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4.2 Conhecendo o Hospital de Caridade

4.2.1 Um pouco de história

Para o autor Greiner (1998) a história de vida de uma organização pode fornecer muitas respostas para o entendimento da situação presente. Considerando que tal pesquisa trata da relação da organização com seu ambiente baseado no ciclo de vida organizacional isto adquire um caráter ainda mais relevante.

O Hospital de Caridade (HC), localizado no Centro de Florianópolis, Capital de Santa Catarina, situado a rua Menino Deus, é uma instituição filantrópica, de caráter assistencialista-religiosa, sem fins lucrativos mantida e administrada voluntariamente pela Irmandade do Senhor Jesus dos Passos (ISJP). Tais características do hospital permite enquadrá-lo como uma organização pertencente ao terceiro setor, pois seguindo os conceitos de Fernandes (1994, 1997) e Coelho (2002) é privado, não apresenta finalidades lucrativas, está voltado aos interesses coletivos e é administrado voluntariamente

A ISJP é uma associação beneficente católica cristã que foi instituída por lideranças locais de Desterro9, no ano de 1765, reunindo pessoas ou os chamados “irmãos” que

apresentavam como objetivo principal a prática de obras de misericórdia10 (PEREIRA, 1997)

e o culto ao Jesus dos Passos (HOSPITAL DE CARIDADE, 2005).

9 Em 1765 o município de Florianópolis era denominado “Nossa Senhora do Desterro” e não havia ainda sido

elevado à categoria de cidade, pois tratava-se de uma vila.

10 Conforme Pereira (1997), as Obras de Misericórdia são uma tradição católica portuguesa e sua prática foi

trazida para o Brasil no processo de colonização. Na época elas representavam o ideal de vida cristã e aplicava- se ás instituições que assumiam a criação de pessoas abandonadas, tratamento de enfermos, sustento dos pobres e demais atos de caridade. É um elenco de quatorze obras de caridade divididas em dois grandes grupos: as

espirituais (catequisar, consolar, rezar, sofrer com paciência) e as corporais (visitar os presos, curar os enfermos,

dar comida aos famintos, dar pouso aos peregrinos e cobrir os mortos. No princípio, as obras de misericórdia eram praticadas pelas “confrarias” ou “irmandades” que integravam religiosos (freiras, sacerdotes, irmãos). Posteriormente, surgiram também as confrarias de leigos, formadas por pessoas de posse econômicas elevadas que doavam parte de sua riqueza e poder ao serviço das misericórdias (PEREIRA, 1997).

Na época, os integrantes da Irmandade eram pessoas de posse, católicas, religiosas e desenvolviam obras assistenciais com compromissos espirituais e de prestar cuidados corporais (BORENSTEIN, 2000). Cabe à Irmandade a administração, manutenção e zêlo pelo Hospital de Caridade e às demais atividades religiosas (PERUCHI, 2000). No total, atualmente são mais de 2000 associados ou “irmãos” e “irmãs” que fazem parte da Irmandade11.

A história do Hospital está intimamente ligada a da Irmandade e tem como marco inicial o ano de 1782. Neste período a ISJP iniciou a prática de Obras de Misericórdia prestando assistência aos doentes pobres, com alimentação e cuidados médicos, através de seu irmão Antônio da Silva Gomes, que prestava gratuitamente seus serviços. Porém, com o desenvolvimento dos trabalhos, a capacidade do asilo já se demonstrava insuficiente para tratar um número grande de doentes e assim surgiu a iniciativa para a construção do primeiro hospital de Santa Catarina e da terceira Casa de Misericórdia do Brasil. A edificação do hospital foi resultado de um esforço conjunto da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos, do Irmão Joaquim e do trabalho pioneiro da beata Joana de Gusmão.

No dia 1º de janeiro de 1789, o Hospital de Caridade12, nesta época denominado Jesus, Maria e José, foi oficialmente inaugurado iniciando suas atividades em uma pequena construção edificada ao lado da Capela Menino Deus.

A seguir, encontra-se descritos em ordem cronológica, os principais fatos históricos ocorridos com o Hospital de Caridade (HOSPITAL DE CARIDADE, 2005; PERUCHI, 2000):

1818 – o Governo de Nossa Senhora do Desterro arbitrariamente decreta que o HC passaria a ser considerado militar. Neste mesmo ano o hospital retornou aos cuidados da Irmandade. 1854 – passados meio século após a construção as instalações encontravam-se precárias e iniciou-se uma nova edificação. O Hospital passou a utilizar o título de “Imperial”.

11Há um determinado “perfil” para integrar a Irmandade do Senhor Jesus dos Passos, entre as características:

gozar de bom conceito moral, assumir o compromisso de respeitar e cumprir com seus deveres perante a Irmandade e realizar o pagamento de anuidades (HOSPITAL DE CARIDADE, 2005).

12 Segundo Boreinstein (2000) as Santas Casas, tal como o Hospital de Caridade, constituíram as primeiras

instituições de assistência à saúde no Brasil e não eram administradas pelo governo, mas sim por instituições religiosas. O caráter da assistência prestada nesta época era muito mais voltado aos objetivos caritativos e de assistência espiritual aos pobres do que propriamente a cura de doenças ou tratamento terapêutico.

1906 – a Irmandade obteve ajuda para aumentar o hospital, pois a procura do público tornara- se maior que o suportado não havendo, portanto, espaço físico para os atendimentos assistenciais adequados. Além das atividades hospitalares e do culto, a Irmandade abrigava também crianças órfãs e sem condições financeiras, educando-as através do "Colégio da Igreja do Menino Deus".

1926 – inicia-se uma reestruturação do hospital através da ampliação de leitos, aquisição de equipamentos, inauguração de salas para a realização de pequenas cirurgias com alguns médicos prestando o serviço na área assistencial. Devido o aumento dos trabalhos na enfermarias as irmãs da Divina Providência também são chamadas para prestar assistência. 1949 – a área física do hospital continua progredindo e o HC amplia seus serviços oferecendo o atendimento de pediatria e ao adulto no ambulatório e nas internações. Este período também foi marcado pela busca de recursos para a manutenção da assistência hospitalar gratuita. 1962 – 1975: o Hospital assina um convênio com a Universidade Federal de Santa Catarina e com isto ocorreram obras de ampliação de enfermarias. A Universidade, nesta época, não dispunha de hospital próprio e percebeu no HC o espaço ideal para a prática. Este fato foi importante para que a Irmandade continuasse viabilizando o atendimento gratuito, pois com a vinda dos recursos federais a manutenção do hospital estava garantida. Conforme Peruchi (2000) o hospital nesta época operava com recursos limitados e critério científico possível em laboratório de análises, farmácia, serviços de radiodiagnósticos, radioterapia, eletrocardiografia entre outras unidades complementares. No ano de 1975, o Hospital passa novamente por uma reforma executada pela própria Universidade, a fim de adaptá-los às exigências do ensino médico.

1980 – a Universidade Federal de Santa Catarina inaugura o seu próprio hospital cessando a transferência de recursos para o hospital.

1994 – no dia 5 de abril ocorre o mais trágico evento da história do hospital. Um incêndio destruiu 70% da área construída. As portas do hospital foram novamente abertas no dia 22 de agosto, já com boa parte das instalações recuperadas.

1995 – ocorre a criação da Fundação Cultural Senhor dos Passos com a responsabilidade de inventariar, resgatar, conservar, guardar, restaurar e apresentar ao público o patrimônio histórico, cultural, arquitetônico, religioso, hospitalar e natural, pertencente à Irmandade do Senhor Jesus dos Passos.