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Municípios com ESCCA x Região

T ABELA 20 E SCALA DE L IKERT

Existe uma imposição velada da agenda externa ditada pelas políticas do país de origem que interfere na relação entre as agências da cooperação internacional com o Brasil.

GRUPO PONTUAÇÃO

G1 3,2

G2 3,3

G3 2,7

G4 2,8

Os resultados indicam que os grupos percebem a existência de interferência dos países de origem nesta relação, embora a pontuação obtida não revele um alto grau de concordância com a afirmação.

A USAID afirma que a estratégia geral do programa foi definida por eles, como também foram responsáveis pelo monitoramento da utilização do recurso e o alcance dos resultados técnicos. O POMMAR não percebe esses fatores como intervenção externa.

A estratégia é definida pela USAID e a partir disso faz-se uma licitação para ver quem irá implementar o recurso. Nós temos regras internas onde a USAID entra no monitoramento da utilização dos recursos e no alcance dos resultados técnicos. Temos reuniões periódicas, recebemos relatórios técnicos e financeiros trimestrais. No fim das contas, a USAID esteve sempre presente, mas presente para reforçar o caráter institucional do programa e reforçar o compromisso do governo norte- americano com estas ações. Embora não tenhamos uma ação para acompanhar cada passo do projeto, nós estamos sempre por perto para trazer o projeto de volta para a estratégia que a gente definiu. (G5 – USAID)

Na verdade, eu não sei se tem uma questão tão forte de influência. Uma questão que é importante pra gente pontuar é que ao menos em termo da estruturação do programa e como testemunha nesses dez anos, eu não vislumbrei em nenhum momento intervenção externa. (G5 – POMMAR)

Em relação à inserção do POMMAR na área da violência sexual, existe a percepção de que foi uma questão agendada pela sociedade civil brasileira, no que se refere ao abuso e a exploração sexual comercial. A forte articulação da sociedade civil e o cenário de efervescência política sobre a temática teriam despertado o interesse de acompanhamento e motivado as ações do POMMAR. Uma outra questão colocada refere-se ao caráter nitidamente global do fenômeno, e que, portanto, merece ações articuladas entre os países.

O que eu consigo imaginar é que a sociedade civil brasileira veio colocando de forma muito clara essa demanda, como também essa questão veio num crescendo dentro do governo. Essa forte articulação da sociedade civil e governo desperta um interesse em estar acompanhando. Se é um fenômeno que tem esse aspecto da transnacionalidade, talvez o Brasil apresentasse as melhores condições para a construção de um modelo na América Latina, para ser uma referência para outros países. O agendamento pode ter partido muito de dentro do país. (G4 – MDS). Eu acho que o POMMAR optou por trabalhar com crianças e por trabalhar com crianças em situação de violência sexual e de exploração do trabalho, muito em função da capacidade dos operadores brasileiros, dos técnicos e especialistas brasileiros, que demonstraram a essa cooperação que no caso da violência sexual ela é endêmica e ela é estratégica para a mudança de sociabilidade da sociedade brasileira. (G3 – Renato Roseno).

Entre 1994 e 2000, o nosso foco era muito mais as categorias domésticas da violência sexual, o abuso era muito mais forte. É claro que para nós, sobretudo da BA, CE e PE, tínhamos um olhar mais atento ao turismo sexual, mas nós como brasileiros sabíamos que aquela era uma agenda para um projeto nacional, ou seja, não era uma agenda que interessava aos países centrais, mas interessava a nós como país periférico.No caso especifico do abuso e da exploração, nesse período mais restrito de 1994 e 2000 vamos ter uma agenda que interessa muito ao projeto de democracia brasileiro. A violência sexual é uma violência que atinge em cheio a democracia brasileira, pela forma como ela se dá, pelos atores que ela envolve,

pelos vetores de raça, gênero, classe e etnia, o ser brasileiro, ele é muito atingido e revelado pela violência sexual. No caso do abuso e exploração sexual, é algo que interessa muito à agenda nacional. (G3 – Renato Roseno)

Uma questão que ajudou muito foi um consenso que viemos construindo desde 1996, no Seminário das Américas, que a violência sexual é uma questão transnacional, que os países deveriam se aproximar, inclusive do ponto de vista das legislações, das fronteiras. Acho que por isso não se via com desconfiança a participação do POMMAR. (G4 – MDS)

No entanto, o fato de ser um programa vinculado ao governo norte-americano traz traços de resistência e desconfiança.

Estamos falando de um aparato da cooperação ao desenvolvimento que é influenciado pela linha do Departamento do Estado, que por sua vez vai ser influenciado pela linha hegemônica do governo e é assim não só com os EUA, mas a maioria dos governos influencia muito a sua cooperação. Por exemplo, a gente tinha uma excelente relação com a cooperação italiana, mas quando ocorreu a aproximação com os EUA na guerra do Iraque, todos os recursos deles foram para esse área, por isso precisamos estar atentos a essa influência, não existe uma cooperação, vai ter a cooperação dada por um momento histórico. (G3 – Renato Roseno)

O interesse maior é fazer com que as idéias que eles têm sobre determinado assunto seja levada em conta para a construção do tipo de mundo que eles querem, de acordo com o pensamento americano. Isso é algo histórico, não é do POMMAR e sim da política externa americana com todos os países. Então, claro que as sua estratégias de participação são um reflexo dessa política externa, pois na verdade a cooperação internacional é um instrumento da política externa, principalmente em se tratando dos EUA. (G3 – Cida de Roussan)

Conhecendo o interesse do governo norte-americano em se outorgar o grande império do mundo, o centro das decisões de forma absolutamente unilateral, acho que todos os interesses que representem a política imperialista americana vão criar focos de tensão com aqueles governos que não aceitam certas imposições. Vide a política da AIDS, que impõem uma série de restrições conforme a sua ideologia, a postura do Banco Mundial que impõe condições para que o Brasil receba aporte financeiro. Não sei se isso fica explícito, mas sem dúvida está subjacente a todas as decisões e investimentos dos Estados Unidos. (G2 – Camará)

Em 2002 foi quando houve o rompimento do Fórum Cearense com o POMMAR em virtude da guerra do Iraque e de algumas posições conservadoras dentro da questão da sexualidade. Estávamos até em processo de receber um recurso do POMMAR, mas rompemos e abrimos mão por não concordar com os princípios de trabalho dos EUA. Hoje eles voltaram a participar, mas apoio financeiro direto não teve mais. (G1 – Curumins)

Sejam quais forem as razões, o importante é que a gente use bem o dinheiro. Alguns dizem que é por conta da imigração ilegal, outros dizem que é com recursos do combate ao tráfico. O fato é que o dinheiro veio e nós usamos para o bem. (G4 – SEDH)

A questão da ideologia perpassa todas as nossas ações como ser humano, e quando eu vejo essa inserção do governo americano, eu vejo também aí uma questão ideológica. Acho que quando se coloca a exploração sexual, tem uma questão implícita de deter o mal, a construção do mal, do ruim, daquilo que precisa ser

exterminado e vem muito da cultura judaico-cristã, isso é muito forte. (G2 – Casa Renascer)

Fica claro, a partir das falas, que quando se questiona sobre a inserção política do POMMAR na área do abuso e da exploração sexual, essa ação é vista como um agendamento (agenda-setting) que partiu de dentro do próprio país. No entanto, ao se analisar a atuação do POMMAR na área do tráfico de crianças e adolescentes para fins sexuais (uma das modalidades da violência sexual), essa ação é vista como resultado de motivações ligadas à segurança nacional dos EUA.

É obvio que existe uma preocupação dos EUA com a questão da migração, mas não vejo como isso tenha interferido no nosso programa, uma vez que os programas são definidos em conjunto com o governo brasileiro e as ONGs . Se a questão fosse essa, nós teríamos programas em Governador Valadares, em Goiânia, nos locais de onde as pessoas estão saindo para imigrar ilegalmente. Eu acho que existe uma preocupação, mas se esses fossem os motivos de apoio ao nosso programa os recursos seriam para a Polícia Federal, para barrar a emissão de passaporte, e esse não é o caso, estamos trabalhando com áreas que o governo brasileiro escolheu, com crianças adolescentes que não são as principais pessoas que migram para os EUA. Então eu acho que as pessoas enxergam uma agenda oculta que não tem. (G5 – USAID)

A USAID, logicamente, atende ao interesse do Estado americano e logicamente isso faz parte de uma ação estratégica, em razão do que os EUA acreditam ser importantes para eles para a segurança do Estado americano e que passa por várias questões. Quanto menos vulnerável estiverem os seus interlocutores, mais seguro estará o Estado americano; nenhum país investe no desenvolvimento de outro país se não tiver uma vantagem. São questões que interessam aos EUA, mas os parceiros têm liberdade de aceitar ou não. (G4 – SEAS)

E necessário entender em que medida a cooperação norte-americana é influenciada pelo Departamento de Estado. Você abre a homepage da USAID e está lá que ela é uma agência do Departamento de Estado, que tem uma doutrina, uma linha de intervenção muito clara e eles não negam isso, mas existe esse campo de ambigüidade onde é possível fazer negociações e reflexões. Agora, nós não podemos ser ingênuos, precisamos criar a nossa agenda para o enfrentamento do tráfico, nós não podemos cair na lógica de, em nome do enfrentamento do tráfico, em nome da defesa dos direitos humanos, acabarmos por ceder a uma lógica de segurança nacional do governo norte-americano. (G3 – Renato Roseno)

Essa discussão de tráfico de seres humanos é algo recente no Brasil, mas mundialmente é algo que já vem desde 1948, quando se teve a primeira grande convenção e os Estados Unidos participaram e ratificaram todas as convenções, todos os instrumentos internacionais nesse tema. O tema exploração internacional e tráfico de seres humanos é algo que está na pauta da cooperação dos Estados Unidos, ou seja, veio de fora para dentro e aqui encontrou um terreno extremamente fértil. (G3 – Cida de Roussan)

Uma vez, em conversa que tive com alguém ligado à USAID e discutíamos sobre recursos para projetos , e essa pessoa deixou muito claro que a cooperação americana dá prioridade aos chamados temas globais, aqueles temas que na sua dinâmica transpõem a sua fronteira e os afetam. Essa questão do tráfico, ela é

obvia. Os EUA têm liberado muito recurso para esse fim no mundo inteiro. As grandes políticas de contenção ao tráfico internacional estão muito ligadas ao imigrante ilegal. São temas que interessam ao mundo e interessam sobremaneira ao governo americano. (G3 – Cida de Roussan)

Há também uma questão política. Não só em relação à exploração e abuso, mas principalmente a questão do tráfico, que é uma frente hoje que o governo norte- americano efetivamente trabalha e tem centrado muitos esforços. É como se resolvendo a questão aqui seria uma forma de atenuar a questão da imigração futura, ao resolver o mal pela raiz. (G2 – Casa Renascer)

Sobre a interferência direta do governo norte-americano no PAIR, parece haver um campo de ambigüidade. Por um lado, reconhecem-se possíveis influências norte-americanas nas ações das agências da cooperação (por exemplo, na atuação com a Aids); por outro, afirma-se que não foram impostas condições aos operadores do PAIR e reconhece-se que estão desenvolvendo um programa que segue exatamente a construção da agenda brasileira de enfrentamento à violência, ou seja, sem que haja forte ingerência.

O que mais chama atenção é nessa questão do tráfico. O PAIR foi financiado com verba de um programa de combate ao tráfico, e uma das questões que se levanta é se isso não seria uma estratégia para diminuir a migração ilegal para os EUA. Se a razão do investimento for pra frear a migração, é uma coisa que não está explicitada. Então temos que trabalhar em cima do que está explicitado, e acho que o Estado brasileiro, ao perceber a existência de alguma intenção que traga prejuízo ao Brasil, ele é soberano e autônomo para em qualquer momento romper acordos, ou seja, mesmo que isso venha a ser verdade, não significa nenhuma ameaça, porque em nenhum momento foi imposta nenhuma condição aos operadores do PAIR ou do TSH. A única condição é que o governo invista nessa área, mas isso é uma obrigação nossa, independente dos interesses americanos. Até hoje, as ações da Secretaria Nacional de Justiça para o tráfico é uma questão subsidiada pelo governo americano. (G4 – SEAS)

Eu não poderia dizer que a presença da cooperação americana é em si uma presença imperialista, mas existe um campo de contradição, por exemplo, quando a agenda norte-americana para a Aids confronta a autonomia dos movimentos sociais e do governo brasileiro, aí sim se daria uma agenda imperialista, mas não me parece que essa venha sendo a lógica com o PAIR, é por isso que existe um campo de ambigüidade. O PAIR é muito mais financiado com recursos do governo federal do que com recursos da cooperação norte-americana, a presença norte-americana se dá muito mais pela cultura técnica/metodológica. Os operadores do PAIR pela Partners/USAID são operadores que em alguma medida estão discutindo um modelo metodológico a partir da construção da agenda brasileira de enfrentamento à violência. (G3 – Renato Roseno)

Sobre a possibilidade de o POMMAR ter influenciado as ONGs apoiadas levando-as a modificar (ampliar, introduzir nova linha de atuação) a sua missão institucional, a frase abaixo foi avaliada pelos grupos G1 e G2, demonstrando o seguinte resultado (Tabela 21):