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4.4 O ciclo de vida organizacional do Hospital de Caridade de 1974 a 2004

4.4.5 Relacionamento com o ambiente externo

Em relação ao presente tópico procurou-se investigar no período do estudo qual é a ênfase da organização no processo de expansão de domínios, serviços oferecidos e conquistas de novos espaços no ambiente de atuação.

Observou-se no discurso da grande maioria dos pesquisados que os mesmos percebem o Hospital de Caridade como uma organização que precisa se adaptar continuamente ao ambiente para manter o nível de excelência dos seus serviços. Expressões

18 É programa de origem japonesa que visa uma padronização dos ambientes de trabalho por meio da prática de

como “se comportar como empresa”, “concorrência”, “profissionalização” são comuns nos discursos dos entrevistados, indicando uma consciência quanto as influências do meio externo na atuação do Hospital. O comentário do entrevistado 6 confirma esta percepção “Porque

hoje (o hospital) tem que competir no mercado. É filantrópico, mas nós temos que competir no mercado, porque o que garante a filantropia é o atendimento privado, é desse dinheiro.

Com referência aos serviços oferecidos de 1974 a 2004 ocorreram grandes avanços na atuação do Hospital. O entrevistado 2, ao ser questionado sobre esta evolução, enfatiza que nas décadas anteriores os serviços oferecidos eram bem menos complexos, até mesmo porque houve um grande desenvolvimento no setor, tanto em termos tecnológicos, como também na modernização da medicina como um todo. Utilizando suas palavras:

Antes não se dispunha dos recursos e dos números de especialistas, médicos, com todas as tecnologias que fez uma revolução da medicina. Hoje o hospital dispõe disso tudo praticamente e naquele tempo era mais simples, não se dispunha, por exemplo, de cirurgia de vídeo, cardíaca e transplante. Outro fato que colaborou para a expansão dos serviços oferecidos pelo Hospital de Caridade foi a atuação de clínicas médicas e laboratórios de análises, que na realidade são empresas privadas que atuam dentro da estrutura física do Hospital de Caridade.

O processo de implantação de clínicas ocorreu gradativamente nas décadas de 80 e 90, porém o auge foi a partir de 1991. Conforme dados secundários obtidos, nesta época a superintendência optou pela terceirização como forma de oferecer aos pacientes serviços especializados e com tecnologias modernas, pois o Hospital não tinha condições de agregar novos serviços com recursos próprios.

Em termos de expansão de domínios, percebe-se que a atual Mesa Administrativa possui um plano de ampliação para a emergência geral (que hoje se encontra com sua capacidade esgotada) e a construção de uma emergência especializada em acidentes cardiovasculares, pois há um grande número de ocorrências.

Outro ponto que foi observado nas entrevistas é a necessidade do HC investir continuamente em tecnologia para se manter em sintonia com as tendências do mercado hospitalar.

Nós queremos investir justamente na alta tecnologia e nos procedimentos de alta complexidade e temos este objetivo porque hoje tem muito hospital filantrópico que abre uma enfermaria e atende, mas não faz uma cirurgia cardíaca, por exemplo, porque não tem como, não tem como pagar e nós estamos abrindo as portas para que a população carente possa ter acesso a esta tecnologia e aos procedimentos de alto custo.

Assim, na opinião do entrevistado 6 o Hospital de Caridade deve investir tecnologias de última geração, garantindo o acesso do público mais carente em determinadas especialidades que o SUS atende com precariedade. Na visão deste pesquisado isto também é importante para fazer com que o HC torne-se mais competitivo e enfrente uma nova ordem que vem se configurando no ambiente de atuação. Com a introdução do conceito de “hospital

dia” muitas clínicas já realizam cirurgias de baixa complexidade nos próprios consultórios, e

há um movimento para que isto cresça ainda mais. Tais cirurgias não exigem longos períodos de internação, porque atualmente os procedimentos estão mais modernos e também para evitar os riscos de infecção hospitalar.

A demanda por serviços simples ficará menor, prevê o entrevistado 6 e com isto o Caridade precisa se preparar porque o futuro do Hospital será este: “especializar e investir em

alta tecnologia”, conclui o entrevistado.

Apesar da dificuldade de obter dados primários, principalmente em relação as décadas de 70 e 80, pelas pesquisas em materiais já existentes há indicações de que neste período a relação do Hospital do Caridade com o seu ambiente externo predominava comportamento de caráter mais reativo, ou seja, a organização apenas reagia conforme o aparecimento dos eventos, sem uma grande preocupação com a conquista de novos domínios.

Até 1980 o curso de Medicina da UFSC utilizava as instalações do Hospital e os recursos advinham de forma mais fácil, pois havia repasse de verbas federais para o HC. Os investimentos em reformas e ampliações, compras de materiais e equipamentos estavam, de certa forma, garantidos. Com a construção do Hospital Universitário todas as atividades do curso de medicina da UFSC foram para transferidas e o HC se viu obrigado a angariar os próprios recursos para manter os seus serviços.

Com base nos dados coletados há indicações que de 1974 até 1987 o Hospital mantinha-se em um período de relacionamento estável com o seu ambiente de atuação, tendo predominância de um comportamento de caráter reativo. Em 1991 iniciou-se um processo de mudança que repercutiu alterações na forma de trabalho dos médicos e funcionários; treinamento dos funcionários; tecnologias; na estrutura, processos de trabalho e na própria cultura organizacional. Apesar de nesta época ter ocorrido uma expansão dos serviços devido a entrada de novas clínicas, observou-se na análise dos dados que a maior ênfase é voltada ao âmbito interno, pois o Hospital possuía graves problemas estruturais, tecnológicos e financeiros. Conforme carta do tesoureiro Nereu do Vale Pereira apresentada à Mesa em 28 de junho de 1992 “[...] se não há receitas suficientes para financiar custeios do Hospital que

opera com déficits aproximados dos 12% ao mês, muito menos pensar em novos investimentos [...]” (PEREIRA, 1997), ressaltando a dificuldade da organização em fazer melhorias e inovações.

A ocorrência do incêndio em 1994 fez o Hospital ter um retrocesso em suas ações deflagrando um processo total de reconstrução, tanto física, quanto administrativa. Do período de 1997, quando houve a mudança na estrutura organizacional, até por volta de 2002 os esforços também parecem estar mais concentrados na eficiência operacional, no desempenho das tarefas e no controle dos comportamentos dos funcionários. É preciso também ressaltar que, paralelamente a este enfoque interno, algumas pessoas entrevistadas demonstram a existência de planos de expansão de domínios para os próximos anos e uma grande preocupação com a atualização tecnológica, como uma condição obrigatória para se manter em sintonia com o mercado, o que são sinais de um relacionamento com o ambiente externo mais adaptativo.