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Ríos 39 En varias ocasiones presidente de gobierno, se convirtió en el paradigma del católico defensor de la laicidad del Estado, simbolizada a través de su defensa

5. Igreja dos pobres

A noção de «Igreja dos Pobres», como se sabe, foi lançada por João XXIII na sua mensagem radiofónica de 11 de Setembro de 1962, um mês antes da abertura do Concílio, e aprofundada na intervenção do Cardeal Giacomo Lercaro, arcebispo de Bolonha, na 35ª Congregação Geral, realizada em Dezembro de 1962.23 Não por

23 Sobre este conceito, cf. Cardeal Lercaro − A pobreza na Igreja. In A Pobreza na Igreja. Lisboa: Livraria Morais Editora, 1964, p. 87ss, obra que reúne textos de São Basílio Magno, São João Crisóstomo, Cardeal Montini, Cardeal Lercaro e Mons. Huyghe sobre o tema da pobreza; Paul Gauthier – «Consolez Mon Peuple».

Le Concile et «l’Église des pauvres». Paris: Les Éditions du Cerf, 1965; El Evangelio de la Justicia y los Pobres.

Salamanca: Ediciones Sígueme, 1969, p. 190ss, que enuncia diversos sentidos do conceito de «Igreja dos pobres»; Marc Ancel – La perspective du Concile. In AA.VV. – L’Église des pauvres. Interpellation des riches. Paris: Les Éditions du Cerf, 1965, p. 289ss; Pablo Richard e Ignacio Ellacúria − Pobreza/Pobres. In Conceptos

fundamentales del cristianismo. Dir. Casiano Floristán e Juan José Tamayo. Madrid: Editorial Trotta, 1993, p.

1030ss; Karl Rahner − Teología de la pobreza. In Escritos de Teología. Nuevos escritos. Vol. VII. Madrid: Taurus Ediciones, 1969, p. 469ss, que analisa sobretudo a questão da pobreza religiosa no mundo contem- porânea mas que, apesar disso, é importante para a compreensão global do tópico «Igreja dos pobres»; Julio Lois Fernández − Pobres, Deus dos. In Dicionário Teológico. O Deus Cristão. Dir. Xabier Pikaza e Nereo Silanes. São Paulo-Apelação: Paulus, 1998, p. 708ss; Jean Cardonnel − O Cristianismo Não é Uma Religião. Porto: Livraria Figueirinhas, [s.d.], p. 113ss; Deus é Pobre. Porto: Livraria Figueirinhas, 1967; Mons. Alfred Ancel − A Igreja dos Pobres. In AA.VV. − A Igreja em Tempo de Concílio. Lisboa: Livraria Morais Editora, 1964, p. 121ss; Harvey Cox – Religion in the Secular City. Toward a postmodern theology. Nova Iorque: Touchstone, 1984, p. 111ss (que refere que, no final, os «liberais» venceram os partidários da «Igreja dos pobres»); Marcella Farina – Chiesa di Poveri e Chiesa dei Poveri. La fondazione biblica di un tema conciliare. Roma: LAS – Libreria Ateneo Salesiano, 1986, em esp. p. 45ss; Jacques Loew – L'Église de Vatican II. In

Histoire de l’Église Par Elle-Même. Dir. Jacques Loew e Michel Meslin. Paris: Librairie Arthème Fayard, 1978,

em esp. p. 563ss; Marie-Dominique Chenu – Vatican II and the Church of the Poor. In The Poor and the

Church. Dir. Norbert Greinacher e Alois Muller. Nova Iorque: Seabury, 1977, p. 56ss; Henri Denis e Jean

Frisque – L’Église à l’épreuve. Tournai: Casterman, 1969, p. 75ss; Walter Kerber, Alfons Deissler, Peter Fielder e Rafaela Belda – Pobreza y riqueza. In AA.VV. – Fe cristiana y sociedad moderna. Vol. 13. Madrid: Ediciones S.M., 1986, p. 127ss. Cf. o prefácio do Cardeal Lercaro, bem como os diversos textos sobre o tema in AA.VV. – Église et Pauvreté. Paris: Les Éditions du Cerf, 1965; António Baltazar Marcelino – O Concílio Vaticano II e a opção pelos pobres. In A Igreja e a Opção pelos Pobres. Jornadas de Teologia. Coimbra: Gráfica de Coim- bra, 1988, p. 7ss. Há quem refira que a expressão «opção [preferencial] pelos pobres» foi primeiramente avançada em Medellín, ainda que no seu documento final não haja qualquer referência à mesma: cf. Juan Luis Segundo – Teología de la Liberación. Respuesta al Cardenal Ratzinger. Madrid: Ediciones Cristandad, 1995, p. 58; Jorge Pixley e Clodovis Boff – Opción por los Pobres. Cristianismo y sociedad. Madrid: Ediciones Paulinas, 1986, p. 221; Sergio Lanza – Introduzione alla Teologia Pastorale. Vol. 1: Teologia dell’azione ecclesiale.



Brescia: Editrice Queriniana, 1989, p. 108-109; Georges de Schrijver – Gaudium et Spes on the Church’s dialogue with contemporary society and culture: a seedbed for the divergent options adopted in Medellín, Puebla, and Santo Domingo. In Vatican II and its Legacy. Dir. M. Lamberigts e L. Kenis. Lovaina: Leuven University Press, 2002, p. 301; Ricardo Antoncich e Jose Miguel Munárriz – La Doctrine Sociale de l’Église. Paris: Les Éditions du Cerf, 1992, p. 68ss. Numa análise muito marcada ideologicamente, cf. Plácido Diez e Ricardo Herreo-Velarde – Revolução Marxista e Progresso Cristão. Trad. portuguesa de Manuel Braga da Cruz. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, [s.d.], p. 182ss. O arcebispo Lercaro propusera a pobreza como tema maior do Concílio, apelando, entre o mais, a uma redução do esplendor dos bispos e à limitação dos bens materiais da Igreja: cf. Antoine Wenger – Diário do Concílio. A primeira sessão. In A Igreja do

Presente e do Futuro. História do Concílio Ecuménico Vaticano II. Vol. I. Pref. D. Manuel Gonçalves Cerejeira.

Dir. D. António Ribeiro e Manuel da Silva Costa. Lisboa: Editorial Estampa, [s.d.], p. 124. Essa ideia foi resumida, na Aula Conciliar, por Sebastião Soares de Resende, ao afirmar que pretendia «não apenas uma Igreja dos pobres mas também uma Igreja pobre»: cf. Norman Tanner – La chiesa nelle società: ecclesia ad

extra. In Storia del Concilio Vaticano II. Vol. 4: La chiesa come comunione. Il terzo periodo e la terza interses- sione, settembre 1964-settembre 1965. Dir. Giuseppe Alberigo. Milão: Società Editrice Il Mulino, 1999, p. 315

e, sobre a intervenção de Lercaro, p. 411ss. Fala-se mesmo de um «despojamento» da Igreja, com amplas citações do Cardeal Lercaro: cf. Maria de Fátima Moreira – A Igreja Serva no Concílio Vaticano II e em Paulo

VI e perspectivas teológicas fundamentais. Salamanca: Universidad Pontifícia de Salamanca-Facultad de

Teología, 2007, p. 30ss. Tal conduziu a uma radicalização da exigência de transformação da Igreja, procla- mando-se que a mesma tinha com urgência de «separar-se dos poderosos», «renunciar a posições de poder», «romper com a clássica aliança entre altar e trono» e entre «altar e capital»: cf. Jules Girardi – Cristianismo

y Liberación del Hombre. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1973, p. 109. A este propósito, alude-se a uma

«Igreja rica, comprometida com os ricos» e a uma «Igreja adormecedora»: cf. Ronaldo Muñoz – Nova

Consciência da Igreja na América Latina. Petrópolis: Editora Vozes, 1979, p. 180ss. Outros referem-se aos

pobres como «sujeito histórico salvífico», cf. Adolfo González Montes – Teología Política Contemporánea.

Historia y Sistemas. Salamanca: Universidad Pontificia de Salamanca, 1995, p. 257ss. Outros ainda propõem

uma revisão da história da conquista das Américas no âmbito da qual o ouro surge como um «mediador do Evangelho»: cf. Gustavo Gutiérrez – Dios o el Oro de las Indias. Siglo XVI. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1989, em esp. p. 101ss. Há quem sustente que a noção de «Igreja dos pobres» tem antecedentes no movi- mento francês dos «padres operários», bem como no movimento Les Compagnons de Jésus Charpentier, lançado na Palestina sob a protecção da Igreja melquita e do seu Patriarca Máximo IV: cf. Hilari Raguer –

Réquiem por la Cristandad. El Concilio Vaticano II y su impacto en España. Barcelona: Ediciones Península,

2005, p. 159ss. O grande expoente no Concílio da noção de «Igreja dos Pobres» seria, como se sabe, D. Hélder Pessoa Câmara, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, nomeado em 1964 arcebispo de Olinda e Recife. As sequelas da linha «Igreja dos Pobres», sobretudo na América Latina, são bem conhecidas e encontram-se tão enraizadas que alguns se interrogam se a Igreja não deverá também evangelizar os ricos. Cf. Leonardo Boff – A Vida Religiosa e o Processo de Libertação. 2ª ed. Petrópolis-Rio de Janeiro: Editora Vozes-Conferên- cia de Religiosos do Brasil, 1976, p. 54ss. Entre a vastíssima bibliografia, numa aproximação mais genérica, ainda que com especial incidência na situação francesa, cf. Alain Durand – La Cause des Pauvres. Société,

éthique et foi. Paris: Les Éditions du Cerf, 1991, que considera que o conceito de «pobre» implícito na noção

de «Igreja dos pobres» é demasiado restritivo (p. 61). Cf. ainda, entre a vastíssima bibliografia, Giorgio Campanini − La Fatica del cammello. Il cristiano tra ricchezza e povertà. Milão: Edizioni San Paolo, 2002. Deve ter-se igualmente presente o cruzamento entre essa noção e a nova abordagem da realidade missioná- ria, à qual, reconheça-se, não foi alheio o influxo do terceiro-mundismo militante, nomeadamente nas organizações de leigos: entre as obras da época, cf., por ex., da autoria de um dos promotores do conceito de «Igreja dos pobres» no Concílio, Monsenhor Mercier e M.-J. Le Guillou – Mission et Pauvreté. L’heure de

la mission mondiale. Paris: Éditions du Centurion, 1964. Note-se, todavia, que muitos rejeitaram uma con-

cepção «operariista» da pobreza, nos termos da qual a mensagem evangélica fosse identificada com a defesa de uma classe social: cf. Jean Daniélou – Evangelho e Mundo Moderno. Pequeno tratado de moral para uso

dos leigos. Lisboa: Sampedro Editora, 1967, em esp. p. 87; Le Chrétien et le Monde Moderne. Tournai: Desclée



acaso, o Cardeal Lercaro, em visita a Lisboa, proferirá uma conferência que será decisiva para o futuro do Movimento de Renovação da Arte Religiosa, enaltecendo o conceito de «centro comunitário» ou «centro paroquial» como exemplo mais acabado de uma Igreja aberta às populações e orientada para servir as suas neces- sidades. No fundo, como exemplo mais acabado de uma «Igreja serva e pobre», para usar o título de um famoso livro de Congar, publicado em 1963, de uma Igreja despojada do seu «ar senhorial», que só dessa forma conseguiria armar-se convenientemente para combater o marxismo e o comunismo.

Haveria que ser «honesto com Deus», retomando o título de outro livro saído nesse ano de 1963, o celebérrimo Honest to God, de John A. T. Robinson. Mas, na linha do existencialismo, considerava-se que essa honestidade ordenada ao divino começava por uma honestidade consigo mesmo, o que implicava uma «libertação» relativamente à «dominação dos outros». Só assim, em condições de simplicidade e de autenticidade, uma paróquia poderia converter-se numa «comunidade», sendo algo mais do que um mero aglomerado de fiéis que se encontravam esporadica- mente nas celebrações litúrgicas dominicais. A pobreza era a «distinção decisiva, desde o começo, entre os que podem ser cristãos e os que não o podem ser». A Igreja daria, pois, o seu contributo para vencer a pobreza, tomando os desfavore- cidos como sua «opção preferencial». As ideias de verdade e, para usar a expressão da época, de «autenticidade» adquirem uma dimensão pessoal (do ponto de vista de uma fé construída dialogicamente com o «outro») mas também uma dimensão eclesiológica.