• Nenhum resultado encontrado

Ríos 39 En varias ocasiones presidente de gobierno, se convirtió en el paradigma del católico defensor de la laicidad del Estado, simbolizada a través de su defensa

4. Abertura ao «outro»

A ideia de comunidade e a prática da vivência em comunidade constituem outro ponto central da espiritualidade dos anos sessenta. O comunitarismo da época buscava fontes inspiradoras nos livros proféticos do Velho Testamento, no relato das primeiras comunidades cristãs constantes dos Actos dos Apóstolos14, na

contextos culturais; o preço a pagar por este «cosmopolitismo» foi a redução da religião a um epifenómeno secundário relativamente ao funcionamento secular da ordem social no seu todo, perante a qual só poderá exercer um papel terapêutico ou crítico. Cf. Slavoj Žižek − The Puppet and the Dwarf. The Perverse Core of

Christianity. Cambridge, Mass.: The MIT Press, 2003, p. 3.

14 O «comunismo de amor» (Troeltsch) das comunidades cristãs primitivas está presente nos Actos dos Apóstolos, especialmente no que respeita à partição do pão (2:42-47) e à comunhão de bens (4:32-37): cf. Pier Cesare Bori – Koin-onia. L’idea della comunione nell’ecclesiologia recente e nel Nuovo Testamento. Brescia: Paideia Editrice, 1972, p. 81ss; Robert W. Wall – The Acts of Apostles. In The New Interpreter’s Bible in Twelve

Volumes. Vol. 10. Nashville: Abingdon Press, 2002, p. 73ss e p. 95ss; Community. In The Anchor Bible Dic- tionary. Vol. 1: A-C. Dir. David Noel Freedman. Nova Iorque: Doubleday, 1992, p. 1103ss; David J. Williams

– New International Biblical Commentary. Acts. Peabody, Mass.: Hendrickson Publishers-Paternoster Press, 1990, p. 59ss; Luke Timothy Johnson − The Acts of the Apostles. Collegeville, Minnesota: The Liturgical Press, 1992, p. 56ss e p. 82ss; Ben Witherington III – The Acts of the Apostles. A socio-rethorical commentary. Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans Publishing Company, 1998, p. 204ss (sobre a comunhão de bens). Justin Taylor – Les Actes des Deux Apôtres. Vol. IV – Commentaire Historique (Act. 1,1-8,40). Paris: Éditions Gabalda, 2000, p. 27ss, em esp. p. 85ss e p. 123ss (sobre o espírito de «comunidade» dos discípulos, desig- nadamente da «comunidade de bens»); M. G. Mara − Pauvres − Pauvreté. In Dictionnaire Encyclopédique

du Christianisme Ancien. Vol. II − J-Z. Dir. Angelo di Bernardo. Paris: Les Éditions du Cerf, 1990, p. 1958ss

(sobre a pobreza e compropriedade no cristianismo primitivo); E. Jacquier – Les Acts des Apôtres. Paris: Librairie Victor Lecoffre, 1926, p. 87ss e p. 144ss; William Neill – The Acts of the Apostles. Londres: Oliphants, 1973, p. 80ss e p. 92ss; I. Howard Marshall – The Acts of Apostles. An introduction and commentary. Leicester: Inter-Varsity Press, 1980, p. 83ss e p. 107ss; Benigno Papa – Atti degli Apostoli. Commento pastorale. Vol. 1. Bolonha: Edizioni Dehoniane, 1981, 70ss e em esp. p. 144ss; Leo O’Reilly − Word and Sign in the Acts of the

Apostles. A study in Lucan Theology. Roma: Editrice Pontificia Università Gregoriana, 1987, p. 76ss; C. K.

Barrett – A Critical and Exegetical Commentary on the Acts of the Apostles. Vol. 1. Edimburgo: T & T Clark, 1998, p. 162ss e p. 251ss; F. F. Bruce – Commentary on the Book of the Acts. Londres-Edimburgo: Marshall, Morgan & Scott, 1956, p. 79ss; Richard Belward Rackham – The Acts of the Apostles. An exposition. 15ª ed. Londres: Methuen & Co., 1951, p. 62ss; Alfred Wikenhauser – Los Hechos de los Apóstoles. Barcelona: Editorial Herder, 1967, p. 83ss e p. 102ss; Rinaldo Fabris – Atti degli Apostoli. 2ª ed. Brescia: Editrice Queriniana, 1979, p. 72ss; Giuseppe Ricciotti – Gli Atti degli Apostoli. Tradotti e commentati. Roma: Coletti Editore, 1951, p. 110ss; Josep Rius-Camps – Comentari als Fets dels Apòstols. Vol. 1: «Jerusalem»: configuració dl’església

judeocreient (Ac 1,1-5,42). Barcelona: Editorial Herder-Facultat de Teologia de Catalunya, 1991, p. 161ss



redescoberta da noção de communitas feita pelo neotomismo das décadas de vinte e de trinta15, no fascínio pela pureza da vida monacal, na atracção da Gemeinschaft

(sobre a comunidade de bens); Nouvelles Études sur les Actes des Apôtres. Paris: Les Éditions du Cerf, 1984, p. 297ss (sobre a comunidade de bens e a comunidade das almas); Fuchs − Communauté des biens. In AA.VV. − Dictionnaire Encyclopédique de la Théologie Catholique. Dir. Wetzer e Welte. Tomo V: Colomb-Cure. Paris: Gaume Frères et J. Diprey, Éditeurs, 1869, p. 51ss; Robert Gnuse – Comunidad y propriedad en la

tradición bíblica. Estella: Editorial Verbo Divino, 1987, p. 219ss; Jean Rigal − L’ecclésiologie de communion, Son évolution historique et ses fondements. Paris: Les Éditions du Cerf, 1997, p. 119ss; Wayne A. Meeks − The First Urban Christians. The Social World of the Apostle Paul, Nova Haven-Londres: Yale University Press, 1983,

p. 74ss (para uma reconstrução do meio concreto de emergência das primeiras comunidades); Numa síntese extremamente apelativa e acessível, mas sem particular aprofundamento da questão do comunitarismo, cf. Étienne Trocmé − L’Enfance du Christianisme. Paris: Éditions Noêsis, 1997, p. 79ss; analisando o que certos autores designaram por «comunismo cristão» nos Actos dos Apóstolos, cf. Mark Allan Powell – What are

they saying about Acts? Nova Iorque: Paulist Press, 1991, p. 77ss; sem dar relevo a este aspecto dos Actos

dos Apóstolos, cf. F. F. Bruce – Acts of the Apostles. In The Oxford Companion to the Bible. Dir. Bruce M. Metzger e Michael D. Coogan. Nova Iorque-Oxford: Oxford University Press, 1993, p. 6-10; sobre a pobreza e a solidariedade nas comunidades primitivas e nos Actos dos Apóstolos, cf. Ettore Franco – Povertà e solidarietà nella communità primitiva. Atti degli Apostoli e giudaismo esseno-qumranico a confronto. In AA.VV. – Richezza e Povertà nella Bibbia. Dir. Vittorio Liberti. Roma: Edizioni Dehoniane, 1991, p. 171ss, que desenvolve o tema da comunhão de bens a p. 174ss. Numa perspectiva mais abrangente em torno da «comunhão de bens», cf. Wolfgang Schrage – Etica del Nuevo Testamento. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1987, p. 156ss. Trata-se de uma inspiração que marca todos os autores empenhados neste projecto: cf., por ex., Ronaldo Muñoz – A Igreja no Povo. Para uma eclesiologia latino-americana. Petrópolis: Vozes, 1985, p. 78-79, que alude mesmo ao «modelo da comunidade primitiva»; sobre a sua influência no «comunitarismo» cristão da década de setenta, num breve apontamento, cf. Andrew Lockley – Communes. In A Dictionary of

Christian Spirituality. Dir. Gordon S. Wakefield. Londres: SCM Press, 1983, p. 92-93. Há quem entenda que

a comparação das primitivas comunidades cristãs com as comunas, apesar de recorrentemente utilizada, é desajustada: cf. Joseph Ratzinger – Deus e o Mundo. A fé cristã explicada por Bento XVI. Uma entrevista

com Peter Seewald. Coimbra: Edições Tenacitas, 2005, p. 309. No contexto de uma «teologia relacional»,

muitas vezes apoiada nas teses do agir comunicativo de Habermas e com profundas refracções na teologia feminista, há quem sublinhe, mais recentemente, o carácter «dialógico» das comunidades cristãs e do seu discurso sobre a pobreza: cf. Beate Kowalski – Conversations about poverty in the Lukan community. In AA.VV. – Theology and Conversation. Towards a relational theology. Dir. J. Haers e P. de Mey. Lovaina: Leuven University Press, 2003, p. 125ss. O ponto é desenvolvido sobretudo em torno da epistolografia cristã primitiva por Joseph Caillot − L’Évangile de la communication. Pour une nouvelle approche du Salut chrétien. Paris: Les Éditions du Cerf, 1989, em esp. p. 151ss. Não por acaso, a noção de «pensamento relacional» foi qualificada como «ecológica» e «comunitária» por autores como Jürgen Moltmann − Trinité et Royaume

de Dieu. Contributions au traité de Dieu. Paris: Les Éditions du Cef, 1984, p. 34; entre nós, cf. Encarnação

Reis − Igreja sem Cristianismo ou Cristianismo sem Igreja? Lisboa: Moraes Editores, 1969, p. 169ss. Suscita-se, todavia, o problema de saber se a insistência nos aspectos relacionais e comunicacionais não acabará por afectar a passagem à praxis, um ponto que é igualmente defendido por Moltmann (cf., por ex., Jésus, le messie

de Dieu. Paris: Les Éditions du Cerf, 1993, p. 71ss), risco que certos autores parecem ter pressentido quando

falaram da urgência de ultrapassar o «God-talk» em nome do «God-walk»: cf. Frederick Herzog − God-Walk.

Liberation shaping dogmatics. Nova Iorque: Orbis Books, 1988.

15 Será esta segunda vaga neotomista que permitirá ao escritor Gonzague de Reynold afirmar que no final dos anos vinte a redescoberta das doutrinas do Doutor Angélico era «uma filosofia em voga em França e nos países de língua francesa»: cf. Philippe Chenaux – La seconde vague thomiste. In Intellectuels Chrétiens

et Esprit des Années 1920. Dir. Pierre Colin. Paris: Les Éditions du Cerf, 1997, p. 139. Como nota Philippe

Chenaux, enquanto a «primeira vaga» neotomista, nascida à sombra da Aeterni Patris, correspondia, no essencial, a uma «filosofia de seminário» que com o passar dos anos se tornará num sistema doutrinal rígido



desenhada por Tönnies16, no «neo-ruralismo», na atracção pelo «pequeno» (small

is beautiful), na associação entre a pobreza e a Natureza17, à maneira do Il Poverello

cuja principal característica era o antimodernismo, a renovação do interesse pela escolástica no primeiro pós-guerra deve-se à acção de intelectuais leigos (Blondel, Gilson, Maritain, Mounier). O seu epicentro passa a ser a universidade (v.g., o Instituto Superior de Filosofia de Lovaina, reaberto em 1919), onde predominam nos cursos filosóficos programas de inspiração tomista, bem como grupos de estudos, dos quais o mais conhecido foi a Société philosophique Saint-Thomas-d’Aquin, reaparecida em 1922, podendo ainda citar-se o Cercle thomiste féminin, criado em 1925 e a Société thomiste, fundada em Paris em 1923, ano do sexto centenário da canonização de S. Tomás, durante o qual é publicada por Pio XI a carta encíclica Studiorum

ducem, que marca o apogeu desta segunda onda tomista. Em 1923, realiza-se a importante Semana tomista

de Roma, organizada pela Academia Romana de São Tomás, e, no ano seguinte, o Congresso Internacional de Filosofia de Nápoles, que reúne mais de quinhentos participantes e será fortemente marcado pelo neo- tomismo. A condenação papal da Action française abrirá uma brecha profunda neste movimento de retorno à escolástica medieval.

16 De acordo com algumas interpretações, tal não significa, todavia, rejeitar a Gesellschaft, mas tão-só encarar a sociedade como um ambiente que «oferece numerosas oportunidades comunitárias»: cf. Glenn Tinder – The Political Meaning of Christianity. An interpretation. Baton Rouge-Londres: Louisiana State University Press, 1989, p. 57. Na época, porém, o «comunitarismo» tinha um cariz claramente «anti-societário»: «a sociedade moderna individualiza e intimida: somos com frequência aniquilados pela infinidade de pro- blemas que se colocam no quotidiano. A comunidade torna-se, então, um apoio social e emocional», dizia Daniel Cohn-Bendit – Le Grand Bazar. Paris: Belfond, 1975, p. 173. Considerando que existiu uma inter- pretação errónea da dicotomia de Tönnies, cf. Piet Fransen – La communione ecclesiale principio di vita. In AA.VV. – L’Ecclesiolgia del Vaticano II: dinamismi e prospettive. Dir. Giuseppe Alberigo. Bolonha: Edizione Dehoniane, 1981, em esp. p. 170ss.

17 Há quem se refira, a este propósito, a uma «espiritualidade da Criação», desenvolvida no quadro de uma cosmovisão ascética em que a própria «opção preferencial pelos pobres» adquire contornos ecológicos: cf. René Coste – Dieu et l’Écologie. Environment, théologie, spiritualité. Paris: Les Éditions de l’Atelier, 1994, em esp. p. 171ss; Les dimensions sociales de la foi. Pour une théologie sociale. Paris: Les Éditions du Cerf, 2000, p. 489ss. Outros salientam que as mais recentes construções da espiritualidade cristã privilegiam, além da doutrina da Encarnação, uma redescoberta da Natureza associada a um cosmocentrismo de inspiração vetero-testamentária e à tradição franciscana: cf. David Tracy – Recent catholic spirituality: unity and diversity. In AA.VV. – Christian Spirituality. Vol. 3 -Post-Reformation and Modern. Dir. Louis Dupré e Don Saliers. Londres: SCM Press, 1990, p. 167ss. Cf. ainda, entre tantos outros, Jay B. McDaniel – Of God and

Pelicans. A Theology of reverence for life. Louisville: Westminster-John Knox Press, 1989, p. 85ss. Practicing

the presence of God: a Christian approach to animals. In A Communion of Subjects. Animals in Religion,

Science and Ethics. Dir. Paul Waldau e Kimberley Patton. Nova Iorque: Columbia University Press, 2006,

p. 132ss. Giordano Frosini – Teologia delle realtà terrestri. [S.l.]: Marietti Editori, 1971, p. 55ss; F. D’Agostino e S. Spinsanti – Ecología. In Nuevo Diccionario de Espiritualidad. 2ª ed. Dir. Stefano Fiores e Tullo Goffi. Madrid: Ediciones Paulinas, 1983, p. 377ss; Richard Bauckam – Ecologia. In Dicionário Crítico de Teologia. Dir. Jean-Yves Lacoste. São Paulo: Edições Loyola-Paulinas, 2004, p. 592ss; Fiorenzo Facchini – Ecologia. In

Dizionario Interdisciplinare di Scienza e Fede. Cultura scientifica, Filosofia e Teologia.Vol. 1. Dir. Giuseppe

Tanzella-Nitti e Alberto Strumia. Urbaniana University Press-Città Nuova: Cidade do Vaticano-Roma, 2002, p. 433ss; John Carmody − Ecology and Religion. Toward a new Christian Theology of Nature. Nova Iorque: Paulist Press, 1983, p. 84ss; AA.VV. – The Oxford Handbook of Religion and Ecology. Dir. Roger Gottlieb. Oxford: Oxford University Press, 2006; Alexandre Ganoczy – Théologie de la nature. Paris: Desclée, 1988, sendo especialmente interessante a análise da «comunidade das co-criaturas», a p. 42ss; Création. In Nouveau

Dictionnaire de Théologie. Dir. Peter Eicher. Paris: Les Éditions du Cerf, 1996, em esp. p. 152-153; Jürgen

Moltmann − Dieu dans la création. Traité écologique de la création. Paris: Les Éditions du Cerf, 1988; Le rire

de l’Univers. Traité de christianisme écologique. Paris: Les Éditions du Cerf, 2004; Antonio Simula − In pace com il creato. Chiesa cattolica ed ecologia. Pádua: Edizioni Messagero, 2001, p. 30ss (sobre a noção de «co-



responsabilidade» entre Deus e o Homem pela Criação). Na perspectiva da narrativa bíblica, cf. F. F. Bruce – The Bible and the Environment. In AA.VV. – The Living and Active Word of God. Essays in honor of Samuel

J. Schultz. Dir. Morris Inch e Ronald Youngblood. Winona Lake, Indiana: Eisenbrauns, 1983, p. 15ss; Peter

Scott – A Political Theology of Nature. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. Diversa é a abordagem da antropologia bíblica que não se refere ao Homem e aos animais como «co-criaturas» mas ao Homem como «co-criador», ou colaborante no mundo da acção criadora de Deus: cf. António Couto – Como uma

Dádiva. Caminhos de antropologia bíblica. 2ª ed. revista. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2005, p. 25.

Para um breve apontamento sobre a «espiritualidade ecológica» de S. Francisco de Assis, cf. Martino Conti – L'esegesi letterale-esistenziale di san Francesco d'Assisi. In AA.VV. – Il Cosmo nella Bibbia. Dir. Giuseppe De Gennaro. Nápoles: Edizione Dehoniane, 1982, em esp. p. 603ss; J. Cerqueira Gonçalves – Pobreza fran- ciscana e ecologia. In AA.VV. – Francisco de Assis, nosso irmão. Problemas de ontem e de hoje. Braga: Editorial Franciscana, 1995, p. 151ss; Eloi Leclerc – Le Cantique des Créatures. Une lecture de Saint François d’Assise. Paris: Desclée de Brouwer, 1988; Manuel Carreira das Neves – Francisco de Assis, profeta da paz. Lisboa: [s.n.] 1987, p. 65ss (sobre a «dimensão cósmica da paz»). Não por acaso, na colecção «Círculo do Humanismo Cristão», a Livraria Moraes editará em 1960 Fioretti di S. Francisco, com prefácio de Pedro Tamen e desenhos de José Escada, que termina com o «Cântico do Irmão Sol» e a sua alusão «irmã nossa mãe Terra / que nos sustenta e nos governa / e dá diversos frutos com coloridas flores e erva»: cf. Fioretti de S. Francisco e dos

seus frades. Lisboa: Livraria Morais Editora, 1960, p. 214. «O teu poema saúda a verdade primeira de toda a

criatura / A inteireza do dia inicial», escreveu Sophia de Mello Breyner (in Francisco de Assis, 1182-1982.

Testemunhos contemporâneos das letras portuguesas. Dir. Adelino Pereira. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa

da Moeda, 1982, p. 391). Note-se, no entanto, que apesar do seu revigoramento na década de sessenta, a articulação e «actualização» de diversos tópicos da mensagem franciscana (amor, liberdade, pobreza, «espi- ritualidade do Sol», pacifismo, fraternidade universal) já era realizada desde há muito: cf. Agostino Gemelli – Le Message de Saint François d’Assise au Monde Moderne. Paris: P. Lethielleux, 1936, que através de uma panorâmica diacrónica mostra bem até que ponto, pela sua «abertura», a espiritualidade franciscana se adapta a uma multiplicidade de conteúdos de acordo com as diversas épocas. Sobre a «sacralidade do criado» e a «unidade da vida» na espiritualidade contemporânea, cf. Giovanni Hellewa e Ermanno Ancilli – La

spiritualità cristiana. Fondamenti biblici e sintesi storica. Roma-Milão: Pontificio Istituto di Spiritualitá del

Teresianum-Edizioni O. R., 1986, p. 164ss; Maria Antonietta Potente – Uomo e natura nella spiritualità cristiana. In AA.VV. – Ambiente e Tradizione Cristiana. Brescia: Editrice Morcelliana, 1990, p. 31ss; numa perspectiva teológica, sem particulares alusões à espiritualidade, cf. Pierre Gisel – Du concept de nature en théologie. In AA.VV. – Éthique et Natures. Dir. Éric Fuchs e Mark Hunyadi. Genebra: Labor et Fides, 1992, p. 97ss do mesmo autor, Nature et création selon la perspective chrétienne. In AA.VV. – Religion et Ecologie. Dir. Danièle Hervieu-Léger. Paris: Les Éditions du Cerf, 1993, p. 28ss; Gianni Manzone – Libertà Cristiana

e Istituzioni. Tema di etica sociale. Mursia: Pontificia Università Lateranense, 1998, p. 119ss, em esp. p. 138ss;

Jürgen Moltmann – Il passo del Duemila. Progresso e abisso. In Prospettive Theologiche per il XXI Secolo. Dir. Rosino Gibellini. Brescia: Editrice Queriniana, 2003, em esp. p. 36ss. Uma redescoberta interessante da «espiritualidade naturalista» pode encontrar-se em David Brown – God and Enchantment of Place. Reclai-

ming human experience. Oxford: Oxford University Press, 2004. Curiosamente, já em 1925 Carl Schmitt

observava que «uma união da Igreja católica com a forma hodierna do industrialismo capitalista não é possível» e, comparados com os seguidores de outras confissões, «os povos católicos romanos parecem amar o solo, a mãe terra, de outro modo; todos eles têm o seu “terrisme”»: cf. Carl Schmitt – Catolicismo Romano

e Forma Política. Lisboa: Hugin Editores, 1998, p. 37. Nos nossos dias, a interacção entre «comunitarismo»

ou «comunalismo» e a ecologia, no contexto do que já se designou por «evangelho ecológico», é proposta por correntes teológicas assumidamente pós-modernas, como a desenvolvida por David Ray Griffin – God

& Religion in the Postmodern World. Essays in postmodern Theology. Albany: State University of New York

Press, 1989; Sacred Interconnections. Postmodern spirituality, political economy, and art. Albany: State Univer- sity of New York Press, 1990. Cf. ainda Terrence Tilley e Craig Westman – David Ray Griffin and construc- tive postmodern communalism. In Postmodern Theologies. The challenge of religious diversity. Maryknoll, Nova Iorque: Orbis Books, 1995, p. 17ss. Existe também, naturalmente, uma ligação natural entre a ecologia e a teologia latino-americana, designadamente a Teologia da Libertação: cf. Guillermo Kerber – O Ecológico



e a Teologia Latino-Americana. Articulação e desafios. Porto Alegre-Genebra: Editora Meridional-Conselho

Mundial de Igrejas, 2006, em esp. p. 131ss; José Ramos Regidor − La teologia della liberazione. Roma: EDUP, 2004, p. 67ss. E o mesmo ocorre, por banda da Teologia da Libertação, relativamente à figura de São Fran- cisco de Assis e à sua «opção preferencial pelos pobres»: cf. Leonardo Boff – São Francisco de Assis: ternura

e vigor. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1985, p. 65ss. Na década de sessenta, sustentava-se que a evocação do

Génesis tinha um valor teológico consistente em fazer destruir a idolatria contemporânea da autosuficiên- cia humana, do fascínio pela técnica, responsáveis pela perda da «dimensão de adoração»: cf. Jean Daniélou – Au Comencement. Genèse 1-11. Paris: Éditions du Seuil, 1963, p. 10; e, acentuado a «responsabilidade ecológica» dos seres humanos na preservação da Criação, cf. André Wénin – L’Homme Biblique. Anthropo-

logie et étique dans le Premier Testament. Paris: Les Éditions du Cerf, 1999, p. 29ss. É possível entrever no

relato bíblico uma dimensão hedonista, no sentido em que no Éden o Homem estava «liberto das necessi- dades», encontrando-se pois despojado da obrigação «capitalista» de trabalhar, típica do homo laborans, o que por certo contribuiu, ainda que inconscientemente, para o fascínio dos católicos dos anos sessenta por um «comunitarismo genesíaco»: cf., sobre aquele ponto, Elaine H. Pagels – «Freedom from necessity». Philosophical and personal dimensions of Christian conversion. In AA.VV. – Genesis 1-3 in the History of

Exegesis. Intrigue in the Garden. Dir. Gregory Allen Robbins. Lewinston-Queenston: The Edwin Meller Press,

1988, p. 67ss. Afirma-se, por outro lado, que desde meados da década de sessenta a narrativa bíblica do Génesis foi objecto de uma «crítica ecológica», encarando-se aquela como o primeiro gesto de exploração da Natureza pelo Homem: cf. Henning Graf Reventlow – Problems of Old Testament Theology in Twentieth

Century. Londres: SCM Press, 1985, p. 143ss, com ampla recensão bibliográfica, ponto que é contestado por

aqueles que consideram que o domínio do mundo não equivale à sua destruição: cf. A. Wénin – La question de l'humain et l'unité du livre de la Genèse. In AA.VV. – Studies in the Book og Genesis. Litterature, redaction

and history. Dir. A. Wénin. Lovaina: Leuven University Press, 2001, p. 5; sobre o domínio do mundo pelo

homem, cf. ainda Oswald Loretz – Creazione e mito. Uomo e mondo secondo i capitoli iniziali della Genesi. Brescia: Paideia Editrice, 1974, p. 108ss; Antonio Fanuli – L'uomo e il suo Habitat secondo Gen 1. In AA.VV – L’Antropologia Biblica. Nápoles: Edixione Dehoniane, 1981, em esp. p. 88ss; Sergio Lanza – «Ha datto la terra ai figli dell’uomo»: Sal 115,16. Fondazione biblica della signoria dell'uomo sul creato. In AA.VV. –

L’Etica Tra Quotidiano e Remoto. Studi di etica sociale in onore di Giuseppe Mattai. Bolonha: Edizione

Dehoniane, 1984, p. 95ss. Num ensaio publicado igualmente na década de sessenta, Bernard Charbonneau assinala a redescoberta de um «sentimento» de Natureza, não deixando de associar essa artificial atracção pela ordem cósmica à sua fonte mais profunda, o criacionismo bíblico: «a criação cristã é uma das fontes ocultas da ideia e do sentimento de natureza»: cf. Bernard Charbonneau – O Jardim de Babilónia. Os campos,

as cidades, as regiões e o sentimento da Natureza na sociedade moderna. Porto: Edições Afrontamento, 1990,