• Nenhum resultado encontrado

CIDADE CENTRAL versus URBANIZAÇÃO PRAGMÁTICA (1970 – 1986)

5.4 Infraestrutura: novas orientações

Embora a Caesb contabilizasse dez mil ligações na Ceilândia em 1976, nessa época o serviço de abastecimento ainda era extremamente deficitário. A precariedade não decorria apenas dos limitados investimentos em redes de abastecimento que, na verdade, começavam a ser mais frequentes na região, mas se mantinha em função da indisponibilidade de mananciais. Dois anos depois, a entrada em operação de um novo sistema de captação com utilização do Rio Descoberto foi uma promessa de solução.

Até meados da década de setenta, as redes de esgoto eram implantadas em larga escala somente nas áreas do Plano Piloto, que na contabilidade das empresas de governo incluíam o Guará, Cruzeiro, setores de grandes áreas e os parcelamentos dos Lagos Sul e Norte e Park Way. Em Planaltina, Núcleo Bandeirante, Taguatinga e Gama, o atendimento ainda se restringia à pequena parcela de suas populações, e em Brazlândia e Ceilândia ainda não era nem mesmo cogitado. Enquanto as cidades- satélites ainda aguardavam tais investimentos, em 1977, testemunhando os desiguais critérios urbanísticos ainda em vigor, iniciavam-se as obras para atender ao novo parcelamento de classe média construído em sítio avizinhado ao Plano Piloto: a Área Octogonal Sul.

TABELA 7 - ABASTECIMENTO DE ÁGUA – ATENDIMENTO ATINGIDO EM 1976

Sistemas distribuidores Populações Totais de ligações Plano Piloto (inclusive Guará) 335.891 28.264

Núcleo Bandeirante 13 520 3 066 Taguatinga 178 974 21 402 Ceilândia 123 866 13 613 Gama 135 643 16 363 Sobradinho 59 293 7 729 Planaltina 42 211 4 628 Brazlândia 15 416 2 520 Totais 904 814 97 585

Esgotamento Sanitário – atendimento atingido em 1976

Sistemas distribuidores Populações Totais de ligações

Plano Piloto (inclusive Guará) 335.891 25 329

Núcleo Bandeirante 13 520 67 Taguatinga 178 974 5 638 Ceilândia 123 866 - Gama 135 643 4 053 Sobradinho 59 293 7 554 Planaltina 42 211 564 Brazlândia 15 416 - Totais 904 814 43 205

Fonte: RELATORIO DA DIRETORIA – Caesb 1976

Mas anunciavam-se mudanças. Ainda em 1977, Brasília aderiu ao PLANASA, plano lançado pelo governo federal, considerado a primeira atuação sistemática direcionada à eliminação do déficit do saneamento básico no Brasil. Instituído desde 1971 e gerenciado pelo BNH e pelo Sistema Financeiro de Saneamento (SFS), constituía organismo próprio que repassava verbas por meio do Fundo de Financiamento para Águas e Esgotos, criado pelos governos locais, através do qual eram repassados recursos para a estruturação de companhias estaduais de saneamento.105

105 O “Plano de Metas e Bases para Ação Governamental”, lançado em 1970, cunhou o título

“Década do Saneamento Básico” para as atividades no setor e, no ano seguinte, o Plano Nacional de Saneamento (PLANASA) foi idealizado para ampliar a oferta de serviços. Foi gerido pelo BNH, responsável por aprovar as propostas de investimentos estaduais, averiguar a viabilidade técnica dos programas e fiscalizar as Companhias Estaduais de Saneamento Básico (CESBs), as entidades estaduais responsáveis pela política e pela execução das obras. Em 1974, com a divulgação do II Plano Nacional de Desenvolvimento para o período 1975- 1979, foram destacados programas para as populações de baixa renda e melhoria dos serviços urbanos (LUCENA, 2006).

Em Brasília, a Caesb106, estruturada nos moldes exigidos pelo programa,

permitiu que a mudança de conduta decorrente da adesão fosse logo sentida. A partir de 1978, houve uma sensível mudança de direcionamento das obras no setor. Logo de início, foram implantadas novas redes, e ampliados e melhorados os serviços de água potável em Brazlândia e no Núcleo Bandeirante. Nessa última, o abastecimento, ainda feito in natura por captação direta do Córrego Vicente Pires, passou a ser realizado através de uma estação compacta de tratamento. Foi criado também um sistema de esgotamento sanitário, iniciando-se a construção de redes coletoras, interceptores e emissários ainda em 1979.

TABELA 8 - SERVIÇOS PÚBLICOS de ABASTECIMENTO DE ÁGUA Extensão das Redes de Distribuição existentes, por localidade

Localidades 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 Brasília 1 125 324 1 165 128 1 209 438 1 234 240 1 309 343 1 430 834 1 485 490 N.Bandeirante 1 150 1 592 7 892 7 892 11 687 33 118 35 663 Guará 138 665 138 797 138 507 138 987 138 587 ... .... Taguatinga 394 213 405 795 440 275 444 647 503 047 563 462 690 853 Ceilândia 71 155 112 466 140 688 154 183 ... .... ... Brazlândia 9 804 37 369 38 269 38 537 38 711 42 658 42 658 Gama 222 921 222 921 237 401 237 621 241 352 332 925 332 925 Sobradinho 158 585 158 585 158 955 159 444 161 195 ... ...

Fonte: relatório de atividades Caesb de 1979 (... – sem dados)

Marcadamente a partir de 1981, os sistemas de esgotos das cidades-satélites passaram a receber obras de maior vulto. Intensificaram-se trabalhos no Núcleo Bandeirante, Taguatinga, Planaltina, Ceilândia, Guará II, Brazlândia (Vila São José, Cidade Nova e Cidade Tradicional) e Gama (Vila Itamaracá). Em 1984, foi iniciada a implantação de sistemas de água na Candangolândia e Vila Metropolitana, agora regularizadas em decorrência os trabalhos do Gepafi.

Em 1985, a Caesb anunciou terem sido atingidas 162.481 ligações de água e 139.501 ligações de esgoto sanitário no Distrito Federal. Na avaliação da Companhia, naquele ano, atendia-se à totalidade do aglomerado regularmente implantado em Brasília, em relação ao abastecimento de água, e a 91% dele, na coleta de esgotos sanitários. Considerando que as áreas mais beneficiadas nos últimos anos eram Taguatinga, Candangolândia, Vila Buritis, Ceilândia e Gama, muito do resultado alcançado pôde ser relacionado à adesão ao PLANASA. Nos anos seguintes, os novos assentamentos passaram a ser providos previamente de alguma infraestrutura básica, especialmente de água potável. Assim, em 1981, iniciaram-se as redes de

106 A Companhia de Água e Esgotos de Brasília – CAESB foi instituída pelo Decreto Lei n º

abastecimento de Samambaia; em 1983, as do Riacho Fundo, e, em 1986, as obras em sistemas infraestruturais das quadras econômicas às margens da EPTG.

Os avanços anunciados pela Companhia de Eletricidade de Brasília (CEB) no primeiro semestre de 1976 testemunhavam, também no caso dessa Companhia, uma nova conduta com relação aos assentamentos populares. A Ceilândia foi campeã em ligações elétricas naquele período, já ocupando o terceiro lugar em número de usuários de energia elétrica em Brasília, abaixo apenas do Plano Piloto e Taguatinga. Ainda naquele ano, o Núcleo Bandeirante e Brazlândia aumentaram significativamente o número de ligações elétricas e de novos consumidores. Em 1978, a CEB anunciou a conclusão de 98% da rede de iluminação pública projetada em Taguatinga e 100 % do seu atendimento domiciliar. Em 1986, contabilizou 265.168 consumidores, dos quais 12.393 foram novos usuários ingressados a partir de 1985, a maioria deles em cidades-satélites.

Decerto, em plenos anos oitenta, as populações urbanas haviam se tornado altamente dependentes da energia elétrica. Fosse através de ligações regulares ou clandestinas, a eletricidade produzida e conduzida para zonas ocupadas seria consumida. Ampliar o atendimento e regularizar o fornecimento foi também, e continua sendo, uma questão de manutenção comercial da empresa de Brasília. Além do mais, a conduta mais “atenciosa” com as cidades-satélites não era, frise-se, fruto de uma leitura isolada por parte de um ou outro departamento de governo. Estava expressa em todos os meios técnicos, em todos os planos. A “valorização” das cidades- satélites, anunciada com a formulação do PERGEB e com a adesão ao PLANASA, era, ao fim e ao cabo, uma questão de sobrevivência da metrópole.