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1.   FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 8

1.2   Panorama das mudanças ocorridas com relação ao papel da gramática 18

1.2.2.   Métodos com foco exclusivo na gramática 22

1.2.2.1   Método da gramática e tradução 23

De acordo com Celce-Murcia (2001), durante muito tempo, aprender uma língua foi tido como sinônimo de aprender a gramática dessa língua. Por conseguinte, muitos cursos e materiais foram desenvolvidos a partir de conteúdos gramaticais. Rutherford (1987) também ressalta que um dos motivos do predomínio da gramática foi a importância atribuída ao conhecimento gramatical na Filosofia (ramo da Teologia), Medicina e Direito no período da Idade Média. O autor afirma que o objetivo do ensino de línguas nessa época era o desenvolvimento da retórica e nos lembra que muitas disciplinas eram divididas em pares, tais como Psicolinguística e Psicolinguística Aplicada. No entanto, o estudo da gramática não continha a outra parte, a “aplicada”.

Como muitos estudiosos apontam, lembramos que aprender línguas nesse período estava relacionado a aprender latim, e saber essa língua era equacionado a saber sua gramática. Rutherford (1987) chama a atenção para a superioridade do latim e o movimento da “gramática universal” que surgiu com base nos estudos gerativistas, transformando a gramática do latim como modelo para a aprendizagem da gramática de qualquer outra língua. Foi nesse contexto que o Método Gramática e Tradução começou a ser praticado, pautando-se no pressuposto de que era preciso traduzir a língua já conhecida, isto é, a primeira língua, para a língua a ser aprendida. Dessa forma, com a ascendência da gramática

e tradução no século XVIII surgiram as primeiras descrições de línguas expressivas para os

aprendizes, ou as primeiras ‘gramáticas pedagógicas’21 (RUTHERFORD, 1987, p. 29).

Larsen-Freeman e Anderson (2011) destacam que esse método também foi conhecido como Método Clássico, tendo sido aplicado para o ensino de grego e latim. O objetivo desse modelo era incentivar os alunos a apreciarem a literatura daquela língua, uma vez que os textos traduzidos eram de cunho literário. Além disso, acreditava-se que ao estudar a gramática da língua estrangeira, os alunos também apresentariam melhoras em sua primeira língua. A autora afirma que os alunos poderiam não usar de fato a língua-alvo, mas havia o pressuposto de que aprender uma língua estrangeira era benéfico, pois contribuía para seu desenvolvimento intelectual.

21No original: And with the ascendancy of grammar-translation in the eighteenth century came the first language

Segundo Larsen-Freeman e Anderson (2011)22, as principais técnicas utilizadas nesse método eram a tradução de trechos literários, memorizações, exercícios de preencher as lacunas e apresentação de regras gramaticais de maneira dedutiva. Vale lembrar que a comunicação não estava em foco e o professor era visto como autoridade na sala de aula, cabendo a ele corrigir os erros dos aprendizes, havendo pouca interação aluno-aluno.

Como podemos perceber, no método tradicional, o papel da gramática era fundamental para o ensino de línguas, pois acreditava-se que saber uma língua era saber a gramática. Nos dias atuais, pesquisas apontam a lacuna desse método com relação à comunicação, destacando que saber gramática é apenas um dos componentes de saber uma língua.

De acordo com Brown (2000, p. 16), apesar das críticas, o Método Gramática e Tradução ainda é popular por exigir poucos conhecimentos especializados por parte do professor. O autor acrescenta que provas que testam conhecimentos gramaticais e tradução são fáceis de ser elaboradas e corrigidas. Richards e Rogers (2001) também chamam atenção para o fato desse método não exigir muito preparo do professor, uma vez que praticamente não é preciso saber falar a língua-alvo. Para os autores, muitos dos textos contemporâneos na área de ensino-aprendizagem envolvem os princípios desse método. Isso se deve ao fato desses textos serem produzidos por pessoas da área de literatura e não da área de ensino- aprendizagem de línguas ou Linguística Aplicada. No entanto, não encontramos defensores desse método ou teorias e estudos que o justificam, conforme ressaltam os autores:

Consequentemente, embora seja verdade dizer que o Método da Gramática e Tradução ainda seja praticado, não há defensores. É um método para o qual não há teoria. Não há literatura que ofereça uma racionalidade ou justificativa para ele ou que tente relacioná-lo aos problemas em linguística, psicologia ou teoria educacional (RICHARDS e ROGERS, 2001, p. 7). 23

Embora os autores tenham feito essas constatações em 2000 e 2001 (sendo que a primeira edição das obras foi 1980 e 1986 respectivamente), ponderamos que essa afirmação ainda é válida nos dias atuais. Julgamos que, em muitos contextos de ensino-aprendizagem de inglês, o método da gramática e tradução seja adotado não por falta de competência

22O livro “Techniques & Principles in LanguageTeaching”, de Diane Larsen-Freeman e Marti Anderson,

apresenta a descrição detalhada dos métodos e abordagens discutidos neste trabalho. Como esse não é o foco deste estudo, limitamo-nos a apresentar resumidamente os princípios e técnicas mais relevantes de cada modelo.

23

No original: Consequently, though it may be true to say that the Grammar-Translation Method is still widely practiced, it has no advocates. It is a method for which there is no theory. There is no literature that offers a rationale or justification for it or that attempts to relate it to issues in linguistics, psychology, or educational theory.

linguística do professor ou pela facilidade de sua aplicação, mas por se tratar de uma tradição marcante nesse cenário, conforme observamos na afirmação de Almeida-Filho (2007, p. 19):

A grande maioria das classes de língua estrangeira nas escolas públicas, que equivale à base de sustentação profissional na área de ensino, e praticamente todos os livros didáticos nacionais à venda no momento enfatizam a aprendizagem consciente das formas da língua combinada com exercícios de automatização de modelos.

Muitas gerações estudaram inglês na escola regular (pública e privada) por meio desse método, servindo de base para o fraco argumento de que “é assim que tem sido feito por muito tempo”. Dessa forma, certos professores se acomodam com essa situação e não percebem maneiras de mudar essa realidade. Alguns por realmente não conhecerem outras maneiras de ensinar gramática, por não terem acesso a estudos contemporâneos sobre esse tema durante a formação docente e outros, por simplesmente serem condescendentes com a situação, seguindo a tradição de ensinar gramática por meio de tradução (LEFFA, 1988; MARGONARI, 2004; SILVEIRA, 2004; ALMEIDA-FILHO, 2007; SOUZA, 200724) e outros pela falta de material didático.

Passamos agora a discutir os métodos que surgiram em resposta à gramática e tradução, especialmente o método áudio-lingual devido à sua expressividade na área de ensino-aprendizagem de línguas, sobretudo no contexto brasileiro.