socioculturais, ou seja, é um corpo formado por elementos de diferentes idades e origens, em que o latim (mais propriamente o chamado “latim vulgar” ou “latim coloquial tardio”) desempenha a função de estrato e em que os idiomas já existentes antes da romanização (como a língua celta) – os substratos – deixam marcas de variada ordem e em que outros idiomas como o árabe, línguas europeias e não europeias – os superstratos ou adstratos – intervêm de forma mais ou menos marcada.

No curso desta pesquisa, entendemos léxico da seguinte forma: o léxico numa perspectiva cognitivo-representativa que é a codificação da realidade extralinguística interiorizada no saber de cada comunidade linguística, e numa perspectiva comunicativa, como o conjunto das palavras por meio das quais os membros de uma comunidade linguística comunicam entre si. Tanto na perspectiva da cognição- representação como na perspectiva comunicativa, trata-se sempre da codificação de um saber partilhado (= shared knowledge). (Idem (1995): 13). Não cabe aqui uma

Mário Vilela (Ibidem) observa que é importante não confundir vocabulário e léxico: o vocabulário é uma subdivisão do léxico, como, por exemplo, o léxico de um autor, o léxico de um texto, o léxico de uma escola, de uma área do saber, etc. Não se trata tanto de uma diferenciação entre “parte” e “todo”, pois o léxico é o conjunto das palavras fundamentais, das palavras ideais duma língua, de unidades virtuais, os lexemas, enquanto o vocabulário é o conjunto dos vocábulos realmente existentes num determinado lugar e num determinado tempo, tempo e lugar ocupados por uma comunidade linguística. Portanto, o léxico é o geral, o social e o essencial; o vocabulário é o particular, o individual, o acessório.

Para os linguitas Vilela (1994/1995), Coutinho (1976) e Nascentes (1964), é notória a marca românica do léxico do português, em relação ao latim clássico, em que se perdem ou ganham distinções, como acontece nos adjectivos de cor, onde a distinção “cor brilhante” vs. “cor não-brilhante” se perdeu (latim clássico (lt.cl).:- niger –ater, candibus-albus).

Mas, surgem outras distinções como preto-negro, vermelho-encarnado, ou a reconstrução e reformulação de determinados conteúdos como a distinção que subjaz a pássaro-ave-pardal, ou as designações dos dias da semana (segunda-feira, terça- feira, etc.). Por outro lado, as marcas do latim coloquial tardio são bem nítidas, se compararmos as designações do latim clássico com as designações que estão na origem de uma boa parte do léxico do português: boca (de bucca, lt.cl, os), cavalo (de caballus, lt.cl. equus), caminho (de caminus, lt.cl. via), comer (de comedere, lt.cl. edere/esse), saber (de sapere, lt.cl. scire), cabeça (de capitia, lt.cl. caput).

Para esses autores, frequentemente, há o recurso ao reforço da forma do latim clássico, como em capitia, recurso a diminutivos, como, por exemplo, em abelha (de apicula, lt.cl. apes), orelha (de auricula, lt.cl. aures), joelho (de genuclum, lt.cl. genu), velho (de vetulus, lt.cl. vetus), o recurso a termos intensivos como saltar (salere-saltare), cantar (canere-cantare) ou escolhas marcadas regionalmente como formoso (formosus-pulcher), belo (bellus), chorar (plorare-plangere), etc. Se todas as línguas românicas conservaram esta tendência, o português mantém-na particularmente viva, como se pode ver por diminutivos usuais: cheinho (de coisas), carregadinho (de razão), devagarinho, danadinho (para te ver), (no todo) ciminho (da serra), tadinho (do Zé), etc., diminutivos de diminutivos (pequeno: pequenino; pequeninho; pequenichinho, pequerrucho; pequerruchinho; pequenito; pequenitinho; pequenote).

O indo-europeu era uma língua muitíssimo antiga que espalhou os seus ramos por vastas regiões da Ásia e por quase toda a Europa. Do indo-europeu resultaram, entre outras línguas, o helénico, o germânico, o céltico e o itálico que, por sua vez, dá origem ao latim. Todas as línguas ibéricas, à excepção do Basco, derivam do latim.

O latim é inicialmente falado numa pequena região, o Lácio, cuja capital é Roma. Aquando da conquista do império pelos Romanos, o latim passa a ser também falado pelos povos vencidos da península ibérica no século III a.C.

Os cidadãos romanos que se espalharam pelos territórios conquistados eram sobretudo soldados, comerciantes e empregados do Estado, que falavam uma língua popular, própria das classes menos instruídas, o denominado latim vulgar. Será esse latim, de cunho popular, que irá estar na origem das várias línguas locais, entre elas o português. Além do latim vulgar, havia ainda o chamado latim erudito que era não só escrito, como também falado, sendo usado pela gente culta.

A ocupação não se traduz apenas em administração mas também em colonização. Imigrantes romanos de todas as classes sociais fixam-se no território conquistado, criam-se cidades, escolas e os mercadores circulam pelas novas vias imperiais.

A maioria das palavras latinas que entraram na nossa língua por via popular são palavras espontaneamente faladas por toda a gente e, por isso, foram sofrendo grandes transformações fonéticas ao longo dos séculos. Esse latim “vulgar” designa a língua com todas as suas variedades e tem sido utilizada para a distinguir da modalidade literária.

O prestígio da cultura de Roma, impondo-se às populações vencidas, conduziu a uma rápida difusão, na Península Ibérica, da língua dos vencedores. À excepção dos bascos, todos os povos peninsulares acabaram por adoptar o latim.

Mas a fixação da língua, tal como a ocupação e pacificação do território, não se processou ao mesmo ritmo em toda a península.

Nos finais do século IV d. C, a península, pacificada e próspera, estava completamente romanizada. As leis, a organização política, social e cultural de Roma tinham-se imposto. O latim vulgar suplantara as antigas línguas indígenas.

A partir do início do século V chegam à península hordas de invasores germânicos. Essas invasões germânicas não ocasionaram uma ruptura brusca mas

Em 711 os árabes invadem a península. Após uns episódios mais ou menos sangrentos, a zona sob domínio árabe, pacificada, apresenta um panorama que, durante cerca de cinco séculos, não mudará muito: cristãos a norte, muçulmanos, hispano-godos convertidos ao Islão, moçárabes e judeus no Centro-Sul.

Também o léxico comum se enriqueceu com termos árabes. Os empréstimos lexicais mostram bem como o domínio árabe impõe uma cultura.

Técnicas novas, instrumentos e produtos desconhecidos invadem a península e, com eles, as suas designações originais. A abundância de termos árabes ilustra a importância destes objectos e conceitos novos na vida quotidiana da população moçárabe.

Em consequência das invasões árabes, a partir do século VIII, grande parte da antiga nobreza visigoda refugiara-se no Norte da península, constituindo-se, progressivamente, em núcleos políticos e organizando um movimento de expansão territorial.

À medida que a reconquista avançava, abria caminho para o movimento migratório dos vencedores. A conquista de novos espaços é acompanhada pelo seu repovoamento.

O traçado do mapa linguístico de Portugal continental espelha, até hoje, estas diferentes estratégias de repovoamento. Também no plano da estruturação lexical as vicissitudes da história deixaram marcas. Durante os primeiros séculos da reconquista cristã, o latim continuava a ser a língua de prestígio.

Será no século XIII, no início do reinado de D. Dinis, que a Chancelaria régia adoptará o português como língua de escrita. Ao lado da documentação em português antigo, florescia a produção poética galego-portuguesa.

O português evoluiu, assim, ao longo de vários períodos facilmente distintos em termos históricos e literários, designadamente «o desenvolvimento da prosa literária nos séculos XIV e XV, o Renascimento, o italianismo, o humanismo, a censura inquisitorial, a Contra-Reforma e o controlo da educação pelos jesuítas, a reacção neoclássica e a Arcádia, o liberalismo e o romantismo, o realismo e o naturalismo, etc.»(Teyssier (2001): 36)

A partir do século XIV e sobretudo do século XVI com o Renascimento, a sociedade sofre profundas alterações. Inicia-se uma nova dinastia que chama a si a cultura e mudam as classes que detêm o poder. A corte, até então itinerante, fixa-se. O país consolida-se dentro e fora da península.

A imprensa permite uma maior difusão do pensamento e a produção literária em português aumenta e torna-se mais acessível. Surgem as primeiras gramáticas, inaugurando a reflexão linguística e abrindo caminho à normalização e ao ensino da língua. Os estudiosos aprofundam os seus conhecimentos e recorrem, muitas vezes, à criação de novas palavras portuguesas advindas do latim clássico.

Concretizam-se mudanças linguísticas iniciadas nos séculos anteriores, extinguem-se características do português antigo, a língua sofre um processo de elaboração e começa a fixar-se uma norma.

Em termos de léxico, a língua portuguesa passa, assim, por diversos períodos e influências.

Inicialmente, advinda do latim, não se dissocia do galego, falado na província, que é hoje espanhola, da Galiza. Nessa altura,

«[o] velho fundo do vocabulário latino transmitido ao galego-português e ao português moderno [...] compreende palavras de aparência mais clássica do que as suas correspondentes francesas ou italianas [...] Mas este vocabulário não deixou de ser enriquecido, na língua vulgar da época imperial, por termos populares [...]. / A este fundo latino vieram acrescentar-se palavras novas, a começar por empréstimos às línguas dos povos que habitavam a Península quando da chegada dos Romanos [...], sendo várias destas aparentadas com o basco. Mas os empréstimos realmente / importantes que se fizeram entre a época romana e os

primeiros textos escritos vêm do germânico e do árabe.» (Ibidem: 18-19)

O galego-português surge pela primeira vez em textos escritos no século XIII. A nível do vocabulário denotam-se ainda empréstimos do francês e do provençal:

«[a] influência da língua d’oil e da língua d’oc é muito forte durante o período do galego-português, e explica-se por uma série de causas convergentes: presença da dinastia de Borgonha, implantação das Ordens de Cluny e de Cister, chegada a Portugal de numerosos franceses do Norte e do Sul, influência directa da literatura

provençal, etc.» (Ibidem: 33)

Com a independência por volta de 1350, surgem os primórdios de uma ruptura:

«[o] português, já separado do galego por uma fronteira politica, torna-se a língua de um país cuja capital – ou seja, a cidade onde geralmente reside o rei – é Lisboa. [...] Residência privilegiada do rei, Lisboa é também a cidade mais povoada e o primeiro porto do Pais. E o eixo Lisboa-Coimbra passa a formar

É, pois, a partir dessa região, antes moçárabe, que o português moderno vai constituir-se, longe da Galiza e das províncias setentrionais em que deitava raízes. É daí que partirão as inovações destinadas a permanecer, é aí onde se situará a

norma.» (Ibidem: 35)

Com o Renascimento e os Descobrimentos, o mundo tornou-se mais aberto e os contactos maiores: estabeleceram-se novas relações com África, com Ásia, Brasil e intensificou-se cada vez mais a influência dos grandes países europeus, como a França, a Itália, a Espanha e a Inglaterra. Assim, no vocabulário português foram-se integrando palavras de várias origens.

A nível de influências estrangeiras na evolução da língua portuguesa, e mais particularmente no que se refere à constituição do seu léxico, salientamos o bilinguismo luso-espanhol e a influência francesa.

Paul Teyssier repara que

«[e]ntre meados do século XV e fins do século XVII o espanhol serviu como segunda língua para todos os portugueses cultos. [...] É somente depois de 1640, com a Restauração e a subida ao trono de D. João IV, que se produz uma certa reacção anti-espanhola. O bilinguismo, todavia, perdurará até o desaparecimento dos últimos representantes da geração formadas antes de 1640. Assim, durante aproximadamente dois séculos e meio, o espanhol foi em Portugal uma segunda língua de cultura. / A maioria dos escritores portugueses escreve também em espanhol. [...] / A partir do século XVIII o espanhol deixa de desempenhar o papel de segunda língua de cultura, que passa então a ser exercido pelo francês. Não se trata propriamente de uma situação de bilinguismo, mas é nos livros franceses que os portugueses vão buscar boa parte de sua cultura, e é por intermédio do francês

que entram a maioria das vezes em contacto com o mundo exterior.» (Ibidem:

37-38)

Português e galego constituem uma unidade que se foi definindo através de um processo de distanciamento em relação às outras línguas românicas. O isolamento do galego em relação ao português inicia-se no século XIV, mas a partir do século XVI

« [...] o galego deixa de ser cultivado como língua literária e só sobrevive no uso oral. Sofre, alem disso, uma série de evoluções fonéticas que vão afastá-lo cada

Do século XV em diante, enquanto o português sofre mudanças que o encaminham no sentido da elaboração de um padrão que terá como modelo a língua literária, na Galiza castelhanizada, o galego sobrevive apenas no uso oral. As evoluções que ocorrem no galego contribuem para afastar, cada vez mais, galego e português.

Podemos, portanto, considerar que o período trovadoresco constitui uma fase comum galego-portuguesa que termina com a separação entre português e galego.

A partir de meados do século XVI, a actuação de gramáticos, o desenvolvimento da imprensa e da literatura traduzem-se na progressiva estabilização da língua. Os gramáticos empenham-se no estudo e defesa da língua, a literatura floresce e surgem as publicações periódicas que atingem um público cada vez mais vasto.

O português clássico evolui e, no fim do século XVIII e início do XIX, gera-se uma época de transição, passando a considerar-se o chamado português moderno e contemporâneo.

Verifica-se o enriquecimento do vocabulário da língua portuguesa «[...], como o de todas as línguas europeias, com um número considerável de termos que designam conceitos e objectos relativos à civilização científica e

técnica. » (Ibidem: 73)

De entre os mais comuns, destacamos principalmente os empréstimos à língua francesa,

«[m]as outras línguas também contribuíram com seu contingente vocabular. É o caso do italiano [...] e, sobretudo, do inglês, cuja influência se tornou

particularmente forte depois da última guerra.» (Ibidem: 74)

No que concerne aos francesismos, os mesmos foram muito comuns a partir de determinada altura.

Até há dez anos atrás, entraram no nosso léxico, por via francesa, integrando- se completamente no corpo da língua portuguesa. Sobre este tema, o professor Mário Vilela menciona que

«[o]s francesismos tem sido, sobretudo a partir de dado momento, uma presença constante no português e mesmo vocábulos de outras origens (sobretudo inglesa) chegavam-nos, até há cerca de uma dezena de anos, e por via de regra, por via francesa.

Fazendo uma perspectivação sincrónica do léxico do ptg., não distinguindo as diferentes épocas de entrada, vemos que a maior parte dos francesismos se

integraram totalmente no corpo da língua, [...].» (Vilela (1994): 19)

Para além dos francesismos, Mário Vilela atende que também foram adquiridas palavras novas à língua inglesa, os

«[...] anglicismos, sobretudo a partir do século XVIII, e a dado momento os americanismos, directa ou indirectamente, inundaram o léxico português e em quase todos os domínios, os que vão desde os novos conceitos de lazer até às designações da (mais) alta tecnologia. Não podemos dizer que haja um processo preferido pelo português na recepção dos anglicismos (em que incluímos os americanismos): ou há uma adaptação plena [...], ou há uma meia adaptação [...], ou se trata de decalque, [...] ou de empréstimo semântico [...] » (Ibidem: 20)

Em relação à língua portuguesa e à sua evolução em termos de enriquecimento através dos empréstimos, o linguista justifica que a mesma

«[…]conta com empréstimos necessários – os que configuram conceitos a que não corresponde qualquer palavra existente na língua […], e empréstimos de luxo – os que recobrem conteúdos para os quais a língua importadora possui determinados termos, […]. Contudo, mesmo para falantes atentos à defesa do património linguístico, há sempre a preferência por termos importados, mesmo quando já há um termo proposto como tradução oficial e correcta, por causa de determinados matizes, o prestígio da palavra importada, […]. Além dos empréstimos formais e conteudísticos, que designamos por estrangeirismos, temos também empréstimos semânticos, em que o conteúdo importado é expresso por meios próprios da língua importadora, ou traduz o conteúdo e a forma tradutora não apresenta qualquer afinidade com a forma da língua que forneceu a

designação, […].» (Ibidem: 17)

No dia-a-dia, o falante utiliza os empréstimos considerando que «[…], à tort ou à raison, il a le sentiment qu’aucun mot de sa propre langue ne peut désigner le référent dont il veut parler.» (Mortureux (2004): 107)

No que concerne ao enriquecimento do léxico português e, para além da aquisição de novas palavras oriundas de outras línguas, denominadas empréstimos ou estrangeirismos, também importa ressalvar que não podemos desprendê-lo da cultura e da literatura uma vez que

«[...] a evolução do português reflecte os grandes períodos que se podem distinguir na história cultural e literária: o desenvolvimento da prosa literária nos séculos XIV e XV, o Renascimento, o italianismo, o humanismo, a censura inquisitorial, a Contra-Reforma e o controlo da educação pelos jesuítas, a reacção neoclássica e a Arcádia, o liberalismo e o romantismo, o realismo e o naturalismo,

etc.» (Teyssier (2001): 36)

Também a nível histórico e nomeadamente aquando dos Descobrimentos levados a cabo pelo povo português,

«[f]oi no vocabulário que as consequências se revelaram maiores. O português europeu recebeu da África e da Ásia, e depois do Brasil, um certo número de palavras exóticas, algumas das quais passarão, por seu intermédio, a outras línguas europeias. Houve, então, uma nova injecção de palavras árabes, vindas da África do Norte, da África do Leste ou do oceano Índico; [...] Todas as principais línguas do Sudoeste da Ásia trazem a sua contribuição: as da Índia (principalmente na zona dravídica do Sul), o malaio, o chinês, etc.» (Ibidem: 71)

Mário Vilela tece considerações sobre este assunto acrescentando a ideia de que

«[f]oi precisamente no vocabulário que se deu a maior influência dos Descobrimentos na língua portuguesa. Vocábulos africanos, malaios, indianos, etc., entraram no português e nas línguas europeias pelo porto de Lisboa.» (Vilela (1994): 22)

O português clássico é o reflexo de uma profunda mudança de mentalidade, enformada pelo Renascimento e pelos Descobrimentos.

Com efeito, com o avanço das conquistas portuguesas, intensificavam-se os contactos com falantes dos mais diversos pontos do mundo. Por um lado, os portugueses descobriam novas terras, novas línguas, novas realidades e, com os novos produtos, chegavam também as suas designações originais. Daqui resultou um significativo aumento do acervo lexical português. Por outro lado, ao transcender a dimensão europeia, o português tornou-se instrumento de comunicação para outros povos e outras culturas. No Oriente, em África e na América fala-se português.

Face ao exposto, e de acordo com a resenha histórica citada, concluímos que «[o] léxico do português actual é o resultado de um fio condutor essencial, o que provém do latim, e de vários elementos, onde há empréstimos múltiplos e variados condicionamentos sócio-culturais. […]

O léxico do português é um corpo formado por elementos de diferentes idades e origens, em que o latim (mais propriamente o chamado “latim vulgar” ou latim “coloquial tardio” (Herculano de Carvalho) desempenha a função de estrato […], e em que os idiomas já existentes antes da romanização (como a língua celta, etc.) – os substratos – deixam marcas de variada ordem e em que outros idiomas, como o árabe, línguas europeias e não europeias – os superstratos ou adstratos -

intervêm de forma mais ou menos marcada […].» (Ibidem: 12-13)

Do século XVIII até à actualidade, o português moderno não tem sofrido mudanças linguísticas radicais. A norma, centrada em Lisboa, difunde-se agora, com facilidade, através do ensino e dos meios de comunicação. O português evoluiu e diversificou-se, mas a diversidade não impediu a unidade.

Em conclusão, e no que concerne às fontes e origens do léxico português, «[as mesmas] são o latim (latim coloquial tardio), o árabe, o provençal e o francês, o latim eclesiástico (por meio das traduções), o latim erudito que