• Nenhum resultado encontrado

Material didático de Inglês para Fins Específicos

SEÇÃO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 Material didático de Inglês para Fins Específicos

Antes de iniciar a discussão sobre material didático utilizado no ensino- aprendizagem de ESP, apresento algumas definições e discussões acerca da temática “material didático”.

Tomlinson (2001, p.66) conceitua o material didático como “qualquer coisa que pode ser utilizada para facilitar o aprendizado de uma língua”. O autor afirma que o material didático pode ser linguístico, visual, auditivo ou sinestésico e que pode ser apresentado em fita cassete, CD-ROM, DVD, impresso, com o auxílio da internet e por meio de performances ao vivo.

De acordo com Tomlinson (2001, p.66), o material didático pode ser classificado como:

 instrucional: no sentido de trazer informação sobre a língua para o aluno;  empírico: em que o aluno é exposto à língua em uso;

 elucidativo: por meio do qual se estimula o uso da língua;  exploratório: por buscar descobertas sobre o uso da língua.

Dudley-Evans e St. John (1998, p.170) apresentam quatro razões significativas para usar material didático no contexto de ensino-aprendizagem de ESP. A primeira razão refere-se ao fato de o material didático ser uma fonte de língua para o aluno. Os autores explicam que, muitas vezes, quando a língua inglesa é tida como língua estrangeira para o aluno, a sala de aula de ESP é sua única fonte de contato com essa língua. Portanto, o material didático tem o papel crucial de expor o aluno à linguagem real, do modo como é utilizada.

A segunda razão, de acordo com os autores, consiste em utilizar o material didático como um suporte de aprendizagem. Assim, o material deve ser confiável, consistente e ter padrões reconhecíveis. Dudley-Evans e St. John (1998, p.170) argumentam que, para haver melhora na aprendizagem, o aluno precisa ter noção de seu progresso. Além disso, o material deve levá-lo não só a utilizar a língua mas também a pensar sobre ela, e as atividades devem estimular seu processo cognitivo, e não o mecânico.

Estímulo e motivação fazem parte da terceira razão. Para que o aluno seja motivado e estimulado, as atividades presentes no material devem desafiá-lo, mas, ao mesmo tempo, sua realização tem de ser possível. Segundo Dudley-Evans e St. John

(1998, p.171), o material deve oferecer novas ideias e informações que estejam relacionadas e sejam familiares ao conhecimento e à experiência prévia do aluno.

A última razão exposta pelos autores refere-se ao material didático como referência para o aluno. Para que o aluno possa estudar por conta própria, o material deve ser completo, bem estruturado, autoexplicativo e apresentar exercícios, exemplos e atividades que tenham o gabarito de respostas e sua devida discussão. Dudley-Evans e St. John (1998, p.171) defendem a ideia de que o material deve apresentar diferentes estilos de aprendizagem para suprir as necessidades individuais de cada aluno.

Em pesquisa realizada por Holmes (1985, p.73), na década de 1980, para o Projeto ESP, foram constatados dois pontos principais que auxiliam os professores de LinFE a utilizar o material didático da melhor maneira possível.

O primeiro ponto, segundo o autor, é a coerência entre as unidades. Holmes (1985, p.73) afirma que, ao modelar um curso, é possível selecionar as unidades para que elas fluam de um objetivo ao outro de forma coerente. O autor acredita que, dessa maneira, o curso apresentará uma estrutura interna, e o material didático corresponderá ao desenho do curso.

O segundo ponto, exposto por Holmes (1985, p.74), é a coerência da unidade. O autor advoga que, ao longo da unidade, deve haver conexão entre os diferentes exercícios e atividades. Em outras palavras, o texto deve ser coerente ao objetivo da unidade, que, por sua vez, deve estar relacionado aos exercícios do texto. O autor ressalta que apenas utilizar um texto interessante não garantirá o alcance dos objetivos. Holmes (1985, p.74) afirma que, para preparar o material didático e utilizá-lo, o professor deve estar consciente de seus objetivos e das necessidades de seus alunos.

Já Hutchinson e Waters (1987, p.107) levantam uma relevante questão em relação ao material didático para ESP: “O que os materiais devem promover?” Ao responder à questão, os autores expõem seis princípios.

Segundo o primeiro princípio apresentado pelos autores, o material deve prover estímulos à aprendizagem, isto é, encorajar os alunos a aprender. Para tanto, o material deve conter textos interessantes, atividades que sejam prazerosas e promovam a capacidade de pensamento do aluno, oportunidades para que esse aluno

possa utilizar seu conhecimento prévio e suas habilidades, e um conteúdo com que professor e aluno sejam capazes de lidar.

De acordo com o segundo princípio, o material deve prover uma estrutura clara e coerente, de modo a guiar tanto professor quanto aluno durante o processo de ensino-aprendizagem. Assim, o aluno poderá fazer máximo proveito de seu aprendizado em diferentes atividades.

Já o terceiro princípio parte da premissa de que o material didático expressa a visão da natureza do aprendizado da língua. Sendo assim, o professor, ao elaborar o seu material, demonstra ao aluno o seu pensamento sobre em que consiste o aprendizado de uma língua. Portanto, segundo os autores, o material deve refletir exatamente o que o professor pensa e sente em relação ao processo de aprendizagem.

O quarto princípio, segundo advogam os autores, aponta que o material reflete a natureza da tarefa de aprendizagem. Assim, o material deve tentar criar um aspecto balanceado, que reflita a complexidade da tarefa e, ao mesmo tempo, faça com que ela pareça realizável.

De acordo com o quinto princípio, o material didático pode ser muito útil ao expandir a base de treinamento do professor, introduzindo-o a novas técnicas.

O sexto e último princípio deixa evidente a importância do material como modelo de uso correto e apropriado da língua, contanto que esse seja “um veículo de aprendizagem” do aluno e que o uso correto da língua não seja seu único propósito. (HUTCHINSON e WATERS, 1987, p.108).

Tomlinson (2001, p.67) afirma que há muitas controvérsias no campo de desenvolvimento de material didático. Na área de Inglês Instrumental, especificamente, uma questão é considerada pelo autor bastante polêmica: “Os textos devem ser pedagógicos ou autênticos?”.

Segundo o autor, textos formulados para fins pedagógicos, normalmente, são apresentados brevemente e com linguagem mais fácil ou em forma de diálogo. Os professores que se apresentam a favor do uso do texto pedagógico argumentam que esse tipo de texto ajuda o aluno a focar sua atenção no alvo estabelecido pelo exercício. Ao contra-argumentar, Tomlinson (2001, p. 68) afirma que o fato de esse tipo de texto ser produzido especificamente para o ensino de línguas superprotege o aluno

e não o prepara para a realidade da língua em uso. Em contrapartida, textos autênticos podem prover uma significante exposição à língua, por ser essa utilizada tipicamente.

Day (2004, p. 104), no entanto, afirma que a concepção de usar materiais autênticos a fim de preparar o aluno para o mundo real é equivocada, e sugere que essa área seja investigada por não haver nenhuma evidência que comprove tal concepção. O autor defende que o professor deve usar “materiais que sejam apropriados às habilidades linguísticas de seus alunos” (DAY, 2004, p.110).

Robinson (1991, p.54), por sua vez, afirma que autenticidade é particularmente relevante em ESP. Segundo a autora, material autêntico é aquele que foi originalmente produzido para qualquer propósito que não seja o de ensino- aprendizagem de língua. Robinson explana que há duas definições sobre o que contemplaria o material autêntico no contexto de ESP:

[...] num extremo, pode ser qualquer coisa que esteja ao alcance do professor de línguas, mas que não foi produzido para esse propósito; noutro extremo, particularmente relevante a ESP, será o material normalmente utilizado na área de especialização do aluno, tanto em contexto profissional ou acadêmico (ROBINSON, 1991, p. 54).

A autora defende que, em ESP, além do material autêntico, o professor deve considerar outros fatores em suas aulas, como, por exemplo, se as tarefas ou atividades propostas durante as aulas são de fato úteis à necessidade do aluno.

Para Basturkmen (2010, p. 62), o termo “textos autênticos” tem apenas uma definição: textos que foram produzidos para qualquer propósito que não esteja relacionado ao ensino-aprendizagem de língua. De acordo com a autora, textos autênticos desempenham um papel importante em ESP, ao demonstrar o uso “real” da língua. Porém, Basturkmen (2010, p.63) ressalta que encontrar um texto autêntico apropriado ao objetivo do aluno nem sempre é uma tarefa fácil, podendo ser muito complexa tanto linguisticamente quanto em termos de conteúdo. A autora alerta que, se a informação presente no texto for além do entendimento do aluno, poderá levá-lo à frustração, o que atrapalhará a efetividade do material.

Já para Dudley-Evans e St. John (1998, p. 28), um aspecto chave de autenticidade é o nível de exploração do texto selecionado para a aula, ou seja, um texto considerado genuíno para um grupo de alunos, não o será para outro grupo, proveniente de contexto diferente. De acordo com os autores, as atividades baseadas no texto devem refletir as atividades executadas pelos alunos no contexto real de trabalho ou estudo.

Nota-se que o quesito “autenticidade” é amplamente debatido na temática “material didático”. A questão de se utilizar ou não o texto autêntico no ensino- aprendizagem de ESP é contraditória para os autores mencionados. Entretanto, concordo com Hutchinson e Waters (1987, p. 159) ao defenderem que, ao invés de o professor questionar se um determinado texto é autentico ou não ao adotá-lo em suas aulas, esse deveria refletir acerca da seguinte questão: “Que papel eu quero que o texto exerça no processo de ensino-aprendizagem?”. Creio que, independentemente de ser pedagógico ou autêntico, o material didático deve exercer seu papel de modo a adequar-se às necessidades do aluno.

Assim, concluo esta subseção, que discutiu sobre o material didático utilizado no ensino-aprendizagem de ESP.

Na subseção seguinte, apresento o conceito de representações sociais e exponho discussões de diversos autores acerca desse conceito.