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O aluno de Inglês para Fins Específicos

SEÇÃO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 Professores e alunos de Inglês para Fins Específicos

2.2.2 O aluno de Inglês para Fins Específicos

Apesar de o papel do professor de ESP ser amplamente discutido, como exposto na subseção anterior, o aluno de ESP é pouco abordado na literatura. Nesta seção, apresento discussões concernentes ao aprendiz de ESP, com base em Scott (1984) e Schleppegrell e Bowman (1986).

Schleppegrell e Bowman (1986, p.4) afirmam que o aluno que frequenta as aulas de ESP possui foco específico para aprendizagem, conhecimento na área de

estudo e estratégias de aprendizagem bem desenvolvidas de adultos. As autoras advogam que o aluno deve “enfrentar a tarefa de desenvolver habilidades da língua inglesa para refletir no conhecimento e habilidades da sua língua nativa”.

Sobre foco específico para aprendizagem, as autoras explicam que o aluno de ESP tem propósito e foco específicos para aprendizagem. Schleppegrell e Bowman (1986, p.4) afirmam que as pessoas aprendem uma língua quando têm a oportunidade de entender e trabalhar a língua em um contexto que elas compreendam e achem interessante, e acreditam que ESP é um veículo que gera tal oportunidade. As autoras acrescentam que o aluno de ESP, particularmente, é bem disposto a focar o significado da área de estudo.

Quanto ao conhecimento da área de estudo, Schleppegrell e Bowman (1986, p.5) afirmam que o aluno de ESP é capaz de trazer grandes contribuições à aula e ao próprio processo de ensino-aprendizagem por, normalmente, ser consciente do propósito que o levou a aprender a língua, por já ter sido orientado a um treinamento em relação à área de estudo e por entender que a língua é um complemento desse treinamento.

Sobre estratégias de aprendizagem bem desenvolvidas de adultos, Schleppegrell e Bowman (1986, p.5) demonstram que, apesar de ter de se esforçar mais que a criança para aprender uma nova língua, o aluno adulto é capaz de aprender mais rápido e eficientemente por meio das estratégias de aprendizagem que adota ao realizar tarefas. As autoras explicam esse fato por entenderem que o aluno adulto está em uma fase à frente de aprendizado em relação à criança, por já ter desenvolvido sua habilidades de compreensão e produção escrita na língua-mãe.

Pode-se notar que as autoras não levaram em consideração outras faixas etárias existentes de alunos de ESP. Para Schleppegrell e Bowman (1986), há apenas um público-alvo de ESP, o público adulto. Dudley-Evans e St. John (1998, p.5) discordam das autoras ao defenderem que, apesar de ESP, geralmente, ser direcionado ao público adulto – como alunos que cursam o Ensino Superior ou profissionais de determinada área –, também pode destinar-se a alunos de nível secundário, ou seja, crianças e adolescentes.

O mito baseado na concepção errônea de que o aluno de ESP é adulto talvez tenha surgido na literatura na mesma época em que Schleppegrell e Bowman (1986) publicaram seu texto, ou seja, há quase trinta anos. É possível que tal mito tenha perpetuado durante décadas por se acreditar que apenas os adultos têm necessidades específicas ao aprender uma língua, geralmente ligadas a razões acadêmicas ou profissionais. No entanto, atualmente, crianças e adolescentes também podem apresentar necessidades específicas ao aprender uma língua, como passar em um exame de proficiência para realizar um intercâmbio cultural.

Em seu Working Papers n.12, “Self-Access in ESP”, Mike Scott (1984), um dos professores responsáveis pelo Projeto ESP, sugere uma nova técnica de ensino- aprendizagem para professores e alunos de ESP, principalmente em situações que o professor encontra-se em uma sala de aula com número excessivo de alunos e luta para conseguir dar atenção individualizada a cada aluno. Scott (1984, p.4) explica que a Autonomia9 e a individualidade dadas pelo professor ao aluno são encaradas como

uma vantagem ao invés de um problema, pois a possível fraqueza presente em materiais didáticos não será mais um impedimento a seu aprendizado.

Ao discorrer sobre os princípios da Autonomia, Scott (1984, p.5) destaca duas palavras-chave: escolha e responsabilidade. Outros princípios também são ilustrados pelo autor, como: ritmo, onde, quando, qual, quanto e como. Exponho, a seguir, as definições empregadas pelo autor quanto a cada princípio:

 ritmo: segundo Scott (1984, p.5), esse é o princípio mais fácil a ser posto em prática. Significa que o aluno tem a liberdade de seguir em frente com seu material, sem ter de esperar por seus colegas de sala com mais dificuldade em realizar determinado exercício ou tarefa. O autor ainda sugere que o aluno cujo ritmo é mais avançado terminará o curso antes, e, assim, o professor terá menos alunos para dar atenção individual. A maior vantagem desse princípio, como aponta Scott (1984, p.5), refere-se ao fato de que o aluno com maior facilidade não ficará mais entediado ao ter

9 M ike Scott utiliza, em seu Working Papers n.12, o termo Self-access. Neste trabalho, traduzo o termo empregado pelo autor como Autonomia.

de esperar, e o aluno com mais dificuldade terá tempo suficiente para dominar o material, sem sofrer a pressão de ir mais rápido do que pode;  quando e onde: Scott (1984, p.5) explica que seguir esses dois princípios

significa deixar o aluno estudar durante a aula ou fora do horário de aula, na biblioteca ou em casa. O autor afirma que o material pode ficar disponível na biblioteca da escola, se possível com o gabarito, assim os alunos poderão consultá-lo e usarão o tempo da aula como uma sessão individual para sanar dúvidas;

 qual e quanto: a partir desse princípio, aluno e professor devem decidir, conjuntamente, quais problemas cada aluno quer e necessita resolver.  como: Scott (1984, p.6) relata que, nesse princípio, ao aluno pode ser

oferecida a escolha de como estudar. Dessa forma, o aluno tem a liberdade de escolher qual técnica é mais eficiente para seu próprio aprendizado, uma vez que ele tenha conhecimento disso. O autor explica que colocar a responsabilidade “nos ombros do aluno” implica uma visão diferente de educação e leva tempo para que o aluno adapte-se a ela. Acredito que os princípios apontados anteriormente por Scott (1984) podem ser postos em prática tanto com alunos de Inglês Geral quanto com alunos de Inglês para Fins Específicos, pois, em ambos os contextos, as dificuldades e os problemas mencionados pelo autor são possíveis.

Apresento, a seguir, a discussão sobre material didático utilizado para Inglês para Fins Específicos.