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URBANIZAÇÃO BRASILEIRA E A CAPITAL NO HINTERLAND

1.2 Perspectiva histórica (e viária) da Capital no hinterland

1.2.6 Planos de comunicações para a Nova Metrópole

A construção de Brasília exigiu profundas modificações no Plano Nacional de Viação.33 Para que a nova capital passasse a constituir o ponto de convergência dos

transportes rodoviários, ferroviários e aéreos do país, a Comissão de Localização da Nova Capital, incumbida também dos projetos das ligações nacionais com o sítio, realizou, entre 1953 e 1955, um extenso levantamento das ligações existentes com vistas a propor as alterações necessárias. Decorrente desses estudos, constitui-se um registro historiográfico detalhado dos caminhos no interior e imediações das terras de Brasília:

32 Ernesto Silva sugere uma intensa atividade de marketing em torno da mudança da capital,

que foi articulada através de um número não especificado de entrevistas com o Marechal José Pessôa Albuquerque, quem teria, desse modo, popularizado o tema. Indiretamente, teria sido responsável pela interpelação feita a Juscelino Kubitschek logo no primeiro comício da campanha, em Jataí (GO), e — ainda segundo Ernesto Silva — em muitos outros comícios posteriores, por todo o país. Cf. História de Brasília. http//www.brazilia.jor.br.

A região do Planalto Central de Goiás, e particularmente o local indicado para a implantação da Nova Capital, foi toda percorrida, partindo de Goiânia, e atingindo-se Anápolis, Corumbá de Goiás e Niquelândia, pela rodovia Transbrasiliana, a famosa BR-14, considerada a espinha dorsal do Plano Rodoviário Nacional, e que, conforme verificamos, passa somente a 115 quilômetros da Nova Capital.

De Corumbá de Goiás, passando por Brasilândia atingimos o sítio da Nova Capital e daí alcançamos Planaltina e Formosa. Do sítio da Nova Capital descemos para o Sul, alcançando Luziânia, na rota para Cristalina e Paracatu, voltando a seguir a Corumbá de Goiás, Anápolis e Goiânia. Entre o sítio da Nova Capital e a rodovia Transbrasiliana, varou-se a região com o odógrafo, conseguindo-se percorrer o planalto, e obter-se um traçado mais curto, de fácil execução, que atinge essa importante rodovia federal, em Moçamba, ponto situado a 24 quilômetros de Anápolis, ou seja, 133 quilômetros de Goiânia.

(...) A indicação de Moçamba, na rodovia Transbrasiliana para entroncamento da ligação rodoviária para a Nova Capital, além de apresentar menor percurso, possibilitaria ainda a futura ligação da Nova Capital a Ceres, com menor percurso que a passagem por Corumbá de Goiás, visto, como veremos adiante, a rodovia BR-41, ligará diretamente a Nova Capital a Cuiabá, passando por Ceres.

(...) No Plano Rodoviário Nacional indicado pelo Projeto de Lei n. 48/55, do Senado Federal, há duas rodovias, a BR-18 e a BR-41, que passam contornando pelo norte a região escolhida para a localização da nova Capital Federal, e muito próximo dela. A rodovia BR-18, liga Anápolis, em Goiás, ao extremo norte do Piauí, passando através dos Estados de Goiás, Bahia e Piauí, por Corumbá de Goiás, Planaltina, Formosa, Posse, Barreiras, bom Jesus, Bartolina, Floriano, Terezina, Barras, Esperantina e Buriti dos Lopes (BR-8).

A rodovia BR-41 tem seu início em Montes Claros, importante entroncamento rodoviário do Plano Nacional em Minas Gerais, e através dos Estados de Minas Gerais e Goiás se desenvolve passando por Formosa, Corumbá de Goiás, Ceres, Xaventina e Cuiabá.

(...) com algumas ligações rodoviárias complementares ao Plano Rodoviário Nacional, as comunicações por intermédio dessas rodovias, ficarão asseguradas em melhores condições, entre a nova Capital Federal e as Capitais dos Estados e Territórios. 34

No entendimento de sua Subcomissão de Comunicações, o transporte por estrada de ferro ainda foi tido como essencial para cargas de maior tonelagem, mas o rodoviário foi priorizado nas ligações com capitais estaduais. As comunicações, que haviam tido peso considerável na escolha do novo sítio, haviam favorecido as opções de terrenos posicionados a leste, potencialmente melhores para construção de linhas ferroviárias, conforme registra o relatório técnico final (ALBUQUERQUE, 1958, p. 86):

34 Nova Metrópole do Brasil. Relatório Geral de sua Localização. P. 207 - 322. José Pessoa

Cavalcanti de Albuquerque Presidente da Comissão. SMG. Imprensa do Exército. Rio de Janeiro: 1958. As estradas já existentes no sítio do Distrito Federal e descritas nesse Relatório confirmam os roteiros descritos por Tamanini que destaca a estrada de Goiânia – Anápolis - Corumbá de Goiás – Planaltina que chegava à margem esquerda do Rio Descoberto, que limita

(...) o valor da atual estrada de ferro que serve à parte sudoeste do Retângulo foi considerado por alguns como sendo de influência positiva na seleção dos sítios em áreas que viessem a servir. Entretanto, uma apreciação dos “grades”, das curvas e do leito,...indica que ela não serviria a uma cidade do tamanho desejado. Para construir estradas de ferro apropriadas dentro desta área geral seria necessário estudar uma diretriz inteiramente nova.(...) Foram procedidos reconhecimentos ao longo de uma linha que se estende de Planaltina para o sul passando por Cristalina para fazer conexão com a estrada de ferro existente em Catalão. (...) A excelência desta diretriz está no fato de se poder proporcionar recursos de estrada de ferro, economicamente, a qualquer um dos sítios do lado leste a um custo nada maior do que o de prover Anápolis com uma estrada de ferro adequada.Existem diretrizes exequíveis que ligam o Distrito Federal com as linhas existentes em Minas Gerais e, em última análise, com Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

No tocante às rodovias, a mesma Subcomissão elaborou um estudo completo do Plano Geral de Viação Nacional, modificando-o para adaptá-lo à implantação de Brasília. Foi atribuída prioridade à construção de uma variante da rodovia BR-14 ou Transbrasiliana, tida como espinha dorsal do Plano Rodoviário Nacional. Foram sugeridas outras ligações complementares às rodovias nacionais, dentre elas, prolongamentos das BR-18 e BR-41, que passavam contornando pelo norte, bastante próximas à região escolhida, além de outras sete ligações complementares articuladas ao sítio. Em relação à rodovia BR-41, a Subcomissão propôs que o ponto de passagem obrigatório previsto no Plano Nacional fosse alterado de Corumbá de Goiás para Planaltina. Quanto ao traçado da rodovia BR–14, entre Anápolis e Porto Franco, sugeriu que cortasse por Corumbá de Goiás, Niquelândia, Paranã, Peixe, Pedro Afonso e Carolina, e não por Ceres e Porangatú como previsto anteriormente no Plano Nacional. Indicou o prolongamento da BR-75, que terminava em Patos de Minas, até o sítio da nova sede, passando por João Pinheiro, Paracatu, Cristalina e Luziânia. Projetou um prolongamento da BR-11, rodovia de João Pessoa a Natal, onde se articularia com a BR-12, de modo a facilitar a ligação com as capitais estaduais nordestinas, e um prolongamento da BR-28 de seu ponto terminal na ilha de Bananal até atingir Corumã à margem do Rio Madeira, centro petrolífero da Amazônia. Foram sugeridas ainda alterações na BR-15, de Macapá até Alenquer para facilitar a ligação com Amapá, e na BR–17 propondo-se uma extensão até Manaus para integrá-la ao sistema rodoviário pan-americano.

o Distrito Federal à oeste, e caminhos abertos para a exploração do ouro no Planalto Central levaram à fundação de Santa Luzia, atual Luziânia.

Com esse rearranjo dos traçados viários integrava-se a nova sede de governo a toda a extensão do território nacional, no que contribuía a localização em terras planas, se adequando perfeitamente ao sistema de transporte baseado em auto- estradas. O debate sobre a integração rodoviária permeando o planalto goiano e traspassando o sítio da nova capital federal, retomado junto a proposta de interiorização juscelinista, passaria a contar, enfim, com resultados práticos e expressaria a grande expansão de fronteiras envolta pelo ideário desenvolvimentista, conforme lembra Ribeiro (2008, p. 36-37):

Um dos caminhos para entender por que a construção é denominada Meta Síntese é recordar, sempre no quadro do arranque desenvolvimentista do período, que a cidade logo passaria a ser tida como o ‘trampolim para a Amazônia’, situando-se , de fato, no centro de um projeto que, batizado de ‘cruzeiro rodoviário’, tinha a base da cruz fincada não na virgem Porto Seguro dos anos 1500, mas no virgem Planalto Central dos anos 1950, ligando pelo interior Norte e Nordeste ao Centro –Sul (...)

FIG. 1 – Plano ferroviário Rebouças de 1874