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1.   FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 8

1.2   Panorama das mudanças ocorridas com relação ao papel da gramática 18

1.2.3   Abordagens com foco na comunicação 29

1.2.3.2   Abordagem Comunicativa 32

Tendo em vista os aspectos envolvidos no conceito de competência comunicativa, é preciso pensar acerca das características da abordagem comunicativa. Segundo Richards e Rodgers (2001), o objetivo dessa abordagem é o desenvolvimento da competência comunicativa; além disso, é preciso estimular o ensino das quatro habilidades (fala, escrita, leitura e compreensão auditiva) e a relação entre língua e comunicação. Dessa forma, tem-se a visão de língua sob a perspectiva comunicativa:

1. Língua é um sistema para expressão de significado.

2. A principal função da língua é permitir interação e comunicação.

3. A estrutura da língua reflete seus usos funcionais e comunicativos.

4. As unidades principais da língua não são apenas

características gramaticais e estruturais, mas categorias de significado comunicativo e funcional como exemplificado no discurso.

(RICHARDS e ROGERS, 2001, p. 161)33

Tomando por base os estudos de Brown (2000) e Larsen-Freeman e Anderson (2011), apresentamos os princípios fundamentais da abordagem comunicativa:

1. Utilização de material autêntico, para que os aprendizes estejam envolvidos com uso pragmático, funcional e significativo da língua.

2. Aulas conduzidas na língua-alvo, pois ela representa um meio para comunicação, não apenas objeto de estudo.

3. Ênfase no processo de comunicação e não apenas no domínio de formas linguísticas. Fluência e acuidade são vistos como complementares.

4. Os aprendizes devem ter oportunidades para expressar suas ideias, opiniões, e se engajar em comunicações autênticas.

5. Erros são tolerados e encarados com naturalidade, uma vez que fazem parte do processo de aprendizagem de uma língua.

6. O professor é visto como facilitador.

7. Uso de jogos, músicas, role-plays para motivar os alunos. Trabalhos em pares ou grupos também são estimulados, de forma que os alunos interajam de maneira colaborativa e tenham oportunidade de negociarem significado.

Embora seja possível identificar princípios da Abordagem Comunicativa, não há uma série de técnicas e procedimentos a serem utilizados, como os disponíveis no método da gramática e tradução e no método áudio-lingual. Nassaji e Fotos (2011) afirmam que alguns modelos de implementação dessa abordagem foram propostos, sendo esses diferentes com relação à ênfase dada (ou permitida) ao foco na forma. Embasados em Howatt (1984), os autores descrevem as duas versões dessa abordagem: o comunicativo rígido (strong) e o comunicativo fraco (weak).

Para a versão mais rígida, a língua deve ser aprendida por meio da comunicação, com atividades com foco exclusivo no sentido. Modelos relacionados a essa versão são os nocionais-funcionais e o ensino baseado em tarefas (task-based), apesar de, nessa última proposta, autores incluírem o foco em estruturas linguísticas. Por outro lado, na variante fraca, os alunos aprendem a língua de maneira mais controlada, ou seja, há espaço para foco na

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1. Language is a system for the expression of meaning. 2. The primary function of language is to allow interaction and communication. 3. The structure of language reflects its functional and communicative uses. 4. The primary units of language are not merely its grammatical and structural features, but categories of functional and communicative meaning as exemplified in discourse.

forma em contextos comunicativos. Dada a exclusão do papel da gramática na perspectiva do comunicativo rígido, essa prática pode ser associada ao que Batstone (1994) nomeou ensino de gramática como processo.

Entretanto, esse tipo de ensino pode apresentar falhas para o desenvolvimento da interlíngua do aprendiz, que pode não atingir altos níveis de acuidade. Batstone afirma que o modelo de gramática como processo não prevê qual linguagem será utilizada pelo aprendiz. Assim, não há previsão do conteúdo gramatical a ser acessado, uma vez que o foco está na comunicação. Dessa maneira, é possível que o aluno internalize uma língua precária, já que estará exposto à língua dos colegas de classe sem um planejamento do conteúdo linguístico a ser desenvolvido, como ressalta o autor:

Com o surgimento da metodologia comunicativa no final dos anos 70, o papel da instrução gramatical na aprendizagem de segunda língua foi deixado de lado, e foi ainda sugerido que o ensino de gramática não era somente inútil como também poderia, na verdade, ser prejudicial. No entanto, pesquisas recentes34 demonstram a necessidade de instrução formal para os aprendizes atingirem altos níveis de acuidade. Isso levou a um ressurgimento do ensino de gramática, e seu papel na aquisição de segunda língua tornou-se o foco da investigação atual. (BATSTONE, 1994, p. 126) 35

Conforme defendido pelo autor e demais estudiosos (SCHMITZ, 2007; NASSAJI e FOTOS, 2011), com o desenvolvimento da abordagem comunicativa, o papel da gramática foi diminuído e muitos professores passaram a evitar o ensino da mesma. No entanto, pesquisas contemporâneas ressaltam que é preciso focar na forma, pois a falta de atenção à gramática pode prejudicar a acuidade no uso do idioma, ou seja, o aprendiz pode ser capaz de se comunicar, mas pode não atingir níveis mais elevados de proficiência linguística. Não se trata, portanto, de abandonar, mas redimensionar a função da gramática, como nos lembra Almeida Filho (2007, p. 41): (...) a gramática como a conhecemos e praticamos no dia-a-dia escolar

das línguas precisa ter seu papel redimensionado, agora subordinado às necessidades de ou interesse pelo uso comunicativo da língua-alvo.

Concordamos com a afirmação do autor, pois é preciso resgatar a função da gramática e rever maneiras apropriadas de ensiná-la. No entanto, em nossa compreensão, a gramática não deve ser subordinada ao uso comunicativo; ela deve interagir com a comunicação, uma

34 Esclarecemos que “recentes” nesse trecho se refere a 1994.

35 With the rise of communicative methodology in the late 1970s, the role of Grammar instruction in second

language learning was downplayed, and it was even suggested that teaching Grammar was not only unhelpful but might actually be detrimental. However, recent research has demonstrated the need for formal instruction for learners to attain high levels of accuracy. This has led to a resurgence of grammar teaching, and its role in second language acquisition has become the focus of much current investigation.

vez que não se trata de atribuir papéis principais, mas reconhecer a importância de integrar