Municípios com ESCCA x Região
QUADRO 15: P ARTICIPAÇÃO DO POMMARNOS PRINCIPAIS EVENTOS
Ano Evento/ação C F T O R L
1994 (out)
1.ª Conferência Metropolitana sobre Prostituição Infanto- Juvenil Feminina e Políticas Públicas
x
1995 Seminário Sobre Exploração de Meninas no Brasil x
1995 Formação da Frente Parlamentar pelo Fim da Violência, Exploração e do Turismo Sexual contra Crianças e Adolescentes.
x x
1995 (jun)
I Seminário sobre a Exploração e o Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes das Metrópoles do Nordeste
x x x 1995
(out)
Lançamento da primeira Campanha Nacional contra a Exploração Sexual Infanto-juvenil
x x 1996
(abr)
Seminário Contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Américas / Encontro das Américas
x x x 1996
(ago)
I Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes (Estocolmo)
x 1997 (ago) Encontro ECPAT 1 x x x 1998 (dez) Encontro ECPAT 2 x x x 2000 (mai)
Instituição do Dia Nacional de Luta contra a Violência Sexual de Crianças e Adolescentes
x 2000
(jun)
Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto- Juvenil
x x x x 2000
(dez)
Início do Programa Sentinela x x x
2001 (dez)
II Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes (Japão)
x 2002 Pesquisa Nacional de Tráfico de Mulheres e Adolescentes para
fins de Exploração Sexual (PESTRAF)
x x x 2002 1ª Conferência Internacional sobre Pornografia Infantil na
Internet
x
2002 Início do Programa PAIR x x x x
2002 (jun)
Criação do Comitê Nacional de Enfrentamento ao Abuso e Exploração Sexual contra Criança e Adolescente
2003 Colóquio Nacional para Construção do Sistema de Notificação dos Casos de Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes91.
x
2003 I Colóquio Nacional sobre Atenção às Crianças, aos Adolescentes e às Famílias em Situação de Violência Sexual92.
x 2003
(abr)
Reinstalação da Frente Parlamentar pelo Fim da Violência, Exploração e do Turismo Sexual contra Crianças e Adolescentes.
x
2003 (set)
I Seminário Nacional sobre Tráfico e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
x x x 2004 Matriz Intersetorial de Enfrentamento da Exploração
Comercial de Crianças e Adolescentes
x 2004
(mar)
Criação da Comissão Intersetorial de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
x
Percebe-se, de acordo com a análise das dimensões, que todas as estratégias obtiveram resultados positivos quando vistas individualmente e principalmente quando observadas sob a ótica de um planejamento articulado. O conjunto de estratégias utilizadas responde pela mediação dos elementos que ocasionam aceitação/rejeição, entendimento/conflito, desconhecimento/reconhecimento, com impactos importantes no seu envolvimento direto nas políticas públicas específicas na área da violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil. Pela análise do contexto, fica demonstrado que a utilização articulada das suas estratégias foi uma decisão que produziu resultados efetivos, comprovando o segundo pressuposto desta dissertação.
Durante todo o trabalho de pesquisa, foi possível constatar a intensa participação e envolvimento do POMMAR nas ações relacionadas ao enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil. A sua participação nas políticas públicas relaciona-se diretamente com a legitimidade conferida à organização e ao seu reconhecimento como ator político de confiança pelos parceiros. Para Santos (2005, p.146) este tipo de reconhecimento social provém da capacidade de aglutinar anseios, de responder a necessidades, de prestar contas e de criar novas idéias e ideais para a sociedade.
O POMMAR nunca foi um programa desenhado em gabinete, fora de contexto ou fora de um dinamismo que a própria problemática trabalhada traz. (G5-Partners) Foram sendo definidas diferentes estratégias institucionais que, ao longo destes dez anos, contribuíram para fazer do programa uma referência na intervenção
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Com a participação de mais de 80 profissionais e dirigentes de organismos públicos e da sociedade civil, representando os 27 Estados.
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Evento do Ministério do Desenvolvimento Social e do Combate à Fome, que teve a finalidade de avaliar o redirecionamento das ações do Programa Sentinela e da Política Nacional de Assistência Social.
metodológica e na capacidade de colaboração e articulação com todos os atores envolvidos na instigante tarefa de qualificar ações e políticas. (G5-POMMAR)
Diante da pesquisa efetuada, a conclusão desta dissertação leva à validação dos pressupostos e à confirmação do cumprimento dos objetivos traçados inicialmente. Assim, os objetivos traçados no projeto de pesquisa que deram origem a esse estudo foram alcançados, a saber:
x Foi analisada a participação do POMMAR no movimento de enfrentamento à violência sexual contra crianças e o adolescentes no Brasil;
x Foi verificado como as diferentes estratégias de participação utilizadas pelo POMMAR são percebidas pelos atores-chave;
x Foram identificadas as razões que levaram o governo brasileiro a estabelecer o POMMAR como parceiro estratégico e analisado sob a ótica das suas estratégias desenvolvidas;
x Foram identificadas as possíveis influências norte-americanas no desenvolvimento das estratégias utilizadas pelo POMMAR no Brasil
No desenvolvimento desta pesquisa, existiram algumas limitações que devem ser destacadas. Por exemplo, teria sido interessante e relevante entrevistar todas as instituições apoiadas (G1), para levantar diferentes percepções e pontos de vista; no entanto, a exigüidade do tempo disponível para a pesquisa não nos permitiu levar isso a cabo. Outra categoria de entrevistados que poderia ter enriquecido o trabalho seria a de outras organizações internacionais, a exemplo da OIT e UNICEF, com o objetivo de perceber qual a percepção delas sobre as estratégias utilizadas pelo POMMAR.
Este trabalho não esgota o tema, e assim, sugere-se que outros estudos o complementem e o aprofundem, principalmente quanto à ampliação do leque de organizações internacionais para o desenvolvimento que têm participação e impacto nas políticas públicas no Brasil. A partir disso, poder-se-á investigar os pontos estratégicos de convergência relativos às suas atuações, aprofundando-se assim o modelo de análise construído nesta dissertação. Entendemos que, apesar deste estudo sobre as estratégias de participação ter sido desenvolvido especificamente sobre o POMMAR, o modelo de análise construído possui valor interpretativo para a análise das estratégias de participação de outras organizações internacionais para o desenvolvimento com atuação no Brasil.
Nesta dissertação também foram detectadas outras duas questões que merecem um aprofundamento em futuras pesquisas. A primeira refere-se à questão da percepção da “ingerência” versus “competências prévias”. Essa questão foi levantada na entrevista por uma instituição apoiada pelo POMMAR, que manifestou a percepção da participação do POMMAR na ONG como ingerência e atribuiu essa sensação ao fato de já possuírem uma metodologia consistente quando o POMMAR iniciou seu apoio, levantando a hipótese de que para as instituições que ainda não têm a sua metodologia consolidada a intensa participação técnica pode ser vista de forma bastante positiva e colaborativa; no entanto, quando a situação é inversa, essa participação pode ser percebida como uma forma de ingerência. A segunda questão a ser aprofundada são os mecanismos que reconhecem a competência técnica como elemento neutralizador de “resistências ideológicas”. Esse fato foi observado de forma recorrente na pesquisa empírica, demonstrando haver certa reticência e desconfiança ao POMMAR, por ser um programa vinculado ao governo norte-americano; no entanto, essa percepção é neutralizada pelo reconhecimento das contribuições técnicas da equipe do POMMAR, passando para um plano secundário quaisquer resistências de cunho ideológico.
Finalmente, a pergunta de partida, “De que forma as estratégicas de participação utilizadas pelo POMMAR/USAID tiveram impacto no seu envolvimento nas políticas públicas específicas para o enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil?”, pode agora ser respondida de modo mais claro e coerente.
Fica evidente que a participação do POMMAR nas políticas públicas de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes foi garantida pela inter- relação de diferentes estratégias e pela sua adaptação ao contexto local possibilitando a construção do seu processo de legitimação. O sucesso da participação envolveu os recursos financeiros, mas, sobretudo, engajamento político e domínio técnico da temática, aliados a uma real vivência dentro do contexto em que a temática está circunscrita. O POMMAR teve êxito, sobretudo, na capacidade de construir alianças estratégicas, unindo esforços de pessoas e organizações com interesses comuns e contribuiu, sim, para o avanço no enfrentamento da questão no Brasil.
Embora ainda tenhamos muitos problemas, os avanços que aconteceram nessa área são inegáveis. Do ponto de vista dos direitos humanos não podemos esquecer a idéia do processo, dessa coisa contínua, desse monitoramento contínuo. Dizer que
não houve avanços porque a gente ainda não chegou ao ideal é um grande equívoco. (G3 – Cida de Roussan)
Nós tivemos, entre 1994 e hoje um grande salto nessa questão, saímos de um estágio onde essa questão nem era posta para ações governamentais com objetivos definidos, recursos definidos; estamos unindo esforços e objetivamente enfrentando. (G4 – MDS)
É evidente que, apesar do sucesso desta experiência específica do POMMAR no Brasil, é importante ressaltar a insuficiência de muitas das experiências de cooperação diante da necessidade de se estabelecer uma ordem internacional mais eqüitativa, menos excludente e alicerçada sobre sólidas fundações de direito internacional. De acordo com Carruncho (2005, p.212), é necessária uma visão de longo prazo para resolver os grandes problemas que a humanidade enfrenta, e no que diz respeito à relação Norte-Sul, isso significa colocar realmente como prioridade o objetivo do desenvolvimento. O desenvolvimento, além de servir aos PEDs, está vinculado aos interesses de longo prazo dos países desenvolvidos, interesses vinculados aos bens públicos globais, tais como a estabilidade política e econômica mundial, a paz, o meio ambiente, as migrações ordenadas, a saúde e a segurança internacional. Essa visão global obriga não só a repensar os objetivos, os valores, o papel dos agentes e os instrumentos do sistema de cooperação, mas também a estrutura das relações internacionais (comércio, transferência de tecnologias, participação dos PEDs nos foros internacionais de decisão, por exemplo) e a qualidade das políticas públicas nos PEDs diante do desafio de avançar o processo de construção de um desenvolvimento humano sustentável.
Embora ninguém hoje negue a importância das agências internacionais no processo de elaboração e implementação de políticas públicas, ainda são relativamente escassos os estudos que se dedicam ao exame específico de sua atuação. Nesse contexto, seria pretensioso e desmesurado querer traçar um quadro abrangente e exaustivo desta atuação com base apenas nos dados desta pesquisa. O panorama geral que aqui se ofereceu pode ser considerado tão- somente como um primeiro passo que, esperamos, suscitará novas hipóteses para trabalhos posteriores, contribuindo, assim, para ampliar a base de conhecimentos de que dispomos para analisar a contribuição (e os constrangimentos) das agências da cooperação internacional nas políticas públicas na área da infância e adolescência no Brasil.