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Abordagem inter-relacional entre o processo de adaptação estratégica e os estágios no

O objetivo desta seção é verificar a existência de possíveis relações entre o processo de adaptação estratégica do Hospital de Caridade nos últimos 30 anos e as características dos estágios do ciclo de vida organizacional.

Pela descrição das mudanças ocorridas ao longo do período de estudo, percebe-se que as grandes transformações aconteceram a partir do momento em que a Mesa Administrativa reassumiu a direção do Hospital. As mudanças, principalmente nos estágios estratégicos de I a IV foram de caráter mais incremental (QUINN E VOYER, 2001) e reativas, ou seja, ocorreram ocasionalmente ao longo dos anos e com foco em aspectos pontuais. Já o V período estratégico, caracteriza-se por apresentar uma série de transformações que incluiu alterações na cultura, estrutura, sistemas de trabalho, pessoas, serviços, visão e valores organizacionais, configurando-se na abordagem de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) um salto quântico, ou seja, mudança revolucionária de muitos elementos ao mesmo tempo.

Na análise do ciclo de vida organizacional do Hospital de Caridade, as evidências apontaram que o Hospital de Caridade apresenta características do estágio de formalização, principalmente no que se refere a estrutura organizacional funcional, institucionalização de políticas, regras e procedimentos, relativa centralização de poder; sistemas de informações gerenciais estruturados. Porém apresenta também indicativos da fase de elaboração de

estrutura por estar havendo uma maior participação dos setores na tomada de decisões, busca

pela diversificação de serviços e definição de estratégias de expansão de domínios.

Conforme exterioriza o diagrama a seguir, a fase de formalização vem se estendendo desde 1962 até o ano de 2004. Entretanto, a consolidação efetiva do estágio parece ter acontecido a partir do período estratégico IV quando a Mesa Administrativa da Irmandade volta a ser mais atuante no HC, culminando em 1997 com a saída da superintendência e a efetiva retomada de poder pela Mesa.

LEGENDA PE = Período Estratégico Elaboração de estrutura Formalização 1962 Períodos Estratégicos e Ciclo de Vida Organizacional

PE V PE IV PE III PE II PE I 1994 1997 2004 1980 1987 1991

Figura 19: Períodos estratégicos e ciclo de vida organizacional do Hospital de Caridade Fonte: Dados primários

As estratégias dos períodos IV e V parecem ter um enfoque maior pela eficiência das atividades do Hospital de Caridade, o que mantém relação com as peculiaridades da fase de

formalização. Isto coaduna com as afirmações dos autores Machado-da-Silva, Vieira e

Dellagnello (1998), Quinn e Cameron (1983) e Miller e Friesen (1984) de que a organização no estágio de formalização busca maior estabilidade e eficiência, prevalecendo um relacionamento de caráter mais estável com o meio externo e um maior enfoque no âmbito interno.

Entretanto, algumas estratégias adotadas a partir do período de 1991, sugerem que a organização também está na busca pela expansão de domínios, fato que se manifesta: a) na diversificação dos serviços através da atuação de clínicas, b) existência de projetos de ampliação da emergência geral e criação de uma específica para acidentes cardiovasculares e c) ênfase no desenvolvimento tecnológico, a fim de implantar serviços de alta complexidade capazes de diferenciar o Hospital dos seus concorrentes.

Uma das possíveis explicações para o estágio híbrido no ciclo organizacional é o fato da nova administração do Hospital ao ter assumido a direção ter se deparado com uma série de fatores da fase de formalização que ainda não estavam totalmente consolidados na organização ou apresentavam falhas, entre estes: padronização das atividades, coordenação entre os setores, profissionalismo da equipe, sistemas de informações, controles e otimização da aplicação dos recursos. O modelo híbrido pode representar a preparação da organização para a passagem para o estágio de formalização de estrutura.

Percebe-se que há uma relação entre as características dos dirigentes organizacionais e o crescimento e desenvolvimento da organização, ocasionando assim repercussões nas etapas do ciclo de vida organizacional. A atuação direta da Mesa Administrativa no Hospital de Caridade veio como uma nova forma de intervenção sobre os fatores de sucesso do estágio do ciclo de vida. Com a atuação da superintendência os controles eram falhos, a coordenação entre os setores apresentava pontos de ruptura, havia uma baixa padronização de normas e procedimentos de trabalho. Nos dois últimos períodos estratégicos é possível perceber um novo estilo de liderança por parte da Mesa Administrativa, mais presente no dia a dia do Hospital, aberto a participação e enfatizando o controle, a otimização de recursos e o atingimento de resultados. Observa-se que tal característica condiz com o que Greiner (1972) aborda a respeito de que o corpo gerencial apresenta um papel decisivo na configuração de novas práticas que servirão de base para a gestão de um novo estágio do ciclo.

No que se refere ao ciclo de adaptação apresentado por Miles e Snow (1978) e que sugere que a organização no seu processo adaptativo deve buscar soluções integradas para os problemas de domínio (empresarial), tecnologia (engenharia) e racionalização de estruturas e processos (administrativo), foi possível identificar a presença destes fatores no período do estudo, conforme expressa as áreas coloridas no quadro a seguir.

Problema PE I PE II PE III PE IV PE V

Empresarial Engenharia

Administrativo

Quadro 13: Ciclo de adaptação estratégica Fonte: Dados primários

Entretanto, em determinados períodos estratégicos, mais especificamente os períodos I, II e IV, não foi possível perceber uma mudança em todos os três fatores, contrariando a indicação dos autores de que a adaptação exige um alinhamento consistente destas três categorias de decisões.

Apesar de haver uma manifestação de todos os problemas do ciclo adaptativo (MILES E SNOW, 1978), observa-se que o administrativo esteve presente em praticamente todos os períodos estratégicos, sendo que no dois últimos houve uma maior predominância. Isto pode ser a indicação de uma relação entre os fatores que levam a adaptação estratégica das organizações e as influências no ciclo de vida organizacional, ou seja, os problemas administrativos enfrentados pela Mesa podem ter levado a organização a uma ênfase na otimização e eficiência de suas operações, tornando a fase de formalização ainda mais evidente nos períodos estratégicos IV e V. Por outro lado, os problemas empresariais (domínio produto-mercado) também levaram a adaptação estratégica e, por conseqüência influenciaram o ciclo de vida. O Hospital de Caridade também apresenta características do estágio de “formalização de estrutura”, marcado, principalmente, pela diversificação dos seus serviços e projetos de expansão.

Com relação a capacidade de escolha estratégica (ação gerencial) e determinismo ambiental e o estágio do ciclo de vida organizacional não foram encontradas fortes evidências de relacionamento. Nos dois períodos iniciais do estudo, a escolha gerencial era baixa, nas

mudanças predominava um caráter mais reativo. A maior preocupação era com a manutenção das condições existentes, o que mantém relação com a estabilidade ambiental enfatizada pelos autores (MILLER E FRIESEN, 1984; QUINN E CAMERON, 1983) na fase de elaboração.

No período estratégico III, há uma reação por parte da organização. O IV período estratégico, devido a ocorrência do incêndio, a possibilidade de escolha gerencial cai novamente. O último período estratégico encerra com um alto determinismo influenciando a organização e também um comportamento mais ativo da Mesa Administrativa (escolha gerencial).

Hrebiniak e Joyce (1985) sugerem que organizações do quadrante I possuem um enfoque maior sobre o controle dos seus meios, enfatizando a otimização das operações, o que mantém certa concordância com a fase de formalização de Quinn e Cameron (1983), pois a preocupação neste estágio é com a eficiência.

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES DE ESTUDOS