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AO ESTADO NOVO NAS DÉCADAS DE 60 E

1. Nota biográfica

António da Costa de Sousa de Macedo (Fig. 1)2 nasceu em Lisboa a 21 de Novembro de 1824 e fale- ceu na mesma cidade, em 17 de Janeiro de 1892. Foi o mais novo dos oito filhos dos primeiros Condes de Mesquitela, D. Luís da Costa de Sousa de Macedo e Albuquerque e D. Maria Inácia de Saldanha Oliveira e Daun. Pelo lado materno é neto do 1.º Conde de Rio Maior, bisneto do Marquês de Pombal e sobri- nho do Duque de Saldanha, de quem era admirador e que biografou3.

Formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, foi funcionário público durante cerca de três décadas, assumindo cargos relevantes como o de secretário-geral do governo civil de Leiria, de comissário régio do Teatro de D. Maria II (1860) e de 1.º oficial da direcção geral de instrução pública do Minis- tério do Reino, antes e depois de, em 1870, desempenhar funções de ministro no

Governo dos 100 dias encabeçado pelo seu tio, o Marechal Duque de Saldanha,

onde assumiu, primeiro, a pasta da Marinha e, depois, a do 1.º Ministério da Instrução Pública que existiu em Portugal, e teve a curta duração de 69 dias. Foi moço fidalgo com exercício no Paço e comendador da ordem de Nossa Senhora de Vila Viçosa.

Na sua passagem por Leiria, onde ainda hoje é reverenciado pela obra que rea- lizou4, fundou o jornal O Leiriense (1854) e, ainda, o Centro Promotor de instrução

popular (1851), destinado a promover escolas nocturnas no distrito5, que veio a constituir um marco da sua vertente de benemérito e protector de obras sociais

2 Cf. Portugal, Dicionário histórico, http://www.arqnet.pt/dicionario/sousamacedo.html. 3 Cf. D. António da Costa – História do Marechal Saldanha. Lisboa: Imprensa Nacional, 1879.

4 Cf. José Eduardo Franco – O cristianismo e o progresso: a resposta de D. António da Costa a Antero de

Quental. 2009 [Em linha: http://www.triplov.com/letras/eduardo_franco/antero_quental/. Consultado em

Dezembro de 2011].

5 O Centro visava, também, a formação profissional na área comercial e pretendia promover cursos anuais de leitura e escrita usando o método de Castilho bem como «rudimentos de aritmética, escrituração comer- cial, gramática e língua portuguesa» (José Eduardo Franco – O cristianismo e o progresso: a resposta de D.

António da Costa a Antero de Quental). Propunha-se, ainda, criar uma biblioteca popular.

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dirigidas, sobretudo, à educação dos mais desfavorecidos. Foi pelo círculo eleitoral de Leiria que exerceu funções de deputado em 1857-1858.

Enquanto escritor e político, lutou pelo direito de todos os portugueses à educação com particular realce para a defesa da educação feminina, da formação profissional e da preparação especializada dos professores. Das obras que publi- cou destacam-se, para além de alguns diplomas legais, durante a sua curta, mas profícua, passagem pelo Ministério da Instrução Pública: Estatística do Distrito

Administrativo de Leiria (1855), Necessidade de um Ministério da Instrução Pública

(1868), O cristianismo e o progresso (1868), História da instrução popular em Portu-

gal desde a fundação da monarquia até aos nossos dias (1871), Auroras da instrução pela iniciativa particular (1884), A mulher em Portugal (1892, obra póstuma).

Registam-se outros títulos, entre os quais figuram algumas peças de teatro:

As minhas saudades (1844), Molière, drama histórico original português em 5 actos

(1857), Três mundos (1873), No Minho (1872)6, Memória sobre a instrução primária

em Portugal (1845), O casamento civil: resposta ao Sr. Alexandre Herculano (1865), O casamento civil perante a Carta Constitucional, segunda resposta ao Sr. Alexandre Herculano (1865), O casamento civil perante os princípios, terceira resposta ao Sr. Alexandre Herculano (1865), História do Marechal Duque de Saldanha (1879). Cola-

borou, ainda, em diversos jornais políticos e literários de Lisboa, Leiria e Coimbra. Na abordagem anunciada para este estudo, importa ainda referir o texto publi- cado em 1880, que intitulou Ao meu paiz, por ocasião do seu afastamento do lugar que ocupava na função pública, forçado pela doença, em que responde à acusação de não comparecer ao serviço durante os últimos nove anos. Refutando a acusa- ção, baseado nos documentos que evidenciam as presenças e as faltas justificadas durante o referido período e nos princípios legais que suportam a sua situação, D. António da Costa vai mais longe e dirige-se ao seu país num discorrer lógico que mostra bem a sua forma de entender o direito de defesa e o dever cívico da denúncia, a que acresce o que pensa acerca do valor do trabalho público como um serviço e a obrigação de o prestar com todas as capacidades e forças de que cada um dispõe. Assim, depois de detalhadamente descrever as doenças de que padece «todas incessantes, pertinazes e rebeldes ao tratamento» afirma a convicção de que estas foram agravadas

«(…) pela vida resultante de um trabalho intelectual de tantos anos, de um protestar com todas as forças, débeis do meu corpo, fortes da minha vontade, em favor do que todo

6 Na sua colecção de novelas, Camilo Castelo Branco (1982) dedica a D. António da Costa, a quem apelida de «meu nobre amigo» (p. 75), a história intitulada «O Comendador», «em testemunho da regalada leitura que V. Ex.ª me deu com o seu MINHO», elogiando o seu estilo que «tem a macia luz do luar das noites estivas, e o cadencioso murmúrio das ribeiras onde o céu estrelado se espelha» (p. 69). Em sua opinião, D. António vira «perfeitamente o Minho por fora» (p. 69) mas não tivera tempo «de ver e apalpar o miolo, a medula, as entranhas românticas do Minho» (p. 70).

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o cidadão tem dever, cada um na sua faina, a bem da terra em que nasceu, até o último suspiro da sua existência.»7

Sublinhando que quem está doente não pode trabalhar, declara que sempre lutou para contrariar essa verdade, trabalhando, ainda convalescente, até ao limite das suas forças e afirma mesmo que, apesar de «meio tolhido na cama, cheio de dores, rodeado de almofadas»8, impossibilitado, por isso, de comparecer ao serviço, teimava em dedicar-se, para lá da obrigação, aos seus escritos sobre a educação e a instrução pública, «só pelo ardente desejo de servir o meu país»9.