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Municípios com ESCCA x Região

T ABELA 15 E SCALA DE L IKERT

4.2.3 PELA ÓTICA DA PARTICIPAÇÃO POLÍTICA

A consolidação das ações estratégicas do Programa de Ações Integradas e Referenciais de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes (PAIR) possibilitou uma grande visibilidade para o POMMAR, Partners e a USAID, e marcou um passo fundamental nas relações políticas e institucionais com o governo brasileiro. O memorando de entendimento86 entre a USAID e o governo brasileiro já foi renovado duas

vezes, com a incorporação de termos aditivos, o último assinado em 16 de maio de 2006, prorrogando por mais 24 (vinte e quatro meses) o convênio87.

Foi uma disponibilidade do POMMAR/USAID, das pessoas que lá trabalhavam, de estar junto nesse processo, isso facilitou muito, era uma interlocução fácil, nós não tínhamos que convencer a organização pra ser nossa parceira. As pessoas da USAID são muito sensibilizadas para essa questão pelo resultado que o POMMAR havia conseguido nessa área. O nosso parceiro já era bem provocado e foi isso. A coincidência de propósitos acabou vencendo. (G4 – SEAS).

Constituem objeto do Protocolo de Intenções os seguintes aspectos:

I- Criar mecanismos de articulação institucional para o estabelecimento de projetos, estudos e análises que promovam o fortalecimento das ações coletivas de garantia, defesa e atendimento dos direitos das crianças e adolescentes; II- Desenvolver ações sociais especializadas de atendimento às crianças e aos

adolescentes vítimas de violência, com ênfase no abuso e exploração sexual e no tráfico para fins de exploração, proporcionando-lhes serviços que permitam construir, em um processo coletivo, a proteção social, a garantia dos seus direitos fundamentais, e o restabelecimento à convivência familiar e comunitária em condições dignas de vida;

III- Proporcionar a inclusão social de crianças e adolescentes vítimas de violência, com ênfase no abuso e na exploração, e de suas famílias, nas ações desenvolvidas por organizações governamentais e não-governamentais de atendimento e/ou defesa de direitos;

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MJ-SEDH/USAID/SEAS N. 08032.000497/2002-71, assinado em 7 de outubro de 2002.

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IV- Contribuir para a articulação de um sistema de informações sobre a violação dos direitos das crianças e dos adolescentes, a exemplo do SIPIA – Sistema de Informação para a Infância e a Adolescência.

V- Garantir a qualificação continuada dos profissionais envolvidos no atendimento jurídico e psicossocial às crianças e jovens sexualmente abusados ou explorados; VI- Contribuir para o desenvolvimento das ações coletivas de enfrentamento do

abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, a exemplo dos Planos de Ação Integrada, na compreensão de que uma rede articulada potencializa recursos;

VII- Implementar e dinamizar as ações dos instrumentos que constituem o Sistema de Garantia de Direitos, dotando-o das condições materiais e técnicas necessárias ao desempenho de suas funções;

VIII- Desenvolver campanhas de mobilização de diversos segmentos, em especial aqueles que comprovadamente constituem fatores de risco à população infanto- juvenil, dado o envolvimento em situações ou esquemas de aliciamento e exploração sexual comercial;

IX- Construir ações referenciais de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes de forma a subsidiar o desenvolvimento de ações integradas com essa finalidade em outras regiões do país, tendo como modelos os Planos de Ação em sete regiões consideradas estratégicas por sua posição geográfica e/ou pelos índices de violência sexual infanto-juvenil, tráfico de seres humanos e transmissão do HIV/Aids que apresentam.

De acordo com Leal (2001, p.213), a base desses processos de parceria com organismos internacionais da cooperação ao desenvolvimento tem sido definida a partir dos interesses comuns, do respeito às necessidades e particularidades de cada parceiro e da competência técnica e política para a implementação dos projetos, observando-se as normativas nacionais e internacionais, os compromissos assumidos pelos governos nos encontros internacionais e as políticas públicas existentes.

Para Lentini (2006):

A metodologia proposta tem se tornado um grande exercício para os Ministérios e as organizações nacionais e internacionais envolvidas na concepção, gestão e operacionalização do Programa. A permanente busca da complementaridade e da integração de políticas, programas e serviços têm estimulado a criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento de uma nova cultura local para enfrentar esse grave problema de forma eficaz.

O POMMAR também realizou convênios com governos estaduais em vários programas públicos voltados ao segmento infanto-juvenil, com destaque para:

ƒ Estado da Bahia – Secretaria de Trabalho e Ação Social (SETRAS) – cooperação nos programas PETI/Sentinela e projeto de redes locais/BNDES;

ƒ Estado do Ceará – formalização de compromissos para repasse de metodologias das redes de educação profissionalizante e de arte-educação, com interveniência do BID. O POMAR também participou como membro em espaços de mobilização sobre a temática, com destaque a sua participação como membro efetivo do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes e nos Comitês Estaduais da Bahia, Ceará e Pernambuco.

4.2.3.1 DIÁLOGO PERMANENTE COM A ESFERA PÚBLICA

De acordo com o POMMAR, o diálogo com a esfera pública sempre esteve presente, mas que se intensificou a partir do ano 2000, com a sua participação na construção do Programa Sentinela e a abertura do escritório do POMMAR em Brasília. A abertura ao diálogo com a esfera pública e a disponibilidade em participar das políticas foram fatores fundamentais à sua participação nas políticas públicas.

Esse diálogo foi uma construção. A equipe sempre teve a clareza da necessidade de fazer ações articuladas com o poder público [...] a percepção de que era preciso trabalhar com grupos que fizessem essa circularidade entre poder público e sociedade civil, isso sempre esteve muito presente, mas acho que efetivamente ‘caiu a ficha’ foi quando começamos a contribuir com a concepção do Sentinela no final de 2000 [...] a partir daí foi uma questão estratégica do POMMAR, tanto foi estratégica que mudou a nossa estratégia do ponto de vista geográfico passando a trabalhar no Brasil todo e com escritório em Brasília, e mudança também programática, onde passamos a incluir como área a questão do tráfico. (G5 – POMMAR)

Logo que a gente começou a discutir o Sentinela, a USAID procurou o governo e se colocou à disposição como parceira, e uma parceira incondicional, e isso é muito importante para o governo, pois naquele momento você tinha um parceiro para tocar uma ação inicial, era um contrato de risco. Entendendo que o Sentinela era um programa muito interessante e ela se colocou como parceira no desenvolvimento do programa e na construção de ações que pudessem ser referência nessa área. (G4 – SEAS)

Os atores estratégicos reconhecem no POMMAR uma permanente disponibilidade em participar do debate político, de articular os atores institucionais públicos, e contribuir positivamente nesse processo.

[...] ao contrário do que ocorre freqüentemente no campo da cooperação de

organizações estrangeiras com ONGs brasileiras, a cooperação do

POMMAR/USAID–Partners nunca deu as costas para as políticas públicas. Nas diversas áreas da sua atuação, o programa sempre atuou de forma articulada com os atores institucionais públicos, buscando nos campos técnico e ético-político exercer sobre eles uma influência construtiva. (POMMAR, 2004, p. 33)

O POMMAR sempre teve essa preocupação de articular com o governo, acho que sempre souberam que as ações teriam que desembocar em políticas públicas. (G1 – CEDECA/BA)

Eu vejo as pessoas do POMMAR como muito envolvidas com as políticas públicas, todas elas eu vejo muito comprometidas. Deve haver uma decisão institucional para fazer parte desse debate político, porque reconheço nessas pessoas compromisso e competência e conhecimento para isso, com conhecimentos profundos sobre os movimentos sociais e políticas públicas. (G2 – Camará).

4.2.3.2 FOMENTO À INTEGRAÇÃO DAS AÇÕES DO ESTADO, SOCIEDADE CIVIL E ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS A PARTIR DO APOIO À ESTRUTURAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DE REDES LOCAIS, REGIONAIS E NACIONAIS.

A década de 1990 é um momento onde se observa um grande fortalecimento do Terceiro Setor. As ações desenvolvidas por este segmento na área do enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes tiveram (e têm) no trabalho em rede88 uma

ferramenta eficiente, que acompanhou todo o desenvolvimento da institucionalização da questão. Para Faleiros (2000):

A complexidade do fenômeno da violência sexual e o fato dos agressores, vítimas e aliciadores encontrarem-se nas famílias e difundidos na sociedade implica que o enfrentamento da questão seja efetivado por múltiplos canais, articulados e organizados em rede. As redes partem da articulação de atores, organizações e forças existentes no território para uma ação conjunta multidimensional com

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A partir de 1997 deu-se a descentralização da articulação do movimento de combate à violência sexual por meio da inclusão dessa temática na agenda da sociedade civil local, o que levou as ONGs, fóruns, conselhos e centros de defesa a se organizarem por meio de redes: a Comissão Interestadual de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes da Região do Centro-Oeste (CIRCO/ CO); O Pacto de São Paulo; Fórum Catarinense de Combate à Exploração e ao Abuso Sexual/Sul; Rede Emaús e Txai/Norte; Rede de Pernambuco e, em geral, o Nordeste se faz representar pelos Centros de Defesa, Conselhos Municipais e ONGs. Em nível nacional quem articula o movimento de enfrentamento da violência sexual no Brasil é o Comitê Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes/Fórum DCA (LEAL, 2005, p.69)

responsabilidade partilhada (parcerias) e negociada, onde a perspectiva da totalidade predomina sobre a fragmentação e onde cada parte potencializa recursos que, juntos, se tornam mais eficientes.

A atuação do POMMAR teve como estratégia a articulação e a integração das forças institucionais, privilegiando a cooperação com as organizações da sociedade civil, apoiando o empoderamento dos atores locais dentro da perspectiva de formação de rede.

Uma grande contribuição do POMMAR diz respeito a um modelo de articulação entre governo, sociedade civil e organizações internacionais que conseguem articular forças nessa temática. (G4 – MDS)

O POMMAR tem extrema importância pelo processo de articulação política que processou nesses dez anos, mobilizando sempre as instâncias públicas locais e fazendo essa costura de interlocução entre governo e sociedade, capacitando a sociedade para intervir com qualidade. (G4 – SEAS)

A primeira articulação de grande porte apoiada pelo POMMAR foi a Rede Estadual de Pernambuco de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes89. Em 1997, o

POMMAR apoiou o Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fórum DCA) no processo de mobilização, articulação e organização de encontros regionais, com o objetivo de discutir propostas de monitoramento de políticas públicas na área da infância e adolescência90. Entre 1998 e 2000, o POMMAR integrou a Rede pela Educação

Profissionalizante do Estado do Ceará, experiência que facilitou o trabalho articulado entre instituições governamentais e não-governamentais que buscavam alternativas eficazes e viáveis para a inserção qualitativa de jovens no mercado de trabalho.

Com a entrada do POMMAR na área se reforçou a noção de rede, as trocas de informações e de metodologias. O POMMAR trouxe a dimensão de que essas instituições deveriam estar contribuindo para as políticas públicas. Sendo assim, tinham que estar no debate nacional e acho que conseguimos fazer um bom

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Durante a realização do II Seminário do Nordeste sobre essa temática, em 1995, o POMMAR promoveu a troca de experiências entre diversas instituições. A partir do contato com o Pacto de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes da Cidade de Fortaleza (O Pacto ampliou suas ações para o Estado do Ceará e atualmente é conhecido como Fórum Estadual de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes), diversas instituições de Pernambuco, entre elas a Casa de Passagem, o Coletivo Mulher Vida, a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente e o Conselho Estadual de Direitos organizaram-se em rede para coordenar ações de mobilização, disseminar e integrar as melhores práticas de atendimento. A atuação da Rede Estadual foi decisiva para dar visibilidade ao fenômeno do sexo-turismo em Pernambuco, alavancar o potencial de atendimento das ONGs locais, e articular a contribuição do Estado para a formulação de políticas nacionais, a exemplo do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto- Juvenil (POMMAR, 2004, p. 99)

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De acordo com o POMMAR (2004, p.100), “Além de proporcionar uma visão ampliada da situação dos direitos da infância no País, os debates propiciaram a reorganização dos Fóruns Estaduais dos Direitos da Criança e do Adolescente e geraram uma série de recomendações para a 2ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, que aconteceu em Brasília, em 1997”.

trabalho de articulação, quando financiamos a reunião do Nordeste para a elaboração do plano nacional, quando apoiamos a rede de Pernambuco e as ações do pacto de Fortaleza. Então, eu acho que a gente trouxe uma grande contribuição ao trazer o terceiro setor para as discussões nacionais e podemos observar que a importância do terceiro setor só vem crescendo. (G5 – USAID)

Acho que foi importante, mas tudo isso somando-se aos outros. Não houve um destaque do POMMAR junto com a rede, com o UNICEF teve sua importância, sim. (G1 – Curumins)

Nós tivemos vários fóruns e comitês que tiveram o apoio do POMMAR, apoio técnico e financeiro. (G2 – Casa Renascer)

O CEDECA nunca desenvolveu suas ações sozinho, sempre em parceria. Essa idéia de trabalho em rede sempre tivemos, e o POMMAR sempre caminhou também nessa direção. (G1 – CEDECA/BA)

Penso que demos uma ênfase na questão da consolidação de propostas de metodologias implicadas com o fortalecimento de redes locais. (G5 – POMMAR)

A percepção sobre o apoio do POMMAR na consolidação das redes locais e regionais pode ser medida a partir dos resultados da aplicação da escala de Likert, expressos na (Tabela 16), revelando um grau elevado de concordância com a afirmação.