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Municípios com ESCCA x Região

Os 10 maiores recebedores de ajuda dos EUA em 2003-2004 (USD milhões)

3.5.1 ASPECTOS GERAIS

Em 1993, a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) 61, que já apoiava programas nas áreas de prevenção ao HIV, proteção ao meio

ambiente e geração de energia renovável, fez uma licitação, com o objetivo de implementar a sua primeira ação na área da infância e juventude no Brasil, tendo como público específico crianças e adolescentes em situação de alta vulnerabilidade. A organização selecionada foi a ONG norte-americana Partners of the Americas62 (Partners) e o programa denominado

POMMAR – Prevenção Orientada a Meninos e Meninas em Risco, que surge com o objetivo

60“

Por exemplo, em fevereiro de 2003, funcionários de campo da USAID foram instruídos pelo Secretário de Estado (à época, Colin Powel) de que a ajuda deveria dar preferência à abstinência em relação ao preservativo na luta contra HIV/AIDS e não deveria apoiar projetos de trabalho sexual, programas de troca de agulhas ou serviços de aborto. Isso foi seguido em dezembro de 2003 por mudanças na lei antitráfico de 2000, restringindo o uso de fundos antitráfico norte-americanos e proibindo certas organizações de receberem recursos do governo dos EUA para trabalhar com o tráfico, em torno do problema da prostituição. [...] No Brasil, devido ao problema que essa política causou a várias ONGs envolvidas no trabalho de prevenção do HIV/AIDS entre trabalhadoras do sexo, a comissão nacional encarregada da AIDS teve que intervir. Assim, em 2005, o governo brasileiro recusou US$ 40 milhões de ajuda dos EUA, com base em que "o requisito da administração Bush [...] prejudicaria os esforços do país para enfrentar a doença" e em que essa política era uma "interferência contrária à política brasileira relativa à diversidade, aos princípios éticos e aos direitos humanos". (KEMPADOO, 2005, p.9- 10)

61

É uma agência do governo federal dos EUA, criada em 1961, responsável pela implementação de programas de assistência econômica e humanitária em mais de 100 países.

62

A Partners foi fundada em 1964 como componente da “Aliança para o Progresso”, sendo hoje a maior organização privada de voluntários do hemisfério ocidental dedicada ao desenvolvimento e à formação em âmbito internacional. No Brasil, a Partners foi estabelecida com natureza jurídica de entidade privada e apartidária e foi estabelecida como “Companheiros das Américas”. Na época, já atuava há 25 anos no Brasil.

de contribuir para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes a partir das ações de ONGs locais, e em permanente diálogo com a esfera pública. Os recursos utilizados foram provenientes do Fundo para Órfãos e Crianças Refugiadas (Displaced Children and

Orphans’s Fund – DCOF), uma dotação do governo americano administrada pela USAID,

tendo sido inicialmente destinado um total de US$ 2,7 milhões para três anos de trabalho, mas ao longo dos seus dez anos no Brasil foram investidos US$ 11 milhões. Sendo assim, o POMMAR foi um programa financiado pela USAID, implementado pela Partners, inserido no âmbito da cooperação internacional bilateral norte-americana.

Considerando o grande número de crianças e adolescentes assassinados por grupos de extermínio no Brasil, bem como as circunstâncias especialmente adversas enfrentadas pelas crianças e jovens em situação de rua, a USAID solicitou recursos ao DCOF para implementação de um programa de atenção direta a essa população. (POMMAR, 2004, p.5)

Em 1993 foi realizada uma pesquisa com o objetivo de desenhar o programa da USAID no Brasil, evidenciando que, no Nordeste, os indicadores sociais e econômicos apontavam à existência de um número elevado de crianças e adolescentes em situação de risco, sendo assim escolhida essa região como área prioritária de atuação. Foram definidas para atuação as três maiores cidades nordestinas: Salvador, Recife e Fortaleza, instalando, em 1994, sua base em Recife.

O POMMAR foi implementado em 1994, seguindo as diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que é fruto de um grande processo de mobilização social. Quase todas as organizações que trabalhavam diretamente com adolescentes surgiram após o ECA, e em 1994, eram instituições ainda muito jovens, que estavam discutindo seu papel na sociedade. Começava a ficar claro que não importava fazer um atendimento qualquer, deveria ser feito um atendimento qualificado e esse pressuposto começou a nortear a política dessas instituições. O ECA começava realmente a se tornar um instrumento de fazer política, não somente um instrumento da mobilização, mas também do pensar o atendimento. À partir desse novo paradigma, o POMMAR começou a apoiar várias experiências que mais tarde revelaram-se de excelência em várias áreas.

Com o objetivo de obter maior clareza sobre a situação da infância e adolescência no Nordeste, fundamental para o adequado desenho do programa, a USAID e Partners realizaram

o I Seminário sobre Meninos e Meninas (de rua) do Brasil, com a participação de mais de 50 OGs e ONGs. A partir das conclusões desse seminário ficou definido que o POMMAR “funcionaria como um catalisador na formação de redes de atenção a crianças e adolescentes, além de apoiar experiências pedagógicas inovadoras já em curso e prestar assistência técnica aos profissionais envolvidos nos serviços de atenção direta ao público-alvo.” (POMMAR, 2004, p. 8).

Ao programa não caberia financiar um grande números de projetos na área. Sua atuação se diferenciaria pela qualidade. Também ficou definido que os profissionais em campo receberiam suporte técnico como forma de proporcionar um melhor atendimento a seu público, tendo sempre em vista o horizonte ético do Estatuto da Criança e do Adolescente. Enquanto isso, haveria na retaguarda um fortalecimento institucional, a partir da capacitação das equipes desses projetos no campo da gestão administrativa e financeira. O programa também contribuiria para que as ONGs estreitassem seus laços com fundações e fundos humanitários. (POMMAR, 2004, p.6)

É importante observar que, desde a construção da sua proposta, o programa POMMAR teve como estratégia o diálogo com a sociedade civil e com o governo, em consonância com as diretrizes da cooperação norte-americana.

As ONGs dos Estados Unidos aprenderam com o passar dos anos que, para qualquer tipo de programa funcionar, quer sejam emergenciais ou de longo prazo, em áreas tais como saúde, educação, reformas agrícolas e desenvolvimento econômico, tem que haver uma sociedade civil saudável. [...] Trabalhando em conjunto com associações locais, autoridades do governo, [outras] ONGs e empresas privadas, acreditamos que possam estar em melhor posição para identificar e trabalhar soluções para os seus problemas mais prementes. (KELLETT, 2004, p.40)

A primeira fase do POMMAR foi marcada por um trabalho de diagnóstico, onde foram identificadas as principais questões da área da criança e do adolescente e os serviços já existentes. Nessa primeira fase, os enfoques programáticos foram as áreas de promoção e defesa de direitos, educação profissionalizante, enfrentamento ao abuso e à exploração sexual e a reunificação familiar. Começa a ficar claro que além de oferecer o apoio financeiro seria importante a contribuição direta da equipe do POMMAR/USAID/Partners.

É fácil financiar e cobrar. Assim, se estamos esperando certo resultado, então vamos entrar nesse processo de forma mais efetiva e sempre com um papel definido, bastante claro, porque não somos os executores da ponta, somos um parceiro, é uma co-responsabilidade. (Entrevista de Stuart – Partners63)

Em 1997 foi aprovado um financiamento por mais três anos (1998–2000) demarcando a segunda fase do POMMAR. Nessa fase começou a se consolidar áreas programáticas muito mais definidas, um momento de uma organização mais técnica dentro do POMMAR, reconfigurando todo o processo de intervenção. Foram estabelecidos dois norteadores principais, a partir da nova visão de que o processo educativo e artístico podia realmente ter um impacto positivo, de uma forma inédita e impressionante, na vida escolar e social das crianças e adolescentes. (POMMAR, 2004, p.48):

x O foco no adolescente capaz de criar soluções e respostas para os seus conflitos subjetivos e sociais (conceito de protagonismo juvenil);

x A ênfase na arte-educação como deflagradora de processos formativos e criativos, capazes de apresentar uma resposta positiva a diversas situações de risco.

Nessa segunda fase foi identificada a necessidade de um trabalho mais descentralizado, e o POMMAR, em 1999, abriu escritórios em Salvador e Fortaleza, como uma forma de estarem mais próximo dos parceiros.

A tônica da terceira fase foi a diversificação do programa. Além de continuar fortalecendo projetos de arte-educação, avançaram na área de profissionalização, a partir da proposta de que projeto social deveria ter uma visão pedagógica, mas que também deveria responder a essa necessidade econômica. Um outro componente importante da terceira fase foi a alocação de novos recursos para projetos na área da erradicação do trabalho infantil no contexto urbano, assim como uma focalização do trabalho em saúde. Em 2002, ao enfrentamento à violência sexual foram incorporadas ações de coibição ao tráfico de crianças e adolescentes para fins sexuais. O (Quadro 3) traz uma síntese do número de instituições apoiadas por área programática

63

Entrevista do Sr. Stuart cedida pela Partners. Essa entrevista foi realizada pela jornalista Thaís Aragão como subsídio à publicação sobre os dez anos do POMMAR.

Quadro 3. Instituições apoiadas pelo POMMAR por área programática

ÁREA PROGRAMÁTICA/EIXOS Nº de

Instituições Educação e Empregabilidade (Profissionalização, Arte-Educação e Trabalho

Infantil) 36 Assistência – 08 HIV/Aids Prevenção – 09 16

Violência Sexual e Tráfico para fins de exploração sexual 14 Saúde/Fortalecimento Familiar e Defesa de Direitos64 06

Total 72

Fonte: POMMAR, 2004

Na terceira fase também foi aberto escritório do POMMAR em Brasília, em virtude da nova atuação com a erradicação do trabalho infantil, que demandava maior articulação com os ministérios, programas públicos e fóruns nacionais. Essa entrada em Brasília foi muito importante para o maior envolvimento do POMMAR com as políticas governamentais.

Nós trabalhamos durante oito anos só com ONGs. Nesse período, fortalecemos diversos programas e redes, mas o diálogo com o governo federal não avançava. Decidimos então trazer técnicos do POMMAR pra Brasília como uma forma de fazer esse diálogo de forma constante. (Entrevista de Nena Lentini – USAID)

Ao longo dos seus dez anos de atuação no Brasil, o POMMAR obteve ganhos significativos, conforme sistematizados abaixo (Quadro 4):

Quadro 4. Resultados quantitativos do POMMAR