• Nenhum resultado encontrado

1. A Lexicologia

1.5 Estudos do léxico

Como supra mencionado, o sentido intrínseco das palavras permite estabelecer relações estruturais no âmbito do léxico, como por exemplo a hiperonímia/hiponímia, que passamos a definir.

A hiperonímia abrange as palavras de sentido mais geral, relativamente a outras de sentido mais específico denominadas hipónimos.

Trata-se de uma relação de hierarquia pois Marie-Françoise Mortureux define essa ligação de subordinação entre classes de palavras como uma

«[...] organisation superordonnée du lexique / Au terme de cette organisation, très générale, le lexique apparaît comme un ensemble hiérarchisé de classes d’objets, chaque classe inférieure héritant des propriétés de la classe immédiatement supérieure et se spécifiant à son tour par des caractéristiques propres. Cet emboîtement s’appelle la superordination. [...] / [...] / [...] / Quand on parcourt cette hiérarchie en montant, on passe de mots dont le sens est précis à des mots dont le sens est plus vague: les premiers ont des spécifications plus nombreuses que les seconds; en revanche, le nombre des objets que l’on peut designer est

d’autant plus grand que le mot est lui-même élevé dans la hiérarchie.» (Ibidem :

83)

Esta definição permite aferir, portanto, uma relação de subordinação entre termos mais precisos e outros mais abstractos, para além de uma organização super ordenada do léxico.

A acepção apresentada pelos linguistas Martin Riegel, Jean-Christophe Pellat e René Rioul demarca também que «[...] l’hyponymie est la relation hiérarchique entre un terme sous-ordonné (l’hyponyme) et un terme qui lui est superordonné (l’hyperonyme).» (Riegel et alii (1996): 561)

Acrescentam ainda que «[l]e sens du premier [...] incluant celui du second [...], la relation est de type implicatif et paraphrasables [...].» (Ibidem)

Essa ideia de inclusão é tida em conta pelas lexicólogas Alise Lehman e Françoise Martin-Berthet, acrescentando a ideia de que ambas as palavras (hiperónima e hipónima) podem ser anafóricas, ao denotarem que «[l]’hyponymie établit un rapport d’implication unilatérale entre deux entités […]. Cela explique que la relation s’établisse, dans le discours, de l’hyponyme à l’hypéronyme.

L’hypéronyme, parce qu’il désigne ce que désigne l’hyponyme, peut reprendre – c’est-à-dire servir d’anaphorique à – l’hyponyme.» (Lehman e Martin-Berthet (1998): 51)

A relação entre uma e outra é hierárquica; subentende a união de uma palavra específica a outra mais geral. A primeira, a hipónima, pressupõe uma extensão mais reduzida mas a sua intenção é maior porque comporta um número mais elevado de semas, sendo que

«[l]a relation d’hyponymie est une relation hiérarchique qui unit un mot spécifique (sous-ordonné), l’hyponyme, à un mot plus général (superordonné) nommé l’hypéronyme. […] les co-hyponymes ont le même hypéronyme. […] / Le rapport qui lie un hyponyme […] à un hypéronyme […] est un rapport d’inclusion. Mais cette formulation est équivoque et il faut distinguer deux points de vue. / En conformité avec le principe selon lequel l’extension et l’intension (la compréhension) d’un terme sont en rapport inverse, l’inclusion extensionnelle est l’inverse de l’inclusion intensionnelle. L’hyponyme a une extension plus réduite que celle de son hypéronyme […] mais son intension est plus grande: il comporte

un nombre plus élevé de sèmes.» (Ibidem: 49-50)

Mediante o acima mencionado, é relevante ressalvar também que a relação hierárquica entre termos pode originar uma série de inclusões sucessivas no léxico. Determinada palavra pode até ser, conforme o contexto e as relações assumidas, hipónima e hiperónima.

Essas séries lexicais não excedem três a quatro graus, dado que a hierarquização bloqueia acima pela presença de palavras muito gerais e abaixo por perífrases pouco desenvolvidas. As estruturas lexicais hierárquicas diferem de uma língua para outra e podem apresentar os ditos “buracos” lexicais. Esse reparo é elucidado pela lexicólogas na medida em que

«[u]n mot donné peut entrer dans une série d’inclusions successives qui dessinent des relations hiérarchiques dans le lexique. […] / Certains mots sont tour à tour hyponymes et hypéronymes […]. Les séries lexicales, contrairement aux inventaires taxinomiques, n’excèdent guère 3 à 4 degrés. La hiérarchisation est bloquée vers le haut par la présence de noms très généraux […] et vers le bas par des périphrases développées […]. Les structures lexicales hiérarchiques diffèrent d’une langue à l’autre et peuvent présenter ce qu’il est convenu d’appeler des

trous lexicaux.» (Ibidem : 51)

Demonstram, por conseguinte, a implicação existente entre os sentidos das palavras que podem classificarem-se hierarquicamente de forma ordenada.

De acordo com Lyons (Lyons (1979): 430-431) e Vilela (Vilela (1994): 26), as possibilidades de relações lexicais são, considerando as relações nos pontos de partida e nos seus resultados, os seguintes: a) dois significantes são idênticos fonológica ou graficamente, mas os significados divergem e não tem qualquer relação especial: os dois signos são homónimos e a relação entre eles é designada homonímia. Trata-se de diferentes lexemas. Mas, se os significados forem parcialmente idênticos, cujos respectivos suportes léxicos, na sua evolução histórica, coincidiram, temos a relação chamada polissemia ou o significado múltiplo. Há aqui distintos conteúdos que apresentam um único apoio léxico, ou, dito de outro modo, são as diferentes acepções para uma só entrada. b) O significante é diferente, mas os significados são (quase) idênticos, temos a sinonímia. c) as restantes possibilidades como ponto de partida o facto de significante e significado de dois signos serem diferentes, mas, neste caso, devemos distinguir c1) a antonímia, em que o conteúdo desses signos é o oposto mais relacionado, da c2) hiponímia, em que a relação de subordinação entre o termo subordinado (= hipónimo) e o termo superordenado (=o hiperónimo ou arquilexema). É um tipo de campo lexical. Os tipos b), c1) e c2) – sinonímia, antonímia e hiponímia - são construídos com base em relações semânticas paradigmáticas entre unidades lexicais. A homonímia não é uma relação semântica e a polissemia não é uma relação paradigmática.

Para além da relação de hierarquia, existe ainda a possibilidade de encontrarmos relações de semelhança entre as palavras que compõem o léxico de uma língua que denominamos sinonímia e antonímia.

No que concerne à semelhança entre palavras, encontramos os sinónimos que são palavras que têm idêntico significado e os antónimos que têm significado contrário.

Na eventualidade de se procurar um sinónimo, devemos analisar cuidadosamente o contexto em que a palavra se encontra a fim de escolher a palavra que melhor corresponda ao significado adequado.

O uso de sinónimos

«[...] n’entraîne pas de modification importante du sens de l’énoncé; non seulement ils peuvent référer aux mêmes objets, mais, surtout, cette co-référence ne s’accompagne pas d’informations bien différentes sur l’objet en question, le point de vue ne semble pas beaucoup varier [...]. Les définitions de ces mots sont

Cette relation entre lexèmes de signifiants différents, mais de sémèmes pratiquement identiques, est bien connue sous le nom de synonymie.» (Mortureux (2004): 80)

Sendo as definições entre sinónimos muito próximas, a informação transmitida é quase idêntica, apesar de apresentarem significantes diferentes.

Podemos atender ainda que, para além da sinonímia consistir na relação de equivalência semântica entre duas ou mais unidades lexicais cuja forma difere, a sinonímia lexical manifesta-se entre palavras da mesma categoria gramatical, como atestam as lexicólogas, ao enunciar que

«[l]a synonymie est la relation d’équivalence sémantique entre 2 ou plusieurs unités lexicales dont la forme diffère. Les synonymes ont un même signifié et des signifiants différents […]. […] la synonymie lexicale se manifeste entre mots

et/ou syntagmes de même catégorie grammaticale […].» (Lehman e Martin-

Berthet (1998) : 54)

Ao contrário, no que respeita aos antónimos,

«[...], certains mots s’opposent par leur sens; ils peuvent, selon les cas, n’avoir aucun rapport de signifiant [...] ou être apparentés par la dérivation [...]. Tous ces couples d’antonymes s’opposent sémantiquement, mais toujours en relation avec

un domaine qui leur est commun [...].» (Mortureux (2004): 81-82)

As palavras antónimas opõem-se, assim, semanticamente, podendo ou não terem uma similitude de significante, conforme o caso.

Implicam uma relação de semelhança entre palavras dado que os antónimos comportam sempre semas comuns. À semelhança do que acontece com os sinónimos, também os antónimos pertencem à mesma categoria gramatical, como registamos na definição que se segue:

«[…] l’antonymie implique une dimension de ressemblance entre les termes; plus précisément, les sémèmes antonymiques comportent toujours des sèmes communs […]. La relation d’antonymie unit donc deux mots de même catégorie

grammaticale ayant une partie de leur sémème en commun.» (Lehman e

Martin-Berthet (1998) : 59)

É possível distinguir três tipos de antónimos:

«[...] les antonymes complémentaires ou contradictoires, lorsque deux termes sont en relation de disjonction exclusive: l’un équivaut à la négation de l’autre [...] et les deux ne peuvent être niés simultanément [...]; / les antonymes graduables ou contraires, lorsque plusieurs termes s’ordonnent sur une dimension sémantique admettant des degrés intermédiaires [...].

Les différents termes sont alors mutuellement exclusifs [...]. En revanche, la négation de l’un des termes n’implique pas l’affirmation de tous les autres [...]. [...]; / les antonymes converses ou couples de termes qui expriment la même relation, mais qui se distinguent à l’inversion de l’ordre de leurs arguments [...].» (Riegel et alii (1996): 562)

Das relações de significado, a que tem merecido maior atenção dos estudiosos da Semântica é a sinonímia. Para Lyons (Lyons (1979): 480), “mais do que qualquer relação de sentido, é a sinonímia dependente do contexto, apesar de não ser, em si, uma relação estrutural.” Ou seja, a sinonímia não é, segundo Lyons, uma relação semântica estrutural, pois, se comparada com outras relações, por exemplo, com a hiponímia, não tem a mesma relevância: se eliminarmos a hiponímia, a língua seria afectada no seu próprio núcleo, ao passo que, se eliminarmos a sinonímia, a língua ficaria indubitavelmente mais pobre, mas não ficaria afectado o regular funcionamento dos outros lexemas.

Para Vilela (Vilela (1994): 28), à sinonímia pode ser dada uma definição referencial: os lexemas a e b são sinónimos se denotam o mesmo objeto, o que se verifica apenas em coisas muito concretas: livro/tratado, estrela do pastor/Vênus, etc.), uma definição em termos de abrangência das ocorrências e da correspondência significativa entre os lexemas, a saber:

(a) sinonímia relativa: em que os lexemas a e b têm os mesmo valor denotativo, mas não o mesmo valor conotativo, como por exemplo, chateado/aborrecido, rico/nababo, etc.; (b) sinonímia total: em que os lexemas a e b são comutáveis em todos os contextos: consoante surda / áfona, palavra aguda / oxítona, etc.; (c) sinonímia parcial: em que a e b apenas são comutáveis em alguns contextos: chefe /patrão / boss / manda - chuva, etc. Pode-se verificar na afirmação de Vilela (Ibidem: 29) que, quanto ao problema da existência de sinonímia na língua portuguesa, como, aliás, em todas as línguas europeias (e não só) segundo o autor, há domínios onde a sinonímia se apresenta mais representada. A título de exemplo, vejamos: as designações de porco (porco, reco, suíno, bácoro, leitão, etc.), de boi (bezerro, boi, touro, vitelo, etc.), pertencentes a domínios importantes, a dado momento, para a vida dos cidadãos, ou paço/palácio, vivenda/moradia/casa etc. ou em áreas onde o “tabu” pode funcionar como retrete / privada / toilete / quarto de banho/… mulher da vida /meretriz/p…/menina, etc. Ou seja, segundo Vilela (Ibidem), na sinonímia há a

(a) diferenças de “registo” (como mãe/mamã, adiar/protelar, fazer amor/f…, gancho [hobby, etc.]); (b) diferenças provindas das áreas dialetais ou popular em relação à língua comum (roubar / pilhar/desviar / passar ao esquerdo / chamar-lhe se, fugir / escapar-se/ escapulir-se/ dar às de vila Diogo / escafeder-se, ouro / oiro, touro / toiro, louro/ loiro, etc.); (c) diferenças diafásicas (e não só) (usufruir de /usar, efectuar / fazer, presidente/presidência, etc.). Isto é, os sinónimos estão sujeitos a restrições de natureza “estilística”, sintática (fugir / afugentar, encher / preencher: encher uma pipa / preencher um formulário, pesar as razões/ponderar as razões vs. Pesar o arroz/*ponderar o arroz), preferências mais ou menos idiossincráticas, contextuais e textuais, etc. Ainda, segundo o autor, há sinónimos que surgem como programas / software, marketing / comercialização, timing/ temporalização ou calendarização. Há outros que desaparecem (ou desapareceram) como regressar / regredir, vendável / vendível, inapto / inepto, ameaço / ameaça, copo/copa, lavor/labor, etc.

A relação semântica antonímia tem merecido a atenção dos linguistas que, no geral, estão de acordo em partir de uma concepção muito genérica de antonímia, isto é, como “relação de oposição”, que Vilela (Ibidem: 30) designa como relação de “contraste”. A relação de “contraste” implica um determinado número de elementos opositivos, que apontam tanto para “as relações opositivas binárias como para as não binárias.

As relações opositivas binárias compreendem a antonímia (em sentido estrito), a complementaridade, a reciprocidade, e a oposição direcional), as não binárias abrangem os conjuntos seriais, e conjuntos cíclicos.” Nesse sentido, a antonímia em sentido estrito (ou antonímia contrária) é aquela em que a afirmação de um elemento do par antonímico implica a negação do outro, mas não vice-versa: em uma estrada é larga, está implicado que “esta estrada” não é “estreita” e em uma estrada é estreita, está implicado que “esta estrada” não é “larga”. Contudo, de esta estrada não é larga, não se segue que esta estrada é estreita, pois pode acontecer a seguinte realização: esta estrada não é larga nem estreita, é assim assim. Segundo Vilela (Ibidem), esta relação baseia-se no princípio lógico do tertium datur, ou correspondente aos termos contrários da lógica. Entre dois pólos há uma zona neutra, implicando, portanto, um valor escalar. Nesta relação, desempenha, por vezes, um lugar importante o extralinguístico: claro/límpido vs. turvo, duro vs. mole/flácido/carinhoso.

Os opostos por relação contrária apresentam um termo marcado e outro não marcado (este que serve para designar toda a dimensão na nominalização: alto / baixo > altura, comprido / curto > comprimento, etc.). Para o autor, esta relação antonímica é a mais marcante de entre as relações de oposição e é verificável em toda a sua plenitude nos adjetivos primários feio/lindo, rápido/lento, etc., onde as lacunas são excepções, isto é, apenas ocorrem em áreas muito delimitadas, como: (a) nos adjetivos de cor (apenas em branco: preto/negro); (b) nos adjetivos designativos de defeitos físicos (cego:?, Surdo:?, maneta:?, mirolho:?, vesgo?,); (c) ou de estados de seres humanos menos normais (prenhe/grávida: enxuta/livre (apenas se diz de animais), embriagado/ébrio.?, louco.?)).

Ainda segundo Vilela (Ibidem), há também uma certa especificidade nos adjectivos substantivos, relativamente à antonímia. Os antónimos de um adjectivo substantivado – na categoria dos nomes abstratos – funcionam e são aceitáveis: o previsível – o imprevisível, o real - o irreal, o verdadeiro – o falso. Contudo, nos adjetivos substantiváveis na categoria dos nomes de seres animados, não acontece o mesmo: ou temos os antónimos lexicalizados e não ligados derivativamente (como um extremista - um moderado, um doido - um escorreito, um ignorante – um sábio, um ingénuo – um sabidão, um podre – um rico, etc.), ou apenas temos o adjectivo negativo do par antonímico (como em: um anormal - um normal, um imprudente - um prudente, um indiscreto - um discreto, um insensato - um sensato, um indisciplinado - um disciplinado, etc.)

É importante registrar que o autor chama a atenção para o facto de que nos substantivos e nos verbos a antonímia ocorre também, embora não com a regularidade observada nos adjectivos: comprar/vender, dar/receber, ganhar/perder, pedir emprestado/emprestar, adquirir/dar, vestir/despir, etc. base/cume, apogéu, superfície/ fundo, princípio/fim, etc. (Ibidem: 31) Sob essa perspectiva, Vilela (Ibidem) define a antonímia complementar (ou complementaridade) pelo facto da afirmação de um dos dois termos se seguir à negação do outro e vice-versa, da negação de um dos termos se seguir à afirmação do outro: O João é solteiro implica O João não é casado e O João é casado implica O João não é solteiro. O mesmo se passa com ausente/presente, morto/vivo, etc. A expressão estou mais morto do que vivo não afecta esta dicotomia complementar. As proposições formadas com estes termos não

Para o autor, esta relação constrói-se com base no princípio do tertim datur e corresponde à contradição lógica. A complementaridade não existe, por exemplo, de modo regular, nos adjectivos, ocorrendo em determinados contextos verde: vermelho [luz], tinto: branco [vinho], relvado: pelado [campo de futebol], ou em domínios bem determinados, como abstrato/concreto, animado/inanimado, hereditário / adquirido, privado / público, casado / solteiro, espontâneo/provocado; nos verbos é muito pouco frequente. Ocorre apenas em casos esporádicos, como saber/ignorar, ou em casos onde entram factores contextuais (como passar/chumbar [no exame]) e o mesmo acontece com os substantivos.

A reciprocidade ou relação conversa é a relação de conteúdo existente entre pares de lexemas que designam a mesma relação significativa (ou o mesmo conteúdo) e é construída a partir de dois pontos de vistas diferentes: marido / mulher, pai / filho, médico / paciente, cliente / fornecedor, empregado / patrão, convidado / hóspede, professor / aluno, etc. De acordo com Vilela (Ibidem: 32), estas relações situam-se, em geral, nas áreas das relações sociais, incluindo as de parentesco. Os casos fora destes domínios (que ocorrem como em direito / dever, modelo / cópia) são excepção. A relação chamada oposição direccional implica um movimento relativamente a uma de duas direções possíveis, a partir de um dado ponto: ir/vir, chegar/partir, subir/descer, norte/sul, oeste/este, etc. Um movimento abstrato permitirá também ver relações como aprender/saber, saber/esquecer, etc. (Ibidem)

As relações de oposição não binárias permitem a construção de conjuntos seriados (em que cada membro tem o seu lugar bem marcado na série, com um membro final e outro inicial), exemplificados em escalas de “apreciação escolar” (óptimo, muito bom, bom, suficiente, medíocre, mau) ou a escala de “apreciação da temperatura” (frio, morno/tépido, quente), as “designações das refeições” (pequeno- almoço, almoço, lanche, jantar, ceia) e os conjuntos cíclicos (como as estações do ano, os nomes dos meses, os dias da semana, etc.). (cfr. Ibidem)

Há ainda as relações como “parte: todo” (tecto/casa, motor/carro, unha/dedo/ braço/corpo, etc.), ou “patente/grau” (marechal/general, etc.), “séries proporcionais”, etc., que poderiam, segundo o autor, ser considerados neste conjunto de oposições não binárias.

Baseando-nos no sentido das palavras, podemos também aferir que a mesma palavra pode apresentar diferentes significados, de acordo com o contexto em que é utilizada. Constata-se, pois, que a maioria das palavras é polissémica, isto é, contêm varias acepções.

A polissemia do léxico refere-se à significação que cada palavra adquire em contexto, em discurso oral ou escrito. Só o contexto em que cada uma ocorre nos permite determinar com exactidão qual o seu significado e resolver, assim, casos de ambiguidade na interpretação dessa palavra. É a organização expressiva do contexto que põe em evidência as possibilidades polissémicas de uma palavra.

Em sentido lato, uma unidade lexical é polissémica se «elle a plus d’une signification (donc, si à un même signifiant correspondent plusieurs signifiés).» (Lehman e Martin-Berthet (1998) : 558)

As lexicólogas Alise Lehman e Françoise Martin-Berthet demonstram que o «[…] mot polysémique (ou polysème) s’oppose, par définition, au mot

monosémique. Il présente une pluralité d’acceptions (ou sémèmes) correspondant

à des emplois différents (un même signe pour plusieurs signifiés). […] Le mot monosémique a une seule acception (un signifié pour un signifiant) […]. Deux caractéristiques distinguent le polysème du mot monosémique. / Il fait partie du

vocabulaire commun tandis que l’unité monosémique relève des vocabulaires de

spécialité […]. […] / Il a une fréquence élevée contrairement aux mots

monosémiques.» (Ibidem: 65-66)

Inferimos, então, que o termo polissémico opõe-se ao monossémico, por definição. Inferimos que ambos os termos se opõem pela pluralidade de acepções encontradas no primeiro caso, existindo o mesmo signo para diversos significados, ao contrário do monossémico que apresenta apenas uma acepção, isto é, um significado por significante. Existem duas características que distinguem a palavra polissémica da monossémica. Por um lado, faz parte do vocabulário dito comum, enquanto que a unidade monossémica se insere em vocabulários de especialidade. Por outro lado, tem uma frequência elevada ao contrário das palavras monossémicas.

Vilela (Vilela (1994): 26) afirma que os linguistas divergem na caracterização de homonímia e polissemia – por vezes, o mesmo autor assume atitudes não convergentes em diferentes publicações.

Ainda, para Vilela (Ibidem), os critérios mais frequentemente usados para distinguir homonímia e polissemia são: (a) a etimologia (como seria no caso de sanum: são, sunt: são); (b) a identidade formal: b1) homofonia (sem: sine e cem: centum), b2) homografia (renda: do verbo “render” e renda: “tecido”, manga: “peça de vestuário” e manga: “fruto”, lustro “cinco anos” e lustro: “brilho”); (c) o conteúdo: teremos polissemia se houver hiponímia ou inclusão semântica (como em jogo: jogo de cartas e jogo de lençóis), ou se tiver havido transferência semântica (metáfora ou metonímia), como poderia ser o caso de planta: ”vegetal”, e planta: “plano de cidade”, investir: “aplicar capital” e investir: fazer imposição de …”, gato: “animal” e gato: “peça de ferro usada pelos serralheiros”, serra: “cordilheira” e serra: “ferramenta”, colo: “parte do corpo” e colo: “ vestido”, café: “planta/semente” e café: “estabelecimento”.

Há outros critérios, segundo o autor, como por exemplo, a pertença ao mesmo ou a vários campos lexicais e a integração na mesma ou em várias famílias de formação derivativa: assim, é homonímia se os termos pertencerem a diferentes campos lexicais (banco: “assento” e banco: “instituição de crédito”, onda e Honda),