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Ao estudar e analisar a saúde é preciso considerá-la um direito universal e fundamental do ser humano, firmado na Declaração Universal dos Direitos Humanos e assegurado pela Constituição Federal Brasileira de 1988 (BRASIL, 2000) que diz em seu artigo 196 que a

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros

agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 2000, p. 161).

Entretanto, apesar da importância que o tema possui no cenário nacional e internacional, as políticas públicas voltadas para esse tema muitas vezes deixam lacunas, seja pelo desconhecimento dos gestores, pela falta de recursos, pela falta de interação entre as esferas públicas e a sociedade em geral e, principalmente, pela falta de profissionalização dos mais variados agentes que atuam nesse complexo setor.

Para entender a saúde pública no Brasil, é necessário remontar alguns episódios e esclarecer algumas questões que fazem parte da história do país.

Em comparação com os países mais desenvolvidos, o Brasil teve um grande atraso na organização de suas políticas públicas de saúde. A criação do Ministério da Saúde, por exemplo, somente ocorreu no ano de 1953, regulamentada pela Lei nº 1.920 de 25 de julho de 1953 (BRASIL, 2005).

Até esta data, a Saúde estava vinculada ao Ministério da Educação e a atenção era voltada basicamente à prevenção e promoção, a saúde curativa foi deixada a cargo dos Institutos de Aposentadoria (IAP’s) de diferentes categorias profissionais organizadas (bancários, comerciários, industriários, dentre outros) que tinham como objetivo prestar atendimento ambulatorial e hospitalar a todos os seus associados (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

No ano de 1967, devido a complexidade do sistema de Institutos de Aposentadorias (IAP`s), criou-se o Instituto Nacional de Previdência Social – INPS, através da fusão dos IAP`s. O Sistema dos IAP`s ficou muito complexo e custoso para a realização dos atendimentos, pois necessitava da construção de grandes unidades hospitalares e ambulatoriais, como também a contratação de serviços privados nos grandes centros urbanos, onde estava a maioria dos seus beneficiários (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

Já no ano de 1970, o INPS foi divido em três áreas de atuação:

1. INPS: relacionado a previdência,

2. INAMPS: relacionado à saúde curativa do trabalhador, e 3. IAPAS: relacionado à aposentadoria.

Entretanto, o Sistema de Saúde do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) era envolvido somente com a saúde dos trabalhadores que possuíam carteira assinada e profissão regulamentada, deixando uma grande camada da

população brasileira sem a assistência com a qualidade necessária, tendo que recorrer aos serviços públicos que não possuíam recursos e instalações adequadas.

Com a crise no financiamento do sistema previdenciário e com a mobilização dos trabalhadores no Movimento de Reforma Sanitária, no final da década de 80, o INAMPS decide acabar com a obrigatoriedade da apresentação da Carteira de Segurado para o atendimento nos hospitais próprios e conveniados da rede pública. Essa decisão provocou a instituição do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), através de convênios entre o INAMPS e os governos estaduais. Com essa decisão a saúde passa a ter um aspecto universal, onde todos os cidadãos passam a ter direito ao atendimento oferecido pelo sistema de saúde vigente na época (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

No ano 1990, pouco antes da criação efetiva do Sistema Único de Saúde – SUS, o INAMPS passa da responsabilidade da Previdência para o Ministério da Saúde, passo inicial para a criação de um sistema de saúde que visasse o bem estar de toda as camadas da população brasileira (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

Finalmente em novembro de 1990, promulga-se a Lei que irá extinguir definitivamente o INAMPS, deixando a área da saúde pública brasileira a cargo do SUS.

As funções, competências, atividades e atribuições do INAMPS serão absorvidas pelas instâncias federal, estadual e municipal gestoras do Sistema Único de Saúde, de acordo com as respectivas competências, critérios e demais disposições das Leis n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, e 8.142, de 28 de dezembro de 1990. (apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002, p. 15)

Com a preservação da lógica de financiamento e alocação de recursos o SUS inicia suas atividades com base em uma instituição que delimitava a parcela da população que iria assistir e fornecer seus serviços de saúde. As transformações ocorridas nas décadas de 80 a 90 culminaram no primeiro princípio doutrinário que norteia o SUS, a universalidade de seu atendimento, característica esta que o diferencia de outros sistemas de saúde existentes no mundo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). Seguindo estes preceitos todos os cidadãos possuem os mesmos direitos havendo garantia de atendimento, sem distinção de raça, credo ou classe social. Além disso, é garantida a participação da comunidade, a descentralização político administrativa (com direção única em cada esfera do governo), regionalização e hierarquização da rede de serviços da saúde e a integralidade de assistência.

No Brasil, o atendimento hospitalar é oferecido à população através de convênios particulares e com o SUS. A atuação do Sistema Único de Saúde transcende as instalações públicas, garantindo o atendimento aos pacientes por meio de convênios firmados com os

hospitais privados e/ou filantrópricos. Esta foi uma forma encontrada para garantir o atendimento, uma vez que a estrutura de saúde pública não suporta a demanda de serviços, por não possuir as quantidades necessárias de hospitais, equipamentos, recursos humanos e materiais.

Segundo dados do Ministério da Saúde (2002) no Estado de Santa Catarina existem 346 hospitais, sendo que nem todos estão vinculados ao Sistema Único de Saúde. Desses hospitais, 08 são estaduais, 126 são filantrópicos, 14 são municipais, 190 são privados e 08 são universitários.

Classificação dos Hospitais em SC

Estadual 8 Universitário 8 Filantropico 126 Municipal 14 Privado 190 0 50 100 150 200 1 C la s si fi ca çã o Quantidade

Figura 6: Classificação dos hospitais em Santa Catarina Fonte: Ministério da Saúde (1999)

Pela leitura da figura 6 é possível perceber que de toda capacidade hospitalar instalada no Estado de Santa Catarina o segmento filantrópico abrange 36,40% do total de hospitais. Isso é explicado pela preocupação, muitas vezes de igrejas e irmandades, com a saúde da população, caso que será apreciado com o estudo do Hospital de Caridade.

4.1.1 A administração no setor hospitalar

A história dos hospitais e do atendimento aos doentes remonta desde as épocas mais remotas da civilização, porém neste período os hospitais possuíam finalidades diferentes dos tempos contemporâneos.

Antes do século XVIII os hospitais não eram propriamente um espaço para tratamento dos doentes, mas sim de assistência ao pobre e também de separação ou exclusão dos indivíduos considerados perigosos para a saúde da população (BORESTEIN, 2000).

Assim, primeiramente a finalidade dos hospitais era a de isolar os doentes da sociedade, evitando que a enfermidade se alastrasse para as demais pessoas da sociedade. Nessa época a manutenção desses locais era baseada na caridade e a medicina atuava somente para diminuir o sofrimento do doente.

Trevisan (1988) expõe que na época que antecedeu a era cristã, e depois do cristianismo, a prática médica e a religiosa se confundiam a ponto de ser determinada pelas seitas religiosas a construção de hospitais ao lado de igrejas e mesquitas. A autora complementa que o hospital se destinava à manutenção da ordem social, ao mesmo tempo que atendia os doentes e necessitados. Isto explica o fato de no Brasil os primeiros hospitais surgidos terem sido de iniciativas da Igreja e se caracterizarem por ser instituições de caridade e/ou hospedarias, onde os necessitados (pobres, velhos, feridos, doentes e ociosos em geral) recebiam o cuidado de Ordem Religiosa e leigas (BORESTEIN, 2000).

Somente a partir da segunda metade do século XIX o hospital passou a ser visto não mais como um local de isolamento, mas sim um local de cuidado efetivo do doente. Essa mudança de visão ocorreu devido às descobertas de Pasteur e, principalmente com a atuação de Florence Nightingale, enfermeira que se dedicou às causas hospitalares de maneira decisiva e que foi pioneira em aplicar as funções administrativas nas organizações hospitalares (TREVISAN, 1988).

Os progressos na medicina científica, o surgimento de funções de cuidado médico e de enfermagem mais complexas, a diferenciação das especialidades médicas, o crescimento dos planos médicos particulares, a maior atenção pública à qualidade do serviço hospitalar e o papel mais proeminente do governo em relação à saúde foram fatores que contribuíram para o desenvolvimento do setor hospitalar e a introdução da administração no campo hospitalar (TREVISAN, 1988).

O Hospital, em uma concepção moderna, não pode ser visto como uma “oficina reparadora” do corpo humano, mas sim como um local em que os consumidores dos serviços de saúde procurarão o atendimento de suas necessidades e desejos (SCARPI, 2004). Estes desejos envolvem acessibilidade, resolutividade, alta tecnologia e excelência na prestação de serviços, trazendo novas demandas à administração no campo hospitalar, confirma Scarpi (2004).

Um ponto em comum nas organizações de saúde que vem conseguindo bons resultados é a profissionalização de suas administrações (PADUAN, 2004). Entretanto, Paduan (2004) afirma que este assunto só ganhou importância no país atualmente, pois o setor

de saúde tem como característica primária colocar o melhor profissional de medicina como gestor do hospital. Na opinião de Scarpi (2004) os cursos de graduação em Medicina dão pouca ênfase ao ensino de técnicas e modelos de administração de negócios em saúde, o que, segundo seu ponto de vista, reflete diretamente em uma gestão inadequada deste tipo de organização.