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APESAR DO FORTE GOLPE (1960 – 1965)

3.5 Obras de Urbanização

3.5.3 Abastecimento, saneamento e energia elétrica

No período pós-inaugural, as frentes de trabalho em sistemas de água e coleta de esgotos, que já se encontravam construídos em grande escala na Zona Sul, foram gradativamente dividindo campo com novas localidades extra-Plano Piloto. Em 1960, foram começadas as redes da Península (Lago Norte) e realizada concorrência para a construção da barragem no Córrego Paranoazinho, destinado ao abastecimento de água da cidade de Sobradinho e do Setor de Mansões Suburbanas Park Way. No ano seguinte, foram iniciadas redes de esgotos no Setor de Embaixadas, na Zona Norte (Asa Norte) e no Setor Dom Bosco (Lago Sul) e, na sequencia, sistemas para o novo setor militar da Marinha (Área Almirante Visconde de Inhaúma), feitos com base em projetos do Escritório Saturnino de Brito.

Enquanto o Núcleo Bandeirante recebia pequenas intervenções para munir-lhe de uma rede de esgotos parcial e o projeto de abastecimento de água da “cidade do Paranoá” caía no esquecimento, a implantação dos serviços de água e saneamento de Sobradinho prosseguia sem interrupções, mantendo um volume de obras destacado dos demais núcleos e contrastante com a restrita provisão de água potável iniciada em seguida em áreas de Taguatinga, Planaltina, Brazlândia iniciada nos anos seguintes. O Gama, embora munido de sistema de abastecimento, não tinha água tratada e suas redes não se estendiam por toda a cidade.

TABELA 2 - CAPACIDADE DE FORNECIMENTO DE ÁGUA NO PLANO PILOTO E CIDADES-SATÉLITES EM 1963

Capacidade de fornecimento de água: . Plano Piloto: 700 litros,

. Taguatinga: 47 litros, . Gama: 72 litros, . Sobradinho: 65 litros, . Dom Bosco: 65 litros,

. Mansões Suburbanas: 55 litros

Fonte: Relatório do Departamento de Água e Esgotos (DAE), 1963.

O período registrou ainda um grande avanço de trabalhos em áreas anexas às Asas do Plano Piloto. Obras de esgoto, começadas ainda em 1963, no então denominado Setor Residencial Indústria e Abastecimento (SRIA), preanunciaram a implantação do Guará nos anos seguintes. Em 1964, as redes de esgoto, que mal havia se iniciado no Setor Norte, foram implantadas no campus da Universidade de Brasília (UnB), após formalizado o convênio entre a Fundação UnB e a Novacap, e no Regimento da Cavalaria de Guarda no Setor Militar, ambos apêndices da mesma Asa Norte.

Até 1964, um sistema de esgotos para Taguatinga não saiu do papel. E uma solução mais eficiente para o abastecimento de água desse núcleo, o mais populoso da Capital, foi divulgado somente em 1965. Naquele ano, iniciou-se a aquisição de materiais específicos e a construção de um reservatório para aproveitamento das águas do Riacho das Pedras. Entravam também nas frentes de trabalho de urbanização o Setor B norte de Taguatinga e suas Vilas Dimas e Matias.

Embora não atingisse um nivelamento com os recursos destinados às áreas do plano piloto, a ampliação das redes de eletricidade no período pós-inaugural foi significativa nas áreas das cidades-satélites. Em 1960, o Departamento de Força e Luz (DFL) divulgou a conclusão da instalação de geradores em Planaltina e, na

sequencia, a expansão dos sistemas de energia de Taguatinga, Sobradinho, Gama e Núcleo Bandeirante. Nos anos em questão, foram ligadas pequenas extensões de redes de alimentação nas Granjas Modelo e em Formosa e Luziânia (cidades goianas vizinhas ao quadrilátero). Em 1963, o Departamento anunciou o pleno funcionamento da Usina Paranoá e o início da construção de nova linha de transmissão entre Três Marias e Brasília.

FIG. 16 – Obras da Fundação da Casa Popular em Brasília

MANCHA URBANA 1965

FIG. 18 – Luminária taco de golfe Super Quadras de Brasília - 1960

Sem contar com investimentos em novas cidades, mas mantendo altos índices de crescimento demográfico, a expansão urbana do período ocorreu em torno dos assentamentos implantados nos primeiros anos, modelados por estrutura dispersa. Exceto pelo surgimento ainda incipiente das ocupações do Varjão e da Estrutural, o crescimento, seja espontâneo ou planejado, ocorreu mais intensamente de modo contínuo a tecidos de núcleos urbanos existentes. Todos os limites de ocupações anteriores foram expandidos, o que incluiu, além das áreas do Plano Piloto e das cidades-satélites mais jovens, os povoados de Planaltina e Brazlândia, bem como os perímetros de acampamentos ou núcleos provisórios inaugurados no período anterior. Nenhum núcleo urbano novo foi implantado, dentro ou fora dos limites da Bacia do Paranoá. Um único bairro residencial foi criado nas proximidades do Cruzeiro: o Setor Residencial Indústria e Abastecimento (SRIA), destinado, inicialmente, a faixas de baixa renda. Sua localização, orientada primeiramente pelo eixo da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (EPIA), inaugurou a ocupação das margens da Estrada Parque Taguatinga (EPTG), principal ligação entre essa cidade e o Plano Piloto. Alguns anos mais tarde, o SRIA foi expandido pelas bordas dessa rodovia, dando origem aos núcleos urbanos do Guará I e Guará II. Ainda por parte das ações oficiais, manteve-se a urbanização das áreas previstas no Plano Piloto, incluindo Lagos Sul, Norte e Setor de Mansões Park Way, e houve algum reforço em obras de urbanização nas três cidades-satélites já implantadas, sendo Sobradinho a que mais recebeu investimentos.

O crescimento das áreas adjacentes ao Plano Piloto se manteve mais voltada para o sentido sul. Embora a ocupação da Asa Norte tenha sido considerável, a Asa Sul (incluindo a área do Cruzeiro), o Lago Sul e o Setor de Mansões Park Way foram as que tiveram contornos mais ampliados. Sobradinho e Gama também se expandiram significativamente, aproximando-se, em apenas cinco anos, dos contornos estabelecidos para ocupação máxima prevista em seus projetos urbanísticos iniciais. O crescimento de Taguatinga foi também considerável e, destacando-se de suas contemporâneas, não ocorreu contido em limites definidos: espraiou-se pelas margens da EPCT, estando, já naquela época, prestes a alcançar a rota da estrada de Anápolis.

A doação do Setor de Grandes Áreas Leste/Norte para a Universidade de Brasília (UnB), em 1961, e o convênio firmado com o Ministério da Marinha em 1962, designaram a ocupação de duas novas áreas da Capital. Embora as primeiras obras tenham ocorrido na Área Almirante Visconde de Inhaúma, sua ocupação dispersa, situada em grande reserva de propriedade militar, não resultou em impacto na

estrutura urbana. Já as obras do campus universitário, iniciadas em 1963, criaram uma expressiva ampliação da ainda rarefeita Asa Norte.

O período subsequente à data inaugural guardou algumas especificidades e nos parece de suma importância para firmar a modelagem de Brasília antes que lhe fizessem novas expansões. Embora não tenham sido encontrados projetos, acredita- se que, caso os investimentos na nova sede tivessem se mantido em alto nível, a expansão do aglomerado através de novos núcleos isolados não seria hipótese totalmente descartada. E ainda, caso não tivesse passado pelo momento de instabilidade política pós-inaugural pela qual passou, talvez a remoção do Núcleo Bandeirante e de outros remanescentes da cidade provisória tivesse sido levada a cabo e a conformação do aglomerado teria tomado, possivelmente, rumo diverso.

Contou neste contexto, a manutenção de migração intensa que, somada a inexistência de uma oferta habitacional, fortaleceu a manutenção da cidade informal, contribuindo para a consolidação de vários remanescentes das instalações provisórias lançadas nos interstícios de Brasília. O rigor com a proteção da cidade central não havia se esgotado, mas a modelagem de ocupação em arquipélago sim. Nos anos seguintes, quando se noticiaram investimentos em torno da implantação de novas cidades-satélites, não foram mais em áreas isoladas e à longa distância do centro, como aquelas dos primeiros anos.

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