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A Abordagem Instrumental no Brasil

SEÇÃO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O ensino-aprendizagem de Inglês para Fins Específicos

2.1.3 A Abordagem Instrumental no Brasil

Como já citado previamente, nesta pesquisa, o foco principal será a Abordagem Instrumental no Ensino Superior. Consequentemente, será relatado o surgimento de cursos de Línguas para Fins Específicos (doravante LinFE)6 no Brasil, que ocorreu na década de 1970, além de como as aulas são ministradas até os dias de hoje, analisando as representações de seus professores em relação à disciplina Inglês Instrumental.

Sobre a chegada de LinFE no Brasil, não poderia deixar de relacionar seu surgimento e desenvolvimento à professora Maria Antonieta Alba Celani, que coordenava o curso de Mestrado em Linguística Aplicada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) à época e deu início ao desenvolvimento de um projeto nacional com foco em ESP: o Projeto Nacional Ensino de Inglês Instrumental em Universidades Brasileiras (doravante Projeto ESP).

6 Utilizo, neste trabalho, a abreviação LinFE – cunhada pelo grupo de pesquisa GEALIN em 2010 – para me referir a Línguas para Fins Específicos.

Celani (2009, p.17) relata que o Projeto ESP foi amplamente discutido e avaliado em Celani et al. 1988; Celani, 1996; Celani et al. 2005; Holmes e Celani, 2006; e Celani, 2008.

Segundo Ramos (2009a, p.36), o Projeto ESP foi o “marco inicial do ensino- aprendizagem de inglês instrumental no país”, e a PUC-SP foi a instituição responsável pela implantação do projeto e pela difusão da abordagem em nível nacional.

Celani (2005, p.14) afirma que a necessidade de um centro de especialização relacionado à formação de professores e ao ensino de ESP tornou-se evidente no final da década de 1970. A autora explica que um grande número de professores universitários de diversas partes do Brasil que estava realizando Mestrado no Programa de Pós-graduandos em Linguística Aplicada e Ensino de Línguas (LAEL), na PUC-SP, expressava as dificuldades que encontrava em oferecer cursos especializados de inglês em suas universidades. Além da dificuldade encontrada, ESP era considerado pelos professores uma atividade “menos nobre do que ensinar Inglês e Literatura em curso superior de Letras” (CELANI, 2005, p.14).

De acordo com Celani (2005, p.14), diante da forte pressão da demanda de cursos de ESP na época, o LAEL decidiu planejar o desenvolvimento de um projeto em nível nacional. Para tanto, o programa contou com o auxílio e expertise do professor visitante Maurice Broughton, especialista em ensino de ESP, do Conselho Britânico.

Segundo Celani et al. (1988), os anos entre 1978 e 1980 foram denominados Fase I. Nessa fase, a autora relata que, com a parceria de Maurice Broughton e Antonieta Celani, vinte e seis universidades brasileiras foram visitadas a fim de pesquisar o interesse e a necessidade de um projeto nacional.

Já a Fase II, Celani (2005, p.15) afirma que foi marcada pelo suporte financeiro dado pelo British Overseas Development Administration. Três professores especialistas no ensino de ESP do Key English Language Teaching Specialists (KELTS) passaram a fazer parte do projeto para contribuir no desenvolvimento de pesquisas, na atualização de professores e na produção de materiais: Tony Deyes, John Holmes e Mike Scott. A autora relata que o Projeto iniciou com “força total”, ao final do ano de 1980, com a vida dos especialistas.

Celani (2009, p.19) relata que os professores Deyes e Holmes permaneceram no LAEL: Deyes engajou-se no Programa de Mestrado e Holmes envolveu-se em seminários locais nas regiões norte-nordeste e centro-oeste. O professor Scott ficou responsável pela região sul e engajou-se no Programa de Pós- graduação da Universidade Federal de Santa Catarina.

De acordo com Holmes e Celani (2006, p.112), durante o primeiro Seminário Nacional, foram tomadas decisões sobre quais rumos o Projeto ESP iria seguir. Segundo os autores, dentre as decisões tomadas, aquelas em relação à metodologia do Projeto foram de suma importância para sua realização e sustentabilidade. As decisões tomadas encontram-se listadas a seguir:

 nenhum livro didático seria produzido, central ou nacionalmente;  nenhuma metodologia já existente seria utilizada;

 a produção de material didático seria baseada nas pesquisas locais;  nenhum par individual seria identificado ou treinado;

 um centro de comunicação seria estabelecido;

 o Projeto seria aberto para admissão de outras instituições ou indivíduos;

 não haveria ansiedade em relação a obtenção de um centro de apoio junto ao Ministério da Educação.

Ramos (2009a) afirma que o Projeto foi executado entre 1980 e 1990, e tinha como objetivo:

[...] o aprimoramento do uso de inglês por pesquisadores brasileiros, professores de diferentes áreas de especialidades e técnicos, principalmente no que dizia respeito à leitura de materiais das respectivas áreas (RAMOS, 2009a, p.36).

A autora explica que a capacitação de docentes de inglês que trabalhavam em universidades e escolas técnicas federais era necessária para que o objetivo fosse alcançado. Ramos (2009a, p.36) afirma que essa capacitação consistia em ensino de

compreensão escrita por meio do ensino de estratégias e textos autênticos, estratégia bastante incomum na época.

Ramos (2009a, p.37) cita marcos importantes na Fase II do Projeto ESP, como a criação das publicações Working Papers, Resource Packages, Newsletter e the

ESPecialist. A autora explica que os dois primeiros tipos de publicações designavam-se

a auxiliar a capacitação docente e a produção de materiais. A terceira publicação,

Newsletter, servia de fonte mensal de informação para as universidades e escolas

técnicas que estavam aliadas ao Projeto. Ramos (2009a, p.38) ressalta que apenas a publicação the ESPecialist teve continuação e tornou-se o único periódico do país a tratar do assunto até os dias de hoje.

De acordo com Ramos (2009a, p.38), outro marco importante da Fase II do projeto foi a criação de um centro de recursos – CEPRIL (Centro de Pesquisas, Recursos e Informação em Leitura) –, que, segundo a autora, tinha como objetivo:

[...] servir como centro difusor de comunicação entre as inúmeras instituições participantes, fornecendo materiais de apoio, disseminando materiais, auxiliando na produção de materiais e fornecendo feedback para os produtores de materiais (RAMOS, 2009a, p.38).

Celani (2005, p.16) afirma que o objetivo principal da integração, da elaboração de materiais e do desenvolvimento de professores, especialmente na fase inicial do Projeto, era compreender e por em prática uma abordagem mais focada no uso efetivo de estratégias de leitura, e não, simplesmente, o ensino de gramática e vocabulário. A autora reitera que a habilidade de compreensão de leitura havia sido identificada como a principal necessidade apontada nas universidades de todo país.

Sendo a habilidade de compreensão de leitura identificada como a de maior necessidade na época, foi, obviamente, a mais utilizada nas universidades do Brasil. Ramos (2005, p. 115) afirma que a habilidade de leitura, o ensino estratégico e a leitura de textos autênticos foram priorizados no Projeto com o intuito de capacitar os professores a “aprender a ensinar a compreensão escrita”.

Sobre a metodologia, a autora relata que o uso da língua materna passou a ser adotado, o que, no auge da era construtivista e do audiolingualismo, era tido como

incomum. Ramos (2005, p.115) afirma que o grande desafio do Projeto era “implantar o ensino de uma única habilidade, em detrimento do ensino de quatro habilidades, vigentes na ocasião”.

Em razão dessa grande demanda, o Inglês Instrumental ficou conhecido pelos mais leigos como inglês para leitura até os dias de hoje. Esse mito e outros sobre a Abordagem Instrumental serão abordados na subseção seguinte.