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2.   METODOLOGIA 69

2.1   Natureza da pesquisa 69

Com o intuito de seguirmos a afirmação de Larsen-Freeman e Long (1991) acerca da sistematicidade de um estudo, passamos a refletir sobre o percurso metodológico mais pertinente a este trabalho, posto que, de acordo com esses autores, é preciso que haja um desenho bem planejado da pesquisa. Assim, retomamos as perguntas de pesquisa que nortearam esta investigação e, na sequência, apontamos as razões que nos levaram a selecionar o paradigma qualitativo de cunho interpretativista como guia deste estudo.

1. Que características da cognição de professores recém-formados sobre o ensino- aprendizagem de gramática da língua inglesa são verificadas em sua prática docente?

2. Que relação pode ser estabelecida entre o contexto de atuação, a cognição e a prática docente?

Como o foco deste trabalho incide em investigar a cognição relatada dos participantes, sua prática docente e influência do contexto de atuação em relação ao ensino-aprendizagem de LI, adotamos a metodologia de natureza qualitativa. Julgamos essa abordagem a mais adequada aos nossos objetivos, visto que o intuito é entender e interpretar os dados seguindo os pressupostos desse paradigma, de acordo com a definição genérica proposta por Denzin e Lincoln (2006, p. 17):

(...) a pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o observador no mundo. Consiste em um conjunto de práticas materiais e interpretativas que dão visibilidade ao mundo. Essas práticas transformam o mundo em uma série de representações, incluindo as notas de campo, as entrevistas, as conversas, as fotografias, as gravações e os lembretes. Nesse nível, a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem naturalista, interpretativa, para

o mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas em seus cenários naturais, tentando entender, ou interpretar, os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem.

Da mesma forma, Bogdan e Biklen (1992) afirmam que a pesquisa qualitativa privilegia a compreensão dos comportamentos de acordo com a perspectiva dos participantes de pesquisa. Dessa maneira, acreditamos que essa abordagem esteja adequada ao nosso estudo, uma vez que pretendemos compreender a visão dos professores-participantes sobre o ensino-aprendizagem de gramática e sua prática.

Ressaltamos a escolha da abordagem qualitativa de base interpretativista pautando-nos no foco deste trabalho que é investigar o processo e não apenas o produto final ou resultado de um experimento. Ianuskiewtz (2010), baseada em Triviños (1987), destaca que nesse paradigma os significados e a interpretação surgem da percepção do fenômeno analisado (p.

39). Bortoni-Ricardo (2008, p. 32) também nos lembra que no paradigma interpretativista não há como observar o mundo independentemente das práticas sociais e significados vigentes.

Vale elucidar que na abordagem qualitativa, há uma visão holística dos dados, conforme define André (2008, p. 17):

[A pesquisa é ] qualitativa porque se contrapõe ao esquema quantitativista de pesquisa (que divide a realidade em unidades passíveis de mensuração, estudando-as isoladamente), defendendo uma visão holística dos fenômenos, isto é, que leve em conta todos os componentes de uma situação em suas interações e influências recíprocas.

Segundo Allwright e Bailey (1991), alguns conceitos advindos da pesquisa experimental, ou seja, de base positivista, ainda são usados nos estudos qualitativos para julgar a legitimidade da pesquisa, sendo eles: confiabilidade, validade e generalização. De acordo com Reis (2006), a confiabilidade está relacionada à consistência e replicabilidade do estudo que faz uso de instrumentos de mensuração precisos. Brown (2004) explica que um instrumento é consistente, e portanto confiável, quando é aplicado em um contexto distinto e permite a obtenção de resultados semelhantes. Já a validade é compreendida como a

capacidade de controlar, de reproduzir, de prever, de gerar leis universais sobre o comportamento humano, de subtrair-se – como pesquisador – do contexto, de submeter os dados à randomização e observação (REIS, 2006, p. 103). A generalização, por sua vez,

refere-se à aplicabilidade dos resultados em outros contextos.

Para Reis (op. cit.), os critérios positivistas usados para julgar as pesquisas na área das ciências “duras” têm sido revisados e discutidos no campo das ciências sociais. A autora

argumenta que o construto da generalização, por exemplo, não tem fundamento no paradigma qualitativo, pois vai de encontro às premissas dessa abordagem que visa a compreender situações únicas e não replicáveis. A noção de confiabilidade também não se aplica aos estudos de cunho qualitativo, sendo que o foco desses incide na interpretação e não na reprodução. Do mesmo modo, a ideia de validade remete aos estudos positivistas, devido à

necessidade de minimizar a imprecisão dos resultados (validade interna), bem como de conectá-los para além dos limites do contexto e situação investigados, i.e., generalização (validade externa) (p. 105). É no sentido de refutar os parâmetros positivistas que estudiosos

no âmbito da pesquisa qualitativa interpretativista têm usado o critério de credibilidade ou autenticidade, definido por Reis (2006, p. 105 – 106, pautada em LINCOLN e GUBA, 2000) como:

Um critério segundo o qual um relato de pesquisa pode ser considerado justo, por equilibrar as visões, perspectivas, questões e vozes de todos os envolvidos; por elevar o nível de conscientização dos participantes da pesquisa, primeiramente, e, posteriormente, daqueles com quem têm contato; e por provocar ação por parte dos participantes da pesquisa e o envolvimento do pesquisador em formas específicas de educação para ação social e política dos participantes, se assim estes desejarem.

Julgamos que o critério de credibilidade seja bastante pertinente ao escopo desta pesquisa, no sentido em que almejamos investigar as visões dos participantes sobre o ensino- aprendizagem de gramática, levando em consideração suas perspectivas e ações. Não pretendemos estabelecer relações de conscientização e/ou mobilização por parte dos participantes, mas estamos cientes de que eles podem ser influenciados por este trabalho.

Tendo em vista a solidez da pesquisa, visando a assegurar sua credibilidade, defendemos que os dados sejam triangulados, ou seja, que dois ou mais instrumentos e procedimentos sejam empregados na coleta e análise dos dados. Reis (2006) nos lembra que a triangulação na pesquisa qualitativa é válida quando o propósito do pesquisador é aprofundar suas interpretações e expandir sua compreensão acerca do fenômeno estudado. Os instrumentos e procedimentos utilizados neste estudo estão descritos no próximo item deste capítulo.

Concluímos que esta pesquisa é qualitativa de base interpretativista. Este estudo é também de cunho etnográfico, tendo em vista o contexto da pesquisa, os procedimentos de coleta de dados e as interpretações à luz da pesquisa qualitativa etnográfica, visando a atender aos pressupostos mencionados por Moita Lopes (1996, p.88):

A etnografia na sala de aula é uma DESCRIÇÃO narrativa dos padrões característicos da vida diária dos participantes sociais (professores e alunos) na sala de aula de línguas na tentativa de compreender os processos de ensinar/aprender línguas. Para fazer este tipo de pesquisa é necessário participar na sala de aula como observador participante, escrever diários, entrevistar alunos e professores, gravar aulas em áudio e vídeo etc. [...]

Vale ressaltar que as metodologias das investigações etnográficas diferem dos estudos de natureza etnográfica que não abarcam todos os elementos da primeira. André (2008) esclarece que, para os antropólogos, pesquisa etnográfica está relacionada ao estudo da cultura e da sociedade, ou seja, o interesse primordial dos etnógrafos é descrever a cultura de determinado grupo social. Para que isso seja feito, é necessário que o pesquisador permaneça um longo tempo em campo, estabelecendo contato com outras culturas, o que não ocorre nas pesquisas de cunho etnográfico na área da Educação e Linguística Aplicada. Assim, a autora argumenta que trata-se de uma adaptação desse tipo de pesquisa, pois fazemos estudos do tipo

etnográfico e não etnografia no seu sentido estrito”. (ANDRÉ, 2008, p. 28)

Em consonância com a perspectiva de André, Ducatti (2010) destaca que a centralidade dos procedimentos de base etnográfica está no ponto de vista dos participantes

da pesquisa, suas crenças, valores, expectativas, sentimentos, além da consideração do contexto educacional como um todo (p. 29). Salientamos que esses fatores vão ao encontro de

nossos objetivos e, por isso, os julgamos pertinentes à metodologia desta pesquisa. Passamos à apresentação dos instrumentos e procedimentos utilizados na coleta e análise de dados deste estudo.

2.2 Instrumentos e Procedimentos para Coleta e Análise de Dados

Tendo em vista a necessidade de triangulação dos dados da pesquisa, utilizamos os instrumentos e procedimentos que estão descritos no quadro a seguir. Neste subitem, detalharemos a escolha desses instrumentos e como eles auxiliaram a coleta de dados deste trabalho.