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Desde o início das atividades de construção, dois caminhos preexistentes no quadrilátero de Brasília desempenharam importante papel na orientação ocupacional: um proveniente de Luziânia e outro vindo de Corumbá, que se uniam ao centro da Bacia do Paranoá e seguiam daí em um só percurso direcionado à Planaltina. O embrião da cidade foi posicionado na margem leste desse traçado que, dentre suas condições favoráveis − apontadas em diversas ocasiões em que o local foi visitado − apresentou a possibilidade de formação de um lago artificial com as águas represadas do rio Paranoá. Além dele, os três núcleos provisórios da Fazenda do Gama, Velhacap (Candangolândia) e Núcleo Bandeirante, criados em 1956, e o setor de Residências Econômicas Gavião (Cruzeiro), anexado ao Plano Piloto, foram também alinhados às suas margens. Nos anos seguintes, balizaram também a locação de Sobradinho e do Gama.

Tais trajetos antigos foram totalmente incorporados ao sistema rodoviário da Capital. O percurso vindo de Corumbá (passando por Brazlândia antes de alcançar o sítio das obras) serviu inicialmente como ligação oficial do território com Anápolis. Em fins de 1957, de sua condição de principal acesso de migrantes proveio a localização do complexo do Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC) às suas margens, do que derivou a escolha do sítio de Taguatinga. Sobre o traçado vindo de Luziânia, constituiu-se a principal rodovia de ligação com as regiões de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, a BR 040. No prolongamento ao norte (passando por Planaltina e seguindo para Formosa) consolidou-se a estrada federal com destino ao Nordeste, a BR 020.

O trecho transpassando o centro da Bacia do Paranoá prevaleceu na formatação da trama local de auto-estradas, projetada e construída em grande parte ainda nos anos inaugurais. Sob o título de Estrada Parque Indústria e Abastecimento (EPIA ou DF 003), tal percurso foi incorporado como espinha dorsal do sistema, tendo a maioria das estradas urbanas esboçada para alcançá-la diretamente.

A partir de 1958, a EPIA passou a ser delimitada por uma nova rodovia adicionada ao conjunto − a Estrada Parque do Contorno (EPCT ou DF 001) – que, formando um anel viário sobre o divisor de águas da Bacia do Paranoá, incorporou dentro de suas margens toda a trama de estradas-parque. Sua diretriz foi tomada como ponto de partida de rodovias de penetração e para a contagem de suas quilometragens, servindo também como referência na articulação de ligações

interestaduais. A construção da EPCT teria atendido a uma exigência dos jurados do plano piloto de Brasília, muito provavelmente para constituir um limite físico resguardando o centro urbano.

Associadas ao ideário urbanístico que influenciou a modelagem urbanística inicial, distinguindo cidade central e cidades-satélites, EPIA e EPCT auxiliaram na delimitação do sítio específico do centro urbano e passaram a referenciar a implantação de todos os núcleos urbanos anexados ao aglomerado. Na margem leste da EPIA, interna à EPCT, permaneceram inicialmente apenas o Plano Piloto e setores residenciais dos Lagos Sul e Norte, além do Park Way, SIA e Cruzeiro. Dispostas em circulo pela margem externa da EPCT, ficaram as três primeiras cidades-satélites locadas no período inaugural. Taguatinga foi colocada a oeste, balizada pela EPCT e pela BR 070; Sobradinho foi implantado ao norte bordejando também a BR 020 (estrada para Fortaleza); e o Gama ficou posicionado ao sul, esquadrinhado pelas rodovias BR 040 e DF 290 (antiga DF 20).

Assim, com a locação do conjunto do plano piloto ao centro da Bacia do Paranoá já bastante distanciado dos núcleos preexistentes no território, seguida da implantação das cidades-satélites também em total condição de isolamento, configurou-se uma modelagem bastante específica para a estrutura urbana dos anos inaugurais. Estabeleceu-se, e ocorreu em seu auge, o polinucleamento da ocupação, registrando-se o maior grau de distanciamento entre os assentamentos. No entanto, escapando ao padrão vigente, a consolidação de assentamentos provisórios e a presença de ocupações espontâneas dentro mesmo dos limites do sítio destinado ao centro urbano (concretizada no surgimento do Núcleo Bandeirante, Candangolândia, Vila Planalto, Paranoá, além de outros legatários de acampamentos operários) resultou em passos importantes para inverter a dispersão imposta pela ocupação conduzida. E nesse aspecto, a estrutura rodoviária construída em torno do centro, ao mesmo tempo em que foi aliada da modelagem dispersa, constituiu uma armadilha à manutenção de restrições à urbanização. O sítio das obras centrais, tendo sido o mais permeado por estradas-parque implantadas concomitantemente ao início da construção, tornou-o ainda mais convidativo à ocupação, tanto a dirigida quanto a espontânea.

No conjunto da aglomeração, a locação do centro urbano numa conjunção de caminhos preexistentes e a fase inicial orientada pela função logística de Anápolis e da região Sudeste atraíram a ocupação para o quadrante sudoeste do quadrilátero. Na sequência, reforços para o crescimento maior da mancha urbana nessa direção vieram de funções estabelecidas intramuros. A escolha do sítio do aeroporto comercial

foi relevante para se constituir uma rede de caminhos na direção sul. De imediato à sua construção, foram promovidas ligações com o Plano Piloto, com a estrada para a cachoeira do Paranoá (EPDB), com a EPIA − e desta para o Núcleo Bandeirante e a sede presidencial do Gama − além de artéria de comunicação com as obras do Palácio da Alvorada e Hotel de Turismo (Avenida das Nações).

Além disso, a mudança do eixo da rodovia Brasília-Anápolis (do quadrante noroeste para o sudoeste) foi outra condição importante para orientar a ocupação. Muito provavelmente, a localização do Núcleo Bandeirante foi decidida em conjunto com a posição em que esta diretriz alcançaria a EPIA. Ainda assim, importante registrar que, até onde se pôde constatar, a localização da urbe veio primeiro, decidida em novembro de 1956, e a divulgação do projeto da estrada ocorreu somente em fevereiro de 1957. De todo modo, a mudança do eixo da estrada aprimorou a estratégica localização do Núcleo Bandeirante, que constituiu o verdadeiro centro urbano dos primeiros anos, fixado entre a residência oficial da Fazenda do Gama, o aeroporto comercial, as obras da Zona Sul (Asa Sul) e esquadrinhado pelas margens da BR 040 e da estrada de Anápolis.

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