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2.3 A relação da organização com o seu ambiente: a adaptação estratégia

2.3.4 O modelo de Hrebiniak e Joyce

Conforme apresentado nas seções anteriores, muitas perspectivas de estudo em adaptação estratégica fornecem uma visão de que este ou é um processo autônomo de escolha (MILES E SNOW, 1978; CHILD E SMITH, 1987) ou uma reação necessária às forças ambientais (HANNAN E FREEMAN, 1984).

Embora a teoria institucional também possa ser classificada dentro de uma posição intermediária entre o determinismo e o voluntarismo (FONSECA, 2001), analisando a literatura a respeito do tema, observou-se que este é um dos únicos modelos que explicita

mais claramente a possibilidade de uma orientação da ação organizacional localizada entre dois extremos.

Hrebiniak e Joyce (1985) consideram ser possível que a escolha organizacional e o determinismo ambiental se posicionem como variáveis independentes no processo de adaptação. Tendo em vista tal característica esta é a perspectiva adotada para a presente dissertação.

Na opinião de Hrebiniak e Joyce (1985) ao invés de se analisar uma incompatibilidade é preciso considerar que as duas abordagens são essenciais para uma descrição mais apurada da adaptação organizacional. A organização percebida enquanto um sistema aberto tende a buscar um equilíbrio dinâmico, de maneira que tanto a organização, quanto o seu meio podem afetar o processo de troca e transformação (HREBINIAK E JOYCE, 1985).

Os autores argumentam que mesmo que se assuma um alto determinismo ambiental a escolha ainda é possível, pois é necessário controlar, selecionar os meios com que os resultados devem ser alcançados. Tal afirmação coaduna com a idéia de Fonseca (2001) sobre a ação gerencial em condições determinísticas.

O processo de adaptação estratégica é conceituado pelos autores como a articulação das capacidades organizacionais com as contingências do ambiente, considerando-se tanto o comportamento organizacional pró-ativo, quanto o reativo. Em outras palavras, a adaptação estratégica pode ser definida como um processo de ajuste entre a organização e o seu ambiente visando a harmonização da estratégia com as novas exigências internas e externas.

Hrebiniak e Joyce (1985) desenvolveram uma tipologia de adaptação que considera um continuum entre a escolha organizacional e o determinismo ambiental, examinando o relacionamento da organização com o seu meio, analisando o poder do ambiente e o da própria organização no processo de adaptação estratégica.

IV Escolha indiferenciada Escolha incremental Adaptação por acaso

II Diferenciação ou foco Escolha diferenciada Adaptação com restrições III Escolha estratégica

máxima escolha Adaptação por design

ESCOLHA INDIVIDUAL ESCO LH A ESTRATÉG ICA I Seleção natural Escolha mínima Adaptação ou eliminção SELEÇÃO AMBIENTAL DETERMINISMO AMBIENTAL

Figura 3: Continuum entre voluntarismo e determinismo Fonte: Hrebiniak e Joyce (1985)

Conforme expressa a figura 3, o quadrante 1 demonstra o estado de organizações em estágio de adaptação “seleção natural” em que a escolha estratégica é baixa e o determinismo ambiental alto. Hrebiniak e Joyce (1985) esclarecem que neste ponto a ação gerencial é restrita, as opções estratégicas são baixas e as restrições externas delimitam a escolha. Contudo os atores sociais ainda podem exercer opções que visam reduzir as demandas essenciais do seu ambiente, sendo que as escolhas refletirão um maior controle sobre os meios. Os autores atentam para o fato de que as organizações neste quadrante não são inativas ou estão totalmente a mercê das influências externas, como preconiza a abordagem da ecologia populacional. Porém, a capacidade da ação gerencial é limitada pela falta de recursos e força da organização sobre o seu ambiente. As soluções estão mais direcionadas para problemas específicos, como por exemplo, custos, aumento da eficiência para competir ou sobreviver. Inovações tecnológicas empreendidas pela organização podem alterar a habilidade de competir no quadrante I e afetar positivamente a sua atuação no meio, discorrem os autores. Relacionando com as estratégias de Miles e Snow (1978) e Porter (1992), os defensores (defensers) e as estratégias de custos, respectivamente, são predominantes neste quadrante.

No quadrante II, encontra-se uma situação que, tanto o determinismo, quanto a escolha estratégica são altas, definindo um contexto turbulento para a adaptação. A

possibilidade de escolha é alta, porém seletiva ou diferenciada, pois coexiste com restrições geradas externamente. Apesar de haver fatores exógenos que afetam as decisões, a organização também apresenta liberdade para exercer escolha. A ênfase das decisões encontra-se tanto nos fins, quanto nos meios. Os conflitos organizacionais são em grande parte direcionados externamente, pois os fatores externos e os stakeholders exercem grande influência. Incluem-se neste segmento organizações que atuam em múltiplos nichos, multi- produtos ou multi-divisionais. Diferenciação e estratégia de foco (PORTER, 1992) estão propensas a ser aplicadas pelas organizações deste quadrante. Em relação ao comportamento estratégico no processo adaptativo (MILES E SNOW, 1978), os analistas (analysers) se ajustam neste quadrante.

Em seguida, no quadrante III, estão incluídas as organizações que atuam com uma alta escolha e um baixo determinismo do meio. A dependência de recursos não constitui um problema e tais organizações não enfrentam problemas com deslocamento de ambiente e, além disso, podem afetar o domínio e as condições nas quais deseja competir. Por tal motivo, um comportamento do tipo prospector (MILES E SNOW, 1978) pode ser enquadrado neste quadrante (HREBINIAK E JOYCE, 1985). A inovação e o comportamento proativo são favoráveis neste ambiente. Neste âmbito, o conflito intraorganizacional provavelmente pode ser mais alto. Restrições externas reduzidas podem fazer com que a disputa interna por recursos seja ampliada. Há uma preocupação com os meios, porém a ênfase maior recai sobre a efetividade organizacional. O foco é maior nas metas e na definição de critérios para otimizar os resultados organizacionais. De forma semelhante ao quadrante anterior, as estratégias de diferenciação e enfoque (PORTER, 1992) também se manifestam.

O quadrante IV, por sua vez, exprime uma situação plácida marcada por uma baixa escolha estratégica e um baixo determinismo do meio. Embora tenham poucas restrições externas, as organizações que integram este quadrante tendem a ter pouca escolha estratégica, tendo em vista que, aparentemente, não possuem competências que são apropriadas às oportunidades e condições externas. O conflito interno tende a ser baixo já que é caracterizado por diferenças intraorganizacionais pouco claras. Devido as características deste quadrante, um comportamento do tipo reacto (MILES E SNOW, 1978) parece ser mais provável de aparecer. As opções estratégicas são baixas, mas não em favor das restrições externas, mas sim de problemas internos que inibem a tomada de decisão.

O processo de adaptação, sob o ponto de vista de Hrebiniak e Joyce (1985), é dinâmico, sendo possível uma organização mudar como resultados de escolhas estratégicas ou

mudanças no ambiente externo, conforme relatam: “[....] tanto a escolha estratégica quanto o determinismo provém impulsos para a mudança; cada um é causa e conseqüência do outro em um processo de adaptação.” (HREBINIAK E JOYCE, 1985, p. 347). Os autores ressaltam dois aspectos importantes: a) o controle sobre os recursos escassos é central em uma situação de determinismo e escolha e b) a escolha estratégica é possível em todos os quadrantes, sendo que é necessário considerar o contexto da organização e o seu ambiente.

Um fator importante presente no estudo proposto por Hrebiniak e Joyce (1985) é a questão do poder, que se manifesta tanto na relação da organização com o seu meio e vice- versa, assim como internamente.

No senso comum, muitas vezes o tema “poder” remete a uma conotação negativa, nas quais intrigas, disputas, manobras políticas, fazem parte de um palco de lutas entre vários atores sociais, onde cada um persegue seus interesses próprios. Entretanto, em uma concepção mais ampla “[....] toda relação social envolve poder [....]” (HALL, 1984).

Segundo Whittington (2004, p. 26),

[....] a compreensão da estratégia exige o comprometimento com o poder e com a política. Isso nos ajuda a compreender melhor as decisões tomadas (e por quê), como se opera a não tomada de decisão, isto é, por meio da manutenção de tópicos fora da agenda, e também os meios pelos quais as elites dominantes exercem com sucesso controles hegemônicos sobre a criação de estratégias.

Ao estudar a adaptação estratégica é preciso reconhecer a natureza coalizacional, o exercício da política, a luta pelo poder no contexto interno, assim como a integração com o seu ambiente, ou seja, a maneira pela qual ela responde às suas demandas, atendendo a uma coalizão em detrimento de outras, estabelecendo relacionamento com algumas e evitando outras.